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Revista Brasileira de Psicanálise

Print version ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.55 no.1 São Paulo Jan./Mar. 2021

 

REFLEXÕES TEÓRICO-CLÍNICAS

 

De volta à encruzilhada com o pequeno Fritz1

 

Back to the crossroads with little Fritz

 

De vuelta a la encrucijada con el pequeño Fritz

 

De retour au carrefour avec le petit Fritz

 

 

Ester Hadassa Sandler

Membro efetivo e analista didata da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP). São Paulo / estersandler@gmail.com

 

 


RESUMO

Na trama complexa de eventos inter-relacionados que caracterizam a situação edípica como encruzilhada de desenvolvimento, destaco a questão da reparação observada na experiência analítica com o pequeno Fritz e estabeleço paralelos com alguns desafios éticos apresentados pela experiência recente da pandemia do novo coronavirus.

Palavras-chave: complexidade, Édipo, ética, pandemia, reparação


ABSTRACT

In the complex network of interrelated events that characterize the Oedipal territory as a crossroads of development, I highlight the issue of reparation observed in the analytical experience with little Fritz, establishing some parallels with some ethical challenges presented by the recent experience of the Pandemic caused by the new Coronavirus.

Keywords: complexity, Oedipus, ethics, pandemic, reparation


RESUMEN

En la compleja trama de eventos interrelacionados que caracterizan la situación Edípica como encrucijada de desarrollo, destaco la cuestión de la reparación observada en la experiencia analítica con el pequeño Fritz y establezco comparativos con algunos desafíos éticos presentados por la experiencia reciente de la Pandemia por el nuevo Coronavirus.

Palabras clave: complejidad, Edipo, ética, pandemia, reparación


RÉSUMÉ

Dans la trame complexe d'évènements qui sont interdépendants et qui caractérisent la condition Œdipienne en tant que carrefour de développement, je mets en relief la question de la réparation observée dans l'expérience analytique avec le petit Fritz en établissant des parallèles avec certains défis étiques présentés par l'expérience récente de la pandémie du nouveau Coronavirus.

Mots-clés: complexité, Œdipe, éthique, pandémie, réparation


 

 

Prólogo

Em meados de 2019, com a intenção de prosseguir um estudo a respeito do que prefiro chamar Édipo complexo (Sandler, 2015),2 contraponto à consagrada expressão complexo de Édipo, solicitei à biblioteca da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo um levantamento bibliográfico de artigos publicados a partir do ano 2000 que tivessem o Édipo como tema principal. Recebi 41 páginas com títulos de artigos indexados em português, espanhol, francês e inglês. Aparentemente, se minha estimativa não estiver incorreta, esse é um dos temas sobre os quais mais se escreve em psicanálise. Desde então, passei a me dedicar à leitura de um pequeno recorte daquele levantamento, estudo que deve se estender até o fim do ano, este mesmo ou algum outro. Meu propósito não era fazer uma revisão crítica e exaustiva da literatura, mas contemplar a multiplicidade dos caminhos de pensamento gerados pelo mito que Bion, espirituosamente, afirma ter possibilitado a Freud descobrir a própria psicanálise e, assim, o próprio complexo de Édipo. Bion vai além e se pergunta: "Ou será que quando esses elementos estão constantemente conjugados descobrimos o homem, a psique humana?" (1992/2000, p. 236). E quem seria esse "homem", a quem o Édipo descortina, transtorna e transforma, e do qual é o paradigma? Aquele que chegando a uma etapa crítica de desenvolvimento "tem que decidir entre conhecer a verdade sobre si mesmo ou evadir-se dela" (Money-Kyrle, 1977/1996, p. 383), fundamentando os alicerces da ética: orientação em direção à busca de verdade, responsabilidade por si mesmo, consideração pelo outro e arrependimento.

Por meio da minha pequena pesquisa, percebi que, entre os vários elementos e processos conjugados de forma complexa, a questão da reparação (Klein, 1937/1992), tão essencial à vida mental e às relações humanas, é insuficientemente ressaltada. Esse era um ponto de especial interesse para mim, surgido recorrentemente em minha experiência clínica, como ilustram aqui os excertos da análise de Fritz.

Eu planejara que esta escrita acontecesse em um tempo muito especial, o de uma viagem anual aos Estados Unidos, realizada desde 2011 nas semanas finais de março; uma viagem muito aguardada para celebrar o aniversário de nossa primeira neta, cujo nascimento nos trouxe um senso de realização, deslumbramento e gratidão para com a vida; o alívio de sentir uma missão cumprida, ou quase. Os filhos, sempre crianças em nossos corações, ao se tornarem pais, completavam mais uma etapa de seu desenvolvimento humano; concomitantemente, nos permitiam avançar mais um passo em nossa maturidade, demarcando com nitidez as diferenças entre nossas gerações e concedendo-nos a licença para envelhecer e um dia desaparecer em paz. A aceitação da finitude, sem ingenuidade ou autocomplacência, depende de uma moeda de troca - aquela da sublimação -, pela qual nos sentimos compensados em nossas fantasias de imortalidade através dos legados que deixamos, nossa descendência tanto em termos biológicos como em termos de feitos e ideias.

Percebo estar acompanhada pela esfinge e pelos elementos que ela propõe em seu desafio, os fundamentos da vida que precisam ser redescobertos por cada um de nós, as diferentes vivências de desamparo e incompletude no crescimento e na involução, no efêmero e transiente que evidencia a passagem do tempo.

 

Ananke: pandemia, pandemônio

Em meados de março de 2020, às vésperas de nossa viagem, uma nova doença contagiosa viral surgida em Wuhan, em fins do ano anterior, alastrare por vários lugares do mundo, e os primeiros casos passam a ser relatados também no Brasil. A doença é reconhecida como pandémica e demanda medidas severas de isolamento. As fronteiras geopolíticas, que foram incapazes de conter a disseminação da doença, fecham-se agora para minimizar danos. Em uma e outra situação perdem suas características de fronteira: delimitação, permeabilidade e trânsito seletivo. As notícias que acompanhavamos a uma hipotética e segura distância batem a nossas portas e nos obrigam a fechá-las; isolamo-nos fisicamente de parentes, amigos, vizinhos, filhos, netos, pacientes, supervisionandos, alunos.

A mundialização, até então fonte de integração e estímulo para intercâmbios culturais e econômicos, muitos dos quais alicerçados na exploração predatória de carências e vulnerabilidades, revela sua outra face: a destruição de seres humanos em grande escala pode ocorrer não por uma guerra nuclear ideologizada ou pela implacabilidade de interesses econômicos, mas pela rápida e incontrolável propagação de um vírus em sua impessoalidade de entidade microscópica não viva. Melhor encarnação da fatalidade, do acaso e das leis da natureza, Ananke, seria difícil de imaginar.

Nas novas fronteiras, vislumbramos, de um lado, a vida tal como a conhecíamos até então, vida em que a luta pela sobrevivência, a ameaça trazida por catástrofes naturais e as desigualdades sociais ficavam veladas pelos confortos materiais e avanços científicos e tecnológicos; do outro lado, a vida que clama a ser reinventada em sua essência, em seus detalhes.

Viagem cancelada na véspera, visito a sede de nosso Instituto e encontro vazio e silencioso o mesmo espaço ruidosamente apinhado de colegas engajados na formação analítica em um dia anterior, desmascarando de forma dolorosa minhas expectativas infundadas de previsibilidade, permanência e estabilidade na vida. Alguns analisandos se antecipam à minha perplexidade e comunicam que permanecerão em casa; outros relutam em renunciar à presença física no consultório, e ainda nos encontramos algumas vezes. Ao fim da última semana de março, talvez como grande parte dos analistas que conheço, eu, que até então só aceitara o setting virtual em condições excepcionais e por tempo limitado, tenho de escolher entre interromper o trabalho sine die ou rever meus preconceitos, enfrentar os desafios de redescobrir as invariantes da psicanálise nessa mudança catastrófica em que todos, analistas e analisandos, encontramo-nos subitamente imersos na mesma realidade traumática, sujeitos simultaneamente a vários estímulos compartilhados, privados de outros e limitados a uma comunicação à distância, com todas as questões que esta implica.

A atmosfera de medo e agonia instaurada paradoxalmente no aconchego e no conforto domésticos leva-nos a reconsiderar a todo momento nossos valores e relações com o outro e com o nosso entorno. Privados de satisfações substitutivas, derivativos culturais, esportivos e sociais, recaímos em autoimposto ascetismo, intercalado com uma pletora de ofertas para interação no mundo virtual.

Os imensos desafios que a pandemia nos apresenta, individual e grupalmente, científica e emocionalmente, convergem no exercício do respeito à realidade, da responsabilidade individual e da cooperação grupal em situações de grande tensão e perigo. Indagamos se a pulsão de vida investida em sua polaridade social-ista irá preponderar sobre a pulsão de morte matizada pela polaridade narcisista (Bion, 1992/2000). De um lado, cientistas em todo o mundo unem cooperativamente seus esforços em busca de tratamento e prevenção para a doença, laboratórios consideram abrir mão de lucrativas patentes de matérias-primas para a fabricação de medicamentos cuja eficácia ainda é duvidosa; de outro lado, observamos reações individuais e grupais insensatas e contrafóbicas, manifestações de racismo e obscurantismo com franca hostilidade à ciência e a seus métodos, apelo a soluções mágicas, disseminação de inverdades para fins de manipulação e de lucro político e econômico.

Como qualquer manifestação da natureza de grande magnitude, a pandemia nos coloca face a face com o nosso desamparo, e se por um lado nos ameaça com a aniquilação, por outro nos impele para a cultura e civilização. Sabemos, porém, que a relação do ser humano com a civilização caracteriza-se sempre por acentuada ambivalência, já que a proteção obtida e a superação das ameaças ocorrem às custas de grandes restrições e cerceamentos instintuais (Freud, 1927/1974a, 1930/1974b), o que empresta muita instabilidade a todo e qualquer movimento cooperativo.

E para que serve um psicanalista nessas circunstâncias?

Conseguiremos sonhar nesta condição? Conseguiremos sonhar esta condição, o sonho da extinção coletiva da espécie, e aprender algo com essa experiência? Conseguiremos operar com alguma independência e recuperar a cisão analítica, a fronteira que nos permite exercer a função analítica, e recrutá-la também na mente do analisando, de modo a examinar com a tranquilidade e os cuidados necessários à sua subjetividade? Como exercê-la, essa atividade analítica que se ocupa do sofrimento psíquico, sem a presença física do analisando e das experiências sensoriais e emocionais específicas que esse encontro propicia? Como nos dedicar a essa atividade sem senti-la irrelevante perante o colossal número de vidas perdidas e pessoas gravemente doentes e o agravamento do desamparo nas camadas mais desfavorecidas da população, como se estivéssemos a nos cegar diante do trágico sofrimento da coletividade? Bion (1992/2000) assinala que o analista, mesmo no isolamento em que trabalha com pacientes com acentuados aspectos narcísicos, deve ter uma consciência social em um grau muito elevado; caso contrário, o senso comum, parte necessária de seu equipamento para o contato com a realidade, pode ficar ofuscado.

Pergunto-me agora se o entrelaçamento que proponho neste texto -entre a experiência singular de uma análise cuja elaboração teórica se refere ao Édipo, com ênfase na reparação, e as reflexões suscitadas pela pandemia, mais especificamente por um aspecto - faz sentido apenas para mim ou pode interessar a mais alguém. Refiro-me à peste, encarnação do acaso ou do destino, elemento na tragédia de Sófocles que sempre me parecera apenas um recurso dramático, deus ex machina, para construir o cenário que engendra a tragédia e confrontar seus protagonistas, e que subitamente ganha uma relevância inesperada no dia a dia e na vida mental das pessoas em todo o mundo.

 

Logos e Eros

Henrique Cairus, em um artigo chamado "A peste na literatura grega", observa que a peste ocorre em três obras fundamentais para o estudo da cultura grega e que

essas obras se tornaram, em tempos diferentes, fundadoras e basilares, e constituíram, ao longo dos séculos, referenciais de um Ocidente que ainda se constrói. Refiro-me, notadamente, à Ilíada, a Édipo rei e à Guerra do Peloponeso, de Tucídides. A Ilíada, de fato, começa com uma peste. Começando, assim, com uma peste toda a tradição literária ocidental. (2020, p. 1)

O autor chama a atenção para o que denomina de processo de coletivização do mal, nósos, que "une um dado contingente de personagens em uma mesma situação que se sobrepõe a qualquer outra, porquanto apela diretamente à morte" (p. 2).

Nesse interessante ensaio, Cairus ressalta a coadjuvação, na literatura do século v a.C., entre a peste e a guerra (como luta contra o inimigo desconhecido, estrangeiro) ou a stásis (como luta entre consanguíneos) como situações críticas para a civilização. "A peste confunde-se, pois, com a stásis, e são, ambas, males sociais" (p. 6). A anomia, desvio, transgressão ou negação das regras, acompanha a peste. Em Édipo rei, a anomia consiste no lugar equivocado ocupado pelo protagonista.

O pensamento mítico e a narrativa trágica recorrem ao encadeamen-to causal e compreensivo, a doença como decorrência de erros e afrontas humanos, os quais ao mesmo tempo denuncia e pune. Fora desse âmbito, sem as relações de causa e efeito, sem necessariamente encontrarmos sentido ou significado nos eventos da vida, a possibilidade de extinção em massa da qual a peste nos avizinha de uma experiência-limite em termos de pensabilidade. Não se trata mais do apaziguador e facilmente aceito silogismo - sei que sou mortal, pois todos os homens são mortais - que realizamos esporadicamente em uma experiência pessoal de adoecimento ou de perda e para cuja elaboração podemos contar com o tempo e o apoio afetivo de parentes e amigos. A peste coloca em xeque também a fantasia de autoperpetuação e imortalidade através da nossa descendência a que me referi no início deste texto. Diferentemente de uma catástrofe natural ou acidente em um lugar longínquo, que vitima grande número de pessoas com as quais não temos laços de amizade ou parentesco - situação que nos comove e recruta nossa empatia e solidariedade, mas não nos ameaça diretamente -, a peste tem o potencial de estimular em cada um de nós o salve-se quem puder. Não há lugar para buscar exílio ou refúgio, pois Tebas agora é o mundo, todo e qualquer lugar do mundo agora é Tebas. A peste que nos arremessa ao terror demanda reconhecermos na imprevisibilidade da vida um dos aspectos mais rejeitados e odiados pela mente humana: o acaso, o fortuito, a fatalidade, a falta de significado.

Perante a fatalidade, o apego a relações de causa e efeito, temporalidade e compreensibilidade gera fantasias onipotentes de culpa que atendem a esses quesitos. Essas fantasias dificultam o doloroso processo de integração de experiências emocionais com colorido de satisfação e frustração, amor e ódio, pois afetam a própria percepção da destrutividade em relação aos objetos amados, o que poderia levar ao reconhecimento de responsabilidades para com esses objetos e ensejaria o advento da reparação. Em vez disso, a culpa fantasticamente distorcida por essas fantasias se presta muito mais à projeção no exterior, criando inimigos e bodes expiatórios. Na tragédia de Sófocles, Édipo alterna entre a arrogância e a autopunição cruel, no mesmo desfiladeiro delineado por cegueira e onipotência.

As múltiplas vertentes teóricas, clínicas, técnicas, históricas, míticas, antropológicas que vêm e vão do Édipo tecem uma trama densa e complexa de concepções a respeito do psiquismo humano, em constante rearranjo e expansão. Nessa trama se inserem os mais variados processos que resultam na humanização e psiquicização do ser humano, a possibilidade de termos consciência da natureza da vida e da inexorabilidade da morte, a incompletude que a sexualidade revela e impõe, as fronteiras da alteridade que interditam a destruição física do outro ou de sua subjetividade por assassinato e incesto. É necessário reconhecer e respeitar as diferenças geracionais, as diferenças entre os sexos, os laços de parentesco e os ciclos da vida, alicerces éticos da cultura e civilização, o mais humano do humano. O Édipo, afora os seus conteúdos de emoções e pensamentos especificamente ligados à sexualidade, é uma encarnação da curiosidade, uma preconcepção que permite à criança descobrir e compreender a relação entre os pais, uma ferramenta que permite à psicanálise explorar o próprio pensar (Bion, 1963/2004), sendo portanto o ponto de partida de processos dinâmicos em uma encruzilhada de desenvolvimento (Bion, 1992/2000). Para Bion (1992/2000, 1963/2004), a inclusão de uma ou mais versões do mito, tragédia e teoria no repertório de um psicanalista define a sua congruência com a psicanálise e com quem a exerce. Um shibboleth, pois oferece uma fonte inesgotável para manter vivo nosso pensar, coadjuvando Ananke a Logos e Eros, sorte e escolha, acaso e necessidade, razão e pulsão de vida, indivíduo e grupo. Mas o que pensará, você leitor, a respeito do valor destas reflexões psicanalíticas em um momento como este?

 

Fritz e o caminhão de mudanças

O material clínico proveniente da análise de Fritz3 tem posição central em minha reflexão, e espero que a razão dessa decisão fique evidente per se. Apenas para dar uma amostra, após várias peripécias vividas durante nosso trabalho, iniciado quando Fritz acabara de completar 3 anos de idade, ouço-o concluir com um filosófico insight que "'ordinar' é muito mais difícil que 'disor-dinar"', sintetizando assim um importante elemento de aprendizado a partir de nossas experiências, aquele que coloca em primeiro plano a questão da violência, destrutividade e culpas subjacentes, tanto com matizes persecutórias como com matizes depressivas.

Ele é pequeno e franzino, inteligente e belo, grandes olhos negros profundos e penetrantes, sério e sempre muito atento para surpreender e tumultuar a qualquer momento. Poderia ser descrito como uma peste, um criador de casos e tumultos: na escola, com as meias-irmãs, com as babás. Suas ações tiravam as pessoas do sério e deflagravam situações caóticas, pandemônios. Dormia pouco e ficava doente com frequência em razão de uma condição alérgica importante; afastava o pai com hostilidade quando este tentava abraçá-lo ou beijá-lo.

Quando o conheço, ele logo mostra a que veio. Levo um sopapo em um momento em que estou concentrada em observar seu brincar, o que me

Ester Hadassa Sandler desorganiza momentaneamente. Desde o primeiro ataque, digo a Fritz que não vale bater, nem me machucar ou se machucar, mas que ele pode contar qualquer coisa que esteja sentindo ou pensando, ou me mostrar tudo isso brincando. Ele faz alguns poucos testes, mas acaba aceitando o limite-convite.

Fala muito corretamente e tem um vocabulário extenso e rico, nomeando com precisão objetos, ferramentas, peças de automóveis e motocicletas, e outras tantas coisas que são de interesse comum entre ele e esse pai que se sente rejeitado por ele, coisas de meninos, como me diz. Sempre traz consigo algum brinquedo de casa, principalmente carrinhos dos quais cuida com zelo quase obsessivo. Percebo um esforço para separar o que deve ser cuidado, aquilo que é seu e ama, do que pode ser destruído à vontade, aquilo que não é seu e pode desprezar. Mas esse arranjo exacerba a descarga e amplia a violência, colaborando para que a cisão perdure. Não posso deixar de assinalar que é essa mesma cisão, quando mantida de forma continuada e acompanhada pela projeção dos aspectos indesejados do self em objetos, que origina e fundamenta todas as formas de preconceito, tanto em nível individual como em nível grupal.

Quando a fúria demolidora de Fritz extrapola para o mobiliário, os vidros etc., relembro a ele o nosso trato. Atuações desse tipo são repentinas, imprevisíveis. Algumas vezes, percebo nelas um componente provocativo; outras me parecem mais um transbordamento, uma imprevista tempestade em céu azul. Interpretações baseadas na suposição comunicativa da identificação projetiva não repercutem. Ele me olha como se eu estivesse falando uma bobagem e continua a atuar. Somente depois de muito caminho andado, percebo que um dos principais gatilhos para essas atuações é a observação de algum defeito ou estrago: uma irregularidade no chão, uma sujeira minúscula, uma pastilha lascada, um lápis cuja ponta está quebrada, algo que a seus olhos não está perfeito, talvez por esses estragos corroborarem suas fantasias onipotentes de culpa; e isso deflagra uma tentativa de destruição total do objeto danificado. Só mais tarde será possível interpretar e elaborar esses movimentos, que lembram fortemente a vandalização e depredação que observamos se imiscuir em protestos e manifestações grupais legítimas e necessárias (Sandler, 2014), e que penso representar a extinção da esperança, o mais profundo desalento e a descrença em qualquer possibilidade de reparação.

Trabalhávamos há pouco mais de um ano quando fomos avisados de que havia um bebê a caminho. A turbulência se intensifica. Assim que entra, Fritz joga sua caixa no chão com estrondo, esparramando o conteúdo. A desordem o incita a uma atividade sistemática de fragmentação de cada pedaço de cada coisa, brinquedo ou material gráfico. Cada coisa que se quebra estimula novos quebra-quebras. O piso da sala e o mobiliário ficam recobertos de minúsculos fragmentos de materiais e muita poeira. Com incrível energia, levanta a casinha de bonecas que temos na sala e a arremessa contra as paredes ou para o alto. Aos poucos, conseguimos introduzir nessa situação contornos de uma brincadeira, a atividade de uma bola de demolição e de um bulldozer. Posteriormente, ele define a brincadeira como os estragos feitos por um caminhão de mudanças desgovernado. A casinha se desmonta, os móveis que estão lá dentro também, o telhado se desfaz deixando à mostra os pregos pontiagudos, os bonecos são estraçalhados, os carrinhos desmontados, peça por peça. Mas Fritz faz questão de guardar tudo, das peças dos automóveis com alguma integridade até os fragmentos pulverizados que são acondicionados em frascos. Para acomodar tudo, a caixa original de Fritz, feita de madeira e totalmente danificada, é substituída por outra de plástico, que logo tem o mesmo fim, a lata de lixo.

Que tipo de continente, concretamente falando, consigo oferecer a ele? Durante algum tempo, usamos um saco de pano macio e maleável, mas bastante resistente, para coletar todos os fragmentos que restam. Em um momento posterior, Fritz usará boa parte desses restos em colagens, remontagens, esculturas, invenções. Dentro dos limites estabelecidos, vamos tratando do caminhão de mudanças que sente com a chegada do irmão na família, seus ciúmes e receios de ser colocado de lado, sua curiosidade sexual a respeito da relação entre os pais. Quando o irmão nasce, Fritz o recebe com afeto, é paciente com ele e se diverte assistindo a seu desenvolvimento, embora sinta algum ciúme, de que fala com tristeza.

 

Nasce um pesquisador, detetive e cientista

A curiosidade sexual é intensificada pela gravidez e pelo nascimento do irmão. Pesquisa e elabora a função masculina, o relacionamento amoroso de um casal necessário para gerar um bebê, a relação sexual e o prazer envolvido. Arma uma tenda de cientista e inventor; traz uma lupa e brinca de detetive, observando aquilo que a lente amplia, usando-a para tentar concentrar um raio de sol e incendiar um papel. Nesse momento, voltamos a ter uma caixa com contornos definidos.

Destaco duas situações que ocorrem em um período do terceiro ano de análise de Fritz, quando ele está com mais ou menos 5 anos e meio de idade.

A primeira é uma brincadeira de detetive para a qual usa um jogo de tabuleiro. O jogo tem vários bonequinhos que representam os personagens, e o tabuleiro reproduz os aposentos de uma casa. Ele escolhe para si o personagem masculino mais imponente, que tenta cortejar e seduzir a personagem feminina mais sensual, uma bonequinha que Fritz contempla com olhar embevecido; encena situações em que os outros personagens masculinos disputam a bela mulher, mas ele os espanca e afugenta. Meu personagem é uma senhora de cabelos brancos que apenas observa. Um dia, Fritz chega com um boneco do Batman, bastante semelhante ao que tem em sua caixa. Ele salienta que não são iguais, apenas muito parecidos. Dessa vez, os dois Batman disputam a bela mulher de forma cavalheiresca, pois são dois "amigões". Rapidamente fazem um acordo, deixam a moça em casa e saem para caçar bandidos. Quando voltam, os três confraternizam e vão dormir na mesma cama, a moça no meio. Enquanto dormem, os dois Batman trocam chutes e se estapeiam, porque "estão sonhando que estão lutando com bandidos" e acordam doloridos sem saber o que lhes aconteceu. A encenação é muito engraçada. Experimento um encantamento ao visualizar a identificação com o pai, a possibilidade de amá-lo, a renúncia pela mãe enquanto objeto sexual, a consecução da triangulação. Assisto também à expressão da formação de uma barreira de contato e da operação da repressão como fronteira e membrana permeável e necessária entre consciente e inconsciente, quando Fritz encena a rivalidade e agressão entre os Batman como sonho. Não me surpreendo ao encontrá-lo na sala de espera tranquilo e amorosamente instalado no colo do pai, ambos felizes.

A segunda situação surge quando ele resolve consertar a casinha cujos restos sempre deixei presentes em nossas sessões. Ele quer consertá-la de fato, usando ferramentas de sua caixa. Depois de alguns esforços infrutíferos, conclui: "'Ordinar' é muito mais difícil que 'disordinar" e desiste decepcionado.

Um tempo depois, encontro Fritz na sala de espera, emburrado, junto à babá e um grande embrulho. Uma maravilhosa casa de brinquedos enviada pelos pais. Ele fica todo feliz e aliviado quando declino receber o presente e digo que reordinar a nossa casinha é difícil, mas importante para ele, se e quando quiser tentar de novo.

Fritz alterna períodos de desordem e violência, agora muito mais controlada, com períodos de restituição obsessiva; por exemplo, depois de lamber todos os vidros para ficarem nojentos para os outros, faz meticulosas limpezas no consultório. Consegue também transitar de um estado mental mais perturbador para estados mais favoráveis, em que brinca, cria e se diverte.

Passados vários meses, Fritz solicita cola e tinta para voltar a trabalhar na casinha. Os móveis são colados nos aposentos para nunca mais saírem do lugar. No lugar do telhado, cola uma geladeira que parece uma chaminé. A casa recebe sucessivas mãos de tinta, um verde bem escuro, resultado da mistura de várias cores e de muito preto. A aparência é sombria, mas Fritz fica satisfeito com o resultado, e eu preciso me refrear para tolerar a permanência da tristeza nesse pequeno parceiro de trabalho, pois talvez nenhuma reparação possa - e talvez não deva - erradicar a percepção da destrutividade que a precedeu; caso contrário, seria fácil repeti-la indefinidamente.

Quando Fritz me reencontra no início do ano, após as férias de verão, abre um sorriso iluminado e vibrante de alegria, uma novidade. E assim é todas as vezes que nos encontramos, até a nossa súbita interrupção pelo início da quarentena.

Pede papel, muito papel. Unindo as folhas, começa a construir uma pista de corrida para dois de seus carrinhos, e a cada sessão vai ampliando e reformulando a pista. Um pântano com jacarés é criado com uma mistura amarronzada de várias coisas que um dia pulverizou. Ele se recorda satisfeito desse dia, o dia da criação dessa "substância". Em outra sessão, uma ponte é construída para que os carros atravessem o pântano em segurança. Áreas de socorro, abastecimento e conserto vão sendo providenciadas. Paisagismo também. A pista tem muitos entrecruzamentos e alternativas de rota, para que os carros a percorram sem acidentes, cada um a seu tempo. Nossa pista segue guardada, esperando o momento em que talvez possamos nos reencontrar.

 

Compaixão e verdade, caritas

A reparação aparece tardiamente na obra de Melanie Klein (1932/1986, 1937/1992, 1946/1993a, 1952/1993d), abarcando um conjunto de processos em termos de fantasias e mecanismos de defesa, conectada à precipitação da constelação edípica. Alguns dos processos precursores da reparação são descritos com características marcantes de mecanismos de defesa maníacos e obsessivos onipotentes, visando desfazer ou contrabalançar os danos realizados em fantasia, recebendo a denominação de restauração e/ou restituição. Ao longo da obra de Klein, a reparação e a restituição ou restauração aparecem algumas vezes como conceitos intercambiáveis, mas a reparação acaba por ter um estatuto próprio, incluindo essas modalidades defensivas como componentes ou estágios, mas transcendendo-os quando plenamente alcançada.4 Correlata e interconectada ao conceito de sublimação, de Freud (ver Laplanche & Pontalis, 1967/1977, pp. 637-641), contemplam ambos a possibilidade de verdadeiras transformações pulsionais, e não apenas desvios de objeto ou finalidade, formações reativas ou soluções de compromisso. O impacto da reparação, expressão direta do instinto de vida no mundo mental e nas relações interpessoais e grupais, é inequívoco. É apenas através dela que

Ester Hadassa Sandler a dimensão ética do indivíduo e do grupo, do indivíduo no grupo e do grupo no indivíduo pode ser alcançada (Klein, 1942/1993c; Sandler, 2012).

Observa Maria Emilia Steuerman a respeito do amor como reparação na visão de Klein, caritas, um amor com real preocupação e respeito pelo outro:

O amor como preocupação com um objeto distinto de nós ganha seu significado pleno quando abordado contra o pano de fundo do poder de nossas pulsões destrutivas. As nossas capacidades mais maduras de pensamento e reflexão provêm desse reconhecimento. Assim a responsabilidade pelo outro não é apenas um dever para com outra pessoa, mas uma precondição básica para nossa própria felicidade. (2003, p. 119)

Foi inevitável pensar nos paralelos entre a minha história com Fritz e a situação que estamos vivendo. As ações de Fritz, deflagradas na maior parte das vezes pelo contato com o imperfeito, o danificado, o mal-estar, dentro e fora de si, suscitavam com frequência reações de transbordamento, perda da capacidade de pensar e da continência em seu entorno, sendo assim altamente "contagiosas". Confirmavam suas próprias fantasias de ser onipotente e destrutivo, onipotentemente destrutivo, e estimulavam-no a recorrer a mais e mais atuações. O resultado, um desalento profundo, em que se vê incapacitado e sem valor interno, pois perde a bondade de seus objetos (Klein, 1942/1993c). Mas Fritz descobre a possibilidade de se abster da ação e disordinar menos. Brincando, conversando, pensando, descobre-se capaz de ordinar, reparar e recriar. A reparação efetuada na casa de bonecas, tal como na arte japonesa do kintsugi,5 exibe as feridas do passado, em vez de negá-las ou dissimulá-las.

Que mundo encontraremos após a pandemia ter sido controlada? Teremos aprendido alguma coisa com essa terrível experiência, que nos defrontou súbita e violentamente com um desgovernado caminhão de mudanças, em que milhões de pessoas já adoeceram, centenas de milhares de vidas foram abruptamente encerradas, famílias desfeitas, trabalhos extintos? Continuaremos indiferentes ao desamparo e sofrimento decorrente das desigualdades sociais acentuadas, dos preconceitos e da intolerância às diferenças? Existe reparação possível sem reconhecermos nossas responsabilidades perante a maneira como nos relacionamos com o mundo em que vivemos, a natureza e os seres vivos que o habitam e as formas pelas quais, direta ou indiretamente, ativa ou passivamente, colaboramos para sua disordinação? Suportaremos a tristeza e a dor inerentes à percepção de que a reparação possível é sempre parcial, limitada, trabalhosa e frustrante, pois não apaga o que aconteceu? Que caminho escolheremos nessa nova encruzilhada, e qual será a possível contribuição da psicanálise e dos psicanalistas para que esse seja um caminho de crescimento ético?

 

Referências

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Recebido em 20/7/2020
Aceito em 21/1/2021

 

 

1 Escrevi este texto nos primeiros meses de 2020 com vistas a uma eventual publicação em número da Revista Brasileira de Psicanálise que seria dedicado ao Édipo. Sob o impacto da pandemia e de outras circunstâncias, o texto está sendo publicado agora, quase um ano depois de ter sido escrito. Todas as referências temporais que faço no texto dizem respeito, portanto, a esse período. Passado esse tempo, espero que estas reflexões continuem pertinentes e úteis ao leitor.
2 As diferenças implicadas nessa mudança de enfoque não serão abordadas em detalhe aqui. De forma muito sucinta, e apenas para orientar o leitor, consistem em considerar a interação de múltiplos processos mentais descritos usualmente em separado na literatura psicanalítica, retirando deles a ordenação temporal como etapas de desenvolvimento e as relações de causa e efeito com que muitas vezes são postulados. Alguns exemplos dessas concepções, muitas vezes colocadas em oposição e concorrência umas às outras, de acordo com autores e perspectivas teóricas diferentes, são o Édipo precoce ou tardio, o pré ou pós-edipiano, e o Édipo do id ou do ego.
3 Assim nomeado em homenagem em contraponto ao fóbico pequeno Hans e aos personagens de uma história em quadrinhos que lia na minha infância, Os sobrinhos do capitão, Hans e Fritz. Esta foi a primeira história em quadrinhos a ter os diálogos representados em balões, em 1897, associando imagem e palavra. Criada por Rudolph Dirks, a história, cujo nome original é Katzenjammer kids, retrata as travessuras, muitas vezes maldosas, e a turbulência emocional de dois irmãos gêmeos - duas pestes - em sua relação com os adultos, sob forma não censurada pelo politicamente correto. Assim, essa história colaborou para a elaboração da turbulência e dos impulsos sádicos e destrutivos de muitos de seus leitores infantis, desde a geração da minha avó até a minha.
4 "Tais ansiedades persecutórias descobri alternando ou combinadas com profundos sentimentos de depressão e culpa, e essas observações me levaram então à descoberta da parte vital que a tendência a fazer reparação desempenha na vida mental. Nessa acepção, reparação é um conceito mais amplo do que os conceitos de Freud de 'desfazer na neurose obsessiva' e 'formação reativa'. Pois ela inclui a variedade de processos pelos quais o ego sente que desfaz o dano feito em fantasia, restaura, preserva e revive os objetos. A importância dessa tendência, ligada como é aos sentimentos de culpa, também reside na contribuição principal que faz a todas as sublimações, e desse modo à saúde mental" (Klein, 1955/1993b, p. 133).
5 Para maiores detalhes, recomendo o documentário da bbc sobre o tema (BBC Reel, 2020).

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