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versión impresa ISSN 0101-3106
Ide (São Paulo) vol.40 no.64 São Paulo jul./dic. 2017
EM PAUTA | INTERPRETAÇÕES DA CULTURA
O mal-estar na identificação: diferenças entre Fernando Pessoa e o sujeito pós-moderno
Discontents in identification: differences between Fernando Pessoa and the postmodern subject
Nelson da Silva Junior
Psicanalista, doutor pela Universidade Paris VII, professor livre-docente do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). Membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae e da Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental. Coordenador do Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise, juntamente com Christian Dunker e Vladimir Safatle. Autor dos livros: Le fictionnel en psychanalyse. Une étude à partir de l'œuvre de Fernando Pessoa (2000), Linguagens e pensamento. A lógica na razão e desrazão (2007) e Histeria e gênero: o sexo como desencontro (2015)
RESUMO
O artigo argumenta a partir da hipótese de uma relação de simetria inversa entre Pessoa e o sujeito pós-moderno: Pessoa desconstrói a identidade em um mundo estruturado segundo identidades fixas, enquanto o sujeito pós-moderno busca se apoiar em uma identidade num mundo onde ela parece não funcionar mais em vista de um novo contexto socioeconômico. O texto traz exemplos ilustrativos das identificações, da economia e dos destinos pulsionais dos sujeitos em cada um dos momentos da cultura, o moderno e o pós-moderno, e conclui com algumas considerações sobre a relação entre as hipóteses freudianas do mal-estar na civilização e a situação atual, assim como suas possíveis soluções para as exigências pulsionais.
Palavras-chave: Modernidade. Pós-modernidade. Identificação. Fernando Pessoa. Modificações corporais.
SUMMARY
The article assumes the hypothesis of a relation of inverse symmetry between Pessoa and the postmodern subject: Pessoa deconstructs identity in a world structured according to fixed identities, while the postmodern subject seeks to rely on an identity in a world where it seems to no longer work due to a new socio-economic context. The text provides illustrative examples of the identifications, the economy and the drive destinies of the subjects in each of the moments of the culture: the modern and the postmodern, and concludes with some considerations on the relations between the freudian hypothesis exposed in Civilisation and its discontents and the present social situation as well as its possible solutions for the drive exigences.
Keywords: Modernity. Postmodernity. Identification. Fernando Pessoa. Body modifications.
Introdução
Gostaria de apresentar aqui algumas hipóteses sobre um campo que creio merecer o nome de mal-estar na identificação. Trata-se, sobretudo, de tentar descrever a estrutura histórica mais ampla que define esse mal-estar, a saber, aquela que é determinada pela cultura. De fato, esse é um dos sentidos da alusão que este título pretende fazer ao texto de Freud, Mal-estar na cultura, texto que apresenta o modo pelo qual a cultura determina um mal-estar de modo necessário, e não apenas contingente.
Além disso, estou aqui me propondo também a pensar o mal-estar na identificação na cultura atual. Isso implica que se re-tome, de modo comparativo, algumas diferenças entre o sujeito moderno e o sujeito pós-moderno em suas respectivas formas de sofrer os males da identificação. A escolha de Fernando Pessoa não é assim um acaso, ele é provavelmente o poeta que mais radicalmente questionou a existência do sujeito como tal, não apenas na língua portuguesa, mas na literatura como um todo. Minha intenção é tomar Fernando Pessoa como um paradigma dos limites do projeto da modernidade. Contudo, Pessoa é igualmente um paradigma da crise e mesmo da falência do projeto moderno. Ele é autor de uma obra marcada por uma contradição exemplar. Pois, por um lado, a obra de Fernando Pessoa coloca em questão toda e qualquer pretensão do sujeito a fundamentar-se em uma consistência qualquer, avançando problemáticas da identificação do sujeito que fazem parte do dia a dia atual quanto à ausência de referências, por outro lado, ele o faz no interior de um horizonte absolutamente condizente com a modernidade.
Assim, Fernando Pessoa ocupa uma posição privilegiada no campo que nos interessa, o dos avatares da identificação entre a cultura e o sujeito. Mas, se Pessoa se coloca no interior do projeto moderno, isso implica que ele está fora do espaço de um mal-estar pós-moderno. Enquanto paradigma do mal-estar tipicamente pós-moderno na identificação, tomarei a experiência de alguns jovens com suas tatuagens e piercings. São relatos que deixam a entender que tais modificações corporais se fazem como uma reafirmação da consistência do sujeito, mas no interior de um mundo onde isso já não faz mais realmente sentido. Haveria, portanto, entre Pessoa e o sujeito pós-moderno, uma relação de simetria inversa: Pessoa desconstrói a identidade em um mundo estruturado segundo identidades fixas, enquanto o sujeito pós-moderno busca se apoiar em uma identidade num mundo em que ela parece não funcionar mais.
A literatura moderna: da morte de Deus à morte do sujeito
A história da identidade individual do sujeito é mais breve do que poderíamos supor, dada sua importância em nosso tempo. Seu início se deu a partir do final da Idade Média, as instituições culturais perderam a força garantida pelo discurso religioso. O estado laico passa a organizar o espaço social e as relações entre os indivíduos. Inicia-se uma orfandade moral do homem e a necessidade de inventar a cada vez novas justificativas da moralidade. Com efeito, a modernidade se caracteriza pelo imperativo de uma construção incessante de si. Sem poder contar com um princípio transcendente que possa ser evocado para as coerções cotidianas, a forma contratual e racional, fundada na liberdade e na igualdade dos contratantes, é colocada no lugar da proibição do desejo do discurso religioso (Taylor, 2004).
Naturalmente, a nova conquista trouxe consigo novas ameaças. É na literatura que podemos marcar mais claramente as novas angústias trazidas pela identidade como apoio ontológico do sujeito. O questionamento da identidade, da existência do narrador, foi uma das aventuras literárias características do século XIX. Hermann Melville inicia Moby Dick (1851) com a sentença "Call me Ishmael", introduzindo o leitor na incerteza hiperbólica da identidade no mundo da narração. A radicalidade de tal questionamento possui um inquietante efeito de disseminação no espaço literário, sendo, em certa medida, inseparável da constituição desse espaço, tal como nos demonstrou Maurice Blanchot (1988). Se a identidade do narrador é uma aposta, não o seria também aquela de seu leitor?
Assim, trinta e poucos anos antes de Melville, Hoffmann já desperta o leitor no interior do universo inquietante, quando inicia O homem de areia (1816/2010) não com um narrador, mas com uma sequência incomum de trocas epistolares: Natanael escreve a Lothario, irmão de sua noiva, Clara, a respeito de seu terror na infância do homem de areia e sua associação entre Coppelius e Coppola, mas envia "erroneamente" essa carta a Clara, que lhe responde com outra carta, denunciando seu engano. Natanael volta a escrever para Lothario sobre as assimilações entre a identidade de Coppelius, Coppola e Spalanzani, buscando separar o que é fruto de sua imaginação do que é real. O que esse quiproquó epistolar de fato revela é a ausência de um narrador que se responsabilize pela verdade da narração, inaugurando uma insegurança inédita na literatura e na cena cultural europeia.
A cultura aguardaria mais de um século até Lacan propor a hipótese de que esta ausência de um Outro do Outro possui uma função estrutural na própria constituição do sujeito. Enquanto estrutural, essa função pode estar sujeita a falhas, como, por exemplo, a forclusão do Nome do pai, a qual estaria na origem dos sintomas da psicose (Lacan, 1981). Mas, nesse meio tempo, a ausência do grande Outro, a morte de Deus, teve tempo de amadurecer em inúmeras formas, tanto na literatura quanto na filosofia, até chegar à problemática da morte do sujeito.
Na filosofia, a ideia de uma eficácia própria dos processos de ruptura foi introduzida pelo pensamento hegeliano, ao conceber a negatividade enquanto motor do movimento do pensamento filosófico. A centralidade da figura da negação no interior do sujeito do conhecimento implicou em sua inclusão no campo de forças de seus objetos de conhecimento, abrindo a possibilidade de uma análise das condições históricas do conhecimento. A partir deste efeito de inclusão do espírito no mundo, o destino da figura da negatividade foi, nas ciências humanas, estar presente em questionamentos de vocação ética, fornecendo um fino instrumental de interpretação e de desvelamento de formas sutis de poder e violência, como a genealogia foucaultiana dos mecanismos silenciosos do poder na própria textura do discurso e das organizações sociais.
Mas, a negatividade hegeliana teve igualmente consequências marcantes no campo da teoria do conhecimento. Ideias como a transformabilidade do sujeito do experimento, durante o experimento e principalmente pelo experimento, foram concebidas ou apoiadas a partir dessa filosofia. Com efeito, a negatividade hegeliana é de natureza a transformar a própria estrutura e a lógica do conhecimento, rompendo com o paradigma kantiano de um sujeito imutável em suas categorias a priori da razão, com importantes efeitos de abertura no campo epistemológico.
Esse pensamento não apenas marcou o declínio irremediável do poder divino, como também abriu a possibilidade da falência de um ideal de razão como organizador do mundo e dos homens. Assim, a categoria do "semelhante" foi aos poucos sendo substituída por uma alteridade de "presença incerta". Autonomia inédita e desamparo transcendental aparecem como duas faces de uma mesma moeda no pensamento pós-hegeliano sobre a subjetividade. Na literatura do século XX, a problemática do negativo surgiu como a matriz de novas possibilidades de produção e de recepção artística. Robert Musil, Fernando Pessoa, Borges, Clarice Lispector, Joyce, Kafka, Celan, Beckett, entre muitos outros, exploram minuciosamente a poética trágica do "homem sem qualidades": um homem feito apenas de restos e silêncios da linguagem e cuja perplexidade diante de um mundo de forças sem sentido é sua única verdade.
Fernando Pessoa, uma obra sobre o fim do sujeito
A obra de Pessoa comporta a particularidade de abordar a figura da pessoa a partir do negativo, do nada constitutivo da pessoa. No Livro do desassossego (Pessoa, 1999), escrito pelo semi-heterônimo Bernardo Soares, temos um exemplo da desertificação do ser realizada por Pessoa:
Tornei-me uma figura de livro, uma vida lida. O que sinto é (sem que eu queira) sentido para se escrever o que se sentiu. O que penso está logo em palavras, misturado com imagens que o desfazem, aberto em ritmos que são outra coisa qualquer. De tanto recompor-me destruí-me. De tanto pensar-me, sou já meus pensamentos mas não eu. Sondei-me e deixei cair a sonda; vivo a cada pensar se sou fundo ou não, sem outra sonda senão o olhar que me mostra, claro a negro no espelho do poço alto, o meu próprio rosto que me contempla a contemplá-lo. (Pessoa, 1999, p. 201)
No centro da escrita de Pessoa, encontramos uma função da pessoa (Jemand) que não é ninguém (Niemand). Aqui, antes mesmo de ser alguém, antes que ele adquira uma visão qualquer na imaginação do poeta, o interlocutor responde pela sua nulidade, pela ausência da qual testemunha a palavra pessoa. É nesta negatividade essencial, presente no seio mesmo da estrutura da alteridade, que a escrita pessoana parece encontrar sua origem.
O ser, ou melhor, a impossibilidade de ser, constitui a inquietude fundamental que atravessa a obra de Pessoa. Ele explorou as maneiras e as possibilidades de não ser em seus heterônimos de forma diferencial.
A inversão e a exploração dos aspectos desta sombra, na qual o poder de corrosão ante a existência é absoluto, constituem o cerne da distinção dos heterônimos restantes: perante a mesma negatividade do tempo como finitude, o engenheiro futurista Álvaro de Campos reage com emoção, afirmando da existência sua intensidade, enquanto o médico latinista Ricardo Reis adota a melancolia estoica. A sombra da existência recebe ainda outros pontos de vista com o ortônimo Pessoa e o semi-heterônimo Bernardo Soares, além da finitude, também a alteridade vem assombrar a luz da presença. Em uma palavra, nós somos confrontados com o florescimento em ato da lógica virtualmente infinda de um Tratado da negação, obra capital de Raphael Baldaia, outro personagem larvar na constelação de subjetividades de Pessoa. Assiste-se, com efeito, a uma verdadeira distinção animista de metáforas da negatividade, porque cada um dos heterônimos encarna um modo privilegiado da ruptura com o totalitarismo da positividade do ser.
É talvez apenas na junção de todas estas negatividades que assombram a existência do sujeito que se poderia encontrar uma unidade para o mundo pessoano (Soler, 1995). Nesse sentido, Fausto, uma tragédia subjetiva, peça inacabada do movimento teatro estático, retoma e localiza, com ainda mais precisão, o campo no qual se circunscreve a distinção das negatividades que a obra de Pessoa opera. De modo que é possível afirmar a existência de uma "ontologia negativa rizomática" especificamente pessoana, caso se circunscreva esse lugar a partir da disseminação e da imbricação das diversas negatividades exploradas pelo autor.
É possível que tal afirmação não seja unanimidade entre os especialistas de Fernando Pessoa, dado que ela se conforma aparentemente mal a Alberto Caeiro. Este heterônimo, mestre inconteste do neopaganismo lusitano, oferecendo um contraste absoluto com a versificação extensiva do não ser na obra de Pessoa, afirma-se como "o argonauta das sensações verdadeiras" e o "único poeta da natureza". Mas essa face luminosa de Caeiro esconde sua relação constante com a negatividade. Com efeito, abster-se de nomear o inominável poderia servir de máxima mesmo a este que é o heterônimo mais importante de Pessoa. Assim, encontra-se em Caeiro a mesma radicalidade que em Wittgenstein, na decisão de só ligar às palavras o lado luminoso do fenômeno, dito de outra maneira, sua presença: "Sobre o que não podemos falar, devemos calar", postula Wittgenstein em seu Tractatus (1990, p. 85). Entretanto, tal injunção não saberia circunscrever a obra inteira de Pessoa. E é também verdade que Caeiro, não obstante sua posição privilegiada de fundador e organizador do universo heteronímico1, parece concentrar toda a potencialidade afirmativa do autor. Ainda assim, o que Caeiro coloca em evidência é simplesmente a sombra do ser, a obscuridade que assombra a existência ela mesma. Já no início de "O guardador de rebanhos", Caeiro confessa saber ter o pasmo essencial da criança que, ao nascer, repara que nascera deveras. Ora, como seria possível para a criança pagã ter esse pasmo sem que, de algum modo, fosse sensível à possibilidade de que, em vez do universo, nada existisse? Assim, o mestre das sensações verdadeiras é também profundamente afetado pelo negativo. E, uma vez que esse negativo não pode ser uma sensação, Caeiro não pode confessar sua "existência", pois isso seria criar metafísica, isto é, substituir as coisas pelo que pensamos delas.
Enfim, Fernando Pessoa antecipa em sua obra o fim do sujeito, fim que viria a caracterizar, juntamente com outros traços, o que chamamos hoje de pós-modernidade. Veremos, contudo, que ainda que o sujeito em Pessoa esteja exalando seus últimos suspiros, sua obra é ainda perfeitamente concebível como uma das obras de gênio, uma obra que inaugura um estilo e que cria um universo novo, ou seja, uma obra moderna que afirma o homem como construtor de si mesmo.
Fernando Pessoa, um poeta moderno
O projeto moderno é essencialmente contraditório consigo mesmo, nele está já presente o seu fim: a criação compulsória de uma história futura implica que todo passado deva incessantemente ser reduzido a nada. Isso equivale a uma ruptura com a narrativa histórica e à adoção de uma forma substitutiva para a identidade, a saber, a pontilidade das sensações, na qual a presentidade atinge o seu grau máximo e é também o modo como o sujeito moderno se despede da história ocidental. Estamos no campo consagrado por Camus, em O estrangeiro (1957), em que a sensorialidade sem sentido define uma sequência temporal de acontecimentos unívocos, mas sem ligação entre si, inviabilizando uma história. Tal sequência não historial define, por sua vez, o destino de um sujeito cuja posição é aquela de um espectador perplexo diante da ausência de sentido. Este ponto extremo da experiência com o tempo parece se cristalizar naquele que Pessoa nomeia como seu mestre, Alberto Caeiro. A partir daí, resta apenas o relato de suas modalidades de dissolução. Nesse sentido, podemos reler a obra pessoana como indo para além do projeto moderno de construção do Sujeito com S maiúsculo. Mas a essência do projeto moderno ainda permanece no que poderia ser entendido como a "vontade de potência" na obra que se constrói a partir dos heterônimos em seu conjunto. O projeto heteronímico reverte a dissolução passiva em diversificação ativa e faz uma obra que se funda sobre o fim da unicidade do sujeito, dependente da narrativa daquele que é sempre coincidente consigo.
Assim, a própria constelação heteronímica reconstitui um sentido para a história, e esse aspecto da obra pessoana per-mite que ela seja inserida sem grandes hesitações no horizonte moderno. Fernando Pessoa organiza os seus principais heterônimos no interior de um improvável projeto de restituição da nação portuguesa enquanto uma nação imperialista. Com pouco mais de um milhão de habitantes, Portugal dominou os mares do mundo na época das grandes navegações, e, ainda que por poucas décadas, a língua portuguesa se tornou a língua oficial para as transações econômicas. No início do século XX, contudo, tal restauração à categoria de império seria para Portugal tão improvável quanto o seria hoje, devido às mudanças da geoeconomia e da geopolítica. Para Fernando Pessoa, todavia, o imperialismo seria restaurado no campo da sensibilidade, ou seja, na cultura. De fato, a ideia de "reconstrução do paganismo" implica, para Pessoa, eliminar a experiência de interioridade como apoio do sujeito (Silva Junior, 1995). Ora, o maior problema desse projeto estético-filosófico fundamental é a derrota do paganismo pela sensibilidade "cristista", que, para Pessoa, é uma sensibilidade iludida pela metafísica e profundamente melancólica em seu interiorismo exacerbado. Mas, uma vez que essa derrota aconteceu de fato, fato lisível na história ocidental, trata-se de saber para Pessoa se isto é ou não indício de uma "fraqueza" congênita do paganismo e se cabe ainda querer reconstruí-lo.
Pessoa, para além da diversificação em vários autores, lança diversos movimentos estéticos aos quais estariam filiados ou promoveriam. Entre os mais importantes destacam-se o sensacionismo eo interseccionismo, em que se localizam respectivamente o engenheiro modernista Álvaro de Campos e Fernando Pessoa ele mesmo. Contudo, o movimento destinado por Pessoa a restaurar o imperialismo lusitano, e sobre o qual ele mais trabalhou, foi o neopaganismo lusitano. Esse é o cerne e grande organizador dos heterônimos de Pessoa, projeto com o qual assina seu nome, segundo a lógica moderna.
A passagem da modernidade à pós-modernidade
Um autor importante para a compreensão da passagem da modernidade à pós-modernidade é Heidegger. Seu projeto de desconstrução da metafísica, explicitado na introdução de Ser e tempo (1927), pode ser lido como um projeto de desconstrução da identidade como princípio do ser.
Ser e tempo aborda a problemática do ser sob um ponto de vista radical na historia da metafísica: o ponto de vista do sujeito. Trata-se de um sujeito cuja constituição é negativa, pois esse sujeito só é, só se torna ele mesmo, a partir da possibilidade de uma diferença radical, aquela de deixar de ser si mesmo. Essa diferença radical é pensada por Heidegger na chave temporal da finitude, ou seja, a morte enquanto possibilidade constitutiva da existência. É este o sentido do título da obra: o sentido do ser só pode ser pensado pelo tempo e, ainda mais precisamente, pela temporalidade finita.
Como uma nova chave de leitura do ser e do sujeito que tem o ser si mesmo como uma constante preocupação, o Dasein é uma espécie de corrosivo universal, que desconstrói tudo a partir da própria negatividade. Essa máquina de desconstrução corrói o sentido do mundo, o futuro, o passado, o presente.
Ser e tempo pode ser reduzido a um silogismo: 1) o Dasein é feito de seus projetos, de suas possibilidades, não de suas realidades presentes; 2) sua possibilidade mais importante é aquela de não-mais-estar-aí, ou seja, sua morte; 3) todos os projetos se dissolvem a partir dessa possibilidade da impossibilidade. Clara está a razão pela qual Ser e tempo é uma forma de sentença de morte ao sujeito moderno, ao homem-projeto, ao homem adiante de si. Mas trata-se de uma sentença que, tal como a máquina demoníaca em Na colônia penal, de Kafka, estaria tatuada no próprio corpo desse homem moderno. Ao levar o homem moderno ao seu extremo, ao empurrar o homem-projeto aos estertores de sua missão, o Dasein heideggeriano se depara com a possibilidade última, a possibilidade da morte. O ser-para-a-morte se resume a isso: o desvelamento da ausência de sentido de todos os projetos, individuais e sociais, de todas as relações. Pior, é uma ausência de sentido que sempre esteve ali e que, portanto, revela também o engodo do qual sempre, desde o início, éramos vítimas. Assim, essa máquina de destruição de sentido destrói o presente, o passado e o futuro e parece aceitar apenas uma estranha forma de futuro anterior: aquele que nunca poderia ter sido. Trata-se do ápice do sujeito moderno, do sujeito que não pode supor nenhuma determinação prévia para si. Tal como um Atlas sem chão, ele deve carregar o mundo nas costas apoiado em um fundamento faltante. Mas refere-se a um nada que lhe foi feito sob medida, que lhe cabe na justa medida da sola de suas sandálias, um nada que é endereçado a ele e a mais ninguém, enfim, que o singulariza. Nesse sentido, é o caso de se falar de um sujeito que funciona numa lógica trágica, que simultaneamente o desconstrói e o constrói. Desse modo, o projeto de desconstrução da metafísica fundado sob a negatividade do sujeito trabalha contra si próprio, pois, ao reafirmar o sujeito que se constitui a partir da possibilidade de não-mais-estar-aí, Ser e tempo reafirma a consistência do sujeito moderno, que se candidata como substituto da ordem metafísica perdida.
Como dirá posteriormente o próprio Heidegger (1991), precisamente esse ponto demonstra que Ser e tempo havia sido escrito numa linguagem metafísica. A partir dessa constatação, a segunda parte de Ser e tempo será abortada antes que pudesse vir à luz. Em seu lugar, Heidegger irá concentrar seu trabalho na própria linguagem, aproximando seu pensamento da poesia e o afastando da filosofia. Conceitos como verdade, sentido, compreensão, darão lugar a desenvolvimentos sem a fixidez de conceitos e definições. De modo geral, a atividade e o empreendedorismo ainda presentes em Ser e tempo serão substituídos por termos ligados a uma postura passiva e de escuta em relação a um pensamento que lhe acontece ou não, que lhe é enviado ou não de um outro lugar.
Se deixarmos agora o campo filosófico e abordarmos essa mesma questão do ponto de vista sociológico, um dos primeiros a tomar o problema foi Lyotard, que, em A condição pós-moderna (2010), anuncia o declínio das metanarrativas em todas as suas instituições sociais, como na literatura, nas relações de trabalho, de saúde, de ensino ou mesmo afetivas. Richard Sennett descreve bem essa diferença em A corrosão do caráter (2004), no qual analisa a diferença da relação com o trabalho entre duas gerações diferentes nos Estados Unidos.
Do ponto de vista discursivo, o que cai por terra com a impossibilidade das grandes narrativas é o próprio futuro como horizonte de sentido. Se o sujeito-projeto inerente à modernidade dependia de tal planície temporal diante de si, será precisamente essa extensão que será retirada do sujeito da pós-modernidade. Fredric Jameson, outro pensador inaugural da pós-modernidade, demonstra a repercussão na arte, mas também no sujeito, que o esvaziamento do futuro provoca.
Este componente novo é o que geralmente se costuma chamar a "morte do sujeito" ou, em expressão mais tradicional, o fim do individualismo como tal. Os grandes modernismos estavam, como dissemos, ligados à invenção de um estilo pessoal e privado, tão inconfundível como a nossa impressão digital, tão incomparável como nosso próprio corpo. Porém, isto significa que a estética da modernidade estava, de certo modo, organicamente vinculada à concepção de um eu singular e de uma identidade privada, uma personalidade e uma individualidade únicas, das quais se podia esperar o engendramento de sua visão singular de mundo, forjada em seu próprio estilo, singular e inconfundível [...] o que precisamos reter é um dilema estético: se está esgotada a experiência e a ideologia do eu singular, uma experiência e uma ideologia que sustentavam a prática estilística da modernidade clássica, já fica claro o que artistas e escritores do período atual afinal estariam fazendo. [...] Daí, repetimos, o pastiche: no mundo em que a inovação estilística não é mais possível, tudo o que restou é imitar estilos mortos, falar através de máscaras e com as vozes dos estilos do museu imaginário. (Jameson, 1985. p. 19)
Males do sujeito na identificação moderna e pós-moderna
A lógica neoliberal, que associa discursos ideológicos sobre o indivíduo-empresa com práticas de precarização do trabalho, parece realizar concretamente o conflito formal e filosófico entre a necessidade de construir-se um futuro e a perda do futuro. De fato, se a ausência de um horizonte de sentido define e diferencia todas as produções e experiências pós-modernas, ela encontra uma ressonância na realidade concreta da vida dos jovens, pois estes se deparam cotidianamente com a impossibilidade de sonhar um futuro.
De fato, as possibilidades reais e imaginárias do projeto moderno já não se encontram presentes no contexto atual. Se o jovem pode valer como o paradigma, o modelo de sujeito do mundo de hoje, no sentido de que a juventude encarna a possibilidade pura, é igualmente verdade que o absolutamente novo parece ter se esgotado não apenas para as criações artísticas, como também para as possibilidades de conquistas econômicas: "[...] nunca se falou tanto do ator e nunca, entretanto, o traço da ação individual sobre a marcha das questões comunitárias pareceu mais opaca e mais indecisa" (Baudelot & Establet, 2000, p. 213).
Diante da impossibilidade de um futuro sonhável, pode-se pensar que o sujeito responda com formas compensatórias a essa perda. Analisando o uso da tatuagem no contexto histórico argentino, Silvia Reisfeld comenta a simultaneidade entre a difusão da tatuagem e o agravamento da crise econômica e da decomposição social e considera que a desilusão econômica pode ter afetado a dimensão dos ideais, e ligada a ela, a noção de temporalidade enquanto projeção de futuro (Reisfeld, 2005, p. 150). De fato, se considerarmos que essa perda é localizável no campo dos ideais narcísicos, as perturbações da economia psíquica não poderão ser desconsideradas. É plausível pensar em um refluxo da libido de tais objetos ideais para o eu e, portanto, para o corpo. Se o corpo deve substituir um projeto futuro de si, essa recuperação de libido narcísica trará consigo algo desta narrativa idealizada que precisou ser abandonada.
De fato, as marcas corporais são mais do que meras imagens. São também escrituras em que a letra deixa de ser significante e passa a valer como signo. Nessa faceta, isto é, enquanto signo, a letra presentifica um investimento e, nesse sentido, toma corpo. Comparativamente à identificação moderna, que é essencialmente narrativa, a identificação pós-moderna que se apoia na escrita sobre corpo possui menos possibilidades de realizar-se pelo jogo significante, como também submeter-se à fragmentariedade que o significante implica. A letra recupera um quantum de gozo perdido no regime significante (Oliveira & Silva Junior, 2017) e, nesse sentido, as modificações corporais podem ser entendidas como um processo de literalização dos processos de identificação. É possível pensar que as modificações corporais resultam e se articulam a uma alteração da economia psíquica como um todo. Se na identificação moderna a narrativa presentifica a tensão com inúmeras formas de negatividade, a exemplo da heteronímia de Fernando Pessoa com suas diferentes facetas (alteridade, finitude, espacialidade), a identificação pós-moderna parece adotar uma escrita ideogramática em que o negativo é obturado imaginariamente pelos elementos sensoriais. Trata-se aqui do destino pulsional da identificação em jogo nas modificações corporais, o qual implica uma espessura masoquista extremamente importante. Escreve Hölderlin que o homem é um signo sem significação. Contudo, nas tatuagens, o signo sobre o corpo parece receber a impossível missão de ser uma garantia da significação do homem. David Le Breton (2008), no texto Entre signature et biffure, compreende a relação entre a tatuagem e a identidade como uma forma de contrato de sangue:
[...] a marca tem apenas o sentido que o indivíduo lhe confere e este ressoa com a história pessoal. Comprar a parte do fogo2 através do traço, da dor e do sangue. Se a assinatura traduz o fato de reivindicar-se como si mesmo, o apagamento manifesta o intolerável, a recusa de reconhecer-se. Por vezes, como uma saída honrosa, a marca permite jogar sobre todas as tonalidades do sentimento de si. Entre assinatura e apagamento, ela recobre uma ferida interior e se torna elemento de cura ou ao menos um remédio para entrar em uma existência mais propícia. (2008, p. 133)
A dor sentida nas modificações corporais é um dos elementos fundamentais em jogo na economia psíquica da identificação. Além deste gozo na chave do sofrimento, elementos narrativos ressurgem nos discursos dos jovens sobre as suas tatuagens e piercings, a saber, a articulação dos temas e locais do corpo escolhidos. Esses elementos narrativos estão articulados a significantes da história singular de cada um. Tal como num sonho, as palavras recuperam seu elemento visual. Severo Sarduy, escritor cubano, recupera esse sentido onírico das tatuagens:
Recorrendo a essas cicatrizes, desde a cabeça até os pés, esboço aquilo que poderia ser uma autobiografia, resumida em uma arqueologia da pele. Só conta na biografia individual aquilo que ficou cifrado no corpo e que por si próprio continua falando, narrando, simulando o evento que o inscreveu. A totalidade é uma maquete narrativa, um modelo: cada um poderia, lendo suas cicatrizes, escrever uma arqueologia, decifrar suas tatuagens em outra tinta azul. (Sarduy, citado por Reisfeld, 2005, p. 91)
A construção de si pelo corpo exige o incessante confronto com a imagem de si. Essa é uma das portas pelas quais se mostra a impossibilidade da tatuagem funcionar como uma garantia de significação para o sujeito. Mais especificamente, a negatividade incontornável de todo sentido ressurge aqui como ameaça que a imagem faz ao "original", isto é, ao sujeito. Na posição de ideal que ela necessariamente ocupa no projeto moderno de construção de si, a imagem passa a ser mais legítima do que o próprio sujeito: o verdadeiro, aquele que o sujeito deve ser, é aquele da imagem espelhada pelo ideal da construção de si. Essa ameaça é particularmente nítida na fala de um rapaz entrevistado em nossa pesquisa sobre marcas corporais3:
Então... O desenho das costas é bem discreto. Só dá pra ver quando to sem camisa... O do braço é bem chamativo mesmo. Quando saio de camiseta, ninguém olha pro meu rosto. Isso me incomoda. A ponto de praticamente parar de usar camisetas. Mas enfim... Por ser estética, não deixa de ser para os outros... Mas com certeza fiz para mim, como uma realização pessoal. Quando tatuamos, transformamos o nosso corpo. Aquilo se torna parte de nós. (Daniel - primeira tatuagem aos 17 anos e primeiro piercing aos 15 anos)
Não será um acaso se na contemporaneidade os sujeitos forem quase sempre ameaçados pela imagem, seja através das modificações corporais, como as tatuagens, implantes, cirurgias plásticas, seja pela sua imagem em circulação nas redes sociais. Trata-se da condução do projeto da modernidade levado ao seu termo, em que a imagem passa a ser o modelo do sujeito, mas em um mundo que não o sustenta mais, nem no discurso nem na possibilidade de sua realização concreta.
Há, assim, não apenas uma simetria inversa entre o sujeito moderno - ilustrado pela obra de Fernando Pessoa - e o pós-moderno - representado por jovens que se fazem tatuar - na estrutura social e cultural que emoldura e fornece as condições de possibilidade de cada identidade e suas correspondentes formas de mal-estar. Há também uma relação de continuidade entre ambas, uma vez que o sujeito pós-moderno continua a se pautar pela figura idealizada do homem-projeto. Diante da impossibilidade real de sua efetivação futura, esse sujeito não renuncia à necessidade de uma construção de si no presente, tomando seu corpo e imagem como material plástico e referente do que idealmente deve ser.
Essa nova função do corpo tem sido trazida criticamente à tona por artistas como Damien Hirst e Mark Quinn. Este último, por exemplo, fez uma escultura de si mesmo com seu próprio sangue congelado, que ele denomina self. Nesse caso, a coincidência entre o corpo representado enquanto material plástico, modelo ideal e garantia da identidade, é colocada em primeiro plano, mas também a precariedade dessa aposta, na medida em que a obra se liquefaz com o aumento da temperatura (Frayze-Pereira, 2006; Minerbo, 2007). Modo de condensar com precisão os destinos da identidade no sujeito moderno. Cabe concluir então com uma pergunta: quais relações podemos conceber entre o mal-estar na identidade atual e o mal-estar na cultura, tal como este último foi pensado por Freud?
Com a expressão mal-estar na cultura, Freud define, na verdade, dois tipos de problemas estruturais com origem na cultura. O primeiro, oriundo do recalque das pulsões sexuais e seu retorno patológico, na forma de sintomas neuróticos. O segundo, ligado aos dois destinos possíveis da pulsão de morte, seja se orienta ao interior do sujeito sob a forma de masoquismo moral, seja se volta para o exterior na forma de pulsão de destruição (Freud, 1930). Se o sujeito moderno deve construir-se, isto exige também uma construção de seu mundo, um trabalho sobre as coisas e a cultura que implica um investimento objetal, processo que é considerado por Freud como propício para a fusão pulsional (Freud, 1923). Se, de fato, o sujeito pós-moderno está prejudicado nesta possibilidade de satisfação objetal para suas pulsões, estas tendem a se satisfazer no próprio sujeito, em seu corpo e em seu destino, o que acarreta uma desfusão e novas refusões (Freud, 1924), e o surgimento de novas formas de gozo masoquista no cenário cultural (Silva Junior & Gaspard, 2016). Mas é também notório um aumento das formas de segregação violentas, inerentes ao que Freud denominou como narcisismo das pequenas diferenças. Isso significa que a solução pela exteriorização da pulsão de morte aparentemente também recrudesceu, e não somente as soluções na chave masoquista. De modo genérico, não seria incorreto afirmar que o mal-estar na identificação atual, em suas duas faces, interior e exterior, está ligado a um menor recurso da linguagem narrativa como intermediação entre o sujeito e seus outros do que o fazia seu antecessor, o sujeito moderno.
REFERÊNCIAS
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Endereço para correspondência:
NELSON DA SILVA JUNIOR
Avenida Prof. Mello Moraes, 1721
05508-900 - São Paulo - SP
tel.: 11 5051-5311
nesj@usp.br
Recebido 11.08.2017
Aceito 12.09.2017
1 O nascimento de Caeiro no dia triunfal de 8 de março de 1914 coincide, com efeito, com aquele da constelação heteronímica. Não obstante a aparição nele de personalidades imaginárias desde a idade de seis anos, após a perda de seu pai e de seu irmão cadete, não seria exato fazer coincidir a palavra heteronímia não importa com qual alteridade em Pessoa. A literatura atual está geralmente de acordo sobre o fato de que essa denominação deva ser reservada às personalidades literárias. Ver sobre esse assunto: Fernando Pessoa ou la métaphysique des sensations (Gil, 1988 - particularmente os capítulos IV e V).
2 Acquitter la part du feu: a expressão significa aceitar perder o que não pode ser salvo para preservar o resto = sacrificar.
3 Projeto de Cooperação Internacional do Programa Capes/Cofecub 609/08: "Estudo comparativo internacional das marcas corporais autoinfligidas à luz do laço social contemporâneo".