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versión impresa ISSN 0101-3106
Ide (São Paulo) vol.40 no.66 São Paulo jul./dic. 2018
EM PAUTA EASY RIDER: SEM DESTINO
Mal-estar na civilização: vamos falar de religião?
Civilization and it's discontent: let's talk about religion?
Cássia A. N. Barreto Bruno
Membro efetivo e analista didata da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP)
RESUMO
Como falar de religião nos tempos atuais? Qual é a relação entre religião e psicanálise? Psicanálise é uma disciplina que possui rigor metodológico e científico e religião tem o oposto, a crença. A religião busca o contato com uma entidade superior, inatingível fora do eu. A psicanálise busca o contato com algo infinito, inatingível dentro do eu. Se o eu é parte de um inconsciente infinito, muito maior que o consciente, a questão na psicanálise é entrar em sintonia com esse inconsciente infinito, a verdade de cada um de nós. Essa ideia que já estava em Freud foi, nos últimos anos, bastante desenvolvida. Ambas, religião e psicanálise, têm um território comum: a conexão do ser humano com algo maior, a natureza (religiões orientais), Deus pai (ocidentais) e o eu verdadeiro na psicanálise. Ambas privilegiam a intuição (através de identificação projetiva na psicanálise) e da meditação na religião, com o objetivo de atingir áreas profundas da mente, que tangenciam o infinito misterioso.
Palavras-chave: Psicanálise. Religião. Ego. Id.
SUMMARY
How to talk about religion in the present times? What is the relationship between religion and psychoanalysis? Psychoanalysis is a discipline that has scientific methodological rigor and religion has the opposite, the belief. Religion seeks contact with a higher entity, unattainable outside the self. Psychoanalysis seeks contact with something infinite, unattainable within the self. If the self is part of an infinite unconscious, much larger than the conscious, the point in psychoanalysis is to tune into that infinite unconscious, the truth of each of us. This idea that was already in Freud, has been quite developed in recent years. Both religion and psychoanalysis have a common territory: the connection of the human being to something greater, nature (eastern religions), God father (western) and true self in psychoanalysis. Both privilege intuition (through projective identification in psychoanalysis) and meditation in religion, with the aim of reaching deep areas of the mind that touch the mysterious infinity
Keywords: Psychoanalysis. Religion. Ego. Id.
Por que é tão difícil pensar este fenômeno apressadamente denominado "retorno das religiões"? Porque deixa atônitos em particular aqueles que acreditavam ingenuamente que uma alternativa opunha, de um lado, a Religião e, do outro, a Razão, as Luzes, a Ciência, a Crítica (a crítica marxista, a genealogia nietzschiana, a psicanálise freudiana e respectivas heranças), como se a existência de uma estivesse condicionada ao desaparecimento da outra? Pelo contrário, seria preciso partir de outro esquema para pensar o dito retorno do religioso.
(Jacques Derrida)
De psicanálise, nós analistas sabemos falar, mas como falar de religião?
Derrida se pergunta:
como falar religião? Da religião? Como falar disso sem temor nem tremor nos dias de hoje? Quem teria a presunção? Para atribuir-se a coragem, a arrogância ou a serenidade necessárias talvez seja necessária uma certa abstração. Na mais concreta e mais acessível, mas também a mais desértica das abstrações (2000, p. 11).
Talvez Derrida esteja se referindo a uma certa abstração, a um pôr entre parênteses toda a cultura dos três últimos séculos.1
A ciência trabalha com conceitos abstratos para eventos concretos. Se cai uma maçã na cabeça de Newton, temos um fato concreto com base no qual é possível construir conceitos abstratos, como a Teoria da Gravitação Universal de Newton.2
Não é o que ocorre na análise da religião. Ao contrário, aqui se faz necessário tomar a abstração de modo concreto. A sensação de comunhão, de conexão com algo maior, com algo misterioso, inacessível, infinito, essa iluminação que tem tantos nomes e alguns impronunciáveis3 para ser compreendida intelectualmente precisa estar ligada a suportes concretos, como a palavra. Para falarmos do abstrato não podemos prescindir do concreto, do suporte da palavra.
Então aí estamos adentrando um território desértico e árido, que exige outra postura investigativa que não a cientificista. Nosso objeto de investigação não é concreto, positivo, visível a olho nu, e então temos de buscar recursos igualmente não palpáveis, nosso próprio eu, e elevar nossa intuição a um estatuto metodologicamente rigoroso. No caso, as observações e intuições clínicas.
Derrida cita Hegel: Denken (pensamento)? Abstrakte (abstrato)? Do traidor que teria pretendido fugir, a um só tempo, do pensamento, da abstração e da metafísica, como da "peste".4
É nesse território, o da peste, que tal reflexão se situa, e é nele que vou me introduzir, como sujeito ingênuo, mas sabedor de perigos, para, neste breve espaço de tempo, aproximar-me do tema.
Vou trabalhar a ideia de que não se trata de falar da oposição entre um saber e outro, psicanálise e religião, mas de ressaltar a matéria-prima comum que está em jogo. Trata-se da coisa em si, que não é descrita objetivamente, e que a palavra que se refere à coisa em si é mais do que nunca apenas referente. Na religião ocidental, a palavra é alma, na oriental, iluminação e, na psicanálise, não seria o inconsciente? O inconsciente que é infinito, inatingível, que se dá a conhecer pela ruptura, pelos lapsos, cuja matéria (matéria?) é a coisa em si? E o que cantam os bardos? E o que pintam os artistas? E no que atuam os atores? E do que falam os pacientes? E o que dizem os analistas?
Não por acaso, Freud falou em Seele, alma.
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Para uma reflexão sobre religião e psicanálise, temos de considerar que, se estas forem postas em lados opostos, o resultado será uma limitação metodológica que irá aprisionar a análise dessa relação.
Então, na metodologia psicanalítica, que é o território que conheço, vou recorrer ao conceito de limite de Green, especialmente quando este se refere à área de intersecção nas bordas do limite, isto é, o momento em que as bordas opostas de um determinado segmento de afeto se encontram e se tangem. Vai interessar aqui a intersecção entre duas áreas de apreensão de mundo que são opostas.
Como início, vou partir da ideia sugerida por Derrida, de que todos temos uma noção comum do que é religião, ainda que "falsa crença", diz ele, a fim de dar curso e andamento ao estudo dessa intersecção.
Ele lembra Heidegger no início de Ser e tempo, em que está dito que cremos pré-compreender o sentido das palavras, no Faktum (servente, faz-tudo) do léxico do ser. Cremos na palavra nem que seja para nos interrogar a respeito dela. Diz Derrida que "nada é menos pré-garantido do que tal Faktum, e toda a questão da religião talvez remeta a essa reduzida garantia" (2000, p. 13).
Isto é, partimos de um suposto conhecimento de cada um de nós do que vem a ser religião e de uma suposta generalização das diversas religiões, de modo que se reduza nosso campo de investigação, para tentar uma pequena garantia de estudo.
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A psicanálise nasceu no início do século xx essencialmente materialista, resultado das ideias românticas do Iluminismo, cuja crença na capacidade do homem de dominar a natureza foi central para ela.5
O afastamento das ideias teístas no século xix e a descoberta do método investigativo foram fundamentais para o desenvolvimento da humanidade. O homem deixou de ser a criatura destinada por Deus a dominar a natureza e os outros seres. Foi um considerável passo no conhecimento, e essa conquista demorou muitos séculos.
Freud, ao aplicar o método objetivo às áreas ocultas da mente, provocou a grande ruptura que àquela época ainda faltava, a crença em que somos donos de nosso pensar. Freud deslocou a consciência como o centro do homem, e esta passou a ser regida por forças inconscientes, desconhecidas, e que se fazem notar apenas por lâminas de consciência, como os atos falhos, as metonímias, as metáforas e os sonhos (com deslocamentos, condensação).
Essa nova postura científica (caracterizada pelo rigor no método de observação, entre outros) possibilitou a penetração no mundo obscuro sob um novo ângulo e lançou luz em fenômenos até então considerados mágicos. Agora, por trás de um ato falho, viu-se que existe uma rede de conexões inconscientes, passíveis de serem apreendidas por meio do método analítico.
Vejamos o percurso de Freud nessa seara
Para a psicanálise, a crença num Deus todo-poderoso e onisciente teria sua motivação no desamparo humano, que desse modo substituiria a falta dos pais do mundo infantil, transferindo-se, no mundo adulto, para Deus, aquele que protege, dá direções, o pai da horda.
Claro que os estudos de Freud são complexos e fundamentados.6
O que nos interessa nesta altura são as reflexões de Freud quando se refere à situação em que o homem renuncia à ilusão de um Deus paternal.7
Nesse caso, Freud chegou à conclusão de que só o homem pode salvar-se a si mesmo e que o inexorável passa a ser um desafio a ser enfrentado individualmente, solitariamente, por cada um, e de acordo com cada personalidade.
Ao se renunciar ao Deus pai, renuncia-se também ao objetivo de todas as grandes religiões humanísticas ocidentais, que é buscar no pai a resposta e o acolhimento para o abandono do homem nesse mundo incompreensível.
Agora a questão é que a finalidade da vida passa a ser o próprio viver e desenvolver potencialmente o que se é.
Os ensinamentos dos grandes mestres podem apenas ajudá-lo a enfrentar o desafio da existência, do estar no mundo por um fragmento de tempo e sem ser por decisão própria.
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A esta altura ouso dizer que, sim, renunciamos ao Deus protetor, criador e salvador, imagem externa a nós, mas continuamos tendo agora um pai-Deus internalizado, que faz parte de nosso próprio eu, matéria-prima da psicanálise (temos um superego que nos dita regras e temos que desafiá-lo para ficar sintonizados com nosso verdadeiro Eu). Esse nosso Eu, já conformado com nossas limitações, com o inexorável e agora tendo de se confrontar com sua capacidade de se inventar. Abandonado à própria sorte. Não há nada a ser atingido nas alturas. Há, sim, um encontro comigo mesmo, meu potencial, minha existência, nas profundezas do meu ser.
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É constrangedor, mas, ao fugir da religião antiga, caímos em outra religião, com rituais, templos, normas de conduta e de salvação, não da alma, mas de nossos corpos. Passamos a pensar nossos corpos como os antigos pensavam a alma. Grandes sacrifícios para refinamento da alma agora são sacrifícios para refinamento do corpo, por meio da medicina. A ciência agora determina nossos rituais de alimentação, de saúde. O mercado nos dirige e nos faz esquecer nossa fragilidade, e aí temos a impressão de que somos eternos, dentro da fragilidade. Somos dirigidos, em grande parte do tempo, com rituais de limpeza, de alimentação, de sono; temos super-heróis etc. Rituais, liturgias. No século XX, passamos do Deus abstrato ao Deus concreto. Finalmente dominamos Deus.
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No entanto, e apesar de, parece que no momento atual, o século XXI, temos condições de pensar criticamente essa recente religião do consumo e da compulsão e nos dirigir a uma busca do eu e do si próprio, paradoxalmente com o mesmo método psicanalítico que busca a objetividade. Tentarei desenvolver esse ponto adiante.
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Ao aplicar o método científico à compreensão dos mistérios do homem, Freud acabou desenvolvendo uma noção de homem que muito se aproxima das antigas religiões. Quando Freud faz a proposta "Onde havia id haverá ego", visava o domínio das forças ocultas inconscientes pela razão. O homem precisava ter consciência do que havia dentro dele a fim de poder dominar e controlar as forças ocultas, no caso, os instintos, a energia instintual.
Reconhecemos que o inconsciente não coincide com o reprimido; continua certo que todo reprimido é inconsciente, mas nem todo inconsciente é também reprimido... nos vemos assim obrigados a instituir um terceiro inconsciente, um não reprimido. O inconsciente torna-se uma qualidade ambígua, que não autoriza as conclusões abrangentes e inevitáveis para as quais desejaríamos utilizá-la, mas não devemos negligenciá-la, pois a qualidade de ser consciente ou não é, afinal, a única luz na escuridão da psicologia das profundezas (Freud, 1923/2011, p. 22).
Importante perceber que Freud deixa aqui bem clara a existência de um inconsciente maior, profundo, inacessível, que, no entanto, não será objeto de suas investigações. Esse inconsciente permanece desconhecido.
Adiante, informa que "o Eu representa o que se pode chamar de razão e circunspecção, em oposição ao id, que contém as paixões inferiores" (idem, p. 31).
Com essa observação de Freud,sentimo-nos autorizados a fazer correlações e aproximações.
Ao ser racionalista e criar um método de investigação que se pretendia científico pelos conceitos da época, acabou fazendo uma síntese com o Romantismo (Todorov, 2008), movimento este que, no século xix, se opôs ao racionalismo, trazendo sua reverência ao lado irracional e afetivo do homem.
Com os desdobramentos dos estudos psicanalíticos, hoje podemos abrir de fato mão de certo viés racionalista e modestamente perceber que nossa inteligência não só não vai chegar aos confins de nossa mente, como também seremos obrigados a conviver com os mistérios da existência humana. Nunca vamos ter resposta para tudo. A cada descoberta, surgem novas perguntas.
Assim sendo, passamos a aceitar o infinito, o inexorável, o mistério, a morte. E é nesse território novo, mas frequentado desde tempos primordiais pelos humanos, que estamos agora mergulhados.
E essa volta à análise da religião, após os questionamentos destes três últimos séculos (Todorov, 2008), é, sem dúvida, outra. Esse nosso Eu já está conformado com nossas limitações, com o inexorável e agora tendo de se confrontar com sua capacidade de se inventar. Abandonado à própria sorte. Não há nada a ser atingido nas alturas. Há, sim, um encontro comigo mesmo, meu potencial, minha existência, nas profundezas do meu ser.
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Agora pensamos na frase psicanalítica "onde é ego, que seja id". Ou seja, nosso conhecimento racional e científico, uma vez tornado consciente, vamos devolvê-lo à área do infinito. Se a análise já nos serviu para o desenvolvimento do Eu, vamos respeitar seu curso natural e permitir que essas descobertas voltem para o plano do infinito, do inconsciente. "É preciso lembrar para poder esquecer."
Por quê? Para devolver ao lugar de onde vieram, agora enriquecidos com nossos conhecimentos objetivos e(engrandecer) ampliarnosso universo intuitivo. Nossa sensibilidade, nossas "premonições", nosso dizer sem palavras. O que não está dito com palavras e se refere à área profunda da intuição, do inconsciente. É a área das artes, do poeta, do analista que usa as palavras para remeter a; de movimentos que prescindem da palavra.
Essa área de intersecção entre o dito e o não dito que permeia o campo analítico, que implica o encontro de duas subjetividades, de dois inconscientes, de dois desconhecidos, essa intercessão, sim, é da mesma área da religião (religio, religar).
Rituais, liturgias (o enquadre analítico), o mistério (o desconhecido do analista com o desconhecido do analisando). Com o paciente estamos na área do mistério, e é ali que está o real interesse da psicanálise. No trabalho sobre o profundo, o não dito, o mistério, que está sempre presente.
Como nomear, onde pôr no mundo do entendimento, essas operações ocultas?
Essência e existência, imaginário e real. No ponto de partida da revolução realizada pelo pensamento das Luzes encontra-se um duplo movimento, positivo e negativo, visível e invisível, a pintura confunde todas as nossas categorias desdobrando o seu universo onírico de essências carnais, de semelhanças eficazes entre significações mudas (Merleau-Ponty, 1960/1997).
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E aí temos a intersecção entre religião, poetar, psicanalisar, pintar, cantar. Aí está a intersecção entre duas áreas opostas, razão e emoção, agora interligadas, e uma completando a outra, situação em que os limites não são estanques, mas borrados.
A matéria-prima da psicanálise é o desconhecido, o inominado, o inconsciente atemporal, imaterial, infinito, aquele que se dá a conhecer indiretamente, apenas suas referências sendo significadas. Sempre haverá o mistério. O trabalho analítico é a comunicação do desconhecido do analista com o desconhecido do paciente. A sessão é ambiente sagrado, silencioso, convite ao profundo.
Por meio da palavra, da linguagem, formamos narrações que, uma vez explícitas, serão esquecidas num inconsciente, num infinito, matéria-prima de nossas intuições.
Não precisamos mais de um pai. Precisamos usar nossa liberdade para respeitar nosso Eu em sua totalidade infinita, atemporal, profunda, inconsciente, fascinante, mágica, assustadora.
REFERÊNCIAS
Freud, S. (2011). O Eu e o Id. (P. C. de Souza, trad.). São Paulo: Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1923). [ Links ]
Gargani, A. (2000). A experiência religiosa como evento e interpretação. In G. Vattimo & J. Derrida (Orgs.). A religião: o seminário de Capri. São Paulo: Estação Liberdade. [ Links ]
Merleau-Ponty, M. (1997). O olho e o espírito. Lisboa: Vega/Águeda. (Trabalho original publicado em 1960). [ Links ]
Quinodoz, J. M. (2007). Ler Freud. Porto Alegre: Artmed. [ Links ]
Todorov, T. (2008). O espírito das Luzes (M. C. Correa, trad.). São Paulo: Barcarolla. [ Links ]
Endereço para correspondência:
CÁSSIA A. N. BARRETO BRUNO
Rua Manduri, 169
01457-020 – São Paulo-SP
tel.: 11 98938-3830
cassia.bruno@terra.com.br
Recebido: 30.05.2018
Aceito: 29.06.2018
1 'Não pronunciar o nome de Deus em vão' guarda a história secreta da palavra. A palavra, por exemplo, do psicanalista, que não deve ser mencionada em vão, ou seja, fora da sessão, fora do teatro em que é encenada, perde seu significado e acaba exposta ao ultraje do equívoco e da incompreensão (Gargani, 2000).
2 Quando Newton (1643-1727) estava em Woolsthorpe, onde ficou por dois anos fugindo da peste bubônica, sua mente borbulhava com seus estudos sobre a óptica da luz e das cores, o método das séries infinitas (binômio de Newton), quando se cansava ia dar longos passeios e era comum sentar-se ao pé de algumas árvores, e, na região, as macieiras eram comuns (daí a lenda). Certa vez perguntaram a Newton qual era seu procedimento de estudo, seu segredo. Ele então disse: "Eu apenas mantenho o assunto diante de mim, sempre pensando, até que os segredos são revelados, um a um, bem lentamente, completos e claros".
3 Yaveh, Brahma, Deus.
4 Lembramos aqui de Platão, para quem os poetas deveriam ser banidos porque adentram o território da peste, da desrazão, da emoção, contaminando o mundo das ideias. Os poetas atiçam e provocam as emoções descontroladas.
5 "No ponto de partida da revolução realizada pelo pensamento das Luzes, encontra-se um duplo movimento, positivo e negativo, de liberação com relação às normas impostas de fora e de construção das novas normas, escolhidas por nós mesmos" (Todorov, 2008, p. 49).
6 Os estudos de Freud sobre religião são complexos e fundamentados, expostos nos livros Totem e tabu (1912), O futuro de uma ilusão (1927), O mal-estar na civilização (1930), Moises e o monoteísmo (1939).
7 A questão da origem das religiões sempre foi tema de interesse para Freud. Em torno de 1911, ele compilou uma abundante documentação sobre as religiões e a etnologia, particularmente nas obras de Frazer e de Wundt. Dedicou-se durante dois anos à redação de Totem e tabu. Foi uma obra mal recebida (Quinodoz, 2007, p. 22).