RESENHAS DE LIVROS

 

 

Peçanha, D.L. A criança com asma e sua família: avaliação psicossomática e sistêmica. São Carlos - EdUFSCar, 2015. 201p.

 

 

Cibele Coury¹

 

 

É um prazer resenhar este livro da Profa Titular Dra. Dóris Lieth Peçanha em cujo lançamento, na cidade de São Carlos, tive a alegria de participar, juntamente com os amigos e colegas da Profa. Foi impresso pela Editora da Universidade Federal de São Carlos (EdUFSCAR) com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

Tarefa difícil é apresentar uma pesquisa acadêmica sob a forma de livro. Parabenizo a Profa. Dóris por ter alcançado mais esse objetivo através de títulos criativos como "O que dizem livros e artigos sobre o tema" (Peçanha, 2015, p.19), em lugar da clássica "Introdução". Portanto, além do conteúdo, o livro constitui um exemplo para aqueles que buscam popularizar suas dissertações, teses ou relatórios de pesquisa.

Vamos logo ao que me interessou nesta obra. Em síntese, chama atenção o relato e discussão do histórico e dos avanços recentes nas teorias psicossomáticas e sistêmicas, das aplicações clínicas e descrição inovadora dos instrumentos utilizados. Provavelmente, se trata da primeira obra produzida no Brasil que indica uma possível integração entre psicossomática e teoria sistêmica. Conquanto esses temas começam a ser discutidos, no meu conhecimento na Universidade Federal de Santa Catarina, não encontrei outra publicação sobre essa possível articulação.

A originalidade deste livro reside ainda em integrar as teorias psicossomática e sistêmica, na prática clínica. O conhecido físico, Fritjof Capra, recomendara tal conjugação como ideal para compreender o ser humano. Interessante que ambos os autores, Capra e Peçanha, começavam a escrever, em meados dos anos noventa, sobre essa mesma ideia e ao mesmo tempo, sem que um soubesse do outro.

No aspecto histórico, saliento a apresentação da evolução do pensamento psicossomático e sistêmico. A análise das fontes originais e a convivência da autora com os psicossomaticistas franceses possibilitou apresentar sutilezas, dentro da teoria psicossomática, como também as recentes perspectivas evolucionistas que estão surgindo naquele meio científico. No que concerne à teoria sistêmica, a Profa. Dóris resgata o pioneirismo do russo, Alexander Bogdanov, que lançou as bases para a formulação dessa teoria, conhecimento praticamente ausente nos estudos ocidentais.

Julgo importante destacar que a obra articula, de forma original, os saberes psicossomático e sistêmico através do estudo de vinte casos clínicos, sendo dez crianças sadias e dez com asma, criteriosamente comparadas entre si e estudadas no sistema familiar. A asma é também descrita com detalhes médicos, incluindo atualizações clínicas. A integração psicossomática e sistêmica, além de ocorrer no aspecto teórico e clínico, deu-se também na difícil tarefa de conjugá-los, organicamente, em procedimentos de avaliação qualitativos, mas, cujos resultados são expressos em escalas passíveis de tratamento estatístico, como fez a autora em relação à avaliação das famílias, por exemplo. Os instrumentos utilizados, sendo dois deles técnicas projetivas, foram adaptados pela autora, constando protocolos desenvolvidos pela Profa. Dóris, especialmente para essa pesquisa. Sua apresentação detalhada favorece a utilização clínica por parte dos psicólogos. Essas medidas psicológicas foram: entrevista com o casal de pais e entrevista coletiva com a família nuclear, incluindo as crianças; desenho em cores da família e teste das Fábulas, pelos próprios pequenos. Todos eles servindo aos fins de pesquisa e intervenção.

Entendo que o livro preenche diversas lacunas na produção científica, notadamente no que concerne a técnicas nacionais que respondam a difícil tarefa de diagnosticar determinantes psicodinâmicos envolvidos na asma e estabelecer focos precisos para o tratamento conjunto criança-família, considerando os avanços no conhecimento psicossomático e sistêmico. Além da doença crônica, essas ferramentas também são válidas para avaliar e tratar questões diversas no âmbito individual e/ou familiar, sendo que esta última pode ser conduzida por outros profissionais na área de saúde e educação.

Por fim, o livro traz ainda como novidade a articulação entre dois níveis de saberes, individual e grupal, o primeiro refere-se à dimensão intrapsíquica ou a subjetividade das crianças asmáticas e o segundo diz respeito ao grupo familiar. A partir dos pressupostos teóricos, já explicitados, a obra apresenta um diagnóstico compreensivo das transações em dois grupos: saudáveis e com doença crônica.

Se, no primeiro capítulo, a Profa. Dóris falava "em busca da compreensão humana" (Peçanha, 2015, p.11), ao concluir a leitura do livro, meu julgamento é de que essa compreensão foi plenamente atingida, não apenas em relação aos sujeitos estudados, como também no que concerne à ciência psicológica. Este último aspecto está expresso de forma sistêmica - alias em grande coerência com tal conteúdo, no último capítulo intitulado: "Novos inícios integrativos" (Peçanha, 2015, p.185).

Recomendo intensamente a leitura desta obra aos psicólogos que realizam a prática clínica com crianças e/ou com famílias, a todos aqueles que se interessam pelas teorias psicossomática e sistêmica e pelos rumos que a ciência psicológica poderá tomar no século XXI.

 

 

1 Psicóloga pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar, São Carlos); Especialista em Educação Ambiental e Recursos Hídricos pelo Centro de Recursos Hídricos e Ecologia Aplicada (CRHEA-USP, São Carlos), MBA em Gerenciamento Ambiental pela Universidade Central Paulista; Mestre em Engenharia de Produção (EESC-USP) e doutoranda no curso de Pós-Graduação em Engenharia de Produção (UFSCar). Para informações e -mail: cicoury@yahoo.com.br. Endereço para correspondência: Rua José Pallone, 141, Jd Bandeirantes, São Carlos, SP.