Desidades
ISSN 2318-9282
TEMAS EM DESTAQUE
Comuna da Terra D. Tomás Balduíno: aproximações a partir de palavras e imagens criadas por crianças assentadas
Comuna de la Tierra D. Tomás Balduíno: aproximaciones a partir de palabras e imágenes creadas por niñas y niños asentadas(os)
Marcia GobbiI, Maria Cristina Stello LeiteII, Paula FrançaIII
I Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo (USP), Brasil.
II Universidade de São Paulo (USP), Brasil.
III Movimento dos/as Trabalhadores/as Rurais sem Terra (MST), Brasil.
RESUMO
Este artigo apresenta reflexões que buscam, de modo amplo, aproximações com o cotidiano infantil no assentamento Comuna da Terra Dom Tomás Balduíno e, de forma mais estrita, conhecer alguns aspectos das lutas e suas conquistas pelas e com as crianças. O método compreendeu a busca de indícios nas imagens fotográficas criadas por crianças em contexto de pesquisa, afirmando-as como fontes documentais e agentes. Visamos a adotar o ponto de vista das crianças, porém, esse se encontra junto a informações dadas e consideradas pelos adultos. As imagens se ofereceram como orientadoras das reflexões, bem como as conversas com a criançada durante a feitura das câmeras, captação de imagens e caminhadas. As imagens de brinquedos e paisagens comuns registradas pelas crianças se contrapõem à narrativa imagética adulta que, frequentemente, desfoca os movimentos sociais, sobretudo, de luta por terra e moradia, deixando descoberta a presença de seu caráter lúdico ou poético, somado à prática política, excluindo sensibilidade estética não apenas das crianças, mas também de homens e mulheres assentados.
Palavras-chave: infância, movimentos sociais, fotografia, MST, crianças.
RESUMEN
Este artículo se aproxima de modo amplio, a través de la reflexión, a la vida cotidiana de niñas y niños en el asentamiento, y se propone, de forma más precisa, conocer algunos aspectos de las luchas y las conquistas conseguidas por las niñas y los niños y con ellas y ellos. El método comprendió la búsqueda de indicios en las imágenes fotográficas creadas por esos niños en el contexto de la investigación, afirmándolas como fuentes documentales y como agentes. Buscamos adoptar el punto de vista de las niñas y los niños, sin embargo, este se encuentra ligado a las informaciones dadas y consideradas por los adultos. Las imágenes orientaron las reflexiones, así como las conversaciones con los niños durante la realización de las cámaras, la captación de imágenes y las caminatas. Las imágenes de juguetes y paisajes comunes registrados por los niños se contraponen a una narrativa imagética adulta que frecuentemente desenfoca los movimientos sociales, sobretodo, los de la lucha por la tierra y la vivienda, dejando al descubierto la presencia de su carácter lúdico o poético sumado a la práctica política, excluyendo la sensibilidad estética, no solo de los niños, sino también de los hombres y las mujeres que viven en asentamientos.
Palabras-clave: infancia, movimientos sociales, fotografía, MST, niños.
Fotografia produzida por um grupo de crianças (acervo das autoras)
“O povo é o inventalínguas na malícia da maestria no matreiro.”
(Haroldo de Campos)
Revolver a terra, para começar
É conhecida a histórica e estrutural desigualdade social no Brasil. Uma de suas faces expõe o acesso à terra como expressão de privilégio e força de alguns pequenos e poderosos grupos sociais ao longo de séculos, em que predomina a grande concentração fundiária, gerando aumento da pobreza1, conflitos pelas terras no campo e o duro caminho de enfrentamento das agruras sociais que são diariamente expostas ao grande contingente de moradores e trabalhadores. Ao longo de séculos, no Brasil, foram se materializando os impasses e colocando a lume a urgência em se debater sobre as disputas e usos de terras e, ao mesmo tempo, projetar formas justas e igualitárias de viver no campo e na cidade.
Apesar de importante produção acadêmica alusiva aos conhecimentos e experiência com o saber dos moradores e moradoras do campo, sobretudo quando aliadas aos campos teóricos da educação e infância – notadamente em Edna Rossetto (2009; 2016), Roseli Caldart (2000; 2014), Ana Paula Soares da Silva; Jaqueline Pasuch e Juliana Benzonn da Silva (2012), Ana Paula Soares da Silva (2014) e outros –, consideramos que há ainda a necessidade de se conhecer o cotidiano das comunidades de moradores do campo que, na disputa pela terra, têm suas vozes e corpos desqualificados. Tal fato leva ao desconhecimento de suas formas de vida, lutas, projetos políticos e conquistas e à naturalização das mesmas como sendo menos importantes. Trata-se de um amplo processo de desconsideração, cujo propósito e risco são os de cairmos num amplo e vagaroso curso de apagamento desses grupos e silenciamento de suas vozes e reivindicações.
Acreditamos na presença de um idioma da infância da terra, em que seus ditos – pela palavra, pelas imagens, pelo corpo e gestos – são fundamentais, diferentes e pouco conhecidos. Idioma em gestos e corpos que, ao se colocarem em público e em práticas políticas, tais como em assembleias, na lida com a terra ou nas Cirandas Infantis, sobre o que escreveremos mais adiante, dão o tom da trajetória e da vida em ocupações e assentamentos e nos mostram um tempo presente que, se é de luta permanente, é também de conquistas e projeção de futuro de igualdade de direitos e melhores condições de vida. O Movimento dos/as Trabalhadores/as Rurais Sem Terra (MST), em sua força e gestos, coloca-se como obstáculos que atravessam e contrariam a imposição de um tempo de extermínio de ideias e propostas igualitárias, políticas e coletivas de organização e práticas sociais e políticas.
Achille Mbembe (2016) tem inspirado a pensar sobre a presença soberana daqueles que agem como se tivessem o direito de matar e escolher quais grupos devem viver e quais podem ser exterminados. Morte não apenas do corpo físico, mas de propostas e projetos de determinados grupos, de ações e relações com o outro, de jeitos de estar e se posicionar no mundo. Refletir sobre essa asserção permitiu-nos compreender os lutadores pela terra, seu direito a nela viver e tirar dela seu justo sustento como prática que freia, prende e altera, ainda que com vagar, as intempestivas formas e técnicas de morte atualmente em curso, em que “exercitar a soberania é exercer controle sobre a mortalidade e definir a vida como a implantação e manifestação de poder” (Mbembe, 2016, p. 123). Ressalta-se que as crianças estão compreendidas nesse processo e, por isso, acreditamos que suas presenças são fundamentais como marcos a registrar suas existências e formas de compreender o mundo, um forte e sublime modo de resistir.
Saskia Sassen (2016) aproxima-se dessa reflexão incluindo outro elemento. O que temos, segundo ela, é uma lógica de expulsões de pessoas e grupos sociais de seus lugares de origem, derivando, por vezes, em sua completa exclusão do mapa. A autora levanta uma importante tese: a de que estamos diante de formações predatórias, e não mais de uma elite predatória, que domina partes do mundo e impõe seus modos de gerir, diríamos aqui, não apenas a economia, mas, com ela, modos de pensar e agir, formas de organizações sociais e culturais. Assim, afirmamos que o MST encontra-se na contramão dessa lógica capitalista que centrifuga ideias e práticas sociais igualitárias, e o que nos interessa, aqui, envolvendo as crianças como grupos que não podem ser esquecidos, cujas vozes engrossam e adensam reivindicações.
Partindo de um amplo espectro de contextos sociais de luta pela terra, em especial, impulsionados pelo MST, apresentamos reflexões a partir de um recorte bastante delineado: considera-se as crianças assentadas e suas singulares formas de luta radicadas à terra e a seus modos de vida e maneiras peculiares de ver o mundo do campo. São trazidos aqui alguns aspectos da vida das crianças num assentamento urbano do MST, Comuna da Terra Dom Tomás Balduíno, mostrando imagens fotográficas criadas coletivamente por 12 meninos e meninas em idades que variam dos 5 aos 12 anos, que, em pequenos grupos, captaram cenas cotidianas escolhidas por eles e elas.
Não há aqui qualquer pretensão de esgotarmos o tema infância no campo, ou mesmo, de apresentarmos um texto que reúna somente as vozes e os pontos de vista das crianças. Embora importantes, de acordo com nossa estada em campo, as falas e a captação artesanal de imagens foram se entrecruzando e tecendo falas coletivamente. Assim, procuramos trazer, ainda que de modo muito breve, um pequeno pedaço da Comuna da Terra Dom Tomás Balduíno, ora indiretamente por nossa narrativa de adultas pesquisadoras, ora pelas falas das crianças e fotografias por elas elaboradas.
Fotografias produzidas por um grupo de crianças (acervo das autoras)
A Comuna da Terra Dom Tomás Balduíno situa-se a
Apresentamos reflexões que buscam, de modo amplo, aproximações com o cotidiano infantil no assentamento a partir de fotografias produzidas pelas próprias crianças como parte de uma série de vivências e experiências envolvendo a produção de imagens ao longo da abordagem metodológica da pesquisa. Ressaltamos as crianças como criadoras das fotografias, aqui afirmadas como fontes documentais e manifestações expressivas. São elas, junto a homens e mulheres, as inventalínguas, como diria o poeta, a expressar compreensões e projeções de tantas formas de lidar e estar no mundo e, nesse caso, no mundo do campo.
A pesquisa referida foi desenvolvida com as crianças dentro do assentamento em situações que envolviam relações com a família, passeios pela Dom Tomás acompanhados pelas crianças, e participação de encontro regional com os Sem Terrinha, que acontece anualmente em diferentes regiões do Brasil. Sem Terrinha é o modo como são denominadas as crianças no MST, o qual, segundo Liene de Lira Da Matta (2015), evoca a pertença ao movimento social, como sujeito-criança. A participação resultou de convite aberto feito por Maria, responsável pela Ciranda Infantil.
Neste ensaio, consideramos apenas a prática de oficinas de fotografia pinhole realizadas na Ciranda Infantil. Ao longo de oito meses, frequentamos o assentamento, que conta atualmente com 62 famílias e muitas crianças de todas as idades. Plantações emolduram o local, em especial as de ervas para cosméticos, que foram apresentadas com orgulho de conquista e expectativas de futuro ao ampliar o tamanho da plantação e produção. Optamos pela fotografia como forma de capturar cenas do cotidiano, elaboradas pelas crianças. O trabalho com a técnica fotográfica pinhole, de caráter artesanal, implica longo tempo de investigação do cenário ou objeto a ser fotografado. Marisa Mokarzel (2014), ao definir pinhole a partir das práticas do fotógrafo Miguel Chikaoka, afirmará que processo é a palavra-chave para compreendermos essa técnica fotográfica em que se considera a troca de afetos, conhecimentos e a interação humana como pontos fortes.
As câmeras são feitas em latas reutilizadas de diferentes tamanhos. Brincar com a lata e buscar o objeto a ser fotografado compõem um jogo entre todos os participantes, num rico processo que envolve conhecer a cena fotografada e reconhecê-la, ao mesmo tempo que a todo o percurso de revelação, em que se experimenta a fotografia, confeccionando a lata e revelando a fotografia num local escuro. É válido ressaltar que, junto às crianças, temos, nesse momento, um dos pontos altos desse caminho.
Ao longo de seis oficinas, foram criadas 30 fotos, numa média de duas a três por grupos de crianças. É apresentada aqui apenas uma mostra de seis fotografias que julgamos representativas do conjunto3. No decorrer do percurso feito em caminhadas para se captar em sentidos diversos o espaço físico/ambiente do assentamento, foram se constituindo grupos de crianças de idades variadas. A observação e feitura de câmeras para, posteriormente, elaborar e revelar as fotos resultaram em fotografias coletivas, ou seja, realizadas por grupos de crianças fotografando ao longo do percurso. Optamos por não colocar o nome de um único autor para não nos arriscarmos a deixar alguém de fora sem a devida referência nominal, mas informamos que todos os grupos foram formados por meninas e meninos e que os mesmos se faziam e desfaziam constantemente, a depender da proposta e das motivações sugeridas no próprio campo de pesquisa.
Como mencionado, o ponto de vista das crianças encontra-se presentificado ora de modo indireto em nossas narrativas, ora pelas fotografias criadas por elas e em outras passagens com suas observações durante o percurso das investigações. Para tanto, buscamos a construção de um texto que entrecruza vários olhos de crianças e adultas. Temos aqui uma coautoria. Somos três mulheres a escrever: Marcia, Maria e Paula, esta última, à época, moradora do assentamento aqui referido, cujo olhar, fundamental, conduziu-nos à melhor compreensão do local, bem como possibilitou nossa entrada no espaço. Escrevemos juntas parte desta história de pesquisa, com a qual também se luta.
O MST e a luta pela terra, com as crianças
Nós partimos do princípio de que as crianças são sujeitos de direito, podem e devem opinar sobre sua realidade e participar das decisões. Como elas estão inseridas nesse processo desde cedo, a gente trabalha com elas para que entendam a própria realidade e possam lidar com ela. Nesse sentido, ao longo das três décadas de luta, o MST construiu a sua própria pedagogia, que visa a emancipação humana, da criança e do adulto (Marcia Ramos, dirigente do setor de educação do MST, 2018).
As disputas pela terra, pela reforma agrária e por uma sociedade mais justa e fraterna têm composto o cotidiano do MST ao longo de décadas. Segundo o site oficial do MST4 (www.mst.org.br), atualmente, há , atualmente há em torno de 350 mil famílias assentadas em 24 estados. Movimento Social de maior relevância, o MST tem constantemente nos apresentado formas de luta pela reforma agrária e combate à ausência de políticas públicas para o uso de terras no meio rural e, em especial, para aquelas que não cumprem sua função social, tal como consagrado na Constituição Federal de 1988. A busca constante pela garantia de justiça social está embutida nas vias de luta política em ações locais e globais, que visam a assentar centenas de milhares de trabalhadores e trabalhadoras, bem como objetivam questionar e alterar relações de classe, gênero, étnicas e ambientais cujo caráter ostensivamente desigual exclui e procura calar inúmeros grupos sociais.
Se é possível afirmar que o morador adulto dos assentamentos traz consigo a resistência e seus dissabores e guarda a prática urgente da luta e suas conquistas, como nos informam Catarucci (2014) e Raggi (2014), resta a pergunta: o que sabemos sobre esses espaços a partir do morador-criança? São criados e transformados em ambientes com marcas infantis, cujas vozes são ouvidas e atendidas? Após a permanência em campo, observamos que há lugares criados por elas e que, embora possam parecer banais a quem veja apressadamente, têm grande força agregadora de grupos infantis. Assim, brincar é uma palavra-chave que não podemos descartar. Acreditamos que o assentamento compõe histórias coletivas e individuais que se entrelaçam em experiências ao longo das reivindicações por terras e pela materialização de seus desejos e direitos e nisso compreendemos a infância e suas características particulares de luta.
Como afirma Ana Paula Soares da Silva (2017), é preciso encarar e debruçar-se sobre enormes desafios – coletivamente – “uma vez que a produção acadêmica acerca da oferta/demanda e das práticas pedagógicas da educação infantil nos territórios rurais ainda é bastante incipiente” (p. 297). Considera-se, e não de modo solitário, que o movimento que se traduz em texto-imagem-escritura se junta àqueles que buscam debater e desmontar crises de desestabilização que têm se apresentado como intensa tormenta que atinge proporções gigantescas em que muitas das conquistas dos trabalhadores estão sendo dizimadas no Brasil e na América Latina. O texto escrito, assim como o imagético, também nos traz a existência de um potencial de luta que se comporta como campo de explanação e disputa de diferentes pontos de vista, conflitos e contradições que lhes são intrínsecos. As crianças não surgem como meras coadjuvantes num cenário criado por outros, mas como agentes no processo de luta, vozes que deslocam tempos e espaços, não apenas nos assentamentos, como também nas marchas do MST em disputa e reivindicação de terras.
A entrada na Comuna da Terra Dom Tomás Balduíno
A possibilidade de pesquisa nesse assentamento nos foi apresentada por Paula França, coautora deste artigo. O contato foi feito ao longo do curso Pedagogia da Terra, em que ela participava como aluna. Após leitura e discussão do projeto, com a responsável pela Ciranda Infantil da Comuna Dom Tomás Balduíno, tivemos o consentimento para a pesquisa, que contou com a colaboração de Edna Rossetto, também integrante do MST e conhecida de longa data de todos os envolvidos. Concluídos os acertos entre adultas, agora, sim, outro desafio: contato com as crianças.
Um grupo composto por três mulheres e um homem, sendo dois estudantes e duas docentes universitárias, estrangeiros no assentamento, passou a tomar contato com as crianças frequentadoras das Cirandas, cujas famílias aceitaram suas participações em pesquisa via conversa prévia e declaração de termo de aceite em participar. A Ciranda Infantil, que será apresentada mais adiante, ofereceu-se como importante ponto para o estabelecimento de conversas, propostas e a realização de oficinas para a feitura de câmeras artesanais.
Daremos continuidade às reflexões primeiramente pela apresentação das Cirandas Infantis e seu propósito, bem como do assentamento.
Insubordinar a terra: trajetória de uma conquista, e o campo se abre em imagens sublimes e fortes gestos de luta
Fotografia produzida por um grupo de crianças (acervo das autoras)
Soando como um shamisen
E feito apenas com um arame tenso um cabo e uma lata velha num fim de festa feira no pino do sol a pino
Mas para outros não existia aquela música não podia porque não podia popular
Aquela música se não canta não é popular
Se não afina não tintina não tarantina
(Haroldo de Campos)
Lá de cima, no topo da estrada que leva à Comuna da Terra Dom Tomás Balduíno, vê-se parte da estação de trem da cidade de Franco da Rocha. O assentamento está na confluência entre o anteriormente denominado Hospital Psiquiátrico do Juquery, criado no século XIX, atual Complexo Hospitalar do Juquery, e a Penitenciária do Estado, que leva o nome da cidade. Temos notadamente uma vizinhança relevante para a constituição do assentamento e suas relações, gerando certas representações relativas ao ser morador desse espaço. Destaca-se que, depois da entrada, nada mais se vê dessa vizinhança. Concernente às crianças, algumas pessoas sugeriram, de modo bastante brando, certo receio quanto à entrada e saída em dias de visitas aos presidiários e demonstraram temer as manifestações destes. Embora o assunto não tenha retornado, sequer nas fotografias, infere-se, contudo, que podem marcar a vida de todos os moradores e moradoras, cultivando suas práticas sociais.
Andar pelo assentamento com as crianças consistia em atividade bastante agradável, ao mesmo tempo em que nos levava a perceber alguns de seus desejos. Numa das tardes, ao apresentar o local de moradia, um dos meninos moradores nos diz: “Sabia que a gente podia ter uma piscina aqui? Tem espaço, podia fazer.” Logo, os demais colegas à volta reforçam a ideia. Ao chegarmos a um amplo espaço de assembleias e encontros entre os moradores, Yago nos informa que ali eles poderiam conversar sobre isso, e pergunta: “Sabia que a gente pode fazer isso?” O aprendizado, tão caro, sobre como debater questões, soma-se à proposta de construção de piscinas, outras hortas ou lugares para brincar e reunir, que surge em suas falas como a reconfigurar o espaço.
Ao andar com as crianças pelo assentamento, percebem-se as casas, hortas e animais, ao mesmo tempo em que é revelada uma arquitetura imaginária, onde anseios por futuras construções são esboçados em suas falas. O espaçamento entre moradias dá a impressão de um conjunto de vizinhos distantes, ledo engano. A distância espacial não separa os grupos. Enquanto as crianças construíam suas câmeras e conversavam conosco, percebeu-se um conhecimento profundo das famílias e seus modos de vida no Dom Tomás, pois os gostos por animais e jeitos de morar eram destacados, assim como o jogo de bola no campinho recém-inaugurado e tão pleno de representações nas falas e práticas de todos, evidenciando múltiplas experiências cotidianas nesse espaço.
Foto coletiva do portão de entrada da Ciranda Infantil (acervo das autoras)
A Ciranda Infantil na Comuna da Terra Dom Tomás é um espaço amplo, com duas salas, sendo uma para leitura e estudos e outra para eventos, cozinha e área aberta em que é possível se reunir para conversar ou brincar. Deve ficar claro que Cirandas Infantis não são escolas. Edna Rosseto (2008) define-as como espaço de educação não formal dentro dos assentamentos, que não está vinculado ao sistema educacional do país. As Cirandas seriam espaços de aprendizagens, trocas, brincadeiras, “espaços em que elas (crianças) aprendem a viver coletivamente” (op. cit.). As Cirandas Infantis, de modo geral, são entendidas como espaços educativos, cujas atividades devem ter como objetivo as crianças em suas várias dimensões: dos valores, do lúdico, da imaginação, das fantasias, da cultura, da história, do trabalho, entre outras. A Ciranda não pode ser vista apenas como um direito das mães e pais, mas, sobretudo da criança, que tem a possibilidade de acompanhá-los em cursos e outras atividades, favorecendo sua participação.
As Cirandas Infantis têm sido organizadas de duas formas. A primeira é a Ciranda Infantil Itinerante, que acontece nas ações do MST, nos cursos, marchas e ocupações. Crianças, pais e educadores participam juntos, cada um contribuindo à sua maneira. Nos atos, elas têm como objetivo inserir as crianças como sujeitos do processo que está ocorrendo, criando condições para que elas possam entender e, na medida do possível, posicionarem-se diante de uma situação, que normalmente tem seus condicionantes compreendidos apenas pelos adultos. A segunda é a Ciranda Infantil Permanente – existente na Comuna Dom Tomás e de onde partíamos para nossa pesquisa – organizada nos assentamentos, acampamentos, centros de formação e escolas do Movimento. Abrigam ali as crianças, Sem Terrinha, definidas por Edna Rosseto (2016) como:.
Os Sem Terrinha têm na sua realidade a presença pedagógica do próprio Movimento, que no processo educativo e formativo vai dando elementos para que as crianças se constituam enquanto sujeitos do processo histórico. É com essa realidade que os movimentos sociais do campo vêm se preocupando, principalmente com esse tempo da vida infantil e, nesse sentido, vão construindo espaços pedagógicos onde as crianças possam se encontrar, criar, brincar, inventar (p. 59).
Observa-se o profundo caráter político existente nas práticas e presença dos Sem Terrinha. Há, inegavelmente, a construção de uma infância em organização e luta política. Em atividades com os familiares e/ou demais crianças, elas são agentes que reconfiguram o movimento como componente dentro de outro maior, o MST, que parece se ver motivado e preocupado com a forma como meninas e meninos vivem dentro dos assentamentos e acampamentos.
O carrossel gira-gira e a luta pela terra
A possibilidade de fotografar usando uma lata vazia de leite, molho de tomate ou qualquer outro mantimento, tal como comunicado previamente às crianças, instigou o interesse pela participação. Criamos etapas em que estavam previstas longo processo de percepção da imagem. Para tanto, iniciamos com a produção de caixas escuras, feitas com papelão, em que se tornava possível ver as imagens invertidas. A curiosidade das crianças era alimentada. “Nossa vem ver, olha como fica! Mas como é que fica assim?” As frases singelas traduziam, no momento da atividade, a força da percepção das possibilidades de inversão das imagens convencionalmente vistas. Ver o mundo de ponta-cabeça tornou-se uma inusitada experiência demonstrada pelas exclamações e risos.
Após a exploração do entorno com as caixas de imagens invertidas, partimos posteriormente para a produção das câmeras artesanais usando, então, as latas. A coleta de latas junto às famílias, em suas casas, mostrou-se como um eficiente modo de aproximação entre adultos e crianças, numa outra forma de participação, até então, não considerada por nós. A improvisação de uma sala escura, dentro da sala da Ciranda Infantil, serviu para a confecção das câmeras/latas fotográficas. Na ausência de um visor, como as crianças bem observaram, como seria possível saber qual seria o resultado? É preciso utilizar outros sentidos que não só o olho, contrariando a máxima difundida pela Kodak já no início do século XX: “you press the button and we do the rest”5 (Aquino, 2016). Assim, podemos dizer que se fotografava de corpo inteiro.
A técnica pinhole nos remete ao princípio básico da fotografia: uma caixa escura com um pequeno orifício em que é possível controlar a entrada de luz, tal como o obturador de uma câmera fotográfica convencional. A quantidade de luz que entra é a condição para a captação da imagem. O importante e, diríamos, fantástico nesse processo é a manutenção de estreito contato com o entorno a ser fotografado. O escurecer do dia, uma nuvem intrusa que ousa encobrir o sol, assim como constantes movimentações de pessoas ou coisas repercutem na qualidade e composição da foto. O fotógrafo atento e sensível ao entorno fotografa com todos os seus sentidos a postos, não é só o olho a funcionar, mas ele na relação com o corpo e este em sintonia com o que está à sua volta. Diante disso, as crianças interagiam de modo sensível e surpreendente, contrariando, por vezes, concepções pedagógicas predefinidas em que se afirma a incapacidade infantil em se ater por longo tempo a determinadas atividades.
Observamos ainda que o processo de elaboração das fotos implicou na construção de vínculos entre as crianças e delas conosco. Nessa vinculação, encontramo-nos e escutamos as histórias contadas sobre as latas, que se mostravam vazias, porém, plenas de conteúdos sensivelmente apresentados. As crianças lhes conferiam outro status, contando suas histórias que implica saber quem as trouxe, a busca pelas latas em suas casas, dos produtos que carregavam antes de serem vazias e seus usos. Não estavam vazias de sentidos, agora ganhavam outro propósito: captar imagens, transformando-se em câmera fotográfica. Artesanalmente elaboradas, de modo lento e vagaroso, de forma a garantir a percepção do que se fazia, a participação de todos os envolvidos na construção já era a lapidação do olhar com a tentativa de garantir que cada criança se identificasse com a própria câmera. Como escreveu Sylvia Caiuby Novaes (2012), as fotografias são, neste sentido, estratégicas: o tema “não cai do céu”, ele pode ser motivado pelas fotos, que permitem ao pesquisador introduzir questões, esclarecer dúvidas, colher ricos depoimentos, acompanhar as discussões que as fotos suscitam entre as pessoas e, com isso, orientar caminhos a serem seguidos na investigação, ou mesmo, o que e como ver diante das imagens.
Em pequenos grupos, as crianças entravam na sala inicialmente iluminada para conhecer o espaço e depois toda escura com uma fraca luz vermelha para perceber a transformação: o que entrava como papel branco, saía com a imagem revelada. De mãos dadas, experimentavam o escuro entre risadas e curiosidades expostas pelos gritos, semelhantes àqueles dados em filmes de terror, e demais manifestações. A permanência em campo foi nos permitindo estar mais com a criançada e construir uma escuta atenta às palavras e aos silêncios manifestos.
As crianças saíam do local improvisado para revelar fotos segurando a fotografia como a um tesouro e mostravam-nas aos outros, discutindo sobre tudo o que foi feito. Processo de criação fecundo e, não poderíamos deixar de comentar, era possível perceber a alteração no repertório do olhar que interpreta o mundo via imagem fotográfica. Destacam-se as escolhas feitas que, segundo observamos, visavam a captar o brinquedo ou um recorte da paisagem como assunto da imagem.
Imagem produzida coletivamente na oficina pinhole (acervo das autoras)
“Vamo tirar foto dali?” Sugere uma das meninas. “Dali onde? O que tem lá?” Pergunto. Lúcia, a menina, pega em nossas mãos – minha e de outra pesquisadora, Carolina –, leva-nos ao local em que estão os brinquedos e logo diz: “Tem os brinquedo. Agora aqui tem brinquedo, vem ver.” O brinquedo mostrado foi fotografado por um grupo composto por três crianças, menos Lúcia, curiosamente.
Poderíamos descrever o brinquedo em palavras. Contudo, ao sermos chamadas para vê-lo e depois, ao considerar o registro visual elaborado por outras crianças, tínhamos ali mais que o resultado do diálogo sobre a pesquisa e o uso das fotografias como recurso. Compreendia-se nesse gesto a vinculação do grupo ao assentamento e, ainda mais, da recepção e acolhimento que vinha se construindo durante as idas ao campo de pesquisa, em que mostrar o que havia de novo ou, ainda, multiplicar alegrias da conquista ganhavam força. As crianças incorporavam os brinquedos e criavam a possibilidade de outro mapeamento do espaço, agora sentido, brincado.
As histórias das latas se misturavam às suas histórias de vida e aos lugares eleitos para serem fotografados. O gira-gira não era somente um gira-gira em meio a um local gramado. Percebemos pelas falas que se tratavam de doações ou compras de um equipamento reivindicado por meninas e meninos, como expressão do direito de brincar com as demais crianças, ainda mais, o equipamento e o local concentravam pessoas e simbolizavam um dos locais de relações de amizade, cuidados dos adultos em relação às crianças. Consistia em um espaço de socialização e construção do jeito de ser sem-terra e sem terrinha num assentamento da reforma agrária.
Pudemos encontrar certa regularidade nas escolhas feitas pelas crianças: a substância do vivido nos brinquedos e ao redor, acumulada e movimentada pelas experiências no assentamento e nas relações com as demais crianças e colegas. O cotidiano encontra-se presentificado nas gangorras, gira-gira e balanços que compuseram a maior parte das imagens captadas pelas meninas e meninos. Somando-se às imagens das paisagens com carros, ruas, flores e árvores, esses eram os protagonistas da imagem fotográfica.
Os brinquedos podem implicar momentos de ruptura com o cotidiano quando brincar sugere a suspensão do tempo, da repetição do trabalho e envolve a todos em práticas lúdicas. Há a presença de uma memória viva do resultado de uma luta pela ocupação desse espaço, ambientando-o com elementos que apontam o reconhecimento de certos direitos infantis e, com isso, essas fotografias, embora sem registro de pessoas, trazem-nos marcas de uma história. O certificado de presença das crianças, como afirmado em Barthes (1984), encontra-se nos brinquedos fotografados.
Transformar pela terra: considerações para continuar a conversa
Imagem produzida coletivamente na oficina pinhole (acervo das autoras)
Recuperamos aqui a pergunta: quem fotografa quem e o quê? Que narrativas são elaboradas sobre o assentamento? Pelas crianças, o resultado de uma luta incessante se faz ver pelos brinquedos, e a dimensão brincalhona se faz corrente em reivindicações nem tão comuns, mas que insistem em nos afirmar que as crianças estão por lá, como moradoras e lutadoras, que revolvem a terra e a seus desejos e lhe configura outro ambiente.
Inicialmente, é possível considerar que se trata de uma predileção infantil que remonta ao prazer pelo brincar – que, por vezes, é-lhes tirado ou deixado diminuto. Contudo, chama a atenção o gosto pelos espaços externos. O fotógrafo Cristiano Mascaro afirma que fotografar é saber ver, se assim o é, as crianças estão sabendo ver com presteza, deixando enxergar uma criação plástica do real. Somamos à afirmação de Mascaro uma outra: no ato fotográfico, há uma dimensão corpórea e todo o corpo se envolve. Há um movimento construtor da fotografia em que estão relacionados o corpo-texto com imagens impressas na memória, nos gestos, nas falas, no modo de olhar e nas buscas pelos objetos. Com isso, a foto do assentamento não é, seguramente, distante desse gesto-criança-movimento sensível que olha e investiga o entorno. Como sugere Beatriz Sarlo (2015):.
A relação com a imagem e com o espaço se apresenta sob um duplo aspecto: recebem-se as imagens (fixas ou móveis) e elas são fabricadas. Fabricar imagens é, ao mesmo tempo, se apropriar do espaço, transformá-lo e, de certa maneira, consumi-lo. Essa maneira de vivenciar o lugar tem por fim olhar o espaço e a história que se desenvolve no local. Assim, tal como em um espetáculo, esses elementos fornecem a matéria-prima, mas impõem mudanças na natureza do lugar e em sua temporalidade (p. 54).
Há uma existência exibida por aqueles que vivem nesse espaço que irrompe o cotidiano e sua versão mais rotineira e dão sentido, ainda que nas brechas, às suas experiências diárias expressas em lutas constantes, modificando-as. A imaginação vai se desenvolvendo, alimentando-se e fazendo-se presente nas escolhas e composições. Como sublinha Sarlo (2015), há, nessas escolhas, e no que se mostra a partir delas, um sentido social que é a condição mínima e necessária para que possam se desenvolver os processos ligados ao imaginário de forma metafórica e metonímica da arte, do romance, da poesia, ou mais ainda, para que eles sejam apreciados por todos, reconhecidos ao mesmo tempo como sedutores e, então, não destituídos de sentido.
As fotografias nos interpelam. São instrumentos discursivos, linguagem que narra visualmente e são capazes, com isso, de fazer emergir alguns dos sentidos da pesquisa, do estar com as crianças e perceber suas certas experiências no espaço, as relações das crianças com o espaço do assentamento que se dava, ora pelo desejo de piscinas, ora pelos brinquedos captados e mostrados. A representação de um simples objeto instaura a presença da contenda pelos direitos à terra e suas conquistas, mas, ainda mais, instigam a pensar sobre outras demandas, talvez invisíveis aos olhos adultos mais calejados.
São vários os testemunhos da conquista, como nas fotos em que distintos brinquedos foram registrados. Importa aqui compreender que a luta pelo assentamento, ainda que ofuscada pelo tempo ou por informações que excluem movimentos sociais, pode se materializar nessas imagens-lembranças que, ainda sem rostos, têm histórias a contar pelas crianças assentadas.
Georges Didi-Huberman (2017) define as imagens como espaços de luta. Partimos dessa afirmação e refletimos sobre a ideia de que as fotografias elaboradas pelas crianças carregam também essa dimensão, somando-as a suas características documentais e criativas. Elas se comportam não apenas como expressão da luta, mas como forma imagética de luta que tem capacidade de agir sobre as pessoas, com uma ressalva: são ações apresentadas pelas crianças, independentemente de sua faixa etária, e podem colaborar para refletir e compor um olhar de longe e de dentro do movimento.
O que se registra quando imagens são arroladas? Quem produz as imagens de quem? Elas guardam grande força formativa e informativa em suas narrativas, porém, afirmando pontos de vistas, por vezes, únicos. Majoritariamente, temos os adultos sobre eles mesmos ou sobre temáticas convencionadas por eles. Quanto às crianças moradoras em assentamentos do MST, ainda nos resta saber tantas coisas. Fica, portanto, o convite para olhar novamente as imagens criadas coletivamente por elas e seguir refletindo e adensando diálogos.
Imagens produzidas coletivamente na oficina pinhole (acervo das autoras)
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Data de recebimento: 07/02/2018
Data de aceite: 08/09/2018
1 Vale destacar o retrocesso que está sendo imposto à população brasileira e às conquistas relativas à democracia e outras de caráter social e econômico. Segundo relatório da Comissão Pastoral da Terra: desde 2003, a violência no campo no Brasil não era tão alta quanto foi em 2017. O número é 16,4% maior que em 2016, quando aconteceram 61 assassinatos, e quase o dobro de 2014, com 36 vítimas. A análise consta no relatório Conflitos no Campo Brasil 2017, Comissão Pastoral da Terra (CPT).
2 A investigação contou com a coordenação de Daniela Finco, UNIFESP - Guarulhos e o financiamento do CNPq, entre os anos 2010 e 2012, e teve como integrantes as coautoras deste trabalho.
3 Em algumas poucas passagens optamos por repetir algumas fotos com o objetivo de ressaltar imagens e reflexões delas advindas.
4 O grupo Usina de Arquitetura foi convidado pelo MST para finalizar o projeto de habitação na Comuna da Terra Dom Tomás, aprová-lo para financiamento e executar a obra. Foram aprovadas seis tipologias – casas de barro em bloco de cerâmica aparente, com 70m² aproximadamente. Teve uma associação de dois financiamentos públicos para a construção das casas: INCRA e Caixa Económica Federal.
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I Marcia Gobbi: Graduada e licenciada em Ciências Sociais - Universidade de São Paulo (USP), Brasil. Mestrado e Doutorado em Educação, Sociedade e Cultura - Universidade de Campinas (UNICAMP), Brasil. Professora Doutora da Faculdade de Educação - USP. E-mail: mgobbi@usp.br
II Maria Cristina Stello Leite: Graduada e licenciada em Ciências Sociais - Universidade de São Paulo (USP), Brasil. Mestrado em Educação - Faculdade de Educação - USP e doutoranda na mesma instituição. E-mail: mariastello@gamil.com
III Paula França: Pedagoga - Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), Brasil, do curso Pedagogia da Terra. Militante e coordenadora regional de Educação do Movimento dos/as Trabalhadores/as Rurais sem Terra (MST), Brasil. E-mail: pauladasilvafranca@gmail.com