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Pensando familias
versão impressa ISSN 1679-494X
Pensando fam. vol.20 no.1 Porto Alegre jul. 2016
ARTIGOS
Família e dependência química ilustradas no cinema (2005-2014): uma perspectiva psicodinâmica
Family and drug addiction illustrated in cinema (2005-2014): a psychodynamic approach
Tales Vilela SanteiroI,1; Vanessa Assis MenezesII,2; André Amaral BravinII,3
IUniversidade Federal do Triângulo Mineiro
IIUniversidade Federal de Goiás, Regional Jataí
RESUMO
O objetivo do trabalho consistiu em analisar filmes comerciais/ficcionais que apresentam a temática da Dependência Química (DQ), de 2005 a 2014, para caracterizar encenações desse fenômeno em âmbitos familiares. A seleção das obras foi realizada de modo sistemático, em sites especializados em cinema, cruzando termos como "dependência química", "drogas" e "família". A amostra consistiu de 27 títulos, estrangeiros em sua maioria, explorada em três etapas: análise dos filmes conforme aspectos observados na literatura especializada sobre DQ e família, lançamento de informações em planilhas e tratamento quanti-qualitativo de dados. Os filmes explorados focalizam experiências vitais dos dependentes químicos, realçando conflitos internos, laborais e com seus familiares. As psicodinâmicas familiares foram consideradas ambivalentes, com variações drásticas de características consideradas positivas (respeito mútuo, apoio) e negativas (vitimizadoras, abusivas), na maior parte dos títulos (52%).
Palavras-chave: toxicomania; filmes ficcionais; psicodinâmica familiar; psicanálise.
ABSTRACT
In order to characterize drug addiction (DA) in family context illustrated in movies, this paper aimed to analyze blockbuster fictional movies from 2005 to 2014. These were systematically selected from specialized websites, crisscrossing keywords like: DA, drugs and family. The sample was 27 movies, foreign mainly, explored in three steps: movie analysis according to literature topics concerning family and drug addiction, data tab and qualitative-quantitative data analysis. The analyzed movies focused on vital experiences in the drug addicted characters, highlighting inner, labor and family conflicts. Family psychodynamics was considered to be ambivalent, drastically varying positive (mutual respect, support) and negative (abusive, victimization) characteristics, in many (52%) movies.
Keywords: drug addiction; fictional movies; familiar psychodynamic; psychoanalysis.
Introdução
O uso de substâncias psicoativas é um fenômeno que acompanha a civilização e é recorrente em todas as culturas e contextos de inserção humana, com diversos fins, tais como: rituais religiosos, forma de recreação, tratamento e prevenção de doenças. Nesse sentido, o padrão e o uso delas podem ser considerados expressão do contexto cultural (Labate, Goulart, Fiore, Macrae, & Carneiro, 2008).
No último século as características do consumo de drogas modificaram-se e padrões diferentes do uso cultural de substância passaram a permear a sociedade, dentre os quais, o abuso e a dependência. Ambos se figuram como distintos padrões de uso, que têm em comum o fato de que estes acarretam em prejuízos de ordem social e/ou individual ao usuário (Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas [SENAD], 2014; Silveira Filho, 2005).
A dependência química (DQ) é definida como um padrão mal-adaptativo de uso de substâncias psicoativas, com implicações nos níveis psicológicos, físicos e sociais, que resultam da interação do ser humano com determinada substância (cocaína, heroína, álcool, nicotina etc.). Ela pode envolver fenômenos como tolerância e abstinência, mas é caracterizada pelo padrão compulsivo de uso, exemplificado por atividades como a redução da participação em atividades sociais, ocupacionais e recreativas (Dalgalarrondo, 2008; Holmes, 1997; Organização Mundial da Saúde [OMS], 1993). Essas caraterísticas fazem da DQ um fenômeno complexo. Nesse cenário, o enfoque teórico psicodinâmico contemporâneo trata-a como um fenômeno multifatorial, multideterminado em sua etiologia, por fatores genéticos, biológicos, psicológicos, familiares e socioculturais (Barrocas, VieiraSantos, & Paixão, 2014).
Como epidemia, a DQ mobiliza diversas esferas sociais: profissionais da saúde, família, educadores, gerenciadores de políticas públicas e outros (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes, 2015). Ela é um campo muito complexo e amplo, que deve envolver evidências científicas e necessidades clínicas e técnicas, ao invés de questões financeiras, políticas, morais, dogmáticas e ideológicas, de maneira que os estigmas, mitos e preconceitos possam ser vencidos e que os serviços e projetos possam ser mais bem articulados (Diehl, Cordeiro, & Laranjeira, 2011).
Psicanalistas investem na compreensão da relação entre substâncias psicoativas e suas interfaces com a psique humana há quase 120 anos (Ramos, 2011). Freud (1930/1996) indica três medidas paliativas diante do árduo trabalho de lidar com os sofrimentos e as decepções da vida: a Arte, a atividade científica e o uso de substâncias tóxicas. Sendo a última medida considerada a mais grosseira, embora a mais eficaz. Essa linha teórica contribui para compreensão da vulnerabilidade psíquica para o ulterior desenvolvimento da DQ, bem como orienta quanto à postura terapêutica e aos programas de prevenção.
Como ocorrido em outros transtornos mentais, a Psicanálise contribuiu para compreensão da etiologia da DQ a partir da experiência clínica. Dentre as teorias desenvolvidas para tentar compreendê-las, quatro podem ser destacadas: a da oralidade, a das relações maníacas, a das perversões e a das gratificações narcisistas, que serão sintetizadas a seguir. No que diz respeito à primeira teoria, ela considera que os dependentes químicos estariam fixados na fase oral, como resultado de imperativos constitucionais ou fatores biográficos (Freud, 1905/1996).
Na segunda teoria, a das relações maníacas, a mania ou a depressão seriam condições prévias nas quais o uso de substâncias psicoativas apareceria no lugar do objeto real e independente. A teoria das perversões (terceira) entende a DQ como expressão do sadismo primitivo, originado no Édipo arcaico. A quarta teoria, a das gratificações narcisistas, diz que através das substâncias psicoativas o sujeito consegue prazer sem a necessidade da colaboração de outra pessoa (Ramos, 2011). Vale observar que esse conjunto de exposições teóricas se autocomplementa rumo a uma explicação mais abrangente para o fenômeno estudado.
Caminhando na tentativa de compreender o funcionamento narcisista dos dependentes químicos, Ramos (2011) afirma que as mães deles não teriam conseguido exercer seu papel de modo suficientemente bom ao longo do desenvolvimento emocional dos filhos (Winnicott, 1971/1995). Elas procuram aplacar o bebê, satisfazendo-o constantemente, levando seus filhos a terem dificuldades de elaborarem seu estado fusional em relação à mãe. Por sua vez, a etapa de separação mãe-bebê ocorreria de maneira tímida, gerando um estado emocional de vazio crônico. Nessa direção, na DQ existiria uma relação narcísica objetal, onde a substância seria fonte dessa satisfação, como fonte de prazer narcísico (Ramos, 2011).
Nos estudos produzidos nos últimos 20 anos, o papel do pai primitivo relacionado à transgressão, também tem sido destacado. Esse tipo de pai não facilitaria o trabalho do bebê de sair da relação fusional com a mãe. Deste modo, a transgressão pode ser entendida como uma contínua convocação do pai, sentido pela criança ou pelo dependente químico como fraco e ausente. Essas experiências emocionais dificultariam o surgimento de identificações adequadas e potenciais para o desenvolvimento egoico (Ramos, 2011).
Ao analisar os possíveis fatores etiológicos envolvidos na DQ, Ramos (2011) menciona que um dependente químico pode apresentar vulnerabilidade psicológica de modo diferenciado. Ainda que não esteja presente em todos os casos, esse é um fator importante a ser considerado, envolvendo pacientes que não tiveram um pai suficientemente bom para se identificar e nessa acepção apresentam um ego fragilizado. Por essa via, Falceto e Waldemar (2013) destacam as mudanças pelas quais a figura paterna vem passando na atualidade e sinalizam a DQ como uma possível consequência dessas alterações. No passado o pai ocupava a figura de provedor e autoridade. Hoje, muitas vezes ele se encontra ausente física ou psicologicamente (Cúnico & Arpini, 2013), o que dificulta o exercício da função paternal de colocação de limites, o que também se associa a vários transtornos, sendo a DQ um deles.
Apesar da ausência de uma resposta universal para explicar a DQ, estudos recentes têm salientado a importância da família e das relações entre seus membros no papel etiológico da iniciação, da manutenção e da redução do consumo de drogas. Destarte, a família pode ser entendida como um cenário de risco e/ou de proteção frente ao abuso de substâncias, visto que usuários de drogas estão inseridos em um contexto no qual seus valores, crenças, emoções e comportamentos influenciam os outros membros, também sendo por eles influenciados, num movimento dinâmico e contínuo (Barrocas et al., 2014).
A família pode ser compreendida como uma unidade básica de interação social, um agrupamento humano que é, assim como ocorre no caso da DQ, de complexa conceituação. Ela seria apenas passível de descrição das suas várias estruturas ou modalidades assumidas ao longo do tempo, pois sofre modificações de acordo com a latitude, o momento histórico, os fatores sociopolíticos, econômicos e culturais. Operativamente ela pode ser delimitada como um sistema humano onde se desenvolvem três tipos de relações pessoais – aliança (casal), filiação (pais/filhos) e consanguinidade (irmãos) (Osório, 2013).
A unidade familiar tem por objetivo básico preservar a espécie, nutrir e proteger a descendência e fornecer-lhe condições para a aquisição de suas identidades pessoais, além das funções de transmissão de valores éticos, estéticos, religiosos e culturais. Ela pode se apresentar, de maneira geral, sob três formas básicas: nuclear, constituída de pai mãe e filho; extensa, composta também por outros membros que tenham laços de parentesco; e abrangente, que inclui mesmo os que não são parentes, mas coabitam (Osório, 2013).
Em seus primórdios psicanalistas se debruçaram sobre a família e sobre como as relações familiares interferem na constituição psíquica dos sujeitos. A partir dessa matriz teórica, ela é um grupo caracterizado pela natureza das interações entre os membros e principalmente pelos processos dinâmicos inconscientes que estão no alicerce de seus laços manifestos, sendo esses processos precoces em sua origem e enraizados de tal maneira, que influenciam ligações importantes entre gerações (Mandelbaum, 2008).
A família se constitui sobre dois alicerces: (1) como um fenômeno social, cultural, como uma instituição que transcende o fato biológico, na qual as instâncias culturais dominam as naturais, e (2) como uma estrutura hierárquica, que predomina na primeira educação, na repressão dos instintos, na aquisição da linguagem, tendo um papel crucial na transmissão da Cultura (Teperman, 2014). Ela ocupa papel central no desenvolvimento humano, sendo que uma de suas principais funções é a de ser continente para todos os membros.
A capacidade de aceitar os sentimentos do outro e de poder contê-los permite um espaço de alívio para os membros de uma família. Há famílias, por sua vez, que não conseguem ser continentes para os distintos estados de seus integrantes. Nessas ocasiões, é frequente encontrar um funcionamento polarizado, na qual se encontram o filho feio e o bonito, o bom e o mau, que denotam dinâmicas rígidas, que tendem a negar conflitos (Mandelbaum, 2008). Muitas vezes escolhe-se um membro para ser o depositário dos problemas da família, aspirando certo "equilíbrio" familiar (Mandelbaum, 2008; Orth, 2005; Pincus & Dare, 1978/1987).
Em casos como esses, tanto no sujeito como na família há partes de conflito que precisam se haver umas com as outras, exigindo grande trabalho psíquico (Mandelbaum, 2008). Nesse sentido, as relações, e não a estrutura da família são merecedoras de atenção para compreensão da sua psicodinâmica, tendo claro que não há uma forma de organização familiar ideal que garanta as condições necessárias para a constituição do sujeito e que o modelo de família nuclear nunca foi sinônimo de "normalidade". Além disso, imperfeições e "faltas" são imprescindíveis na transmissão familiar (Teperman, 2014).
A configuração familiar tem sofrido várias modificações nas últimas décadas. O aumento do número de recasamentos, a interdependência entre avós, pais e filhos, a ida da mulher para o mercado de trabalho e a regulamentação do casamento homoafetivo são algumas delas (Falceto & Waldemar, 2013). Em síntese, as famílias contemporâneas têm buscado novas formas de relacionamento (Teperman, 2014).
Uma família que possui um usuário de drogas normalmente apresenta um padrão adicto marcante, seja no trabalho, nos medicamentos, ou em outras condutas (Kalina, 1999; Orth, 2005), o que também se relaciona ao fato de ela se constituir como uma das principais fontes de identificação para o sujeito e, nessa medida, favorecer repetições de modelos entre seus membros (Pincus & Dare, 1981). Barrocas et al. (2014) expõem estudos recentes que comparam famílias com e sem histórico de DQ. Apontam que a primeira classe familiar apresenta como característica frequente ser disfuncional, ter maior ocorrência de DQ em várias gerações, ser propensa a outros comportamentos compulsivos, a problemas de comunicação e a ter dificuldades de individualização de seus membros. Consequentemente, a proteção excessiva e a perda de um dos pais ou de outros familiares significativos, através da morte ou da separação, seriam outras características observadas nessas famílias.
Barrocas et al. (2014) também relatam a transmissão transgeracional de comportamentos negativos dos pais. Por esse intermédio, experiências emocionais pobres no início da vida dos pais podem comprometer seus futuros comportamentos com os filhos, o que impacta no desenvolvimento da personalidade e na organização de modelos funcionais para os filhos. A família pode, em sentido semelhante, ser cogeradora do fenômeno aditivo, uma psicodinâmica que pode ser debatida no contexto das lealdades invisíveis, fenômeno impetrado por seus membros para honrar o legado deixado por seus ancestrais (Cenci, Teixeira, & Oliveira, 2014).
A família, através da construção da autonomia e da independência de seus membros, deve favorecer a formação de um sujeito capaz de organizar sua vida e suas relações sociais. De maneira que a inclusão da família é essencial na construção de qualquer processo de intervenção junto ao dependente químico, o que torna fundamental conhecê-la em suas potencialidades e fraquezas.
Sendo assim, a família deve ser protagonista do processo de acompanhamento do sujeito (SENAD, 2014).
A relação homem e droga é tão abrangente que vem sendo tratada não apenas por cientistas, mas também pelas artes. Nesse sentido, o Cinema ocupa posição importante como forma de expressão social, visto que a sociedade atual tem nas imagens um poderoso veículo de comunicação (Silva et al., 2008).
O Cinema é uma das mais importantes expressões da Arte. Ele visa transformar em uma determinada linguagem a realidade em que estamos inseridos e ao mesmo tempo realiza sobre ela o movimento de crítica, promovendo a inversão do olhar para o novo, para o devir, para a fantasia. Realça sentimentos e desejos, despertando aquilo que há de mais humano e desumano em nós (Proença, 2013).
A linguagem cinematográfica tem sido ferramenta utilizada na formação de acadêmicos há anos e em diversos contextos (Heidemann, Montagner, Brunstein, & Eizirik, 2012). Na Psicologia, é frequentemente utilizada, porque expõe conteúdos de inúmeros contextos socioculturais e históricos relevantes a esse profissional, além de propiciar uma atmosfera lúdica no ambiente de ensino e ter uma linguagem potencialmente instigadora de discussões. Essas características fazem do Cinema um importante dispositivo de ensino e aprendizagem (Santeiro & Rossato, 2013; Santeiro & Santeiro, 2013).
O uso de drogas tem sido retratado em filmes sob diferentes perspectivas e com enfoque em diversas esferas sociais, como na família, no trabalho, na ciência e no meio artístico. Como já exposto, uma das principais instituições envolvidas tanto no surgimento, quanto na prevenção, na manutenção e no tratamento da DQ é a família. De tal modo, o Cinema, como um meio de exposição e de questionamento do real, tem enfocado sentimentos e interações existentes entre o usuário de drogas e sua família (Silva et al., 2008). Em consideração aos aspectos mencionados, de modo geral este estudo objetiva realizar pesquisa documental em filmes comerciais que retratam, de modo direto ou indireto, relações familiares de dependentes químicos. De modo mais específico, pretende levantar características gerais dos títulos levantados e discutir aspectos da psicodinâmica da família do dependente químico.
Método
Material: 27 filmes comerciais que retratam relações familiares de dependentes químicos.
Procedimentos
A pesquisa de títulos foi realizada em sites especializados em Cinema, considerando os resultados ranqueados em primeiro lugar pelo Google: Adoro Cinema, Cine Pop, Omelete, e-pipoca, Cinema 10 e Netflix.
Em cada um dos sites citados, a busca de filmes considerou os seguintes vocábulos: drogadição, toxicomania, dependência química, drogas, família e relações familiares.
A partir das buscas fílmicas, obras que mais se aproximavam dos objetivos do estudo foram selecionadas. Os seguintes critérios para incluir o filme na listagem foram adotados: ano das produções, englobando 10 anos compreendidos entre 2005 a 2014; ter como um dos temas da trama o uso/abuso de substância química; que fossem encenadas formas de relação do sujeito usuário de drogas com a família; a acessibilidade de títulos (filmes editados em formato DVD, disponíveis em videolocadoras, em sites de filmes online ou para compra); e, por fim, nos casos de produções estrangeiras, obras que tivessem idioma ou legendagem em português.
A leitura da sinopse dos filmes e a busca e visualização de seus respectivos trailers foram procedimentos complementares e auxiliares para tomada de decisão se determinado título seria incluído, ou não, na amostra. Na sequência as obras eram assistidas plano a plano, com especial atenção nos momentos em que as relações familiares eram encenadas. Filmes que retratassem o uso e a dependência de drogas e que não o fizessem de modo agregado a encenações de relações familiares foram excluídos da amostra.
Para análise dos títulos as caraterísticas de cada um deles foram registradas em uma ficha, desenvolvida com amparo em aspectos apontados pela literatura consultada e a partir da assistência de dois filmes resultantes da busca, aleatoriamente escolhidos (Álbum de família e Piaf): a) como a temática da DQ era explorada (central ou secundária no argumento do filme); b) forma de exposição: explícita (encenada) ou implícita (não encenada, apenas narrada); c) perfil dos usuários: faixa-etária (crianças, adolescentes, ou ambos) e sexo (masculino, feminino); d) contexto do uso de substâncias psicoativas (residencial, escolar, bares etc.); e) tipo de droga consumida (álcool, anfetamina, cocaína etc.); f) estrutura (nuclear, recomposta, monoparental etc.) e psicodinâmica familiar (relações positivas, negativas, ambivalentes); g) existência de outros familiares dependentes químicos ou com padrão de comportamento compulsivo. Após registro de informações de todos os filmes ter ocorrido, realizou-se análise quantitativa (verificação de frequências simples) das características dos filmes. Em sequência foi feita a análise qualitativa, procurando relacionar características das obras assistidas com aspectos que a literatura especializada vem debatendo sobre psicodinâmica da família e do usuário de substâncias químicas psicoativas.
Resultados e discussões
A amostra consistiu de 27 filmes. Destes, dois (7%) foram lançados em 2005, três (12%) em 2006, dois (7%) em 2007, dois (7%) em 2008, quatro (15%) em 2010, dois (7%) em 2011, dois (7%) em 2012, três (12%) em 2013 e sete (26%) em 2014 (Quadro 1).
No que tange ao gênero fílmico, verificou-se que 11 eram cinebiografias (40%), inspiradas ou baseadas na vida de pessoas reais, 13 eram dramas (48%), um era suspense (4%), um romance (4%) e outro, aventura (4%) (Quadro 1).
O gênero dramático se sobressaiu em detrimento dos demais. Considerando que: (1) a etimologia da palavra drama, do Grego dran, ação, fazer, realizar, representar um acontecimento ou momento com grande carga emocional; e (2) quando se parte do pressuposto que toda biografia é dramática, é possível perceber que o drama apresenta proximidade entre o os roteiros dos filmes trabalhados e a realidade do contexto onde há a problemática da DQ. Os sujeitos e as famílias envolvidas com a DQ se encontram em uma situação entremeada de questões emocionais e físicas intensas, usualmente permeadas por sofrimento (Quadro 1).
Dentre as películas analisadas, 22 (81%) eram norte americanas, três (11%) eram brasileiras, uma (4%) canadense e uma (4%) inglesa (Quadro 1). Esse desenho tomado pela amostra pode ser relacionado com o fato de o presente estudo ter utilizado como critério a utilização de filmes comerciais. No Brasil, por motivos históricos a distribuição cinematográfica se volta primordialmente à importação e ao consumo de filmes estrangeiros. Visto que os países europeus e os Estados Unidos foram pioneiros nas técnicas de produção cinematográfica e rapidamente disponibilizaram suas obras a outros territórios, isso também potencializa a distribuição de produções estrangeiras nos mercados nacionais. Aos poucos, o apelo comercial dos filmes estrangeiros foi moldando os interesses econômicos dos agentes do setor, restringindo a participação das outras cinematografias. A presença maciça dos produtos estrangeiros no país acostumou as plateias com os padrões internacionais de produção – suas linguagens e narrativas, seus enredos e atores, principalmente os padrões hollywoodianos. A constante exposição aos produtos importados foi formando uma memória coletiva, que se transformou em um terreno fértil para uma cultura florescer, definindo o gosto do público do Brasil especialmente pelo cinema estadunidense (Selonk, 2004).
Dos 27 filmes analisados, o consumo de drogas foi tema primário em 19 (70%), como, por exemplo, no O Voo, a DQ do comandante Whip, embora outros temas, como responsabilidade no trabalho e questões jurídicas em um acidente aéreo, também tenham sido contemplados na obra. Por outro lado, o consumo de psicoativos é tema secundário em oito (30%) títulos, dentre eles, Clube de compras Dallas, no qual o principal expoente da DQ é a personagem Rayon, transexual, portadora do vírus HIV e dependente de heroína e outras drogas, como a cocaína. No geral, a trama gira em torno da busca de melhores medicamentos para o tratamento da doença, aliada ao movimento pelos direitos civis, demonstrando por meio de Rayon como o consumo de drogas pode agravar o prognóstico da doença.
O consumo de substâncias químicas foi demonstrado de maneira explícita em toda a amostra, como em O Lobo de Wall Street, o personagem Jordan inicia o filme consumindo álcool. Em uma segunda cena ele está aspirando cocaína, um comportamento exposto com frequência ao longo da trama. O que se nota é a frequência que a droga é exposta, o que varia de acordo com o contexto; porém o personagem usa drogas integradas ao seu cotidiano. Em filmes que exploram o momento da vida do personagem em recuperação, a droga é exposta com menor frequência, como visualizado em Guerreiro, por meio de Brendan, um alcoolista que aparece consumindo bebidas alcoólicas num momento de recaída.
O álcool é encenado em todos os filmes estudados. Na sequência, observou-se: tabaco (93%), maconha (51%), cocaína (41%), crack (15%), anfetamina (11%), heroína (11%) e outros (45%), como antidepressivos e relaxantes musculares. Constatou-se que as personagens usuárias de outras drogas, no geral o fazem concomitantemente com o álcool. Dados de pesquisa nacional relataram ordenação semelhante quanto às substâncias químicas mais consumidas (SENAD, 2009); nela, um levantamento de dados realizado em 2005 e focado na prevalência de consumo na vida de brasileiros, verificou-se a seguinte proporção (considerando as drogas listadas acima): álcool (74,6%); tabaco (44,0%), maconha (8,8%), cocaína (2,9%), crack (0,7%) e heroína (0,1%).
A anfetamina, embora não listada na pesquisa do SENAD (2009), inclui-se entre as "estimulantes". Assim, estes dados indicam que ela chega a 3,2%, superando a cocaína, o que altera a ordem de frequências entre as drogas observadas nos filmes e as drogas usadas por brasileiros, no estudo relatado. A razão dessa discrepância precisa ser ponderada diante do fato de que a categoria "estimulantes" inclui outras drogas, além das anfetaminas, e, portanto, por essa a razão a categoria de estimulantes é mais "frequente" do que o consumo observado nas produções fílmicas. Ressalta-se que no dado brasileiro, "outras drogas" somam um total de 25,6%, incluindo estimulantes.
Desse modo, o tipo de dado encontrado na filmografia analisada parece, por coincidência, refletir e fazer coro aos dados observados na pesquisa do SENAD (2009), do ponto de vista da prevalência do uso de drogas no Brasil. Uma vez que filmes podem ser representações da realidade, e ainda que em graus variáveis espelham aspectos culturais, neste caso o emprego da filmografia mostra-se adequado para ilustração da realidade no país.
Ainda conforme esse argumento de constatar similaridade entre "realidade" e "ficção", em outro estudo realizado em 107 municípios brasileiros com mais de 200 mil habitantes, metade dos entrevistados disse ter consumido álcool e, destes, 12,3% foram categorizados como dependentes (SENAD, 2014). Em complemento, em outro estudo constatou-se que o índice de dependência de álcool aumentou entre brasileiros, de 11% para 12%, de 2001 a 2005 (Diehl et al., 2011).
Partindo de parâmetros internacionais, para favorecimento de compreensão dos impactos psicossociais que envolvem a DQ e para extrapolar os estudos realizados no Brasil e citados, no Relatório Mundial sobre Drogas (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes, 2015) estimase que 246 milhões de pessoas entre 15 e 64 anos de idade sejam consumidoras de drogas ilícitas, o que corresponde a pouco mais de 5% da população mundial. Destes, 27 milhões são usuários problemáticos, das quais metade faz uso de drogas injetáveis. Estima-se, além disso, que aproximadamente 200 mil pessoas morrem todo ano devido ao consumo de drogas. No mundo apenas uma a cada seis pessoas que usam drogas tem acesso a tratamentos, sendo essa situação mais crítica no caso das mulheres: um terço de usuários é mulher e apenas um quinto delas estão em tratamento.
No que tange ao tipo de drogas utilizadas ou expostas nos filmes, na cinebiografia Ray, por exemplo, a primeira droga ilícita que Ray Charles faz uso é a maconha. O tabaco é encenado em 25 (93%) obras. Piaf: Um hino ao amor é outro exemplar biográfico em que essa substância aparece com maior frequência, o que pode ser relacionado ao momento histórico encenado, meados da década de 1940, quando os efeitos prejudiciais da droga ainda eram pouco conhecidos.
Em Elvis: O início de uma lenda, o protagonista utiliza compulsivamente de antidepressivos, bem como a protagonista de Álbum de família, Violet, que também faz uso de medicamentos para relaxamento muscular e alívio de dor, como: Valium, Vicodin, Darvon, Darvocet, Percodan, Percocet, Xanax, Oxycontin e Diluadid. Dentro desse enquadre, o que se observou quanto ao uso de "outras" substâncias, é que o mau uso desses medicamentos ocorre de forma lícita, isto é, sob prescrição médica, o que sugere um possível abuso terapêutico (Diehl et al., 2011).
Esse tipo de resultado, se retomado diante das teorias desenvolvidas no campo psicanalítico para buscar compreender a etiologia da DQ (Ramos, 2011), passa a ser convidativo para ilustração de que o fenômeno estudado pode ser "lido" de formas diversas e que não se excluem umas em relação às outras, porque vinculadas às formas como a personalidade do sujeito se erigiu (Freud, 1905/1996). E nesse sentido, a família é sempre uma protagonista que fundamenta, motivada em graus de (in)consciência diversos e múltiplos, questões tangentes ao funcionamento psíquico do dependente. Drogas como álcool, tabaco, maconha, crack e medicamentos podem ser ilustrativos de questões tangentes à oralidade (consumidas via oral). Drogas como anfetamina, heroína e crack favorecem experiências psíquicas altamente maníacas (tamponadoras de "vazios" inerentes à pobreza de objetos relacionais internalizados). O consumo de todas as drogas observadas pode promover compreensões sobre com elas podem estar alinhadas a aspectos pouco desenvolvidos do ser humano (primitivismo psíquico previsto na teoria das perversões) e como podem estar a serviço de gratificações narcisistas (prazer alinhado ao isolamento relacional).
Com relação ao padrão de consumo nos filmes trabalhados, em quatro (15%) foi considerado como abuso, porque o personagem apresentava um padrão de uso de substância que ocasionava danos à saúde, mas ao mesmo tempo ele não preenchia os critérios de padrão compulsivo de uso, necessários para o diagnóstico para DQ, como compulsão para consumir a substância, abandono progressivo de interesses ou prazeres em favor do uso da droga e persistência do uso, a despeito de evidência clara de consequências danosas (OMS, 1993; SENAD, 2014). Em complemento, em 23 (85%) títulos o padrão de consumo foi considerado como de dependência, visto que a encenação envolvia as características há pouco citadas. Por essa via, filmes que abordassem apenas o uso de substâncias psicoativas não foram observados.
Sobre o contexto de consumo de psicoativos, em 20 (74%) películas os personagens consumiam drogas em ambiente familiar, em dois (7%) em escolar, e em 21 (78%) em outros ambientes/contextos, como bares, ruas, hotéis, festas ou em ambiente de trabalho. O contexto é relevante para se compreender o "lugar" ocupado pela droga na vida do sujeito, visto que o consumo dela pode ter diferentes finalidades, como recreacional, em contexto ritualístico, terapêutico, ou mesmo uso como fuga de uma realidade insuportável (SENAD, 2014), sendo este último presente em toda a amostra analisada.
No que se refere ao sexo dos personagens, oito (30%) filmes retratavam dependentes do feminino e 19 (70%), do sexo masculino. No que tange a idade do início de consumo, três (11%) experimentaram drogas pela primeira vez quando crianças, sete (27%) quando adolescentes, seis (22%) quando adultos e em 11 (41%) não foi possível identificar a idade de iniciação.
A adolescência é considerada a fase de maior risco para o início do consumo de drogas, desde que se resguarde que nem todo adolescente usa drogas e que não existe uma regra que defina quem irá se tornar consumidor delas. Contudo, fatores de ordem biológica, psicológica e social interferem na probabilidade de que isso ocorra: problemas relativos ao ambiente familiar, como falta de envolvimento afetivo entre pais e filhos, relacionamento familiar de baixa qualidade, educação negligente, pais que abusam de substâncias, falta de regras claras, violência doméstica e traumas na infância (SENAD, 2014). Esses fatores corroboram diversas relações encontradas na presente amostra; para exemplificar, em Jhonny e June um pai agressivo, autoritário e negligente; em Birdman, Piaf e O maravilhoso agora se focalizam pais que, assim como seus filhos, usam substâncias químicas.
No que diz respeito à família, em 15 (55%) ela identifica que o personagem está doente e em 12 (46%) ela não o faz. Quanto às pessoas que realizam essa identificação, estão os pais, esposas/maridos e filhos. De modo complementar, em 16 (59%) das famílias encenadas há mais de um dependente químico ou familiar com algum outro modo compulsivo de comportamento e em 11 (41%) dos filmes não é possível identificar essa característica. Há menção ao consumo de substâncias ter sido diretamente aprendido junto a um membro da família em seis (22%) obras, em contraposição às 21 (78%) restantes. Orth (2005) afirma que o dependente é muitas vezes porta-voz da disfunção familiar, sendo frequente que outros membros da família apresentem comportamentos aditivos, tais como compulsão ao jogo, à comida, ao trabalho, às drogas e outros, tal como pode ser observado na amostra estudada.
Esses resultados permitem demarcar o quanto, de fato, o espaço familiar pode conter de potencialidades no sentido de favorecer a saúde de seus integrantes, entretanto, em medida semelhante salientam o quanto fazê-lo pode se atrelar a limitações deles próprios e, assim, limites do que seria uma família "normal" ou "saudável" podem borrar-se com facilidade (Mandelbaum, 2008; Pincus & Dare, 1978/1987; Teperman, 2014), diante da complexidade inerente ao fenômeno da DQ.
As estruturas familiares abordadas são variadas, com predomínio daquelas monoparentais (n=14; 52%), seguidas de nucleares (n=9; 33%) e de reconstituídas (2; 7%). Não foi possível identificar a estrutura familiar em outros dois títulos. Na maioria dos casos envolvendo a problemática da DQ há a ausência de um dos progenitores, principalmente o pai, ou então dos dois, seja por separação ou por morte (Orth, 2005), o que consolida observações arroladas por Falceto e Waldemar (2013) e por Ramos (2011). De toda forma, estruturações e dinâmicas familiares contemporâneas foram expostas nos filmes analisados, espelhando realidades citadas em caráter não ficcional (Cúnico & Arpini, 2013; Falceto & Waldemar, 2013; Mandelbaum, 2008; Osório, 2013; Teperman, 2014).
As psicodinâmicas das famílias filmadas foram consideradas positivas, com predominância de respeito mútuo, apoio, compartilhamento de responsabilidades, coesão, amor e seus variantes em uma (4%) obra. Em 10 (37%) as relações foram consideradas negativas, com predomínio de desrespeito, vitimização, abusos e outros modos relacionais vinculados ao sentimento de ódio. As psicodinâmicas familiares foram, ainda, consideradas ambivalentes, com variações drásticas de características, em 14 (52%) títulos. Em dois (7%) outros não foi possível caracterizar essas relações: Diário de um jornalista bêbado e London.
Quanto à psicodinâmica relacional, é frequente que famílias de dependentes químicos apresentem dificuldade de diferenciação, de separação e de individuação, vínculos simbióticos, conflitos na comunicação e rigidez nos papéis (Barrocas et al., 2014; Orth, 2005; Reis, 2014). Esses contornos corroboram as características negativas encontradas nos filmes analisados. No entanto, tão prejudicial quanto às características aqui nomeadas de negativas, são aquelas ambivalentes, que acabam por configurar um ambiente físico e emocional instável e inseguro para os membros da família, que passam a viver em constante estado de angústia e de estresse físico e emocional.
Como assinalado por psicanalistas estudiosos da área de família, a despeito dela balizar o desenvolvimento psíquico de seus integrantes, conflitos lhe são inerentes e inevitáveis (Cenci, Teixeira, & Oliveira, 2014; Falceto & Waldemar, 2013; Mandelbaum, 2008; Pincus & Dare, 1978/1987; Teperman, 2014). Sendo assim, cabe ressaltar que a DQ é apenas uma das "saídas" que as famílias e seus integrantes podem encontrar para proteger seus membros e para lidar com suas dificuldades, ainda que em busca de elaborá-las.
Quanto à experiência de eventos traumáticos nas famílias estudadas, foi observado que 24 (89%) dos filmes a relatam oralmente ou a expõem em cenas. E em três (11%) não foi possível realizar essa identificação. Os eventos envolveram desde a perda de um membro da família, o que foi recorrente e perpassou filmes como Ray, Jhonny e June, Tim Maia, Elvis: O início de uma lenda. A relação com doenças orgânicas de grande sofrimento, como encenado em Clube de compras Dallas, ou mesmo a separação dos pais observada em O maravilho agora e em Aos treze, dentre outros eventos que marcam a família em um sofrimento de difícil elaboração, também foram ilustrados na amostra. Vale dizer que a temática da morte é comum nessas famílias analisadas que e normalmente existe uma história de mortes prematuras, inesperadas ou repentinas, o que também é apontado em situações não fílmicas (Barrocas et al., 2014; Orth, 2005).
Discussões como essas recebem benefícios quando ancoradas, ainda, em argumentos que consideram a linguagem dos filmes como propositalmente preocupada com ganhos de boa reputação comercial (bilheteria). Nessa direção, experiências traumáticas costumam situar-se entre aquelas que têm alto poder de mobilização emocional junto ao público espectador (Santeiro & Rossato, 2013), porém, nem sempre uma pessoa que tenha vivido esse tipo de situação "encontrará" na DQ a única solução para suas problemáticas existenciais (Freud, 1930/1996).
Considerações finais
Neste trabalho buscou-se concatenar conteúdos e temas enfocados em filmes ficcionais a aspectos debatidos pela literatura especializada em DQ. Ao fazê-lo, limites precisam ser considerados, porque por meio dele não se pretendeu esgotar o debate sobre DQ e Cinema, duas áreas de estudo extremamente complexas e que certamente extravasam em muito o que foi possível obter no período temporal ora estipulado.
Acredita-se que os filmes analisados retratam diversidade de situações psicossociais e de relacionamentos interpessoais semelhantes aos observados nos dependentes químicos e nas suas famílias, com dominância de sentimentos negativos e ambivalentes que envolvem insegurança, raiva, agressividade, indiferença, medo, frustração e culpa. As famílias encenadas aparecem como "coautoras" tanto do surgimento do abuso da droga e da sua evolução, mas também cabe lembrar que elas podem se apresentar como forte elemento na recuperação do dependente químico, em situações não ficcionais. Esse retrato proporcionado pelos filmes – embora estrangeiros em sua maioria – espelham aspectos presentes na realidade brasileira, quer seja do ponto de vista teórico do desenvolvimento da DQ e da relação familiar com os dependentes, quer seja do ponto de vista dos tipos de drogas e da proporção em que essas são utilizadas pelas personagens.
Além disso, a análise aqui relatada é ilustrativa de que linguagem do Cinema pode ser um mecanismo favorecedor de trabalhos sobre as relações familiares na presença do uso de substâncias psicoativas, lícitas e ilícitas. Assim, tem poder lúdico e didático. Lúdico porque circunscrito ao campo das Artes e passível de gerar diálogos e encontros entre espectadores, construído em linguagem que extrapola conteúdos meramente racionais (Santeiro & Santeiro, 2013). Didático porque pode introduzir temáticas e realidades humanas desconhecidas ao espectador (por exemplo, a estudantes em processo de formação em saúde mental) (Santeiro & Rossato, 2013). A linguagem dos filmes pode adquirir contornos didáticos, sobretudo na formação de psicoterapeutas familiares e de especialistas em DQ, podendo, em última instância, integrar e ampliar estratégias de ação junto aos dependentes químicos e às suas famílias.
Referências
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Endereço para correspondência
Tales Vilela Santeiro
E-mail:talessanteiro@hotmail.com
Enviado em 16/12/2015
Primeira revisão em 22/02/2016
Aceito em 13/06/2016
1 Professor Adjunto do Departamento de Psicologia e Professor Permanente do Curso de Pós-Graduação – Mestrado em Psicologia da Universidade Federal do Triângulo Mineiro.
2 Estudante do Curso de Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Goiás, Regional Jataí (Bolsista PIBIC/CNPq).
3 Professor Adjunto do Curso de Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Goiás, Regional Jataí.