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versão impressa ISSN 0102-7395

Reverso vol.41 no.77 Belo Horizonte jan./jun. 2019

 

TEORIA E CLÍNICA PSICANALÍTICA

 

Acerca dos arredores da mulher: amor, falo e gozo

 

About women's surroundings: love, speech and joy

 

 

Scheherazade Paes de Abreu

I Círculo Psicanalítico de Minas Gerais

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Acerca dos arredores da mulher é um breve artigo sobre o amor, o falo e o gozo. Nota-se nesta escrita alguns percursos que servem para desbastar o caminho até a questão final: o que dizer do gozo da mulher, se ela nada sabe. Na perspectiva de um fragmento literário, mostra-se que não há ninguém que não seja afetado por algo do não saber e por algo da verdade. O saber tem relação com o amor. Trata-se de pensar com este texto sobre questões da demanda e da prova de amor, sobre a mãe e a mulher, sobre o encontro entre uma perversão e um enigma, sobre o mito, sobre o gozo outro que não o gozo fálico – e ainda o pai, o vazio e a père-version.

Palavras-chave: Mulher, Falo, Amor, Gozo, Père-version, Não-toda.


ABSTRACT

"About woman's surroundings" is a brief article on love, phallus and joy. This writing unveils some paths which thin the way to the final question: what can be said about the woman's enjoyment, if she knows nothing. A snippet from a literary work brings a perspective that shows that there is nobody who is not affected by something from the non-knowledge and by something of the truth. Knowledge is related to love. This text invites us to think about questions of demand and the proof of love, about the mother and the woman, about the encounter between a perversion and a riddle, about myth, about an enjoyment other than the phallic jouissance - and still the father, the emptiness and the perversion.

Keywords: Woman, Phalus, Love, Delight, Pére-version, Non-all.


 

Este artigo se inicia com a escrita impactante de Sandór Márai (1900-1989), escritor de origem húngara, leitor de Freud, autor do livro De verdade, escrito no percurso de quatro décadas, que discorre sobre os conflitos do amor, do casamento, do império austro-húngaro, da guerra e da burguesia. Na confeitaria em Budapeste, a mulher partilha com a amiga as memórias sobre o casamento desfeito, enquanto o marido fala ao amigo a própria versão dos acontecimentos. Tal como o personagem conta a própria versão (versão diz do ato ou efeito de verter, de interpretação ao acontecimento), ao final deste artigo se poderá voltar à questão da versão, contudo, a père-version. Sobre a mulher e a verdade, escreve Márai (2008, p. 24):

[...] Um dia despertei, sentei na cama e sorri. Nada mais doía. E de súbito compreendi que não existe mulher de verdade. Nem na terra nem no céu. Não existe em lugar algum, aquela. Existem apenas pessoas, e em todas há um grão da verdadeira, e nenhuma delas tem o que do outro esperamos e desejamos.

No berço das formulações deste artigo, havia a ideia de escrever acerca da mulher, porém surgem contingências, inadequações e o acaso. No momento em que é preciso definir o título, um certo nome valise ocorre a palavra “acerca”, usada para indicar aquilo do que se trata, além daquilo que está às voltas, nos arredores.

 

Demanda, amor e o acaso do encontro

Qualquer coisa pode ser demandada de forma infinita e incondicional. A necessidade desponta como demanda, é algo para além do declarado, alienado aos significantes do Outro – aquele capaz de satisfazer as necessidades e que está aquém das necessidades que se pode prover.

A demanda tenta encontrar provas de amor, registros de presença e de ausência. Nesse sentido, qualquer coisa pode valer, sem especificidade, sem alguma particularidade, o que permite se deslocar de forma indefinida e se travestir, à beira da iminência de abolir a particularidade.

Lacan ([1958] 1998, p. 698) salienta:

É através disso que a demanda anula (aufhebt) a particularidade de tudo aquilo que pode ser concedido, transmutando-o em prova de amor, e as próprias satisfações que ela obtém para a necessidade degradam-se (sich erniedrigt) em nada menos do que o esmagamento da demanda de amor. Portanto a particularidade assim abolida reaparece para além da demanda.

Notemos que o desejo da mãe decorre da ausência da mãe, de alguma maneira quando se vai e se retorna, deixando só a pequena criança, o fort-da das elaborações de Freud. Nota-se que a ausência denuncia o desejo, que está em outro lugar, em outra coisa: o que te desperta o interesse alhures? O significante do desejo da mãe, significante de uma ausência, de uma falta, é distinto das palavras maternas com força de lei, as quais deixam vestígios de presença excessiva (MOREL, 2012, p. 26).

Por sinal, quem vai conceder é a mãe, o outro primordial, que pode dar ou não dar, tem o poder de privar, enquanto privada daquilo que se dá. Qual a relação entre o amor e o dar? pergunta Harari (2006, p. 95).

Ocorre que a clássica definição do amor formulada por Lacan “dar o que não se tem”, isto é, o falo, enquanto ausente, enquanto significante velado, marca a impossibilidade de ser cedido. Nota-se que não se pode conceder aquilo que seria a prova de amor, e sobre isso calham tantas inquietações, pois algo não se deu, algo não se recebeu, algo não foi dito.

O dom é o sacrifício de um objeto, parte de si endereçado ao Outro, segundo Barroso (2015). A mãe pode oferecer à criança uma coisa no lugar de outra, a palavra no lugar da coisa, a presença no lugar do objeto; desse modo, insere a criança no circuito dos dons.

A forma primitiva das trocas para além do caráter econômico é dotada de significação diversa, se funda no intercâmbio de nada por nada, o objeto tem valor natural anulado devido à ação da linguagem. Porém, se a mãe não promove o lugar do nada e satura a criança com objetos, poderá confundir cuidados com o dom do amor.

No entanto, fazer o bem ao outro, se engabelar com a virtude do dom, nesse sentido, se trata de dar o que se tem? O que Lacan mostra é que a caridade é algo que pode ser degradante para o outro, pois a oblatividade – aquilo que se faz de boa vontade, sem constrangimento, é para aquele que doa algo como dar o excremento.

É comum a crença de que no amor há sacrifícios, entretanto tal crença exclui a dimensão narcísica implicada no amor, pois amar é procurar ser amado, fazer com que, de forma enganosa, o amor retorne (HARARI, 2006, p. 96).

O amor desperta encanto, se trata de construção sobre o que é o mundo quando experimentado a partir de dois distintos e não de um, é disjunção, e não se trata de identidade. Portanto, assume a forma contingente do encontro de duas diferenças.

O amor é, antes de tudo, construção duradoura e aventura obstinada, por isso se pode entender que no amor há outra temporalidade, que assim se inventa a forma de durar, que é desconhecida.

O amor é reinvenção da vida. Reinventar o amor significa reinventar essa reinvenção, por isso se ama o amor. Como o acaso, ligado às peripécias da existência, dará duração à outra coisa, como o amor? (BADIOU, 2013, p. 9-36).

No entanto, há algo inesperado próprio do acaso, pois o saber tem relação com o amor. “Todo amor se baseia numa certa relação entre dois saberes inconscientes” (LACAN, [1972-1973] 2008, p. 155). O saber é um enigma, inconsciente e se articula com lalíngua.

O que o homem aborda não é a mulher como tal, é a causa de desejo, o objeto pequeno a. Do lado da mulher, há o gozo do qual não se diz nem se sabe, enigmático, mas a mulher sabe que o experimenta, o que acontece ao corpo. Essa inadequação de saber, de um lado e de outro, faz com que não haja, assim, relação sexual.

Dessa posição se faz o encontro entre uma perversão e um enigma. A relação sexual se torna relação de sujeito a sujeito, uma vez que o sujeito não é senão o efeito do saber inconsciente e, desse modo, todo amor se passa numa certa relação entre dois saberes inconscientes.

A relação sexual não cessava de não se escrever, nada poderia dizê-la, mas no momento do encontro, da contingência, do real – a relação sexual cessa de não se escrever. No espaço de um instante, algo se escreve, até mesmo se diz e, por isso mesmo começa a existir. Ilusão? O que se escreve do encontro com o outro? Sintoma, afeto, rastros, um acontecimento de corpo? (NAVEAU, 2017, p. 252-257).

 

Falo, significante

O falo é significante da falta, falta-a-ser. Nesse sentido, o que se procura é sempre determinado pelo que não se tem. Cada um dos sexos tem relação distinta com o que implica a ausência do falo, o modo pelo qual tal ausência procura ser reparada e as relações subjetivas decorrentes dessa apreensão. Qual a resposta sintomática para tal relação?

Na obra de Freud, as referências metaforizam o valor subjetivo do objeto fálico para o sujeito: o que não cessa de justificar que o possui, que pergunta com assiduidade quem não o tem. Por sinal, ninguém o tem. O falo não é o pênis atribuído imaginariamente à mulher, mas sim, é o pai que se faz elemento terceiro, dimensão simbólica – porque o falo é o significante que lhe é atribuído. Assim, a castração não significa ameaça de perda do pênis proveniente de rivalidade com o pai, mas é a realidade simbólica de que nenhum objeto é adequado ao desejo.

Objeto imaginário e significante primordial do desejo, o falo ampara o complexo de Édipo no entorno do desejo, na mãe e no pai. Isso se dará sob a forma de ter ou ser o falo. Essa construção imaginária se enlaça ao registro do simbólico.

Lacan ([1953] 2008, p. 13) dirá que:

[...] aquilo em que a teoria analítica concretiza a relação intersubjetiva, que é o complexo de Édipo, tem um valor de mito.

Nota-se que, à medida que o Édipo convoca a relação subjetiva a encontrar enlace no simbólico, se trata de processo de estrutura para o sujeito (DOR, 1989, p. 76).

Portanto, o que diz o mito? Pode ser a interpretação a criança, diante do que fazem aqueles que ocupam o lugar de pais? Se o mito se evidencia, por outro lado, o que se oculta atrás do mito? Para Lacan, o Édipo é a construção mítica que possibilita certa defesa contra a castração. É trabalho de análise não outorgar mais sentido atulhando o mito de significados; se a castração é privação, a construção de mito é própria da defesa contra a castração.

No caso do real do corpo da mulher, castrada na diferença anatômica, não falta coisa alguma. A menina abandona com hostilidade a mãe, pois há algo que ela não lhe deu – o falo – e busca no pai o que não foi possível obter da mãe. Do pai espera receber o filho no lugar do falo, a prova de amor; entretanto, decepcionada, percebe que foi a mãe que o pai escolheu. Assim, a menina se identifica com esse novo objeto, que é o pai, mas que cairá também, luto pelo falo. Esse é um mundo no qual nos abandonamos, diz Freud. A dificuldade para a menina, não é da própria castração, mas da relação com o desejo do Outro (NAVEAU, 2017 p. 49-55).

 

O gozo não fálico, não-todo

Contudo, a posição mulher é outra. Esse outro gozo que não é o gozo fálico só pode ser situado a partir de outra lógica, que é a lógica do não-todo. O falo diz de uma relação, na medida em que o termo “função” na lógica designa a relação entre elementos pertencentes a duas séries disjuntas. A função fálica nomeia a relação de cada ser falante ao gozo permitido pela linguagem. As mulheres são não-todas inscritas na função fálica, o que indica um além da castração e do Édipo, bem como um meio de irrupção do real na mulher. Assim, estão submetidas, mas também escapam (MARCOS, 2018, p. 100).

Por sua vez, a criança divide, no sujeito feminino, a mãe e a mulher, ou seja, por um lado a criança é substituto fálico, por outro, produz divisão. Porém, não existe A mulher nem a mãe toda. Falta algo a cada uma delas. Esse furo é aquele que se produz a partir da lei da interdição do incesto. Pode-se, assim, entender que A Mulher não existe, precisamente em função dessa lei. O susto inesperado que é a mulher na mãe se trata daquilo que deveria ter permanecido recalcado – o desejo incestuoso. Entretanto, há um outro lado: só há mãe se houver mulher. O desejo incestuoso é o que subjaz à estrutura do infamiliar, a entrada para o antigo Heim [lar] (JORGE, 2017, p. 196).

Na lógica do inconsciente, toda mulher tem parte mãe – mesmo que ela não o seja de fato, e toda mãe tem parte mulher. Entretanto, essas duas partes não formam um todo, não fazem um, isto é, uma parte descompleta a outra, fazendo com que toda mulher, por um lado, seja não-toda mãe e, por outro, não-toda mulher. Portanto, o ‘tornar-se-mãe’ e o ‘ser-mulher’ não se recobrem de forma alguma. De tal fragmentação provém o não-todo, que se refere ao lado mulher e ao lado mãe, e assim se revela um fato de inconsistência. E a loucura? A loucura está no universal, no ponto em que se quer atingir o todo, seja do lado mãe – aquela que tem, seja do lado mulher – aquela que não tem (SOUTO, 2015).

 

Aliança conjugal, família

Para Julian (2000, p. 45), não há aliança conjugal sem ruptura com a família. A família de origem não deve ser fundada sobre a parentalidade, ao inverso, é a conjugalidade que funda a parentalidade. Entretanto, isso não pode ser interpretado em termos biológicos, em que só a fecundação permite ter filhos. A mãe e o pai, assim, permanecem disjuntos, podem transmitir a lei do desejo aos filhos e inscrevem a sexualidade humana no registro de uma transmissão. A verdadeira filiação, continua Julian, é ter recebido dos pais o poder efetivo de abandoná-los.

O que se poderia dizer da definição de família? Que tem origem no casamento? Não, a família tem origem no mal-entendido, no desencontro, na decepção, no abuso sexual ou no crime. Que é formada pelo marido, pela esposa e as crianças, unidos por laços legais? Não, a família é essencialmente unida por um segredo, é unida pelo não dito. Então, qual é o segredo? É um desejo não dito, é sempre o desejo sobre o gozo, de que gozam o pai e a mãe? (MILLER, 2007).

O que dizer da singularidade de ser pai?

Há o pai de família, que tem os papéis a preencher e tarefas junto à criança, mas resta a questão de ser esse papel propriamente paterno ou materno.

Há o pai que trabalha, abriga e nutre a família, o provedor, mas a mãe também trabalha e provê.

Há o pai biológico atestado pelo exame de sangue.

E há o pai que faz a criança passar da vida familiar ao social, mediador entre o privado e o público, que introduz a criança na condição de adulto, e que a faz se desembaraçar da mãe; porém, nessa função de pedagogo, é substituível por outro.

Segundo Julian (1997, p. 25), tais condições não dizem da singularidade de pai, mas talvez a pergunta seja: o que foi ter tido um pai?

O pai tem a função de permitir relativa confrontação com o vazio; o pai simbólico não está em lugar algum, e apenas nessa condição, leva a função sem potência normativa, que apenas dá forma à inadequação radical do desejo.

O verdadeiro pai, escreve Safatle (2017),

[...] é aquele que, por se calar diante das questões fundamentais da existência de todo sujeito, permite que um aspecto de indeterminação se abra [...].

Para Julien (1997, p. 97), o pai, ao ocupar um lugar vazio, deixa entrever o véu que faz limite, priva o filho de saber totalmente do que goza.

 

Do que goza o pai, a mulher, a verdade

Para definir de modo simples o que é o pai, Lebrun (2004) nos diz que é um estranho, que é e sempre será um estranho, para além de quaisquer afinidades. É essa alteridade irredutível que o define, além da versão sobre o gozo.

Lacan diz da père-version:

Um pai só tem direito ao respeito, se não ao amor, se o dito amor, o dito respeito, estiver perversamente, pai-vertidamente orientado, isto é, feito de uma mulher objeto pequeno a que causa seu desejo, mas o que essa mulher colhe enquanto pequeno a nada tem a ver nessa questão. Do que ela se ocupa, são outros objetos pequeno a, que são as crianças junto a quem o pai então intervém, excepcionalmente, no bom caso, para manter na repressão (LACAN, 1974-1975, p. 23).

O pai do Édipo se trata de o pai bastante ideal. Enquanto o pai de totem, garante que se pode gozar de todas. Contudo, nessa versão, père-version, o pai, ao fazer de uma mulher o objeto que causa o seu desejo, surge não somente como aquele que transmite a significação fálica e que transmite a castração, mas também como aquele que apresenta um semblante, no qual se pode entrever o objeto que causa o desejo (ROSA, 2008).

Nesse sentido, pouco importa que o pai tenha sintomas. Se ao menos tiver um sintoma, que seja uma mulher, com a qual tenha filhos, e que os queira ou não, exerça cuidados paternos.

Lacan nomeia de perversão paterna a relação do pai com a mãe de seus filhos – a função de pai é, desse modo, um sintoma. O pai faz da mãe a causa de desejo e exerce cuidados sobre os filhos, tudo muito tradicional, portanto o que dizer do gozo do pai como père-version? Um movimento de palavras que decorrem de pai [père] e o princípio da palavra perversão [perversion]; premissa esta para que a pequena criança possa fazer sua versão do pai e encontrar um sintoma.

O pai garante a função a partir da enunciação, na qual deixa entrever o grão de seu gozo, de desejo (MOREL, 2012 p. 13-62).

Para dizer um pouco mais, Lacan (1974, p. 23) define perversão paterna, mas dispõe do conceito de perversão alhures, pois a causa de desejo é

[...] uma mulher que ele pai adquiriu para lhe fazer filhos e que com estes, queira ou não, ele tenha cuidado paterno.

O rumo do pai é a mulher como objeto a, mas o que é inusitado em tais constatações é o pai definido como sexuado. O “pai-vertido” tem a causa de desejo alhures, para além do filho, em outro rumo, diferentemente do pai que porta a lei, do tirano, do protetor, mas é aquele que tem em outro (e não no filho) o norte do desejo (QUINET, 2015, p. 53).

Contudo, “não há relação sexual” – expressão de Lacan (2003, p. 464) que causou alvoroço, escreve Badiou (2013, p. 18), que considera Lacan um dos maiores teóricos do amor. Se não existe relação sexual, será o amor que virá a suprir a falta de relação sexual?

Lacan não diz que o amor é o disfarce da relação sexual, mas diz que o amor é aquilo que surge no lugar dessa não relação – pois no amor se procura o ser do outro, além dele mesmo, além do narcisismo.

Por fim, reescrevo novamente o trecho de De verdade, de Sándor Márai, na perspectiva desse pequeno fragmento, aludindo a que não há ninguém que não seja afetado por algo do não saber e por algo da verdade: chega o dia em que se desperta, se senta na cama e sorri; e de súbito se compreende que não há mulher de verdade.

Entretanto, o que dizer da mulher? “Não há mulher de verdade”. Tais palavras de Márai (2008, p. 24) mais parecem despertar o furo que a mulher faz na linguagem e a falta de significante para dizê-la.

Além disso, o que dizer da verdade? Bem, não há a verdade da verdade, não há metalinguagem. A verdade não é o desvelar de algo profundo. Também não é predicado, mas é sujeito, pois a verdade, disse Lacan ([1956] 1998, p. 410): “eu, a verdade, falo. Isso fala. Vagabundeio pelo que considerais como o menos verdadeiro em essência”. Mas o que dizer do gozo da mulher, se ela nada sabe?

De maneira mais clara, disse Lacan (citado por Allouch 2007, p. 14): “A verdade, meus bons amigos, leva à religião”. O psicanalista não é aquele que detém a verdade. Quantos sós ou aninhados com alguns outros tentam deter a verdade? O psicanalista não é o detetive Sherlock Holmes, que descobre, após mil reinícios e investigações, o segredo do caso. E o término de análise ou da escrita, não é a verdade por fim revelada, seja aquela de si, do outro, do universo, pouco importa.

 

Referências

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Endereço para correspondência:
E-mail: scheherazade_abreu@yahoo.com.br

Recebido em: 28/01/2019
Aprovado em: 15/04/2019

 

Sobre a autora

Scheherazade Paes de Abreu
Psicanalista.
Sócia do Círculo Psicanalítico de Minas Gerais.

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