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Revista da SPAGESP

versão impressa ISSN 1677-2970

Rev. SPAGESP v.7 n.1 Ribeirão Preto jun. 2006

 

ARTIGOS

 

SPAGESP: 10 anos formando especialistas &– uma trajetória de conquistas

 

SPAGESP: 10 years educating specialists &– a trajectory of conquests

 

SPAGESP: 10 años de formación de especialistas &– una trayectoria de conquistas

 

 

Dorothy Bono de Abreu 1

Sociedade de Psicoterapias Grupais do Estado de São Paulo

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este trabalho tem por objetivo apresentar um recorte pessoal dos dez anos da SPAGESP &– Sociedade de Psicoterapias Analíticas Grupais do Estado de São Paulo enquanto instituição formadora de grupoterapeutas e coordenadores de grupo. Como fonte de pesquisas utilizei a ata de fundação, estatuto, revistas, boletim informativo, livro e outras fontes documentais que contam a história da instituição. Também vasculhei meu acervo de memórias pessoais para dar forma à trajetória do curso de formação. Evidencio, ao longo de minha exposição, o percurso de lutas e conquistas que culminaram com o credenciamento do curso junto ao Conselho Federal de Psicologia e a consolidação da instituição como referência de formação no cenário da grupoterapia brasileira.

Palavras-chave: Formação; Grupoterapia; Especialização; Ensino.


ABSTRACT

This work presents a personal report of 10-years history of SPAGESP (Society of Group Psychoanalytic Psychotherapy of São Paulo) as an institution dedicated to group therapists and coordinators training. Data used were minutes of the foundation meeting, statute, journals, bulletins, books and other documents on the institution history. My personal memories were also used to track the institution trajectory. Through this report it is pointed out a path of struggles and conquests that culminated in the course accreditation by Psychology Federal Council and its consolidation as a reference in group training in Brazil.

Keywords: Professional training; Group therapy; Specialization; Education.


RESUMEN

Este trabajo tiene el objetivo de presentar un informe personal de los diez años de historia de SPAGESP (Sociedad de Psicoterapia Analítica del Grupo del Estado de São Paulo) como institución formadora de grupoterapeutas y coordinadores del grupo. Los datos usados eran minutos de la reunión de la fundación, el estatuto, los diarios, el boletín informativo, el libro documental y de otros documentos y fuentes que cuentam la historia de la institución. Mis memorias personales también fueron utilizadas para seguir la trayectoria de la institución. Con este informe se precisa una trayectoria de las luchas y de las conquistas que culminaron en la acreditación del curso en el Consejo Federal de Psicología y su consolidación como referencia en el entrenamiento del grupo en el Brasil.

Palabras clave: Formación profesional; Terapia de grupo; Especialización; Educación.


 

 

Foi com grande satisfação que aceitei o convite dos colegas da Comissão Organizadora do XVII Congresso da FLAPAG para apresentar a trajetória da SPAGESP. Foi como aluna da primeira turma do curso de formação que pude descobrir, ou melhor, redescobrir o mundo interno do outro e o meu próprio, pois em décadas passadas parece que o mundo havia esquecido que cada um de nós é constituído por grupos: primeiro, por nosso grupo original, a família, e a partir daí pela coletividade. O que me fez pensar nas palavras de Zimerman (1997) sobre alguns autores, como Freud, que embora nunca tenha trabalhado diretamente com grupoterapia, trouxe contribuições específicas para a psicologia dos grupos.

Pensei em Moreno, que em 1930 introduziu a expressão “terapia de grupo”. Kurt Lewin, criador da expressão “dinâmica de grupo”. Foulkes, que inaugurou a prática da psicoterapia psicanalítica de grupo a partir de 1948, com enfoque gestáltico. Pichon Rivière, psicanalista argentino que se tornou o grande nome na área de grupos operativos. Bion, psicanalista da Sociedade Britânica de Psicanálise, que na década de 40, fortemente influenciado pelas idéias de Melanie Klein, criou e difundiu conceitos originais acerca da dinâmica do campo grupal com seus conhecidos pressupostos básicos.

A Escola Francesa, na década de 60, através de Anzieu e Kaës, retomou alguns postulados originais de Freud e propôs o conceito de “aparelho psíquico grupal”, ou seja, um inconsciente grupal dotado das mesmas instâncias que o psiquismo inconsciente individual. A Escola Argentina, com Grimberg, Langer e Rodrigué, conhecidos pelo livro Psicoterapía del Grupo, que foi para algumas gerações o livro de referência para os grupoterapeutas em formação. Atualmente, destaco, da Escola Argentina, Janine Puget, que vem se destacando pelo estudo e divulgação da Psicanálise das Configurações Vinculares com casais, famílias e grupos. Aqui no Brasil, que se iniciou com Alcion B. Bahia, sendo seguido por Walderedo Ismael de Oliveira e Werner Kemper, no Rio de Janeiro, Zimerman, Paulo Guedes e Ciro Martins, em Porto Alegre, Luis Carlos Osório, em Santa Catarina, e em São Paulo Bernardo Blay Neto, Luis Miller de Paiva, Oscar Rezende de Lima e, mais recentemente, Waldemar José Fernandes, Betty Svartman e muitos outros, que estão trabalhando, pesquisando, aplicando e buscando novos caminhos e formas de aplicação dos recursos do trabalho grupal.

A formação consolidou meu interesse pelo estudo de grupos, a que venho me dedicando intensamente na última década, representando um contínuo estímulo em minha vida profissional, a ponto de manter-me à frente da Diretoria da SPAGESP por três mandatos: um como Tesoureira e dois como Presidente. O que significa que, desde o primeiro contato que estabeleci com a SPAGESP, venho me mantendo dentro da Instituição, procurando colaborar ativamente com aqueles que, como eu, se interessam pelo estudo de grupos dentro do referencial psicanalítico. Neste percurso transformador, pude travar contato com os membros fundadores da SPAGESP, que me contaram de suas primeiras idéias e reuniões até o seu nascimento, em 1996.

Desde então a SPAGESP tem caminhado, em passos firmes e seguros, rumo ao seu crescimento. Hoje, há muitas pessoas trabalhando com grupos. Em 2006 a SPAGESP comemorou 10 anos de fundação, promovendo jornadas, congressos, simpósios e seminários, que marcaram época. Junto com a instituição eu também pude comemorar meu crescimento pessoal e profissional, pois, após vários anos de atuação como psicoterapeuta, encontrei na SPAGESP uma forma de reciclagem de meus conhecimentos, mas, principalmente, o nascimento de meu amor e meu credo em grupos.

 

1996: O NASCIMENTO

Durante uma jornada da Associação Brasileira de Psicoterapia Analítica de Grupo realizada em 1996 se reuniram os idealizadores e, então, foi finalmente fundada a Sociedade de Psicoterapias Analíticas Grupais do Estado de São Paulo &– SPAGESP, uma sociedade formada por profissionais e de caráter estadual. Participaram de seu nascimento alguns membros: Beatriz Silvério Fernandes, Beth Svartman, Ermindo Sacomani Junior, Fábio Gonçalves da Luz, Maria Igínia Sanches Sales, Maria Imaculada de Carvalho Anacleto, Marina Durand, Ricardo Maximiliano Pelosi e Waldemar José Fernandes.

A SPAGESP nasceu com o objetivo geral de promover a integração científica de profissionais de enfoque psicanalítico, não excluindo outras abordagens teóricas que trabalham nas universidades, ou fora delas, com grupos. Como objetivos específicos destacam-se: o estudo, divulgação e ensino da psicoterapia analítica de grupo; o intercâmbio com entidades filiadas ou não à Associação Brasileira de Psicoterapia de Grupo (ABPG), Federação Latino-americana de Psicoterapia Analítica de Grupo (FLAPAG), universidades e profissionais de áreas afins, bem como outras instituições congregadoras de associações afins.

 

1998: A PRIMEIRA TURMA DO CURSO DE FORMAÇÃO DA SPAGESP

Em fevereiro de 1998 teve início a primeira turma da SPAGESP, formada por médicos e psicólogos, da qual fiz parte. O curso tinha &– e mantém &– o mesmo nome até a atualidade: Psicoterapias Analíticas Grupais e Coordenação de Grupos. Neste ano realizou-se sua primeira Jornada, na cidade Franca. Em 2000 essa primeira turma concluiu o curso teórico. A partir desse marco histórico, ano a ano inicia-se uma nova turma. Em 2007 iniciamos a sétima turma.

Além do curso de formação, a SPAGESP organizou e participou dos seguintes eventos, vários deles em parceria com outras instituições:

• 1997 &– I Jornada Pré-Congresso Brasileiro de Psicoterapia Analítica de Grupo, realizada na cidade de Ribeirão Preto, em parceria com a ABPAG e CEPAG-RP

• 1998 &– II Jornada da SPAGESP, realizada na cidade de Franca, em parceria com CEPAG-RP

• 1999 &– III Jornada da SPAGESP, realizada na cidade de Ribeirão Preto, em parceria com o CEPAG-RP

• 2000 &– IV Jornada da SPAGESP, realizada na cidade de Ribeirão Preto

• 2001 &– V Jornada da SPAGESP, realizada na cidade de Franca (SP)

• 2002 &– I Congresso da SPAGESP, realizado na cidade de Ribeirão Preto

• 2003 &– VI Jornada da SPAGESP, realizada na cidade de Passos (MG)

• 2004 &– II Congresso da SPAGESP e VIII Jornada do NESME, realizados na cidade de Ribeirão Preto

• 2005 &– VII Jornada da SPAGESP e V Congresso do NESME, realizados na cidade de Serra Negra (SP)

• 2006 &– III Congresso da SPAGESP e IX Jornada do NESME, realizados na cidade de Ribeirão Preto

• 2007 &– XVII Congresso Lationoamericano da FLAPAG, VI Congresso do NESME e VIII Jornada da SPAGESP, realizados na cidade de Santos (SP)

A Sociedade oferece aos seus associados, bem como aos profissionais interessados, além das jornadas científicas regionais e congressos, cursos breves e palestras. Também mantém uma clínica social com o objetivo de atendimento à população de baixa renda, através de seus alunos em formação em PAG, que desse modo têm a oportunidade de vivenciar na prática os conhecimentos teóricos ministrados durante o curso.

A SPAGESP mantém, desde 2000, a publicação regular da Revista da SPAGESP, periódico que acolhe artigos científicos, relatos de experiências e resenhas de livros referentes ao campo da grupalidade. A Revista está indexada nas bases de dados LILACS e IndexPsi.

Em 2004 veio à lume a publicação, pela ArtMed, do livro Grupos e Configurações Vinculares, produção conjunta com o NESME, organizada por Beatriz Silvério Fernandes, Betty Svartman e Waldemar José Fernandes (FERNANDES; SVARTMAN; FERNANDES, 2003). Este livro reúne capítulos escritos pelos membros do corpo docente da SPAGESP e do NESME, com temas relativos ao conteúdo programático do curso de formação. Desse modo, serve como livro-guia que orienta a trajetória de aprendizagem do aluno em formação.

A SPAGESP possui uma biblioteca que disponibiliza aos seus alunos e membros os livros referenciais do curso de formação, assim como outras publicações científicas vinculadas ao campo grupal.

A SPAGESP está registrada junto ao Conselho Regional de Psicologia, sob o número PJ 2332, conforme aprovação plenária nº 1078 de 17 de agosto de 2001.

Em 2001 a SPAGESP obteve seu credenciamento como Curso de Especialização reconhecido pelo Conselho Federal de Psicologia &– CFP n° 052/03, tornando-se o primeiro (e até o momento único) curso da região de Ribeirão Preto a ser credenciado. Desse modo, após a conclusão do curso o aluno tem direito a solicitar o título de especialista pelo CFP.

 

A CLÍNICA SOCIAL

Penso que um dos pontos-chave dessa formação repousa na Clínica Social da SPAGESP, que prioriza o atendimento à população de baixa renda, dando a oportunidade ao aluno de vivenciar na prática os conhecimentos teóricos apresentados no curso pelo corpo docente, constituído por profissionais com alto nível de capacitação.

A Clínica teve início em 1998, concomitante ao início da primeira turma, o que me deu a oportunidade e felicidade de ser umas das primeiras a poder trabalhar com grupos na SPAGESP. Isso até décadas passadas ainda era pouco comum e gerava muitas expectativas. Não quero dizer que isso não aconteça ainda hoje, mas na época era muito menos freqüente, o que me fez questionar alguns pontos:

Como conseguirei acolher e compreender a dor psíquica de cada paciente e do grupo como um todo? Haveria confiança? Conseguirão manter-se afastados, não formando fora do grupo terapêutico um grupo social? E as distintas formas de comunicação, como compreendê-las? O fato é que, no início de 2001, iniciei meu primeiro grupo terapêutico, que tinha como característica de homogeneidade a queixa inicial de depressão, angústia, ou seja, a dor psíquica. O grupo era heterogêneo em termos de sexo, idade, condição sócio-cultural e filiação religiosa.

Acredito que minha crença pessoal, aliada aos conhecimentos teóricos, aos aportes recebidos através da supervisão e a experiência emocional vivida em minha própria psicoterapia de grupo me ofereceram a base para que o grupo se mantivesse por muitos anos, e mesmo sendo um grupo aberto, três dos pacientes que iniciaram o processo, continuaram por vários anos, sendo que dois se mantêm em atendimento até o momento.

 

ATIVIDADES DE ENSINO E FORMAÇÃO

Num país como o nosso, com tão escassos recursos econômicos, uma quantidade enorme de pessoas desassistidas está, a cada dia, podendo contar com um número maior de especialistas trabalhando com grupos em comunidades, hospitais gerais, instituições psiquiátricas, centros de reabilitação social, na prevenção e tratamento de drogadição, com grupos de pais de crianças e pré-adolescentes, adultos, idosos entre outros.

A SPAGESP tem como função e objetivo principal formar especialistas em psicoterapia de grupo e/ou coordenadores de grupo e por isso se preocupa com a revisão periódica do conteúdo programático do curso e com a qualificação do profissional convidado para cada disciplina. Para isso contamos com um Diretor Científico, além de um assessor, que junto com a Diretoria colabora no sentido de coordenar as atividades de formação de acordo com critérios exigidos pelo Conselho Federal de Psicologia.

 

NUF &– Núcleo de Formação da SPAGESP
Quando iniciei a formação não éramos credenciados pelo Conselho Federal de Psicologia, o que ocorreu em 2003 após realizarmos os ajustes exigidos. Recentemente estamos passando por processo de recredenciamento, o que nos trouxe muitas tarefas, pois novos ajustes tiveram que ser realizados para que continuássemos com o credenciamento.

A Diretoria, com apoio de seus alunos e membros, mas, principalmente, a Diretora do NUF, Carmem Lucia Graminha Issa e seus colaboradores, Alexandre Mantovani, Maria Imaculada de Carvalho Anacleto e Manoel Antônio dos Santos, dedicaram-se de forma contínua para que o recredenciamento fosse realizado. Tarefa que cumprimos com êxito graças aos esforços de nossos colaboradores. Assim, podemos confirmar que as técnicas grupais hoje têm tido maior credibilidade junto ao órgão de classe representativo dos psicólogos, o que nos coloca em uma posição de destaque perante os órgãos públicos, municipais, estaduais e federais, e à sociedade como um todo.

Atualmente, está havendo um incremento organizado e oficializado das aplicações das técnicas grupoterápicas.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FERNANDES, B. S.; SVARTMAN, B.; FERNANDES, W. J. (Orgs.). Grupo e configurações vinculares. Porto Alegre-RS: ArtMed, 2003.        [ Links ]

ZIMERMAN, D. E.; OSORIO, L. C. Como trabalhamos com grupos. Porto Alegre-RS: ArtMed, 1997.        [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
Dorothy Bono de Abreu
E-mail: spagesp2003@ig.com.br

Recebido em 03/04/06.
1ª Revisão em 18/05/06.
Aceite Final em 23/06/06.

 

 

1 Psicóloga, grupoterapeuta, presidente da SPAGESP &– Sociedade de Psicoterapias Analíticas Grupais do Estado de São Paulo.