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Estudos de Psicanálise

versão impressa ISSN 0100-3437versão On-line ISSN 2175-3482

Estud. psicanal.  n.31 Belo Horizonte out. 2008

 

 

Laura ou os confins sexuais da necessidade*

 

Laura or the sexual boundaries of necessity

 

 

Jacques André**

Association Psychanalytique de France

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

A propósito da análise de uma paciente, o autor discorda de Winnicott quando, afastando-se da perspectiva freudiana, pretende poder isolar e tratar da falha do ambiente humano, nos primeiros momentos da vida, apartada da vida pulsional. A experiência humana faz fracassar a idéia de “necessidades naturais”. Nunca isoladas, elas sempre estão marcadas pelo inconsciente dos adultos. “Necessidades” como a dependência, por exemplo, atualizadas pela experiência transferencial, têm a característica de ser sem fundo, como uma adição. Nem por isso se situam fora do sexual e de seu infantilismo. A regra fundamental convida o pensamento ao auto-erotismo. Esta sedução, sexualização, que cria o espaço analítico, repousa sobre a convicção de que o sexual infantil é não somente determinante do conflito psíquico, mas também que ele contém, por sua polimorfia, sua plasticidade, capacidades de transformação que podem ser postas a serviço da mudança psíquica. Numa extremidade a repetição até à compulsão, na outra uma faculdade de deslocamento sem igual. O objetivo do tratamento não é, pois, introduzir uma sexualidade infantil supostamente ausente – o desmedido das “necessidades” sinaliza sua presença compulsiva – mas de restaurar-lhe e até mesmo inventar-lhe a plasticidade. Todo o playing técnico ao qual se entrega Winnicott deve ser interpretado nesse sentido. A sexualidade infantil não é somente o objeto da psicanálise, é também o caminho.

Palavras-chave: Necessidades naturais, Sexualidade infantil, Atualização transferencial, Compulsão de repetição, Plasticidade transformadora.


ABSTRACT

Considering one of his patients’ psychoanalysis, the author disagrees of Winnicott when, moving away from the freudian perspective, intends to isolate and treat the human environmental failure that occurs in the origins of life, taken apart from the pulsional character of psyche. The human experience does not support the idea of “natural necessities“, which never appear isolated, but changed by the adults’ unconscious. Updated by the transfer, “necessities” (such as the dependence, for instance) are like bags without bottom, they are like an addiction. Nevertheless, they are situated in the field of sexual and its infantilism. The fundamental rule invites thinking to self-eroticism. A true sexualisation that creates the psychoanalytic setting, this seduction rests upon the statement that affirms the infantile sexual as a determinant to the psychic conflict. Also, the infantile sexual is the responsable for the psychic transformations because of its plasticity, its polymorphic nature and its capacities for psychic changing. that may be put into the service of those mental modifications. In one extremity, the repetition until the compulsion; in the other, the incomparable displacement faculty. Thus, the goal of the treatment is not to introduce an infantile sexuality supposed as absent - the excessive of “necessities” points out its compulsive presence - but, indeed, to restore and even to invent the plasticity. Every technical playing to which Winnicott is involved to should be interpreted in this sense. The infantile sexuality is not only the psychoanalysis’ object: it is also the way of researching.

Keywords: Natural necessities, Infantile sexuality, Updating in transfer, Compulsion of repetition, Plasticity to transformer.


 

 

Laura vem à análise quatro sessões por semana. Atendo-a face a face, ela recusa o divã. Nada de me perder de vista, a mesma vigilância que, à noite, a impede de se abandonar ao sono, acompanha cada uma das nossas sessões. Ela sabe o que é ser abandonada sobre um divã, ela que sofreu os efeitos sucessivamente angustiantes e enervantes desse abandono, durante vários anos, com uma analista mulher. Dirige a esta mulher e à sua mãe uma mesma cólera, pelas mesmas razões: frieza, distância, incompreensão, indiferença... Na poltrona, seu corpo envia mensagens de desconforto, de esgotamento que me levaram a convidá-la a utilizar o divã ao menos como leito para repousar. Secamente, me fez saber que não esperasse que caísse numa armadilha tão grosseira. “Irei para o seu divã quando a análise estiver terminada”. No dia da semana sem sessão, ela sente se desfazer o fio mal tecido da análise, alguma coisa nela desmorona, pode decidir parar a análise várias vezes durante o dia. As próprias sessões conservam a marca disso: “eu não estou aqui, vou embora1”.

*

Ainda que fundamental, o enunciado da regra analítica nem por isso é universal, ele conserva a marca de sua história singular, a da descoberta do recalque operando nas psiconeuroses. Que quer dizer a regra (“diga tudo que lhe passa pela cabeça...”) àquele a quem ela se dirige? Abandone os constrangimentos da conversa habitual, dê lugar aos pensamentos secundários, não hesite em “retornar ao dilúvio”2. “Isso não tem nada a ver, é sem importância, insensato...”, não ceda a essas intimidações, pelo contrário. E se, numa palavra, for preciso indicar o passo a seguir, então: “perca o fio, fale língua desligada.” Mais que uma regra, a regra é uma artimanha: pegar o ponto fraco da barreira do recalcamento, surpreender o catenaccio3, contornar a mais imóvel das resistências. Não, dizer o que se preferia guardar para si, o inconfessável – o que não é senão a tradução da mensagem para o obsessivo – mas dizer o que não se sabe. A esperança de um tal enunciado é dupla: do lado do analisando, permitir à idéia tornar-se incidente, do lado do analista, autorizar a atenção a tornar-se flutuante.

Outro é o gesto que instaura a análise de Laura. A frase que, ao termo das entrevistas preliminares, fica no lugar da regra, se formula assim: “proponho-lhe vir quatro sessões por semana (indicando, ao mesmo tempo, que teria preferido cinco), face a face, deixando para mais tarde a eventualidade do divã.” Enunciado bem recebido (divã à parte), ela é seduzida pelo tempo que pretendo consagrar-lhe. A palavra proferida é tão inaugural, tão fundadora quanto a regra, a não ser pelo fato de que ela não se destina ao mesmo lugar psíquico. Enquanto a regra (“diga tudo que lhe passa...”) espera se fazer ouvir pelo recalcado, minhas próprias indicações se destinam ao eu, às suas fronteiras, àquelas que delimitam o tempo e o espaço, formas a posteriori mas, no entanto, primitivas da vida psíquica. E minhas palavras só se dirigem a ele, ao eu, porque adivinham muita incerteza e fragilidade nos confins de seu território.

O enquadre, o setting é um “ser de fronteiras”, como o eu, do qual ele é a projeção na superfície da análise – projeção, aqui, no sentido geométrico. Se o eu (e na seqüência o enquadre) está fora do tempo, é num sentido outro que o inconsciente. A a-temporalidade deste designa um lugar psíquico submetido ao regime alucinatório, lá onde desejar é fazer, sem distinção, sem demora, um lugar onde a fantasia se realiza, ignorando as reticências do mundo exterior. Se o eu está fora do tempo, não é por a-temporalidade, mas por eternidade. A eternidade está menos fora do tempo que contra ele, é mesmo o que a define: é “eterno” o que não é “temporal”. Fantasia narcísica por excelência, a eternidade, a vida eterna, desmente o tempo em nome de um presente continuado, sem começo nem fim – sobretudo sem fim, aliás. A morte e a eternidade são como frente e verso da mesma folha, o que as opõe é o que as reúne. “Quando se morre, é para sempre.” Uma outra palavra para dizer “eternidade” seria “identidade”. Identitas, a qualidade do que permanece o mesmo, a identidade substancial é um sonho de eternidade. Diferentemente do inconsciente, Narciso não ignora a negação, ele a recusa, como recusa a “decomposição da personalidade psíquica”4 a fim de perseguir um sonho de Um, por exemplo, o que Winnicott denomina “verdadeiro self”. O self, o si mesmo, é uma crença, uma ilusão (vital), a de ser, nada mais do que ser, somente to be, sem a angústia do not to be. Poder se tomar por um todo, poder ignorar “a fragmentação em pulsões parciais” que sempre ameaça a mínima a mais bem-sucedida das sínteses5. O terror de Laura é de sair “aos pedaços” da sessão da noite de sexta, na véspera do fim de semana.

O ponto de vista do desenvolvimento, que Winnicott privilegia de modo manifesto em muitas ocasiões, mascara só-depois o movimento de sua própria descoberta. Ele próprio o indica, apenas de passagem, em A natureza humana: a ênfase colocada sobre o desenvolvimento e sua cronologia faria pensar que a observação direta da criança muito nova constitui a via “natural” para o estabelecimento de noções tais como as de self, de holding, etc. Não é o caso, a observação direta, sublinha Winnicott, permite descrever o corpo da criancinha, seu comportamento, não sua vida psíquica. Mesmo a consulta terapêutica com crianças pequenas não dá senão resultados parciais. “O estudo mais convincente das necessidades da pequena infância” vem de alhures. Veio “das observações praticadas sobre pacientes em análise que regrediram no curso do tratamento. Na minha própria experiência, aprendi mais observando a regressão contínua seguida de progressão nos casos borderlines, quer dizer em indivíduos que devem atingir neles mesmos, no curso do tratamento, uma patologia psicótica”6. Para o dizer mais simplesmente, nunca ninguém viu uma good enough mother! mesmo se a imagem é evocativa para cada um de nós. Sua construção se faz sobre o sítio da análise. Até aí Winnicott é de uma grande fidelidade freudiana, ao teorizar em contraponto, a partir das formas psicopatológicas atualizadas pela transferência, uma mãe “bastante normal”, quer dizer que não deixa cair7 seu bebê, quando o segura em seus braços ou na sua psyché.8 Laura não pode confiar no divã para a segurar. Sua fobia de avião, que se transforma em cena de pânico no aeroporto quando sua mãe também esteja viajando, esta fobia permite entender essa falta de confiança. Como todo o sintoma, este é equívoco, mas por vezes, quando a sustentação do divã está falha, a coisa se faz transparente: o bebê é um ser “aeroportado”, descobre a gravidade ao nascer9. Para poder tomar o avião sem outra angústia além de uma ligeira inquietude, a fortiori para se abandonar ao sono em pleno vôo, sem sonífero nem whisky, é preciso dispor no interior de si de uma confiança quase absoluta em quem vos carrega. Com Laura, nossa navegação analítica se desenrola quase sempre sobre um fundo de turbulências e de vácuos. Mas os momentos mais perigosos, eu aprendi pouco a pouco, são aqueles em que uma verdadeira confiança a habita. Enquanto a análise balança, segura-se, luta e se angustia, mas é a confiança instalar-se e a queda a vir será sem fundo. E é preciso que a confiança se instale, forma tão paradoxal da compulsão de repetição, porque uma das características essenciais da falha (do ambiente precoce ou analítico), aquela que a transferência busca reproduzir, é de ser imprevisível10. E não há imprevisível sem confiança previamente restabelecida.

Minha divergência com Winnicott começa lá onde ele se afasta da perspectiva freudiana, quando pretende poder isolar, e tratar (cuidar) um espaço psíquico, digamos o ambiente humano falho dos primeiros momentos da vida, apartado da vida pulsional, apartado do sexual infantil. Ele podia mesmo zelar, de modo ciumento, por esta distinção. Quando Enid Balint, acreditando citá-lo, evoca “a regressão à dependência oral”, ele lhe escreve de volta para chamá-la à ordem: “Você não encontrará esses termos de dependência oral em mim, eu evitei mesmo especialmente misturar as duas coisas, quer dizer a regressão à dependência e a regressão em termos de estádios pulsionais. A regressão à dependência, da qual verdadeiramente falei muito, não me parece especificamente ligada à fase oral, e na verdade eu quero destacá-la completamente dos estádios e do desenvolvimento pulsionais e, portanto, pô-la em relação com a função de relação do eu, que precede a experiência pulsional reconhecida enquanto tal”11. Que a experiência pulsional não seja reconhecida como tal é, do lado da mãe, que mistura a seu comércio com o filho “sentimentos provenientes de sua própria vida sexual”12, questão de recalque. Enquanto, do lado do filho, é a conseqüência dos meios demasiado rudimentares de sua “libido psíquica”. Mas o que a psiquê deste último não pode ligar, seu corpo o exprime, tanto como o chupar auto-erótico que segue a mamada quanto através da anorexia precoce. A este respeito, o próprio Winnicott se contradiz quando escreve: na anorexia, “a satisfação oral tornou-se um fenômeno separado, uma espécie de sedução. O que é mais importante para a criança é não comer; ela escapa à sedução e, mesmo se estiver morrendo, existe enquanto indivíduo”13. Paradoxo de um bebê que busca restabelecer a ordem mamífera da necessidade contra a usurpação pulsional, recusando-se a ser alimentado! É como se dissesse que a experiência humana faz fracassar a própria idéia de “necessidade natural”. Não que essas necessidades não existam, mas elas nunca estão sozinhas, sempre complicadas por outra coisa, a começar pelas marcas deixadas pelo inconsciente materno. O bebê anoréxico já sabe, à sua maneira, que, mamando o seio, ingerindo o leite, incorpora algo de desconhecido e de inquietante, alimentos psíquicos que é melhor não engolir porque, demasiado terrenos, ameaçam destruí-lo. As “necessidades” atualizadas pela experiência transferencial, a começar pela dependência – Laura, ao terminar a sessão de sexta à noite: “eu não sairei daqui... vou esperar a sessão de segunda”–, essas necessidades têm a característica de ser sem fundo, como uma adição. Ao passo que uma necessidade “natural”, auto-conservadora, é definida, ao contrário, por sua capacidade de apaziguamento, desde que efetuada a ação específica. O camelo pára de beber uma vez suas corcovas repletas.

Permanecemos, com a “necessidade” (besoin), enredados numa falsa naturalidade. É astúcia da necessidade fazer passar seu apelo, seu grito (“tenho necessidade de você”), por expressão bruta da necessidade (nécessité). “Necessidade”, a palavra cheira a míngua, sua exigência de apaziguamento pretende-se de ordem natural. Se a escutamos, ela não tem nem avesso nem mistério, é simples como a miséria, triste como a penúria; em todo caso, é o que ela tenta convencer. Se imperiosa, não é por ignorar o tempo, sob muitos aspectos ela o conhece bem demais, mas não o suporta, não suporta que o tempo apareça por ele mesmo, como na espera, por exemplo. O desejo é hipotético, conjuga o passado-futuro no condicional, sua língua primitiva é a da fantasia. A necessidade, esta, não tem tempo, a não ser o atual. Nada nela se presta ao cenário, ela é real.

Em carta a Clifford Scott, Winnicott escreve: “desde que tive a experiência dessas regressões (à dependência), interpreto mais em termos de necessidade e menos em termos de desejo. Por exemplo, quando me parece suficiente dizer: “lá onde estamos, você tem necessidade quer eu o veja neste fim de semana”, quando a existência de uma descontinuidade no tratamento faria esperar algum mal. Se, num semelhante momento, se diz: “Você gostaria que eu renunciasse ao meu fim de semana”, se está na pista errada”14. Sigo Winnicott quando se trata de sublinhar que não serve de nada falar ao paciente um dialeto que não é o seu. Um modo sistemático de propor a forma edipiana através da interpretação desvaloriza a psicanálise transformando-a em ideologia. Mas pode-se sustentar que a “necessidade” que caracteriza as formas de regressão à dependência nos situam fora do sexual e de seu infantilismo? É explicitamente o que sustenta Winnicott: “aquilo a que me refiro não tem nada a ver com tudo isso (pulsões e desejos), mas concerne as técnicas de cuidados maternais precoces ou ainda mais primários que, se insuficientes, fracassam em encontrar as necessidades e perturbam, portanto, a continuidade do desenvolvimento do indivíduo”15.

Desde o início da análise, Laura podia manifestar, num momento angustiante da sessão, sua vontade de partir. Um resto de civilidade e meu convite para continuar mantinham-na na poltrona. Depois ela ganhou a liberdade de se levantar e de partir, deixando-me lá. A coisa se repetiu várias vezes, sem que a retomada desses momentos na sessão seguinte mudasse o que quer que fosse. Acabei por proceder de outro modo, não de modo premeditado, mas me fiando no apelo transferencial do momento. A angústia se apoderava dela, uma angústia que podia fazê-la bruscamente se levantar e partir. Eu tinha tido tempo de apreender-lhe os sinais: um corpo tomado pela contorção, uns olhos que procuram as lágrimas, um rosto que se deforma, um rosto de bebê antes do grito. Uma comunicação primitiva, sem palavras, mas uma comunicação. Eu lhe perguntava: “O que se passa?” Ela tinha anteriormente evocado uma cena de desamparo num de seus médicos, depois de uma ruptura sentimental – todos os seus médicos: generalista, dermatologista, ginecologista, são mulheres e amigas de sua mãe –, e a prescrição que disso tinha resultado: Atarax, um xarope que se costuma dar às crianças para apaziguá-las e lhes facilitar o sono. Minha questão a mergulhou numa busca silenciosa da qual não emergiu senão a palavra “Atarax”. Imaginei uma cena que lhe propus: havia lá um bebê que gritava há muito, uma “mamãe” que dava Atarax quando a criança teria esperado que lhe chegasse outra coisa, outra coisa que teria dito ou feito “amor”. A sessão prosseguiu no ritmo de uma troca ao mesmo tempo lenta e serrada, mais na imaginação do que não tinha tido lugar que na sua rememoração. Na sessão seguinte, Laura diz que por um triz não partiu, que tinha visto muito bem como eu tinha feito “para alcançá-la em pleno vôo”, que ela poderia querer-me mal por alguma coisa assim, “porque é tarde demais.”

A coisa pode-se ouvir de várias maneiras: tarde demais para ser amada, para ser amada como se ama, para que o desejo encontre o caminho de sua realização, para se assegurar de que tudo isso não ficará sem amanhã (“eu sou” é uma abreviação de “eu sou amado”)... mas também: sua presença inédita, intempestiva, me priva de “minha mãe”, aquela que não escuta os gritos que não grito, aquela que olha alhures quando me olha, aquela que acreditando me escutar só escuta o fio de seu próprio pensamento. Esta mãe sobre o modelo da qual eu escolho meu amante, aquele a quem posso perguntar vinte vezes: “Tu me amas?” e que, na sua resposta, não pode ir além de: “eu te aprecio.” Um amante, uma mãe que, à angústia, só sabem opor a estóica ataraxia. No jargão psicanalítico, “ataraxia” diz-se “neutralidade”.

É um mistério, nada há de mais siderante, e mesmo de mais cativante, que ser o objeto paradoxal do não investimento. A ponto de permanecer suspenso toda uma vida a lábios que não vos falam, porque eles não vos falam. A ponto de eleger por “companheiro” aquele para o qual não se existe, ou se existe tão pouco que é sempre pouco demais. Pouco demais, quer dizer para o qual não se existe absolutamente. Quando bebê, se tem uma mãe atingida pela depressão, tomada pela indiferença, é para toda a vida.

Captura, aqui, soa mais correto que sedução. Sedução é uma palavra carregada de excesso, mal empregada lá onde a paixão está exangue, quando a criança não decifra nada que se lhe assemelhe sobre a face do adulto.

Na sua retomada da teoria da sedução, Jean Laplanche sugeriu que o dispositivo da cena analítica, para além de sua aparência de artifício, reproduz algo do que ele denomina “situação antropológica fundamental”, ou seja, a sedução inconsciente do adulto à criança, uma sedução que mistura seus efeitos às relações de cuidados e de ternura acompanhando os primeiros momentos da vida. Abandonando a sedução em teoria, Freud a teria restabelecido sem se dar conta, inventando o dispositivo prático do tratamento. O que se apresenta manifestamente como um artifício técnico seria, no fundo, a metáfora de uma situação humana primordial.

Se a análise tem o poder (eventual, parcial, mas, mesmo assim, poder) de destraduzir as construções existentes, de reabrir o processo de elaboração, de permitir a mudança psíquica, é porque casa na sua forma a dissimetria que caracteriza a situação de sedução primitiva, genérica, aquela que reúne um adulto dotado de um inconsciente e um infans submetido à violência de mensagens que superam sua capacidade de simbolização. O surgimento da transferência é como um acontecimento real que vem botar fogo no teatro, com este detalhe: é a própria peça, aquela que se encena, que bota fogo.

Esta tese, Freud não a sustentou, mas a apresentou sem se dar conta. O início da análise do homem dos ratos é um momento antológico em que a cena de sedução consiste no próprio enunciado da regra fundamental: “diga tudo o que passa pela cabeça, mesmo o que é desagradável...”, exatamente o que era preciso dizer a “Paul” para o excitar ao ponto de o empurrar para fora do divã e de o ver indo e vindo na sala. Nada, nesta cena, permite distinguir a haste avermelhada no fogo da fantasia, aquela que excita/tortura o rato esfomeado, encerrado num pote fixado sobre as nádegas do condenado, nada distingue o instrumento do suplício da regra manejada pelo analista. A própria regra – os golpes de régua16 – inteiramente tomada pela atividade transferencial, o que sobra do enquadre, nesse momento, reduz-se, quase só, às paredes do consultório e à porta fechada.

Freud-analista, nas suas primeiras sessões, dá exemplo de dois tipos de mensagens comprometidas (pelo sexual, pelo inconsciente): a mais evidente à leitura é quando, vindo ajudar um homem dos ratos angustiado demais, põe-se a falar no seu lugar: posso tentar adivinhar (erraten), diz ele, este suplício, trata-se de empalar? O rato, para onde vai? Para o ânus? Momento transferencial, contratransferencial de atividades fantasmáticas conjugadas17.

Mais interessante ainda, porque homogêneo ao gesto fundador da análise, há o enunciado da regra, já evocado, mas também o anúncio dos honorários. Ou seja, dois elementos instauradores da situação, que estão ligados, como se diz, ao “enquadre”, ambos recebidos/traduzidos nos termos da sedução pelo paciente: de uma parte, o suplício pela regra (diga tudo), de outra, a conversão do dinheiro em ratos: “tantos florins, tantos ratos”. Pensamento culpabilizante graças ao qual o homem dos ratos vai deliciosamente se auto-torturar em silêncio, durante seis meses, antes de o cuspir18 já sem sabor.

Para além de Freud, poder-se-iam multiplicar os exemplos que vão no mesmo sentido. Que dizer, por exemplo, do convite a “se deitar”? Sem se pretender infinita, a lista das traduções pelos pacientes desta mensagem comprometedora é longa: “Confesse!”, “Deitado!”, “Maria-deita-te-aí”19...

O que a hipótese de Jean Laplanche deve ao paradigma da histeria e, além disso, ao da neurose, é suficientemente evidente para que se faça necessário nisso insistir demoradamente. Mas, o que acontece quando, do lado do paciente, a exemplo de Laura, é a própria cena de sedução que não se constituiu? Ler nos olhos daquela que o amamenta o desejo do qual se é objeto, ou absolutamente nada ler aí, abre para vidas (inclusive analíticas) bem diferentes. Uma das diferenças essenciais entre o infans e o analisando, diferença que torna a hipótese de J. Laplanche aproximativa ou circunstanciada, refere-se ao eu e à sua história. Tal como Freud o sublinha, se as “experiências vividas dos primeiríssimos anos da infância” se revelam tão carregadas de significação, é porque a fragilidade de seu eu oferece a criança à penetração, à implantação do enigmático inconsciente. Forte ou em mau estado, o eu do paciente adulto é de qualquer forma o resultado de uma longa elaboração, sem falar do investimento do qual ele próprio é objeto. Este último aspecto, o do narcisismo, muda profundamente a situação, e sabe-se do peso que ele tem na condução do tratamento. Mesmo quando se sustenta o caráter sexual do narcisismo, faz uma enorme diferença para o destino da análise que o investimento caia sobre o eu mais que sobre o objeto. Mesmo que seja demasiado apressado dizer que entre a situação originária de sedução e a situação analítica, o narcisismo faz a diferença, permanece o fato de que as ligações tramadas por este último, as fronteiras traçadas, que ele desejaria intransponíveis, bastam para embaçar a perspectiva. A dificuldade não é menor quando os confins do eu são incertos.

A enunciação da regra fundamental é nela mesma um indicativo, quando as informações das primeiras entrevistas desqualificam a cena de sedução inaugural (“diga tudo que se passa...”). Seria nada entender fazer um tal convite àquele cuja boca, qual um “buraco hemorrágico”, despeja sem poder se interromper sua queixa melancólica, ou àquele outro que, enrolado como uma bola sobre a cama-divã, mergulha num silêncio abissal. Neste sentido, o exemplo de Laura é ele mesmo complicado. Existem várias Laura, tantas quantos lugares psíquicos que a constituem. Moça bonita, inteligente e cultivada, muito glamour na sua apresentação, Laura não tem falta de “teatro privado”, ela também é histérica. Mas não é por aí que a análise começa, nem, sobretudo, que ela se origina, para além do seu desenrolar cronológico. Antes de pretender imitar a atemporalidade do inconsciente, o tempo dilatado (4 a 5 sessões) que lhe é oferecido permite acreditar na continuidade de existência, ou pelo menos na sua eternidade.

Pierre Fédida sublinha com razão que a alucinação negativa da pessoa do analista é a condição de possibilidade do processo analítico, tornando possível a abertura das transferências e sua variabilidade. Nem sempre é o paciente que recusa esta liberdade, esta plasticidade, imagine-se o uso sistemático que pode ser feito por certos analistas de uma interpretação construída segundo a forma canônica: “comigo aqui e agora, como alhures e outrora com um(a) outro(a)”.

Laura interdita primeiro ao analista de se ausentar. Sua vida depende disso. “Se eu o chamo durante o fim de semana, diz ela, será para verificar que não desapareci”. Ela é adicta à presença, “desapareço quando não estás aí”, e não há pior ausência, pior vacância, que a do vazio que se abre sob vossos pés quando se acreditava sustentado pelo chão. “O primeiro amor vem de baixo”, escreve Winnicott. Quando ele vem, quando ele sustenta... Laura conjuga a transferência no singular, satura-a. Ela lembra à sua maneira que as qualificações da transferência em maternal ou paternal sinalizam sempre entraves à dinâmica analítica, modos de impedir a plasticidade das transferências. Ela é um bebê que vigia uma mãe que não vai deixar de falhar. Sabe, sabe absolutamente, que uma palavra vai surgir, que irá fazer desmoronar o que acabou de se (re)constituir. Ela falava com sua mãe, ao telefone, da morte de seu gato que acabava de ocorrer. De início, sentiu-se escutada na sua dor, acreditou nisso, e depois não deu outra, a mãe lhe perguntou: “Ele já está frio?”. Bateu-lhe o telefone na cara.

Das palavras de Freud sobre a posição respectiva dos protagonistas da cena analítica, muitas vezes só se retém a pilhéria: “não suporto que me olhem durante oito horas por dia”, quando a seqüência da proposição toca no essencial: a atenção não pode tomar a liberdade de tornar-se flutuante, de permanecer em suspenso até à vinda do incidente, senão quando o rosto, o do analista, é dispensado das obrigações do face a face20. Laura reivindica atenção permanente, sua demanda de análise é contra a análise. Ela é contra o passado, pelo presente. Contra a interpretação, pela verdade. Se a atenção flutua, ela afunda.

Depois de algum tempo, ela poderá, no entanto, começar a jogar o jogo da ausência. Para ausentar a pessoa do analista, mesmo quando ela se instala na poltrona de frente para não o perder de vista, bastar-lhe-á uma ligeira rotação para que se dessimetrizem as respectivas posições. Sua frase, na sexta de noite: “não sairei daqui, vou esperar a sessão de segunda-feira”, condensa as duas perspectivas. Manifestamente ela diz que não há existência senão descontínua, mais secretamente, através da nota quase imperceptível de humor, já começa a jogar com o analista-carretel.

Que o holding de Laura-bebê pelo seu ambiente materno tenha conhecido rupturas e descontinuidades, não há dúvida, a transferência não pára de atuá-lo. Uma psicoterapia do apego, uma haptonomia21, etc... buscariam responder à dificuldade por experiências corretivas dirigidas. Elas podem-no porque fazem economia do inconsciente, e do sintoma como formação de compromisso entre defesa e satisfação. Que o mamilo do seio materno seja uma zona erógena, quente ou fria, para a mãe e, portanto, para a criança, e o aleitamento uma cena potencial de sedução, isso só pode ser “desconhecido” por uma teoria do apego, a fim de poder se constituir. A psicanálise, esta, não poderia inclinar-se no sentido de uma experiência de maternagem, senão perdendo o que a fundamenta. O desvio do dispositivo analítico não é menos perverso, quer o analista se tome pela mãe quer pelo amante. Que o paciente se esforce por preencher a relação transferencial, até a saturar entre mãe e bebê, é da sua conta; a do analista é de não responder lá onde a repetição vem solicitá-lo. Que ele o faça, no entanto, por exemplo, através das condutas reasseguradoras, e abre-se para ele a análise necessária da contra-transferência. “Os pais que interpretam o inconsciente de seus filhos se arranjam momentos difíceis”22, tanto quanto o analista que concede a seu paciente satisfações maternantes. Isto não impede evidentemente a psicanálise de ter valor de experiência corretiva – dos fracassos do ambiente precoce, do holding –, mas a partir de seus únicos meios: de uma parte a constância, a confiabilidade do dispositivo – em certas circunstâncias regressivas, a única coisa que o analista tem a oferecer a seu paciente, diz Winnicott, é sua pontualidade, o que os estragos produzidos na análise de Laura por uma sessão que tive de remarcar me permitiram inversamente verificar. De outra parte a interpretação “correta e oportuna”. A psicanálise não tem outra via a seguir senão a do deslocamento e da transformação, quando ela responde é por desconhecimento da polissemia do sintoma.

Neste duplo movimento, de acordo e de crítica, que sucessivamente segue e contradiz a argumentação de Winnicott, a referência conservada ao sexual infantil é decisiva. A teoria pode achar alguma vantagem em isolar uma “função de relação do eu” separada da vida pulsional, “isso não impede de existir”. Que o holding fracasse, permanece a questão de saber o que se enfia na brecha assim aberta. A angústia do recém-nascido, enquanto sua mãe permanece na realidade muito tempo afastada, não é dissociável do ataque pulsional interno que o eu imaturo, apenas traçado, não consegue conter; um ataque que intrinca desejo e destrutividade. As formas aditivas ulteriores (da dependência ao amado às condutas tóxicas) que tomarão os sintomas, indicam por sua desmedida que é o núcleo da experiência pulsional, a compulsão à repetição, que se aproveitou do fracasso para se instalar no espaço aberto.

Testemunhando da sua análise com Winnicott, Margareth Little escreve: a sexualidade infantil “só pode ser fora de propósito e sem significação alguma enquanto não se está seguro de sua própria existência, de sua sobrevivência e de sua identidade.” A afirmação não é sustentável a não ser que se desconheça a parte mais fragmentada do sexual, o “resto de Eros”, aquele que, no movimento freudiano na direção da segunda tópica cairá do lado da pulsão de morte. A mistura indiscernível de gozo e destruição, até à morte, que caracteriza certas toxicomanias, anorexias, etc... é a manifestação mais explícita deste “resto”.

*

“Diga tudo que passa pela cabeça...”, a regra fundamental convida o pensamento ao auto-erotismo. Esta sedução, sexualização que cria o sítio analítico, repousa sobre a convicção de que o sexual infantil é não somente determinante do conflito psíquico, mas também que ele contém por sua polimorfia, sua plasticidade, capacidades de transformação que podem se pôr a serviço da mudança psíquica. Numa extremidade a repetição até à compulsão, na outra uma faculdade de deslocamento sem igual. O que bem ilustram as figuras do perverso e do “perverso polimorfo”, quer dizer, da criança. A polimorfia infantil aproveita-se da plasticidade da pulsão para percorrer todos os cenários e multiplicar as fantasias – antes que a genitalidade edipiana venha restringir o leque de possibilidades –, enquanto a perversão do adulto, tão imóvel quanto uma adição, cinge a vida sexual numa prisão, congela o gesto sexual num programa que deve obediência rigorosa a (uma única) fantasia.

Freud denominou de “sublimação das origens primeiras”23, esta fecundidade da pulsão sexual de poder se difratar em múltiplas atividades que o senso comum jamais sonharia em definir como sexuais. Falar, por exemplo. Entre seus lábios e em meio às bolhas (de saliva), a criancinha que acaba de acordar, enquanto os pais ainda dormem, brinca com os sons: “mamã, papá”. Só depois, estes sons “vocalizados” pelo auto-erotismo tornar-se-ão palavras, coisas úteis, a serviço da autoconservação, quando se tratar de chamar. A linguagem é uma criação auto-erótica – inseparável de uma cena de sedução: aprende-se a falar pelo amor de... – antes de preencher uma função de comunicação. É também por isto que uma criança, fechando-se na psicose, pode nunca falar. A análise convida a ir contra o senso comum: antes de ser uma caixa, uma caixa é um ventre (Susan Isaacs).A naturalidade da autoconservação é tão enganadora quanto a da necessidade.

Mesmo quando o par associação livre/atenção flutuante – definindo os dois regimes auto-eróticos do pensamento, no analisando e no analista – não estiver disponível no início da análise, como é o caso de Laura, permanece a meu ver um horizonte que não se pode perder de vista. O objetivo, aqui, não é de introduzir uma sexualidade infantil ausente demais, uma vez mais a desmedida das “necessidades” sinaliza sua presença compulsiva, mas de restaurar-lhe, e até mesmo inventar-lhe a plasticidade. Todo o playing técnico ao qual, na oportunidade, se entrega Winnicott, não seria a interpretar neste sentido? A sexualidade infantil não é somente o objeto da psicanálise, ela é também o caminho.

Pádua, junho de 2006

 

Post-scriptum

O par de opostos, muito pouco questionado, do desejo e da necessidade, talvez pudesse ser substituído pelo do desejo e da exigência. O primeiro sentido de “exigir” é fiscal, tão perseguidor quanto o imposto: pedir imperativamente o que é devido. A exigência pede muito, pede demais, em vez de se apaziguar, cresce com a satisfação. Impossível de contentar, insuportável, tirânica, a exigência faz os desejos tornarem-se ordens.

Tradução de Luís Maia, Hélida Magalhães e Frédéric Brighton.

 

Referências

FREUD, S. Trois essais sur la théorie sexuelle [1905]. Paris: Gallimard, 1987.        [ Links ]

FREUD, S.  Remarques sur un cas de névrose de contrainte[1909]. In: OCF-P. Paris: PUF, 1998. v.IX, p.131-214.        [ Links ]

FREUD, S. Un souvenir d’enfance de Léonard de Vinci [1910]. In: OCF-P. Paris: PUF, 1993, v. X, p.79-164.         [ Links ]

FREUD, S. Sur l’engagement du traitement. [1913]. In: OCF-P. Paris: PUF, 2005. v. XII.        [ Links ]

FREUD, S. Nouvelle suite des leçons d’introduction à la psychanalyse [1932]. In: OCF-P, Paris: PUF, 1995. v. XIX, p.83-268.         [ Links ]

FREUD, S. Correspondance Freud – Pfister. Paris: Gallimard, 1966.         [ Links ]

WINNICOTT, D. Processus de maturation chez l’enfant. Paris:Payot, 1974.        [ Links ]

WINNICOTT, D. Lettres vives. Paris: Gallimard, 1989.        [ Links ]

WINNICOTT, D. La Nature Humaine. Paris: Gallimard, 1990.        [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência:
E-mail: andre.jac@wanadoo.fr

Recebido em 28/05/2008

 

 

* V Jornada da Sociedade Psicanalítica da Paraíba, IV Jornada de Psicanálise da Criança e do Adolescente, João Pessoa, 24 e 25 de agosto de 2007.
** da Association Psychanalytique de France - andre.jac@wanadoo.fr
1 “Je me barre”, expressão de gíria para “vou-me embora”
2 Freud [1913]. Sur l’engagement du traitement. In: Oeuvres Completes. Paris: PUF, 2005. v.XII, p.175.
3 No futebol, barreira de jogadores para reforçar a defesa. (NT)
4 Freud, é o título da 31ª conferência (1932), OCF, XIX, PUF, 1995.
5 Freud,S. [carta de 9.10.1918]. In: Correspondance Freud / Pfister. Paris: Gallimard, 1966.
6 La Nature Humaine (NH), Gallimard, 1990, p.192-193.
7 “Laisser tomber”, literalmente, “deixar cair”, na gíria, “deixar p’ra lá” (NT).
8 Que ela não o segure em seu coração é ainda uma outra história, uma história de ódio. (“ne pas porter dans son coeur” significa: detestar, odiar).
9 NH, 153.
10 Winnicott, D. Processus de maturation chez l’enfant (PME). Paris: Payot, 1974, p. 252.
11 Lettres vives. Paris: Gallimard, 1989, p.144.
12 Freud, S. Trois essais sur la théorie sexuelle [1905]. Paris: Gallimard, 1987, p.166.
13 Lettres vives, op. cit., p. 213-214.
14 Lettres vives, op. cit., p. 88.
15 Lettres vives, op. cit., p. 101.
16 “Règle”, en francês, ‘regra’ e “régua”, em português. “Les coups de règle” são as pancadas com a régua, do professor. (NT).
17 (1909), OCF, IX, PUF, 1998.
18 “Cracher le morceau” , literalmente “cuspir o pedaço”, expressão de gíria para “confessar”
19 Na gíria, “s’allonger”, “se deitar”, literalmente, “se alongar”, é sinônimo de confessar, até mesmo, de trair, por exemplo, quando um delinqüente “s’allonge” entregando o nome de seus cúmplices. “Couché!”, “deitado!”, é o que se diz ao cachorro para que ele se submeta. “Marie-couche-toi-là”, literalmente, “Maria-deita-te-aí”, é uma expressão para designar uma moça, uma mulher que “couche”, “deita” (no sentido do ato sexual) ao primeiro convite.
20 Sur l’engagement du traitement, op.cit., p.93
21  “Método de comunicação com o feto pelo toque, através do ventre da mãe” (Le Petit Robert) (NT)
22 PME, 246.
23 Un souvenir d’enfance de Léonard de Vinci [1910]. In: FREUD, S. Oeuvres Completes, op. cit., p.160. Esta forma de sublimação faz eco à criatividade primária, segundo Winnicott.

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