EDITORIAL

 

Este número apresenta aos leitores temas relacionados à psicometria, à saúde e à psicologia educacional, abordando questões desde a padronização do Rorschach e a apresentação de uma ferramenta estatística para análise de consistência interna de itens de maneira interativa, passando por questões de drogas, violência, saúde, aposentadoria, constituição do socius em Freud e a poesia de Neruda, até questões de autoconceito, atitudes e coerção em relação a situações acadêmicas.

Quanto a resenhas, a diversidade não foi menor. São sugeridas leituras em relação a estereótipos, ao escritor e à avaliação psicológica.

Nessas contribuições estão contidas a complexidade dos problemas da psicologia, seus temas e dúvidas e alternativas teóricas e metodológicas de enfrentamento de seus problemas. Assim, além de oferecer possibilidade ao debate de questões sérias que necessitam de respostas, possibilita também uma atualização pertinente aos dias de hoje e a questões que afligem tanto a academia brasileira, quanto a estrangeira.

Regina Sonia Gattas F. do Nascimento fez um interessante e necessário estudo e o relata em seu texto Estudo normativo do sistema compreensivo do Rorschach para a cidade de São Paulo. Fornece resultados para a utilização do sistema compreensivo de Rorschach e suas normas foram construídas em razão de 200 sujeitos não-pacientes, de ambos os sexos, residentes na cidade de São Paulo, com idade e escolaridade e nível socioeconômico variados. Apesar das diferenças em relação às normas apresentadas por Exner, encontrou-se semelhanças com os estudos apresentados, especialmente, os de origem latina.

Rubén Ledesma, Gabriel Molina Ibañez e Pedro Valero Mora descrevem uma ferramenta de informática que para analisar a consistência interna (modelo Alfa de Cronbach) utilizando métodos gráficos dinâmicos, no texto Análisis de consistencia interna mediante Alfa de Cronbach: un programa basado en gráficos dinámicos. Baseada na filosofia da análise exploratória de dados, foi delineada para ajudar no processo de construção de provas psicológicas e os autores indicam benefícios em relação aos outros programas.

Marília Saldanha da Fonseca relata os canais que os estudantes usuários utilizam para adquirir as drogas, em seu texto Aquisição de drogas: um estudo entre estudantes brasileiros. Seus resultados apontaram que os amigos, seguidos de traficantes e farmácias, são as formas e locais mais usuais para a aquisição. Enfatiza a necessidade das escolas promoverem ações preventivas e adotarem medidas para uma educação para a saúde e para a qualidade de vida, ao mesmo tempo em que destacou a importância do psicólogo da saúde, atuando na prevenção.

Interessadas em descrever o perfil das famílias envolvidas nas denúncias de crianças vítimas de maus-tratos, Lidia Natalia Dobrianskyj Weber, Ana Paula Viezzer, Olivia Justen Brandemburg e Claudia Regina Endo Zocche relatam sua pesquisada intitulada Famílias que maltratam: uma tentativa de socialização pela violência. Constataram que os vizinhos denunciaram mais freqüentemente, e as maiores incidências foram de agressão física e negligência intrafamiliar. Além disso, as mães foram as mais indicadas como agressoras.

A análise dos conceitos de saúde e da doença dos indivíduos e suas implicações teóricas e práticas para a psicologia da saúde e da educação foram as preocupações de Evely Boruchovitch e Birgitte R. Mednick no texto The meaning of health and illness: some considerations for health psychology. Ao revisitar a literatura, o fizeram de maneira crítica e oferecem contribuições interessantes, principalmente quanto as suas implicações para a Psicologia da Saúde.

Em seu estudo sobre a Psicodinâmica da mulher trabalhadora de meia-idade em fase de pré-aposentadoria, Marluce Auxiliadora Borges Glaus Leão e Joel Salles Gíglio constataram que a proximidade da aposentadoria mobilizou símbolos que estavam na sombra e que poderiam ser integrados à consciência, assim como arquétipos de transformação, determinando a qualidade de enfrentamento dessas mudanças na meia-idade. Concluíram que o evento da aposentadoria propiciou a redefinição e a reorientação da personalidade.

Leônia Cavalcante Teixeira, em seu texto Função paterna, fratria e violência: sobre a constituição do socius na psicanálise freudiana, elaborou a contribuição freudiana em relação à constituição do sujeito e do socius. Ressaltou as funções paterna e fraterna para a constituição subjetiva na trama social, destacou a fratria como espaço ético dos laços sociais e a ambivalência Eros-Tánatos pelo caráter dual não simplista. No bojo dessa discussão analisa os riscos do exercício da pulsão de morte nas configurações societárias contemporâneas.

Para fazer uma leitura da obra poética de Pablo Neruda, Ismael Pereira de Siqueira, Rodrigo Otávio Fonseca e Sandra Maria da Silva Sales Oliveira trabalham os pressupostos teóricos de Freud e Lacan, no texto A obra poética de Pablo Neruda: um estudo psicanalítico. Com base em um esquema teórico, analisam as principais obras dos três períodos literários de Pablo Neruda e observaram que a poesia de Pablo Neruda sugere um papel de figura objetal, o que facilitou ao autor reencontrar suas figuras parentais, nas quais projeta frustrações e desejos. Interessado em aprofundar o estudo das relações entre desempenho e autoconceito, Sebastián Urquijo em seu texto Autoconcepto y desempeño académico en adolescentes. Relaciones con sexo, edad e institución mostrou resultados que indicaram correlações significativas, tanto em língua quanto em matemática. Nada obstante, essas relações se mantiveram somente nas escolas públicas, em detrimento das escolas particulares. Além disso, para os rapazes, o autoconceito se associou ao rendimento em língua e matemática e para as mulheres, apenas em língua e em uma das séries.

Interessadas em estudar a problemática da atitude na trajetória escolar do estudante, Cláudia Borim da Silva, Márcia Regina Ferreira de Brito, Irene Maurício Cazorla e Claudette Maria Medeiros Vendramini relataram sua pesquisa no texto Atitudes em relação à estatística e à matemática. Os alunos apresentaram atitudes mais positivas em relação à matemática, mas, curiosamente, não se encontraram diferenças por gênero. Também, os dados sugeriram uma associação das atitudes em relação à matemática na formação das atitudes em relação à estatística.

No texto A coerção e suas implicações na relação professor-aluno, Juliane Viecili e José Gonçalves Medeiros examinaram os comportamentos de aluno com e sem história de fracasso escolar e os comportamentos de coerção e estimulação positiva dos professores. Seus resultados sugeriram a utilização de coerção com alunos com fracasso escolar e de estimulação positiva com alunos sem fracasso escolar. Apresentaram uma interessante discussão sobre o uso diferenciado de contingências coercitivas e reforçadoras em relação aos alunos e seus efeitos nos comportamentos acadêmicos e não-acadêmicos.

Este número oferece, também, três interessantes resenhas. Paula Bierrenbach de Castro Guerra, em uma leitura arguta, apresenta o livro Psicologia Social dos Estereótipos; Geraldina Porto Witter, na resenha Apoio ao escritor com dificuldade, sugere a leitura de Supporting Struggling Writers in the Elementary Classroom, que o coloca como interessante e com sugestões apreciáveis e coloca a possibilidade de mais pesquisas sobre o tema; e, finalmente, Fernanda Andrade de Freitas apresenta o interessante e consistente livro Temas em Avaliação Psicológica, que discute uma problemática que cada vez mais precisa ser enfrentada no Brasil.

Itatiba, dezembro de 2002.
Fermino Fernandes Sisto
Editor