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Jornal de Psicanálise

versão impressa ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.55 no.103 São Paulo jul./dez. 2022  Epub 08-Jul-2024

https://doi.org/10.5935/0103-5835.v55n103.06 

Tema: Psicanálise em (de)formação

A sala de ensaios: Humor e tesão na formação psicanalítica

La sala de ensayos: humor y tensión sexual en la formación psicoanalítica

The rehearsal room: humor and sexual tension in psychoanalytic training

La salle de répétition : humour et tension sexuelle dans la formation psychanalytique

Eduardo de São Thiago Martins1 

Beatriz Torkomian de Campos1 

Ataualpa Ribeiro Catalan1 

Caio Vitor Machado Ferreira1 

Cilmara Polido Garcia1 

Júlia Dorça Guimarães1 

Márcio de Assis Roque1 

Paula Costa Camarão1 

1Psicanalista e psiquiatra, membro efetivo e docente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP), colabora há mais de dez anos como coordenador de atividades teórico-clínicas do Núcleo de Psicanálise do Serviço de Psicoterapia do IPQ-HC-FM-USP. São Paulo


Resumo

Com base na exposição e na análise de relatos subjetivos de um conjunto de psicanalistas sobre sua experiência de participação em um grupo de supervisão clínica no âmbito de um hospital psiquiátrico público, o texto traça uma série de reflexões sobre a função da supervisão na formação continuada do(a) psicanalista, e destaca o humor e o tesão como elementos importantes para a sustentação da ambiguidade, da mobilidade e da inventividade autoral na clínica psicanalítica.

Palavras-chave: formação psicanalítica; supervisão clínica; humor; tesão; sexual

Resumen:

A partir de la exposición y del análisis de relatos subjetivos de psicoanalistas sobre su experiencia de participación en un grupo de supervisión clínica dentro de un hospital psiquiátrico público, el texto esboza una serie de reflexiones sobre el papel de la supervisión en la formación continua del psicoanalista, y destaca el humor y la tensión sexual como elementos importantes para sustentar la ambiguedad, la movilidad y la inventiva autoral en la clínica psicoanalítica.

Palabras clave: formación psicoanalítica; supervisión clínica; humor; tensión sexual

Abstract

Based on the exposition and the analysis of subjective reports by a group of psychoanalysts about their experience of participating in a clinical supervision group within a public psychiatric hospital, the text outlines a series of reflections on the role of oversight in the continuing training of the psychoanalyst, and highlights humor and sexual tension as important elements for sustaining ambiguity, mobility and authorial inventiveness in the psychoanalytic clinic.

Keywords: psychoanalytic training; clinical oversight; humor; sexual tension

Résumé

À partir de l’exposition et de l’analyse de témoignages subjectifs d’un groupe de psychanalystes sur leur expérience de participation à un groupe de supervision clinique au sein d’un hôpital psychiatrique public, le texte esquisse une série de réflexions sur le rôle de la supervision dans la formation continue du psychanalyste, et met en évidence l’humour et la tension sexuelle comme des éléments importants pour maintenir l’ambiguïté, la mobilité et l’inventivité d’auteur dans la clinique psychanalytique.

Mots-clés formation psychanalytique; supervision clinique; humour; tension sexuelle

Partamos de um breve preâmbulo sobre a sala de ensaios. Na tradição teatral, este espaço tem algo de sagrado naquilo que carrega de mais profano. É dali, de onde se dá o encontro do grupo de artistas, que nascerá a obra. Um espaço de criação, portanto, mas também de repetição, de treino, de experimentação, de improviso, mais de uns ou mais de outros, a depender das peculiaridades de cada grupo e do tom da condução da figura do diretor de cena. O protagonismo dessa figura vem se deslocando, filosoficamente, entre centro e periferia ao longo da história das artes cênicas. Quando central, o diretor se posiciona como grande mestre do espetáculo, utilizando-se da sala de ensaio para realizar seu sonho próprio, uma obra já existente em seu imaginário. Neste caso, os atores trabalham quase como técnicos, e devem, com base no treinamento de seus corpos, dar vida a uma cena pré-determinada, fruto criativo de um único artista - em algumas eras, mensageiro de Deus, em outras, indivíduo virtuoso. Quando periférico, no outro extremo, os papéis se invertem. Ali, o diretor serve ao grupo de atores, contratado como uma espécie de gerente para a peça que surgirá da composição grupal, com base no jogo de experimentações e improvisações que se estabelece entre os atores-autores da companhia.

Saindo dos polos extremos, no encontro das águas, diretores e atores passam a trabalhar em reciprocidade como fomentadores criativos mútuos. Assim, entre campo de treinamento, em que a repetição conduz ao virtuosismo da execução, e templo de criação, em que o transe e a transa encontram o solo e o entorno para sua fertilidade, configura-se a potência da sala de ensaios. Um espaço-entre que poderia nos remeter também à ideia do ateliê, nas artes plásticas, ou do laboratório, na alquimia, ou ainda do estúdio, na fotografia, em que o que vai surgindo vai sendo aprimorado, não apenas pela via da repetição ou da prática, mas também pela observação, pela análise, pelo estudo e pelas transformações da obra em si.

Este texto, em tom ensaístico de múltiplas vozes, nasce de um esforço de observação e análise de uma determinada sala de ensaios, em que a transmissão da clínica é o objeto de experimentação. Com base nisso, tentaremos contribuir de algum modo com o pensamento sobre as práticas das supervisões e dos seminários clínicos em psicanálise. Nessa determinada sala a que nos referimos, ensaia-se o curso de aperfeiçoamento A Escuta do Paciente Psiquiátrico: Exercício Psicanalítico, promovido pela Escola de Educação Permanente do hc-fm-usp, e realizado pelo Núcleo de Psicanálise do Serviço de Psicoterapia do Instituto de Psiquiatria - um grupo de psicanalistas que se propõe a discutir e exercitar a escuta psicanalítica da subjetividade, num terreno psiquiátrico em meio à imensidão do maior complexo hospitalar público da América Latina. Ali, semanalmente, pequenos grupos se reúnem em seminários clínicos para atividades de supervisão dos casos atendidos, e para discussões sobre o fazer psicanalítico, suas práticas, teorias, e o vasto mar de vivências subjetivas inerentes a esse ofício.

O corpo discente é composto por participantes de diferentes faixas etárias, em distintos momentos de sua formação psicanalítica e de sua trajetória clínica, vindos de instituições diversas. Em acordo com a proposta freudiana de que a psicanálise se mantivesse “leiga”, ou seja, não restrita a médicos ou psicólogos, o curso recebe analistas oriundos de muitos campos profissionais, que se juntam ao grupo após passarem por entrevistas seletivas.

Trata-se de um grupo bastante heterogêneo, elemento que se mostrará importante na discussão da questão deste artigo, que despontou da seguinte maneira: há alguns anos, num dos encontros, ao depararmos com a fala de um dos integrantes, e compartilhada pelos demais, de que aquele grupo “funcionava”, prontamente nos questionamos, embalados por um devido estranhamento: o que seria “funcionar”, e o que faria “funcionar”?

Animados pela pergunta, nos propusemos a refletir a respeito das peculiaridades daquele trabalho e da dinâmica particular daquele grupo, evitando, desde o início, tanto a obtenção de verdades últimas ou o ditado de quaisquer tipos de recomendações universais, quanto à transformação da ideia numa espécie de autoelogio endógamo, caso nos distraíssemos da noção de que tal exercício só se validaria se, por fim, viesse a contribuir com a discussão de algo que nos ultrapassa, e que é tido como um dos pilares fundamentais da formação psicanalítica - a supervisão.

Fizemos assim: numa primeira etapa do trabalho, o coordenador propôs aos que assim desejassem que escrevessem suas reflexões sobre a experiência subjetiva de participação nos encontros. Começaríamos pela escuta de nossas próprias subjetividades para tentar responder à primeira questão (“o que seria funcionar?”) e, num segundo momento, com base na análise dos relatos, buscaríamos pistas dos elementos mais relevantes que poderiam responder à segunda pergunta (“o que faria funcionar?”). Assim, os trechos em itálico que permearão o texto daqui em diante transcrevem passagens dos relatos de dez participantes que aceitaram o jogo, dos quais sete - os supracitados colaboradores deste texto - contribuíram também com ricas reflexões subsequentes, substanciando a composição do presente trabalho.2

Primeira rodada

Para nos aproximarmos da primeira questão, “o que seria funcionar?’, talvez pudéssemos recorrer à sua invertida: o que seria ‘não funcionar’? Sobre isso, escreve um dos participantes:

Frequentemente, sinto que a transmissão da prática clínica é vivida no sentido mais controlador da palavra “supervisão”, como um ato de inspeção, verificação e observação, deixando pouco espaço para fragilidades e dúvidas, caminhando recorrentemente no sentido do que não se deve fazer (por mais que se assuma não haver um consenso em relação a isso). Como resultado, temos supervisionados culpados e inseguros, assombrados e paralisados pelos referenciais idealizados que construíram.

Nos grupos de supervisão, o problema parece mais acentuado. O medo de se expor para uma plateia de colegas profissionais como um mau analista ou como um indivíduo neurótico (no melhor dos casos) é comum e generalizado. São muitas placas e poucas estradas.

Mas pouco disso acontece na nossa supervisão às sextas-feiras. Sinto que há honestidade em compartilhar frustrações, inseguranças e sentimentos contratransferenciais. Há um acordo tácito, mas não opressor, de que é assim que deve ser feito, pois o grupo topou que assim fosse.

A base dos encontros é a discussão de casos atendidos pelos participantes. Em cada encontro, apresenta-se um caso, que pode ou não continuar sendo acompanhado pelo grupo nas semanas seguintes. A decisão é, habitualmente, guiada pelas demandas e desejos do analista que apresenta, e do grupo como um todo.

Para que o “acordo tácito não opressor” possa ser cumprido, há de se preparar um solo não persecutório, capaz de amortecer eventuais quedas, como o piso ideal para uma sala de dança, construído com certa elasticidade e com o coeficiente de atrito adequado. Em nosso caso, esse solo fica condicionado a uma certa reserva narcísica em constante estado de preservação entre os, e nos, integrantes, dispondo o grupo a algo de errático, a certa vulnerabilidade. Trabalhando nesse sentido, o coordenador aparece num papel de condutor que mais se aproxima ao de um iluminador cênico que, em vez de iluminar de longe, desde a cabine técnica, passa a iluminar de dentro da cena. Como num espetáculo em que o elenco vai improvisando em cena, enquanto o diretor, manejando um refletor, dirige o olhar do espectador conforme mais ou menos luz seja lançada sobre cada ação ou palavra dos atores.3 De modo equivalente, nas supervisões, com base na escuta das associações trazidas, mais ou menos luz é lançada sobre determinados pontos, de modo que nenhuma contribuição permaneça no escuro, mas que também o debate não se ofusque por eventuais excessos excitatórios, conforme o relato a seguir.

Quando o supervisor, em seu papel, não permite que o campo se sature, permite que surja a heterogeneidade do grupo, uma vez que cada um “recebe” a quantidade adequada de luz. Nota-se que até o supervisor toma cuidado para que ele mesmo não sature o campo, voltando muito da luz para si mesmo. Um maestro, para reger a orquestra, não precisa ser o melhor violinista. No final, é na garantia da heterogeneidade do grupo que o trabalho consegue ocorrer.

Parte-se da premissa de que tudo pode ser dito, mas não qualquer coisa (no sentido de que nada do que for dito será tratado como qualquer coisa), de modo que a ansiedade de desempenho dos participantes possa ser apaziguada, sem que cada um deixe de se implicar com o próprio comentário. Nada muito novo para o psicanalista habituado à associação livre e à escuta flutuante.

O que me espantou, desde o início, era como o grupo conseguia ser tão plural. Existe espaço para que cada um tenha seu próprio estilo, para que haja diferenças, mas sem nos perdermos nesse mar tão vasto, que às vezes nos engole e nos deixa sem direção. Obviamente, este é um equilíbrio instável, e por vezes nos vemos tentando voltar à linha comum, mas este é um esforço do grupo como um todo, e não somente do supervisor, ou de duas pessoas. Talvez por ter vindo da faculdade, eu estivesse acostumado com outro tipo de supervisão em grupo, onde o supervisor era bem mais “presente” e os alunos só escutavam. Acredito que não chegamos ao ponto dos papéis se inverterem, mas percebo uma flexibilidade. A supervisão está lá para te fazer pensar, e não para mandar você fazer.

Estimula-se a liberdade de transmissão do material clínico, que pode ser realizada de diferentes maneiras: desde aquelas mais habituais ao psicanalista - a fala livre, o relato de caso, a microscopia da sessão - até outras, importadas de outros campos, com as quais o grupo vai se instrumentalizando através de exercícios propostos pelo coordenador ou pelos próprios participantes - exercícios inspirados pelos jogos de improvisação cênica, pela escrita criativa, pela tradição performativa, entre tantas outras fontes que a cultura nos oferece.

Por exemplo, num determinado período, combinamos ficar um mês em torno de cada caso clínico, mas, antes de chegarmos à análise da sessão, ou até mesmo ao relato de caso nos moldes mais familiares, a proposta era nos aproximarmos primeiro do clima do caso, seus tons, suas paletas, sua coloratura, suas palavras-regentes, o que chamamos de “transmissão poiética”. Para tanto, cada analista buscava, em suas próprias associações, em seu campo onírico, figuras (visuais, sonoras, estáticas, dinâmicas) que fizessem o grupo mergulhar no universo particular da dupla analítica. Num desses encontros, certa vez, a analista trouxe uma espécie de bolsa mágica, de onde ia tirando pequenos objetos, miniaturas, brinquedos, com os quais transformou a mesa oval de tampo verde-água, em torno da qual nos reuníamos, numa espécie de grande caixa de areia (sandplay), construindo assim o cenário simbólico da terceira cena, aquela que ela habitava junto à sua paciente. Nesse evento, para além da análise dos elementos postos em cena, o grupo voltou sua atenção e curiosidade também para a ação cênica, da qual participavam tanto a analista e sua bolsa mágica, quanto o próprio grupo em contracena (ou, em nosso caso, em contratransferência).

Num outro exemplo, propôs-se que os casos fossem escritos, pelo analista, na voz do paciente em primeira pessoa, como numa escrita de autoficção - um exercício de explicitação da tensão entre os movimentos de imiscuição e separação entre os sujeitos do campo analítico. Nossa aposta era que, nesse estilo de escrita, o protagonista revelado seria, mais inescapavelmente do que nunca, o terceiro analítico.4 Mais uma vez, para além do conteúdo e da forma do texto produzido, o olhar do grupo voltou-se também para a experiência de escrita de cada integrante, seus pontos de facilitação e de dificuldade, seus entraves, e principalmente para os possíveis efeitos que as particularidades de cada situação clínica poderiam ter tido sobre tais pontos; ou, melhor dizendo, o que as inquietações (ou alívios) de cada experiência de transmissão poderiam nos dizer sobre a angústia clínica de cada analista, a cada caso apresentado.

Certamente, abordagens como essas pedem por relatos e discussões mais detalhados e aprofundados, que não caberiam neste contexto. Aqui, os breves exemplos nos servem para dizer do potencial de um espaço de supervisão, que vai muito além da elucidação das dúvidas de um analista sobre o manejo de um caso, ou de complexas teorizações, por mais imprescindíveis e valiosas que estas sejam para a cientificidade de nosso campo.

Não consegui escrever sobre o que faz, de nosso grupo, um grupo que funciona. Neste momento, me ocorre dividir apenas a minha fixação em buscar “respostas” na teoria. De alguma maneira, percebi que esta percepção, pelo reverso, sinaliza o que não ocorre em nossos encontros. A teoria, sempre presente, vem ao encontro, banha, ilumina, revela. Não se presta à paralisia e ao engessamento, como me aconteceu nesta experiência de escrita. Nos encontros presenciais, sinto um afrouxamento de minhas amarras e permito-me falar sobre o que não sei.

A palavra grega theoria - mais relacionada, antigamente, à contemplação, observação e reflexão do que à produção - aproxima-se mais da prática analítica do que seu conceito pós-moderno, muitas vezes íntimo demais das noções de aplicabilidade, demonstração e reprodução das ciências experimentais. A teoria psicanalítica, quando encarada como fonte inesgotável e incompleta de modelos fictícios que tentam dar conta do que chamamos de psiquismo, adquire um caráter que oscila entre o artístico, o filosófico, o político e o científico, motivo pelo qual tão bem dialoga com outros campos culturais. Sabemos que o exercício analítico, mesmo não se propondo a sínteses que reduzam as experiências psíquicas a pré-determinados conceitos, possibilita que o sujeito em análise reforme (dê novas formas a) seu sintoma, em direção à emancipação, pela via associativa. Algo próximo daquilo que Freud chamou de “construção em análise” (1937/1975).

Por vezes vou embora com um emaranhado de sentimentos e sem entender nada do que se passou. Outras vezes, um colega, em sua generosidade, fala sobre teoria, organiza, dá um contorno para tudo o que foi dito. Outras vezes ainda, juntamos teoria, prática e experiências pessoais, encarnando o próprio tripé proposto pela psicanálise.

Segunda rodada

Partimos agora para a segunda questão: o que faria o grupo “funcionar”? O que haveria em comum, diante de tamanha heterogeneidade, e para além do “acordo tácito”, que fosse capaz de “formar um grupo”, de possibilitar “o encontro”? Discutiremos estas aspas mais adiante. Primeiramente, pensamos numa hipótese que punha o ponto comum justamente na experiência de atendimento numa mesma instituição, no caso, o serviço de psicoterapia de um hospital psiquiátrico público.

Escolher estar neste grupo do hc é escolher praticar uma espécie de “psicanálise a céu aberto”.5 É um espaço menos protegido, mais vulnerável, o que não significa falta de contenção e de elaboração, mas sim um exercício de abandonar e de realizar o luto das redes de proteção automáticas e confortáveis que comumente nos estendemos quando aterrorizados pelos mistérios da prática analítica.

Os atendimentos no Serviço de Psicoterapia têm algumas particularidades. O clássico setting da sala de análise dá espaço a constantes trocas e “invasões” de salas, tumultos esporádicos nos corredores, atravessamentos transferenciais (afetivos) e atuações das secretárias, transferências institucionais mais ou menos maciças com o Hospital das Clínicas e/ou com o ipq, pacientes polimedicados e polidiagnosticados que há anos transitam entre os mais diversos ambulatórios e enfermarias do Instituto, televisores na entrada do prédio que ensinam e alertam sobre os sintomas dos principais diagnósticos psiquiátricos, dinâmicas de sala de espera, entre outros. As cores das supervisões acompanham, portanto, essa paleta trans, meio furta-cor, exigente de uma disponibilidade sensível ao improviso.

A palavra “improviso” é muitas vezes associada a displicência, ou a uma espécie de truque; algo realizado “no susto”, como se diz. Mas tanto os truques quanto os improvisos requerem uma técnica de base para que algo frutífero possa sair do “susto”. Na cena teatral, essa técnica apoia-se sobre um fundamento principal que é a disponibilidade daquele que improvisa àquilo que surgir do jogo, ao que vem do outro jogador, ao desconhecido que está sempre por vir. A questão que ronda é “quem é esse que entra na cena e quem sou eu para ele? E o que fazemos aqui?” Não é esta a questão do analista ao abrir a porta para seu analisando a cada sessão? Bem embasado pelo método, o artista pode esquecer-se da técnica e criar. Podemos pensar que o improviso está, portanto, na base de toda atividade criativa, até mesmo a psicanálise. Técnica e método, vistos por esse ângulo, configuram-se como uma boa rede de proteção, ao passo que, quando utilizados como defesa, tornam-se rede de armadilha; maneirismos, cacoetes.

São muitas as armadilhas dispostas para um psicanalista perante os sustos. Um diagnóstico psiquiátrico, por exemplo, pode assustar, sendo capaz de saturar todo o campo da subjetividade. Nesses casos, o analista, narcisicamente ameaçado em sua função, tende a perder a afinação de seu instrumento de escuta. Notamos no grupo uma certa solidariedade nesse sentido: o atendimento de pacientes ditos “psiquiátricos”, cujas identidades, pela nosografia, revestem-se como um frágil invólucro - o “bipolar”, o borderline”, o “melancólico”.

Nesse sentido, parece haver também uma espécie de encontro político como forte elemento de ligação do grupo, uma “resistência psicanalítica emancipatória” em oposição a posicionamentos normativos, opressores ou higienistas, que tingem a história da psiquiatria e da psicanálise, e que continuam ditando muitas das ações de promoção da dita “saúde mental”. Tal resistência vê no sofrimento psíquico um modo mais ou menos precário de existência para o sujeito, e aposta na prática psicanalítica como um método de cura capaz de elevar o sintoma à sua potência criativa e de emancipar o sujeito através de seus próprios trilhos de subjetivação, em contraponto à insistência em adequar o indivíduo à mesma ordem “saudável” que o faz miserável.

Apesar da pertinência dos supostos pontos de confluência levantados até aqui, outros, talvez mais idiossincráticos, manifestaram-se nos relatos do exercício proposto ao nosso pequeno grupo como elementos possíveis para a elucidação de nossa segunda pergunta. Desses, destacaremos dois: o humor e o tesão.

Tesão

Sobre o termo científico “libido”, Freud acrescenta, em 1910, uma nota de rodapé aos “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” (1905/2016), que diz o seguinte: “A única palavra equivalente em alemão, Lust, é ambígua, infelizmente, pois designa tanto a sensação da necessidade como da satisfação” (Freud, 1905/2016, p. 20).

Freud tentava pensar em uma palavra da linguagem corrente alemã que fosse análoga a fome, mas naquilo que tangia ao dito “instinto sexual” - vontade de sexo. A palavra Lust, realmente, remete tanto a apetite, vontade, desejo - ligadas à “sensação da necessidade” - quanto a gozo, prazer, gosto - ligadas às sensações de satisfação. Naquele momento, Freud ocupava-se de uma questão econômica, pensando que a necessidade sexual estaria relacionada a um acúmulo excitatório (acúmulo de libido) e que sua satisfação se daria por meio de uma descarga - daí seu incômodo com a ambiguidade de Lust, e sua escolha do termo libido. Mais adiante em sua obra, perante a complexidade da segunda teoria pulsional, o autor passará a considerar a possibilidade de satisfação no próprio desprazer, um gozo na excitação, e não apenas na resolução desta, de modo que a ambiguidade da palavra Lust volta a nos ser muito interessante nesta discussão.

No coloquialismo brasileiro, a palavra “tesão” se aproximaria daquilo que Freud buscava na linguagem popular, para não precisar recorrer a um termo científico (libido) para construir sua metapsicologia. Tesão é o estado daquilo que está teso, tenso, estirado, como um acorde dissonante que aguarda sua resolução. Tesão é a excitação sexual, um estado de conflito, capaz de gerar movimento, seja no âmbito psíquico (alucinação, sonho, sintoma), seja no mundo (ação, transformação).

Se, popularmente, o tesão é aquilo que tem como alvo o sexo (no sentido de uma satisfação pela via da relação sexual), aqui pensaremos o sexo em seu sentido de secção, de corte, de divergência; ou seja, uma não-relação sexual, um desencaixe, um desencontro.6 Por esse prisma, sexo é aquilo causa a tensão, e não sua satisfação; a não ser que possa haver gozo no próprio tesão, satisfação na própria tensão (Martins, 2021).

A ideia de uma não-relação desloca a noção do “terceiro analítico” (em sua positividade) a uma posição de negatividade, a um “menos-um analítico” - cadeira vazia que pode vir a ser ocupada e desocupada, conforme ditar o transmorfismo da cena sexual analítica (nesse aspecto, indistinguível da cena de um espaço de supervisão). Para Lacan (1962-1963/2005), “desejo do analista” é a função que sustenta o analista em sua prática, desejo de ser e se manter reconhecido como psicanalista. Desejo que tem na negatividade desse espaço aberto (espaço-outro) sua condição de existência, e na angústia do analista sua forma mais habitual de apresentação, demandando da sala de ensaios que ela tanto inquiete (sexualize) quanto acolha, numa mesma ação específica.

Prevalece a troca, a criatividade, o aprofundamento e o respeito por uma maneira própria de trabalhar, que não seja formatada. Penso que essa supervisão tem estimulado a construção de uma identidade própria de trabalho e tem possibilitado que, mesmo ao longo de tantos desencontros, alguns encontros sejam possíveis.

Sobre a ideia de uma identidade grupal, recorremos ao “Psicologia das massas e análise do eu” (1921/2011), texto em que Freud destaca o erotismo como elemento central para a formação da massa. Para o autor, um grupo eroticamente unido está propenso a inibições de pensamento e torna-se altamente sugestionável, tendendo a acordos e resistindo a oposições, por amor ao próprio grupo. Qual seria, então, a justa medida afetiva que permite a “formação” grupal, a preparação do solo que mencionamos acima, sem que se organize uma massa com ares de seita religiosa, altamente nociva ao exercício da alteridade, intrínseco ao fazer analítico e à prática de supervisão?

Porto (2015) discute a supervisão como um ato político de amizade, em seu sentido filosófico. Apoiado por noções de Agamben e Derrida, o autor encara a amizade como um “vínculo privilegiado de abertura à alteridade, permitindo a um amigo afetar o outro e por este ser afetado” (Porto, 2015, p. 50). Para tanto, sublinha uma necessária assimetria, “uma intimidade sem intimidade”, para que haja de fato a livre expressão de diferentes opiniões.

Retomando o texto freudiano, poderíamos entender essa assimetria como resultado da sexualização da libido. Para Freud, o amor formador das massas seria uma libido sexualmente inibida na meta (dessexualizada), ou seja, indisponível ao des-encontro com o outro propriamente dito (indisponível à sexão, à não-relação) e narcisicamente alimentada pelo encontro repetitivo com ele, com o igual.

Há sempre muito respeito ao escutar o colega, muita delicadeza ao dizer sobre o colega que fala e sobre o paciente de quem se fala. O respeito que está sempre presente nesse grupo é algo que impressiona diante do mundo da psicanálise, muitas vezes tão narcísico.

A sustentação das divergências, que difere da tendência ao consenso das massas manipuláveis, é capaz de criar um espaço criativo que muito se aproxima daquilo que Foucault (1967/2013) denominou de heterotopias.

Heterotopias seriam “espaços absolutamente outros”, diferentes, construções humanas que abrigam vivências que não caberiam nas zonas ordinárias da vida pública ou privada. Prisões, asilos, jardins, cemitérios, museus, teatros, prostíbulos, navios em alto-mar, ou a grande cama dos pais, que é também oceano quando se nada entre as cobertas, céu quando se pula sobre as molas, floresta quando nela se esconde, “é a noite, pois ali se pode virar fantasma entre os lençóis; é, enfim, o prazer, pois, no retorno dos pais, se será punido” (Foucault, 1967/2013, p. 20). Para o autor, quando crianças não têm uma cama para brincar, “seus sonhos se desvanecem, a espionagem substitui a aventura, e a truculência dos policiais, a beleza ensolarada dos corsários” (p. 30).

O espaço assim dito, heterotópico, torna-se essencial para acolher as angústias, medos e sofrimentos do analista, para que se possa falar de tudo - mas não qualquer coisa -, para que se possa questionar o que parece óbvio, para que se possa cair no vão do absurdo e rir disso. Um espaço que convoca seus participantes a um intenso e constante trabalho psíquico.

Nossos encontros me (anima)m. Ocorreu-me um aspecto instigante de nosso grupo. A criatividade da fala. Nosso crochê coletivo. A habilidade do artesão no uso da agulha e a generosidade plástica das diferentes linhas que se deixam tecer, proporcionando a tensão exata para cada ponto compor o nosso trançado. Começo a perceber como, nesse processo artesanal, arte e técnica contribuem para essa experiência singular de supervisão.

Ao nos debruçarmos sobre os relatos do grupo, o que primeiro apareceu, genericamente, como um compartilhado “tesão pela psicanálise” mostrou-se depois um tesão proveniente do não-saber, das próprias ambiguidades que entravam em cena ao longo dos seminários, demandando do grupo uma capacidade criativa de sustentação do conflito, para a qual se mostrou imprescindível a possibilidade de haver prazer no tesão, e não apenas em sua descarga. E é nesse ponto articular que o humor sobe ao palco.

Humor

Freud aborda o humor como uma coragem de rir, ou de fazer rir, diante de circunstâncias trágicas capazes de provocar sofrimentos intensos. Sua essência consistiria em aliviar o sujeito dos efeitos que tal situação teria provocado, não fosse o humor. Um ato de palavra, com aspecto autoral, sendo o oposto do ressentimento diante dos fracassos (narcísicos) do Eu perante sua falha trágica, implicando o sujeito naquilo que aparece como seu destino, mas simultaneamente o afastando daquilo (do próprio destino) que aparentemente poderia aniquilá-lo. Para ficarmos num exemplo bem cru, um condenado que está sendo levado à forca numa segunda-feira diz: “É, a semana começa bem” (Freud, 1927/2014, p. 323). Rir para não chorar.

A condição para o humor é que o Supereu não leve tão a sério o narcisismo do Eu e que o Eu abandone seu compromisso de submissão às exigências (idealizadas) do Supereu - por reconhecer a falta, pode-se não apenas perdoar os fracassos, mas também não se “deixar levar pelo instaurado (tornando-se sua mera extensão), desviando-se dele (fazendo renascer o desejo)” (Reino, 2019). Esse drible mostra-se fundamental à relação entre humor e tesão no contexto de nosso trabalho. Aqui, o humor é o sexo.

É no texto “O humor” (1927/2014) que Freud ressalta uma função importante do Supereu, geralmente escondida por trás do usual papel de “senhor severo”, que se refere à sua capacidade de consolar e proteger o Eu dos sofrimentos da vida. Freud vê o humor como um dom valioso e raro, que revela para o sujeito sua capacidade de cuidar de si próprio.

Se o sujeito da psicanálise é um sujeito dividido, ele também é capaz de responder com base em sua própria divisão. Kehl (2002) destaca o humor e a poesia como formações disponíveis na linguagem das quais podemos nos servir para enfrentar o sofrimento psíquico. O humor permite que o mundo seja encarado como uma brincadeira de criança, porque os homens, afinal, não sabem exatamente o que fazem.

Herrmann atribui ao tempo da comédia o tempo por excelência da técnica psicanalítica… A comédia de erros, na qual se ouve algo, que se entende mal e se replica pior, pois o outro escuta errado aquilo ao que, erradamente, respondemos. Com isso, como em Aristófanes e Molière, acerta-se em cheio depois de dois enganos (Herrmann, 2015, p. 409).

Não há melhor descrição do modo como trabalhamos com base na falha.

Haveríamos de diferenciar o chiste, o cômico e o humor, como propõe Freud em “O chiste e sua relação com o inconsciente” (1905/2017), mas tal tarefa não nos caberá aqui. Talvez não seja mera coincidência que o livro sobre os ditos espirituosos e engraçados e o livro sobre a teoria sexual tenham sido publicados por Freud no mesmo ano. O ponto que nos interessa aqui é que tanto o chiste quanto o cômico e o humor reinscrevem o sujeito no circuito do tesão, liberando o prazer através de um desvio, de um corte, de uma sexualização - seja da palavra encarcerada simbolicamente numa única significação, seja do imaginário fantasmaticamente superinvestido, seja do emocional condenado à forca melodramática.

Talvez caiba aqui um breve exemplo clínico. Uma paciente é assombrada pela ideia de suicidar-se com uma corda no pescoço, deixando a analista angustiada e preocupada. Em supervisão, o grupo transmuta “a corda” em “acorda!”, e depois a associa à corda do violão, instrumento que a paciente tocava com enorme habilidade, marcando a inibição de seu desejo de prosperar na carreira musical, perante um sentimento de culpa diante das falências dos pais. Desse modo, driblam-se com humor (que nem sempre está relacionado ao riso) os destinos da palavra (corda), da imagem (da enforcada) e da emoção da analista (a preocupação com a morte da paciente torna-se um voto de fé em seu futuro - “Acorda! Vai tocar seu violão”). Tesão restaurado.

Zupančič (2008) nos propõe que a comédia faz a falha, ao mesmo tempo em que vem desta falha, e a ela responde, dando corpo ao que seria impronunciável, ao mistério infinito da outra cena (o Inconsciente). Como faz isso? Jogando com a aparência e a verdade, superfície e profundeza, ligando-as num determinado ponto, ao surpreender-nos com a ausência de surpresas. O que tem por baixo da calça do palhaço? Uma cueca ridícula, ou, no máximo, uma bunda. O que tem dentro do armário? Um amante. É aí que se dá o cômico. O destino de Othello só é uma tragédia, porque, convencido de que há um amante atrás da cortina, lá ele encontra a si mesmo como sujeito, com o infinito de sua própria paixão, que acaba por derrubá-lo. “Por outro lado, o que a comédia põe no lugar desta paixão infinita é um objeto finito, trivial: ao invés da negatividade abissal do sujeito, ela coloca lá seu outro lado, ‘objetivo’, objetificado” (Zupančič, 2008, p. 210).

Assim, sexualmente, tesão e humor vão se articulando e desarticulando nesse encontro de desencontros que faz o grupo “funcionar”.

Saideira

Boas ideias surgem dos banquetes dionisíacos e das mesas de bar. Um simpósio, na antiga Grécia, era uma festa profana, em que mais se bebia do que se comia; palavra que dá título ao famoso livro de Platão, traduzido como O banquete (Sympósion), no qual um comediógrafo (Aristófanes) descreve, em seu discurso, o Mito do Andrógino, como origem da incessante busca amorosa. Não à toa, o mito da origem do tesão foi posto, por Platão, na voz de um autor cômico.

Daí a necessidade das aspas nas palavras “funcionar”, “encontro”, “acordo”, “formar o grupo” - palavras que nos remetem à ideia de unidades sistêmicas, de organismos harmônicos, própria às noções de funcionalismo ou de funcionalidade. As aspas trazem uma certa comicidade aos significados, abrindo outros espaços, heterotópicos, de significação. O encontro é um desencontro, não há acordos firmados, o grupo nunca se forma, e não pode funcionar, uma vez que conta com a falha para que funcione. Ora, percebemos as múltiplas vezes que palavras como “diversidade”, “diferenças”, “divergência”, “alteridade” e “heterogeneidade” mostraram-se de suma importância qualitativa para os elementos que avaliamos como responsáveis pela percepção do “funcionamento” do grupo.

Em nossa sala de ensaios, nos empenhamos por sagrar a profanidade poética das atividades que nela acontecem, traçando as bordas do campo científico da psicanálise em suas especificidades metodológicas, que não deveriam distanciar-se muito do “Lust” que a fundou.

O respeito pela diversidade e as tentativas de fomento e de sustentação desta como fator de fertilidade para as discussões geram um efeito indubitavelmente criativo e transformador. Um efeito cômico e sexual, logo, essencialmente psicanalítico. Assim, a ideia de transmissão da psicanálise torna-se uma missão-trans, missão de manter o movimento em movimento.

Apesar de ser um grupo de supervisão - discussão clínica que se organiza pela fala e pelas palavras -, a comunicação que acontece para além das palavras está sempre presente, assim como em uma sessão de análise. Falar sobre as risadas aparentemente sem sentido, sobre o silêncio que toma conta por alguns bons instantes, sobre a falta de palavras para se expressar sobre algum caso, sobre um aparente estado confusional que predomina ao final do tempo de supervisão no relógio, tudo isso pode funcionar como uma vivência prática do que acontece no contato com o outro, seja o outro um paciente ou não. Vivemos ali, juntos, para poder também viver fora, com outros.

2 Expresso aqui minha especial gratidão a cada um destes colegas e a todos que já passaram pela sala, pela roda, e que tanto contribuíram com o desenvolvimento desse grupo e de seu coordenador, em todas as suas configurações e versões. Ao colega Ataualpa Catalan, portador da fagulha inicial dos trabalhos, há nove anos, e ainda hoje fomentador da fornalha, minha homenagem.

3 Referência à peça teatral Amor de improviso (2005), do Grupo Elevador, dirigida por Marcelo Lazaratto.

4 Thomas Ogden chama de “terceiro analítico” a metáfora de uma terceira mente, criada no encontro dialético entre analista e analisando, irredutível à soma de duas mentes. Para o autor, “a dialética é um processo no qual elementos opostos se criam, preservam e negam um ao outro, cada um em relação dinâmica e sempre mutativa com o outro. O movimento dialético tende para integrações que nunca se realizam por completo” (Ogden, 1996, p. 12).

5 Termo cunhado num projeto homônimo, da Diretoria de Cultura e Comunidade da Fepal (2014-2016): um fórum online que discutiu a clínica psicanalítica extensa, para além do consultório privado, e a questão da acessibilidade à psicanálise, com participação de analistas de toda a América Latina. O projeto foi coordenado pelo autor, em parceria com Rodrigo Lage Leite, e dirigido por Magda Khouri e Oswaldo Ferreira Leite Netto.

6 De acordo com o conhecido aforismo lacaniano “il n’y a pas de rapport sexuel” (não existe relação sexual).

Referências

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Zupančič, A. (2008). The odd one in: on comedy. mit. [ Links ]

Recebido: 08 de Agosto de 2022; Aceito: 18 de Outubro de 2022

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