SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.49 número3Re-escutando a dupla analíticaHip hoppers: os manos na cultura índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

artigo

Indicadores

Compartilhar


Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.49 no.3 São Paulo jul./set. 2015

 

DIÁLOGO

 

Unindo-se à família humana1,2

 

Joining the human family

 

Uniéndose a la familia humana

 

 

Maria RhodeI; Tradução Tania Mara Zalcberg

IDepartment of Children & Families, Tavistock & Portman nhs Foundation Trust

Correspondência

 

 


RESUMO

Discutem-se os fenômenos de imitação neonatal e de imitação recíproca mãe e bebê para a promoção de sintonia em relação ao senso de self em desenvolvimento e à vivência de pertencimento do bebê. Formulam-se vínculos com o conceito psicanalítico de identificação primária, bem como com as teorias psicanalíticas de espelhamento, imitação e identificação introjetiva. Propõe-se que essa imitação evolutiva [developmental imitation] pressupõe o equilíbrio entre a posição do bebê real e a de suposto ocupante interno da mãe. Considera-se que esse equilíbrio forneça o alicerce para a identificação projetiva e a assimilação da experiência, conduzindo ao enriquecimento do senso de identidade. Em contraposição, pode ocorrer a identificação adesiva ou a identificação projetiva na imitação que envolve mimetização. Ilustram-se essas hipóteses com material proveniente de observações de bebê e do tratamento de duas crianças do espectro autístico.

Palavras-chave: autismo; contato visual; imitação; interiorização; espelhamento; identificação primária; senso de self.


ABSTRACT

The phenomena of neonatal imitation and of mutual imitation by mother and baby in the service of attunement are discussed in relation to the infant's developing sense of self and experience of belonging. Links are proposed to the psychoanalytic concept of primary identification, as well as to psychoanalytic theories of mirroring, imitation and introjective identification. It is suggested that developmental imitation presupposes a balance between the position of the actual baby and that of the mother's supposed internal occupant. This balance is seen as underlying introjective identification and the assimilation of experience, leading to an enriched sense of identity. In contrast, in the kind of imitation involving mimicry, adhesive or projective identification may be operative. These hypotheses are illustrated with material from infant observation and from the treatment of two children on the autistic spectrum.

Keywords: autism; eye contact; imitation; internalization; mirroring; primary identification; sense of self.


RESUMEN

Se discuten los fenómenos de imitación neonatal y de imitación recíproca madre y bebé para promover la sintonía en relación al sentido del self en el desarrollo y la vivencia de pertenencia del bebé. Se formulan vínculos con el concepto psicoanalítico de identificación primaria, así como con las teorías psicoanalíticas de reflejo, imitación e identificación introyectiva. Se propone que esta imitación evolutiva [developmental imitation] presupone el equilibrio entre la posición del bebé real y la de supuesto ocupante interno de la madre. Se considera que este equilibrio ofrece la base para la identificación proyectiva y la asimilación de la experiencia, llevando al enriquecimiento del sentido de identidad. En contrapartida, puede ocurrir la identificación adhesiva o la identificación proyectiva en la imitación que involucra la mimetización. Se ilustran estas hipótesis con material proveniente de observaciones de bebé y del tratamiento de dos niños del espectro autístico.

Palabras clave: autismo; contacto visual; imitación; interiorización; reflejo; identificación primaria; sentido de self.


 

 

O trabalho psicanalítico com crianças do espectro autístico esclarece diversas questões de importância básica, mas talvez a mais fundamental diga respeito aos processos implícitos ao fato de ser bem recebido na família humana. Estudos de desenvolvimento e de observação realizados nos últimos vinte e cinco anos enriqueceram imensamente nossa compreensão acerca do que são capazes os bebês bem pequenos, em termos de relações sociais. Em psicanálise, como sempre, o estudo clínico do que acontece quando há problemas - e especialmente do que acontece quando esses problemas começam a ser superados - possibilita acrescentar certos detalhes que a natureza não problemática dos processos normais de desenvolvimento pode aparentemente obscurecer.

Psicanalistas e pesquisadores do desenvolvimento concordam que a personalidade se desenvolve no contexto das relações com outras pessoas, e psicanalistas, bem como pesquisadores do desenvolvimento, escrevem a respeito de como essas experiências são interiorizadas e contribuem para o desenvolvimento do senso de self. Neste artigo, pretendo enfocar a importância de um tipo especial de imitação que pressupõe (e, por sua vez, reforça) o senso de ser um ser humano igual a outros seres humanos.

Certos tipos de imitação são essenciais para o desenvolvimento e o aprendizado. Outros podem servir para obscurecer a diferença entre o self e o outro, de tal maneira que a criança pode falar habitualmente, por exemplo, com voz de adulto e não com a sua própria. Esse tipo de imitação tem sido muito mais investigado por psicanalistas: as crianças tendem a recorrer a ele quando seu senso de self é frágil. Contudo, em prazo mais longo, isso perpetua a fragilidade, já que crianças que habitualmente toldam a distinção entre si e seu entorno serão menos capazes de se beneficiar de quaisquer oportunidades de relações mútuas e do aprendizado que seu ambiente lhes possa proporcionar.

O outro tipo de imitação - o tipo que ocorre no contexto da relação recíproca - pode ser observado em bebês recém-nascidos, ainda que suas características mudem com o tempo. Esse tipo de imitação tem sido amplamente estudado por pesquisadores do desenvolvimento: é um dos canais por meio dos quais ocorre a comunicação e se partilham os sentimentos. Essa imitação contribui indubitavelmente para o desenvolvimento da personalidade. Entre os psicanalistas, Gaddini e Sandler sugeriram que esse processo desempenha um papel importante nas relações humanas, e Sandler o equiparou ao conceito de identificação primária, de Freud, em um de seus usos, isto é, o processo identificatório inicial e imediato.

Essa sugestão parece especialmente valiosa, pois fornece contexto psicanalítico para um fenômeno obviamente fundamental do desenvolvimento, mas que, em grande medida, permaneceu sem ser teorizado por psicanalistas e psicoterapeutas. A psicoterapia com crianças do espectro autístico possibilita investigar algumas das suas facetas emocionais. Essas crianças tendem a não imitar os outros com a ime-diatez característica de outras crianças; a evitação do contato visual é bem conhecida. Muitos relatos em primeira pessoa realçam a vivência de se sentir diferente, de não se sentir pertencente ao mundo das outras pessoas. Eventos de desenvolvimento parecem não ter alimentado o senso estável de self, e a capacidade de receber a experiência parece ter ficado afetada. Pais e professores, bem como terapeutas, sabem que a criança pode mostrar capacidades em um contexto específico e não em outros e que, na realidade, muitos níveis de desenvolvimento parecem coexistir numa espécie de colcha de retalhos desconcertante.

Neste artigo, discutirei material clínico do tratamento de duas crianças do espectro autístico em termos dos fatores que sustentam o surgimento do seu senso de self e de compartilhar a condição humana. Não é de surpreender que o modo como elas interpretam o contato visual seja de importância fundamental. Winnicott (1967/1971) afirmou que o senso mais profundo do que somos resulta do reflexo de nós mesmos que vemos no rosto da nossa mãe, enquanto Klein (1961/1975) documentou a maneira pela qual as crianças podem personificar aspectos do caráter e do comportamento da mãe - uma espécie de mundo de conto de fadas em que ela pode ser vivenciada literalmente como uma residência com muitos palácios, cada um deles com um ocupante particular que se manifesta de jeito característico. Muitos fatores, inclusive a dotação neurológica e sensorial, entrarão no modo pelo qual a criança com autismo pode se relacionar com o mundo e com as outras pessoas. No entanto, sugerirei que, como outras crianças, elas interpretam sua relação com o mundo em termos de fantasias a respeito da natureza de uma família interna, que se supõe que a mãe interna contenha e que se sente que se manifesta na personalidade e comportamento da mãe. Mais especificamente, argumentarei que a criança precisa se sentir em equilíbrio com essa família, não a ofuscando nem sendo ofuscada por ela, para se sentir como ser humano entre outros seres humanos e para ser capaz de crescer por meio da interiorização de relações.

Olga Maratos foi quem desbravou o estudo da imitação em seus primórdios, em 1973 (cf. Nadel & Butterworth, 1999). Hoje sabemos que bebês ativos, em situação segura, imitarão a protrusão da língua de um estranho já aos quarenta e cinco minutos após o nascimento, isto é, num momento em que é possível excluir qualquer influência da aprendizagem (Kugiu-mutzakis, 1988). A qualidade da imitação evolui no decorrer do primeiro ano de vida, tanto no que diz respeito a ações que provocam imitação quanto a respeito da deliberação com que os bebês observam o adulto que serve de modelo para a ação e perseveram, de forma intencional, na tentativa de reproduzir. Em contraposição, a imitação em seus primórdios tem uma qualidade que surge tanto como instintiva quanto a serviço da relação. Vale a pena ressaltar que essa ação em que o adulto serve de modelo nesse estudo - protrusão da língua - está dentro do repertório comportamental do recém-nascido. Com certeza, teria de ser assim para produzir o comportamento imitativo, mas também está implícito que o adulto se oferece, por assim dizer, como interlocutor que fala a língua gestual do bebê.

Pesquisadores do desenvolvimento (Trevarthen, 1979, 1998; Beebe, 2006) fizeram gravações em vídeo de mães e bebês pequenos interagindo face a face nas quais é fácil ver que a imitação recíproca pode ser usada para partilhar sentimentos. Algumas são imitações no sentido estrito: mãe e bebê reproduzem as expressões, gestos e vocalizações um do outro. Às vezes, está envolvida a reprodução, de outro modo sensorial, dos "contornos de vitalidade" um do outro, para usar a frase de Daniel Stern (1985). O bebê movimenta braços e pernas no ritmo da fala da mãe, ou a mãe usa sua voz para refletir o ritmo dos movimentos do bebê ou assente com a cabeça no tempo das vocalizações dele. Darei dois exemplos de relatos de observação de bebê que mostram esses processos em ação num ambiente natural. A primeira observação (de uma colega) é do Bebê Jack, de duas semanas, o mais novo de quatro filhos, cuja mãe estava visivelmente à vontade, relaxada e atenciosa.

Ela o segurava no colo, dando-lhe tapinhas nas costas, olhando-o no rosto, conversando com ele suavemente nos intervalos da conversa com a observadora. A observadora notou que, já nessa idade bem precoce, Jack parecia controlar a cabeça, que não baqueava quando a mãe não a apoiava. Ao trocar a fralda, ele fixou os olhos um pouco inexpressivos no teto, mas encontrou o olhar da observadora, quase por acaso, quando movimentou a cabeça, e fixou seus olhos diretamente nos olhos dela. Quando a mãe falou, ele moveu a cabeça em direção à voz dela até seus olhos encontrarem os dela. Depois, a mãe moveu seus dedos ritmicamente em volta da palma da mão de Jack, e a observadora notou que Jack movia seus dedos, no mesmo ritmo, em volta do polegar da mãe. De fato, as mãos dele eram muito expressivas: ele agarrava seu polegar com os dedos da mesma mão enquanto tentava trazê-los até sua boca, como se encenasse a constelação desejada de um formato de boca circundando um formato de mamilo. Noutro momento, ele curvou os quatro dedos para dentro da palma da mão e moveu seu polegar para frente e para trás ao longo da linha da frente das articulações, como se seu polegar fosse semelhante ao seu olhar se movimentando pelo rosto da mãe ou pela linha de nuvens cujo movimento ele observara atentamente através da janela.

Jack é um bebê que tem uma relação amorosa com sua mãe, e cuja integração corporal, capacidade de contato visual e interesse no que o rodeia estão bem desenvolvidos. Essa observação de um bebê de duas semanas virando a cabeça em direção à voz da mãe ilustra a integração de diferentes canais sensoriais.3 Como outros bebês observados em ambiente natural (Bick, 1964; M. Haag, 2002), Jack parece usar as mãos para incorporar aspectos fundamentais da sua relação com a mãe, tal como quando seus dedos circundam seu polegar. Finalmente, nós o vimos adotar, do mesmo modo tátil, o ritmo em que sua mãe movia os dedos em torno da palma da mão dele. Esse não parece o tipo de imitação que tem o objetivo de assumir as qualidades da outra pessoa: parece um exemplo de imitação cooperativa a serviço da comunicação e da sintonia.

A observação do Bebê Daniel (Barker, 2002) ilustra como esse processo se aproxima de algo que se assemelha a identificação:

Quando o Bebê Daniel foi observado pela primeira vez, com três semanas, estava deitado no colo da mãe ao final da amamentação. Seus olhos estavam fechados, e ele mantinha o mamilo na boca sem sugar. O observador notou uma atmosfera calma, harmoniosa, música clássica ambiente. E então a música, serena e calma, mudou para um vigoroso solo de piano. Sem abrir os olhos, Daniel começou a sugar de forma igualmente vigorosa, com movimentos rítmicos da cabeça. A mãe tirou-o do seio inserindo o dedo na boca dele: ele sugou energicamente, movimentou braços e pernas, e vocalizou.

É cabível formular a hipótese de que Daniel reagiu à vitalidade rítmica do ambiente como se fosse uma característica da sua mãe, e que o seu sugar ritmado se assemelhou à adoção de Jack dos ritmos táteis da mãe, ainda que a resposta de Daniel fosse de tipo sensorial diferente. Quero ressaltar especialmente que, ao sugar o dedo da mãe, Daniel produziu suas próprias vocalizações rítmicas como acompanhamento musical. Em observações posteriores, ele continuou a vocalizar acompanhando o seu sugar, fosse o seio, fosse sua mão. Noutras palavras, podemos testemunhar como o tipo de imitação evolutiva, cooperativa, carregada emocionalmente - transmodal nesse caso específico - leva a um processo segundo o qual Daniel continua a produzir suas próprias vocalizações para acompanhar sua sucção, mesmo quando não há música tocando: um processo que me parece identificação projetiva verdadeira - em que o self se enriquece por meio da interiorização da experiência -, em lugar de imitação mimética superficial e transitória. Curiosamente, Hobson e Lee (1999) mostraram, de forma experimental, que crianças com autismo eram capazes de imitação mecânica de uma ação, mas não de identificação com o estilo de um adulto.

Até onde estou ciente, as únicas tentativas de teorizar esse tipo de imitação evolutiva na literatura psicanalítica são de Eugenio Gaddini e de Joseph Sandler. Gaddini (1969) propôs que a imitação do início do primeiro ano de vida evolui para identificação. No entanto, não explicitou como isso ocorria, e os exemplos clínicos eram, na verdade, de pacientes que usavam a imitação para obscurecer a distinção entre self e outro, e não em prol do desenvolvimento.

Sandler (1973) vinculou o tipo de imitação reflexa empática, que conservamos enquanto adultos, ao conceito freudiano de identificação primária. Historicamente, esse conceito foi usado de duas maneiras. Por um lado, assinala o tipo de identificação em que o limite entre self e outro fica obscurecido, e os freudianos contemporâneos ainda o usam nesse sentido.4 Contudo, Freud também usou o termo identificação primária para dizer primária no sentido de primitiva: "identificação direta e imediata" que "ocorre antes de qualquer investimento psicológico de outra pessoa" (1921/1955b, p. 105 SS.; 1923/1955a, p. 31). Isso parece ter a qualidade de "dado", de algo genuinamente primário ou primitivo que não exige explicação, e aborda exatamente a área de imitação neonatal não aprendida e a área de ser bem recebido na família humana com a qual me preocupo.

Sandler se baseou em sua própria experiência para um exemplo de imitação instintiva empática. Ao andar na calçada, percebeu alguém tropeçar à sua frente e, instintivamente, se endireitou como se tivesse tropeçado também. Ele aventou que esse tipo de resposta imediata poderia desempenhar um papel importante na comunicação emocional; mais especificamente, na forma pela qual o inconsciente do analista sintoniza com o do seu paciente. Isso parece antecipar a formulação de Schore (1994) segundo a qual o bebê e a mãe ecoam "o lado direito do cérebro com lado direito do cérebro". Isso também é compatível com o trabalho recente sobre os assim chamados neurônios-espelho, que deflagram do mesmo modo quando a própria pessoa desempenha uma ação e quando veem outra pessoa agindo: esse fenômeno foi invocado como base biológica possível para a empatia (cf., por exemplo, Mitrani, 2007; Trevarthen, 2005; Music, 2005). A observação do Bebê Jack, de duas semanas, que discuti antes, ilustra como essas ressonâncias imitativas fundamentais podem entrar em reciprocidade cooperativa entre o bebê e a mãe vivenciada como separada.

Tentarei agora separar alguns componentes desse aspecto evolutivo da imitação à luz de material clínico. Crianças com autismo respondem quando são imitadas: isso forma um componente essencial de diversos programas de intervenção para elas, inclusive psicoterapia psicanalítica. No entanto, elas mesmas não imitam da maneira natural e imediata das outras crianças. A dificuldade de fazer um diagnóstico confiável de autismo, antes dos 18 meses de idade, significa que as informações sobre as capacidades iniciais de crianças com autismo em geral são obtidas retrospectivamente, e não fica claro, se é que há, como o padrão individual de imitação de um bebê pode ser relacionado com o diagnóstico subsequente. Ainda assim, reconhece-se, de modo bastante amplo, que a imitação está prejudicada ou não é habitual em crianças com autismo, a ponto disso integrar uma escala diagnóstica (Adrien et al., 1992).

Algo parece estar errado com a capacidade de identificação primária dessas crianças no sentido do desenvolvimento. Penso que a maior parte dos clínicos concordaria que é animador quando a criança com autismo começa a imitar no contexto relacional e não no contexto da mimeti-zação ou da personificação. É essencial estar alerta para essa distinção e perceber a importância que a imitação pode ter para o desenvolvimento. Por exemplo, Donna Williams, cujos livros sobre sua experiência de autismo fornecem insights muito vivos, bem como confirmação de muitos achados clínicos, explica que, quando em criança, falava de forma ecolálica, na verdade, tentava transmitir a seguinte mensagem: "Veja! Posso me relacionar! Posso fazer esse ruído também!" (Williams, 1992, p. 188). Obviamente, ecolalia - como outros tipos de imitação - será com frequência uma questão de mimetização; mas nem sempre. De forma igualmente óbvia, Donna Williams não se relacionava com o significado do que estava sendo dito para ela; mas tentava ser reconhecida como ser humano que fazia a mesma coisa que outros seres humanos faziam. O trabalho clínico com crianças com autismo pode ajudar a esclarecer as condições necessárias para esse tipo de imitação que, no desenvolvimento normal, parece automática.

Construir e sustentar o senso de self, corporal ou emocional, depende da capacidade de receber e de assimilar experiências - o processo que denominamos introjeção. Isso pode ser problemático para crianças com autismo e para adultos com características autísticas, por mais bem desenvolvida que seja sua capacidade de recordar (cf., por exemplo, Barrows, 1999, p. 559). A dificuldade liga-se, com frequência, à concretude com a qual as crianças com autismo apreendem a experiência: elas podem achar difícil distinguir entre apreender algo em nível mental e se apoderar em nível corporal. O exemplo mais antigo é o paciente David, de Tustin, que construiu para si uma armadura, arrancando características do seu pai "como se fosse uma coisa sem vida" (Tustin, 1972). Um paciente meu, enquanto bebia limonada de uma garrafa, passava o anel plástico do gargalo da garrafa para a boca. Quando o anel estava na garrafa, ele me mostrava que sua boca estava aberta como se fosse um buraco; quando o anel estava na sua boca, ele olhava assustado para a garrafa, como se estivesse com medo de ser atacado, e de fato, quando a garrafa se esvaziou, ele a jogou na lata de lixo e se encolheu para se afastar dela (Rhode, 1997). Noutras palavras, receber a nutrição era despojar a fonte (garrafa ou cuidador), que então poderia ficar danificada ou vingativa. Essa criança, como outras que atendi (Rhode, 2004), parecia estar encenando uma versão muito primitiva do complexo de Édipo, em que dois objetos (sua boca e a garrafa) competiam por um terceiro (o anel). A boca e a garrafa necessitavam o anel para poderem se completar, e só havia um. Esse tipo de modelo não permite que a criança sinta que é fundamentalmente como a outra pessoa - como seria capaz de fazer se a imitação evolutiva fosse possível. Igualmente, significa que ela não pode tomar para si algo de outra pessoa sem causar dano.

De fato, quero sugerir que, para ocorrer introjeção - para a experiência ser recebida, construída e assimilada -, a posição do bebê em relação à mãe deve ser a posição implícita na imitação evolutiva. Nessa posição, o bebê é vivido e se vivencia como alguém fundamentalmente semelhante à mãe - não idêntico a ela - e, por isso, capaz de interagir com ela por equiparação (como Donna Williams fazendo eco às palavras de outra pessoa). Em contraposição ao exemplo da garrafa de limonada, a mãe e o bebê que combinam os ritmos, os gestos, as vocalizações ou as ações um do outro ficam ambos completos: isso significa que sua relação é complementar e recíproca, e não competitiva.

 

Ilustrações clínicas

Anthony: em direção à imitação evolutiva

Anthony era um menino com autismo de moderado a grave que comecei a atender quando ele estava com 6 anos de idade. O material que discutirei ilustra alguns problemas passíveis de se encontrar a caminho da posição de imitação evolutiva.5

Anthony era capaz de falar de forma comunicativa, emocional, até poética, algo muitas vezes difícil de lembrar, já que sua produção era principalmente de partes mutiladas de palavras e sentenças numa série de vozes que não eram dele. Isso incluía a voz de um cruel gigante de João e o pé de feijão, que ameaçava devorá-lo, e a de uma figura denominada Mamãe Cruel, que (ao contrário da mãe real) mais parecia fazer suas vontades do que levá-lo a sério. Ele repetia o que pareciam ser sequências catastróficas de nascimento, tal como descreveram Winnicott (1949/1958) e Tustin (1981), em que caía da mesa, esforçando-se para alcançar a segurança de uma cadeira. Enquanto fazia isso, sua boca se torcia de forma assimétrica e angustiada, e ele se agarrava ao cordão da calça, como se imaginasse que isso lhe daria sustentação. Ele parecia atormentado. Tormentos que, por sua vez, infligia aos animais de brinquedo cortando seus focinhos, cascos, orelhas e rabos, sugerindo que se sentia em risco de perder partes do corpo. Embora os animais suplicassem: "Por favor, não faça isso comigo", ele habitualmente continuava até eu o interromper.

Nesses momentos, a crueldade de Anthony parecia envolver identificação com dois agressores: um pai gigante cruel, que infligia ativamente essas torturas, e uma mãe impenetrável, que não prestava atenção. Na verdade, ele parecia conceber esse casal parental como imagens especulares um do outro, sem olhos para mais ninguém. Por exemplo, ele inclinava uma vaca de brinquedo para frente de tal maneira que ficasse apoiada no focinho em cima do espelho e, apontando para o reflexo, dizia: "Mamãe e Papai."6

 

A intersecção entre identificação baseada no visual e baseada na pele

Aos 10 anos de idade, Anthony pulou em cima de mim, de repente, na sala de espera, rosnando em sua voz ameaçadora de gigante. Na sala de terapia, ele citou algo da história de Thomas, a LocomotivaI, que desobedeceu ao Controlador Gordo e caiu dentro de uma mina, de onde precisou ser resgatado. Anthony aparentemente sentia que assumir a voz poderosa de uma figura paterna para ultrapassar um limite (o intervalo entre as sessões) significava literalmente cair num abismo dentro de mim como mãe ou dentro da sala de terapia.

Ele então percebeu três pequenos talhos na parede (não feitos por ele). Por acaso, estavam num arranjo triangular, como se fossem dois olhos e uma boca. Ele os contornou com seu dedo para fazer o esboço de um rosto, dizendo: "Coitadinho do olho, coitadinho do olho"II (que com certeza é um jogo de palavras com "coitadinho de mim"). Ele fez então um emplastro colante para os olhos com um pedaço de pano de limpeza,III e grudou-o na parede com cola para cobrir os entalhes, como se os tivesse remendado. Uma ponta da tira ficou curvada, distante da parede como uma etiqueta. Anthony a puxou, como que testando se poderia retirá-la; e então puxou a língua do seu sapato e, com os dentes, pedaços de pele solta dos seus dedos. Quando removi o "emplastro" de pano da parede em preparação para o final da sessão, Anthony enrolou o restante da cola em pequenas bolas, semelhantes a muco nasal, e as comeu. Retirou então pedaços de muco do nariz e os comeu também.

Anthony aparentemente pensava que as aberturas do rosto - olhos e boca - eram sinais do dano que a criança poderia causar ao se chocar contra uma pessoa "parede de tijolos" (a Mamãe Cruel) que, conforme ele sentia, não prestava atenção nele - talvez como eu, entre uma sessão e outra. Ele parecia equacionar esses buracos com a mina em que Thomas, a Locomotiva, caíra quando desobedeceu ao Controlador Gordo. Era como se Anthony sentisse que a espera entre as sessões tivesse sido imposta pela proibição de um pai controlador. Em termos do Rosto, esse elemento controlador seria o pano de limpeza: fez os olhos ficarem cegos a ele, mas era também uma parte essencial da estrutura tripartida, edípica primitiva do Rosto, incluindo o pano de limpeza, a cola e os buracos. O pulo agressivo repentino de Anthony em minha direção, presumidamente em desafio a essa proibição, teve o objetivo de me fazer prestar atenção nele - nos termos dele, fez surgir olhos no Rosto. (De fato, tanto em casa quanto na escola adquiriu o hábito de se fazer notar pela desobediência.) No entanto, ser notado era quase inseparável de me danificar como figura materna, de tal modo que ele "caiu na mina" para dentro de mim e precisou de resgate. Psicoterapeutas que trabalham com esse tipo de criança têm familiaridade com a impossibilidade de adotar a distância adequada: a criança parece estar sempre oscilando entre os riscos equivalentes de cair para fora da borda, no espaço, como Anthony ao cair da mesa, e cair dentro da terapeuta ("na mina") e ser engolfado. Essa oscilação tem sido descrita em adultos por Sydney Klein (1973) e também por Henri Rey (1979), que a denominou dilema claustrofóbico-agorafóbico.

De acordo com esse dilema, "remendar" o dano na parede restaurando sua estrutura tripartida (usando cola para grudar o pano de limpeza em cima dos olhos-buraco) torna os olhos cegos novamente: a criança parece aprisionada entre um objeto impenetrável e outro quebrado. Nesse exemplo, portanto, comer a cola-muco não está a serviço do desenvolvimento. Ao contrário, significa assumir a substância que deveria ligar duas partes essenciais do Rosto e que, por isso, é essencial para sua integridade estrutural - como na vinheta da garrafa de limonada. É possível imaginar um bebê ao mamar olhando para o rosto da mãe e culpando sua amamentação por qualquer tristeza ou retirada ali discernidas (Meltzer, 1975). Depois, no tratamento, Anthony conseguiu uma solução melhor: em lugar de colar o pano de limpeza em cima dos "buracos" olhos, ele os transformou em olhos com visão, que não mais pareciam avariados, ao adicionar uma pupila colorida feita com caneta hidrográfica. Ele tinha desenvolvido o conceito de um terceiro útil ao triângulo edipiano, localizado no território do contato visual com o adulto.

 

Imitação evolutiva e o terceiro útil

O material de Anthony, acredito, ilustra a intersecção delicada que pode existir entre mecanismos adesivos por um lado e, por outro, o tipo de identificação primária que penso estar envolvida na imitação evolutiva. Avaliarei primeiro os mecanismos adesivos, baseados na pele. Quando os "olhos" foram "remendados" com o pano de limpeza, Anthony arrancou suas cutículas e puxou a língua do seu sapato do mesmo jeito que tinha puxado a "pele" pano de limpeza saliente do Rosto. Noutras palavras, a integridade da sua própria pele parecia depender da integridade da pele da outra pessoa. De modo semelhante, ele parece equacionar as bolas de muco nasal com as bolas de cola que extraiu do Rosto depois que a pele-emplastro de pano de limpeza foi arrancada e, por implicação, ele igualava os furos das suas narinas aos buracos do Rosto danificado. Se os olhos do Rosto estivessem danificados ou fechados, não poderiam vê-lo nem reconhecê-lo do modo necessário para a identificação primária (imitação evolutiva). Em contraposição, um olho com pupila não é mais cego: contém um terceiro objeto, que confere vitalidade e com o qual é possível se identificar, e que não bloqueia a criança. É o tipo de contato visual de espelhamento que possibilita a imitação evolutiva.

Nestas reflexões, baseio-me em duas vertentes principais da teoria psicanalítica. Uma é o artigo de Winnicott sobre "O papel de espelho da mãe e da família no desenvolvimento da criança" (1967/1971), em que ele propõe que o bebê obtém seu senso fundamental de existência e de bondade no que vê refletido no rosto da mãe: nesse nível mais básico, somos o que vemos. Se as preocupações da mãe a invadirem excessivamente, durante a maior parte do tempo, será isso o que o bebê verá no rosto dela e não a si.7 A transformação de Anthony, de olhos vazios em olhos com visão através da adição de pupilas, sugere que a linha de pensamento de Winnicott pode ser combinada de forma proveitosa com a observação de Melanie Klein (1961/1975, pp. 46-49) de que crianças pequenas tendem a personificar as qualidades da mãe. As crianças pequenas não pensam nessas qualidades como se fossem propriedades abstratas da mente e do caráter da mãe, mas como se fossem pessoas que literalmente vivem dentro do corpo e manifestam sua presença através do comportamento da mãe. A criança pode sentir que a mãe contém uma família interna benigna, que a recebe com amor, ou uma família interna hostil, que transforma a mãe numa pessoa brava ou que pode invadir a relação da mãe com a criança e solapar seu senso de self. A preocupação então implicaria uma impenetrável pálpebra pano de limpeza, a mãe totalmente preenchida por uma família interna que não deixa lugar para ninguém mais; um olho danificado, vazio, que implicaria um mundo interno materno povoado de fantasmas (Barrows, 1999). O jogo de palavras de Anthony, "coitadinho do olho" e "coitadinho de mim", indica, penso eu, esse tipo de identificação fundamental baseada na visão, embora, nesse caso, seja com outra pessoa sentida danificada.

A diferença entre essa identificação, baseada na visão, com outro danificado e as trocas recíprocas de imitação evolutiva, baseadas na visão, parece repousar na presença ou na ausência de um terceiro objeto: a pupila que Anthony acrescentou depois para transformar o olho cego em olho com condições de vê-lo. Esse ocupante interno é quem empresta aos olhos da mãe sua qualidade essencial de vivacidade - contanto que isso não se torne excessivo, de tal modo que a criança o vivencie como intrusivo. Por exemplo, Anthony era fascinado por espelhos.8 Ele geralmente parecia olhar para eles como que para confirmar sua própria existência, ainda que pudesse também encenar o tipo de comunhão com uma imagem especular que intermediava a constelação "Mamãe e Papai" da vaca com o seu reflexo, como mencionei antes. Geralmente, ele evitava encontrar meu olhar no espelho, como se eu devesse permanecer excluída do par que ele formava com seu próprio reflexo. Ao me ignorar, parecia identificado com essa unidade parental narcísica; e realmente encenava ser sua mãe ao telefone: "Sim, está certo, querido", ou um artista cantando ao microfone, que segurava como se fosse um espelho e estivesse sendo adulado por um público admirador. No entanto, em certa ocasião, quando já se sentia mais forte, ao encontrar meu olhar no espelho, ele sorriu e exclamou espontaneamente: "Olá, espelho!" A questão que quero sublinhar é que o meu reflexo naquele momento parece ter tido a mesma função que a pupila colocada no olho vazio: a de vivificar o espelho, de forma que, em vez de ser um objeto refletivo mecânico, tornou-se o agente humanizado do reflexo que nos abrangia a ambos.

 

2. Lina: "estou me procurando"

Agora, gostaria de desenvolver este tema em relação a Lina, menina pequena, com transtorno do espectro autista, que comecei a atender quando estava com 5 anos e meio, após a morte de um parente próximo. Lina tivera ecolalia quando mais nova e era extremamente fechada em si mesma, mas tinha melhorado de forma gratificante durante o tratamento com uma terapeuta noutro país. Como Anthony, sua confusão entre receber coisas de mim e me danificar como figura materna a deixava inibida; assim como ele, ela confundia meus atributos com rivais que se intrometiam no seu caminho. Ao contrário dele, no entanto, ela veio a sentir, cada vez mais, que esses atributos e conteúdos podiam ser diferenciados de mim - eu não estava totalmente ocupada por eles - e, assim, poderiam ser acessados sem que eu me desintegrasse. Em lugar de ver a nutrição como um tipo de cola essencial que reunia os componentes de uma figura materna e que, portanto, não deveria ser absorvida (como o muco nasal de Anthony), ela chegou a considerá-la como um líquido que podia ser bebido de uma xícara sem danificar a estrutura da xícara, algo que significava que ela poderia começar a tomar posse e a assimilar o que recebia, e a se desenvolver no contexto de uma relação. Tentarei ligar esse dado com a posição de Lina relativa à família interna que ela imaginava que a figura materna continha.

Para Lina, foi sempre evidente que minhas qualidades eram função dos meus ocupantes internos: ela até trouxe consigo um brinquedo de plástico com uma barriga grávida que ela rodava para mudar a expressão dos olhos - de feliz para triste, de zangada para surpresa -, como se o humor da figura de mãe fosse realmente reflexo dos seus bebês internos imaginários. Além disso, estava preocupada com a diferença entre o lado refletivo do espelho e o fundo opaco de madeira. Ela vinculava a madeira com a porta da sala de terapia, que sentia fechada para ela entre os encontros, e também com a parede, que tentava ultrapassar com resultados dolorosos previsíveis. Em contraposição, ver-se refletida no espelho se assemelhava a encontrar a entrada para os meus olhos e mente. Tornou-se capaz de contato visual muito mais duradouro, embora ainda se sentisse em risco de ser engolfada, e habitualmente construía balsas para os animais de brinquedo para salvá-los de se afogarem na pia e de serem comidos pelo crocodilo do fundo.

Entendi isso como ilustração vivida do agarrar-se desesperado às superfícies devido ao equilíbrio precário de Lina, e do seu medo das profundezas perigosas noutras pessoas e em si mesma. Contudo, ela conseguiu diferenciar essa versão de família interna maligna de uma versão útil que dava apoio. Isso era representado pelo sólido tronco de um vaso de planta sobre a prancha de drenagem, em que os animais da fazenda buscavam refúgio para não afundar nas profundezas. Lina tendia a atacar essa planta, como se a sentisse como rival sempre presente na minha sala; mas, aos poucos, começou a querer cuidar dela. Era como se tivesse começado a valorizar a presença duradoura de um objeto do qual não conseguira se livrar e cuja solidez a salvara de ser engolfada, assim como a presença do pai serve para regular a distância entre mãe e filho. Ao contrário de Anthony, ela começou a sentir que era possível superar os obstáculos emocionais sem destruir a função paterna e acabar "dentro da mina".

Em paralelo a esses desenvolvimentos, Lina tomou coragem de ser "desobediente" e rebelde, enquanto antes ela tivera a qualidade um pouco irreal, quase de conto de fadas, característica de algumas crianças do espectro autístico. Ela inicialmente parecia vivenciar esse aspecto não integrado desobediente como se fosse um duplo ou um alter ego, como o gêmeo imaginário de Bion (1950/1984). A presença de alguns brinquedos usados pela colega com quem eu dividia a sala, em um armário com a frente de vidro, foi um contratempo, por muito tempo. Ela possuía brinquedos iguais, mas o fato de os do armário não serem "brincáveis", como ela dizia, era sentido como provocativo, compreensivelmente, e um tormento, de tal forma que eles ficaram ligados, em sua mente, aos meus supostos ocupantes internos.

Certo dia, ela encheu a boca de água, após brincar na pia, e manteve-a na boca sem engolir enquanto olhava para dentro do armário. Ela engoliu e ficou extremamente perturbada. Ela choramingou: "Minha irmã Flo, estou olhando minha irmã Flo", e precisou correr para o banheiro. Enquanto eu a esperava, me impressionou que seu pânico tivesse sido disparado pelo ato de engolir, como se ela temesse que isso pudesse ter consequências destrutivas. Ela ainda estava bastante perturbada quando saiu do banheiro e, na sala, voltou a ficar em frente ao armário, falando da irmã Flo que ela não conseguia ver. Eu lhe disse que talvez, quando ela se sentia aborrecida com as coisas dentro do armário ou em mim, isso parecia ficar em seu caminho; ela se sentia atrapalhada com jeitos diferentes de receber as coisas. Um era o jeito de engolir que ela precisava para poder crescer; mas talvez ela confundisse isso com o efeito destrutivo do que ela antes chamara de sua "boca monstro" brava, que morde tudo e todos que a obstruíam. Isso poderia fazê-la se sentir culpada por engolir e reter a água dentro dela e, em oposição, ela deixava tudo "fluir"IV para fora dela. Ela se acalmou e foi se olhar no espelho, como que para se reassegurar de que ainda estava ali. Na sessão seguinte, ela engoliu novamente um bocado de água enquanto ficava parada na frente do armário, e eu perguntei se ela estava procurando sua irmã Flo. "Não", ela respondeu em tom de voz seguro, "estou me procurando". Dirigir seus impulsos hostis para os supostos rivais dentro do meu armário (ou de mim) permitiu-lhe procurar seu próprio reflexo sem sentir que isso o destruía, e a reter para si a água que engolira, em lugar de se igualar a alguém de quem a água "fluíra".V

Algumas semanas depois, em sessão essencial, Lina desenvolveu o tema da sua posição relativa aos ocupantes internos da mãe.

Lina desenhou muitos círculos pequenos de cores diferentes sobre a superfície do espelho. (Antes, isso acontecera num contexto em que ela imaginava como são feitos os bebês: ela dissera que os círculos foram criados pelo Sr. Verde, Lorde Azul, e assim por diante). Agora ela disse, de forma um pouco defensiva: "Estou apenas tentando fazer vitrais". Eu disse que talvez ela achasse que vidro colorido era muito bonito - todas aquelas cores com a luz atravessando - e que estava curiosa de como isso era feito, e gostaria de fazer. Em termos de eu e ela, isso seria como sentir que era ela quem suscitava a expressão - a cor - em meus olhos quando eu olhava para ela: era importante sentir que podia fazer algo tão bonito acontecer, em vez de imaginar que o bebê dentro de mim determinava minha expressão. Ela apagou os círculos coloridos do espelho e disse: "Parece cinza agora", passando a mão furtivamente em seu traseiro ao jogar o lenço de papel no cesto de lixo. Apagar os círculos coloridos, que de fato ficaram na frente do reflexo dela, fez Lina sentir que meu olhar-espelho estava vazio-cinza, bagunçado, deprimido, como o "coitadinho do olho" de Anthony.

Depois ela desenhou um touro sobre o espelho, com olhos de expressão bravia, coloridos em vermelho, como se sangrassem. Virou o espelho ao contrário, e parecia tentar se enxergar no fundo de madeira. Comentei que não era possível se enxergar daquele lado, mas talvez ela também imaginasse que ali fosse o lugar de onde veio o desenho do touro. Ela levantou o espelho, formando um ângulo com a janela, e disse: "Agora a luz está brilhando através dele". Na verdade, não estava, mas eu disse que ela buscava uma situação em que a luz pudesse atravessar e brilhar sem ser bloqueada pelo desenho: em que houvesse espaço para a vida prosseguir, atrás dos meus olhos, de um jeito que a abarcasse, e não ocupasse o lugar para os sentimentos dela. Lina respondeu: "Você pode fazer outra coisa também". Levou o espelho para a pia e, balançando-o cuidadosamente, encheu a beirada da moldura de água, de tal modo que o desenho do touro ficasse sob a superfície. Ela virou o espelho outra vez, como se, de novo, estivesse procurando a si; dessa vez, no entanto, ela disse: "Consigo me ver". Concordei que a água era diferente do espelho, porque realmente tinha profundidade, de tal forma que o desenho do touro não ficava na frente, e ela conseguia ver seu próprio reflexo.

Eu sugeriria que esses dois temas relacionados - primeiro, o do jeito que a criança está posicionada em relação ao suposto ocupante interno da mãe; e segundo, o da profundidade dentro da mãe que esse ocupante não preenche - são essencialmente importantes de modo a permitir a identificação primária ou a imitação evolutiva.

Nesse tipo de situação, o caminho da criança não está bloqueado; há espaço disponível para continência emocional; a luz "brilhando através" faz a criança sentir que pode suscitar uma resposta; e, ao mesmo tempo, a presença do objeto interno significa que a criança não está em risco de ser engolfada ou de se sentir responsável por uma figura vazia de mãe. Noutras palavras, tanto a mãe quanto a criança estão ambas completas: podem desenvolver interações recíprocas, como o Bebê Jack e sua mãe, que a criança pode interiorizar, como o Bebê Daniel. Acredito que esta é a constelação que baseia esse tipo específico de contato visual que permite às crianças com autismo começar a imitar o terapeuta.

Após essa importante sessão, Lina fez progressos essenciais. Suas construções na pia evoluíram e passaram a incluir o eixo vertical (uma prancha de surf com vela), bem como o horizontal (a jangada para os animais). Igualmente, desenvolveu-se sua concepção de espaço: ela começou a cortar formas de papel para fazer padrões, enquanto antes se afligia com os buracos. Parecia se afastar do modelo de adicionar a si cortando ou mordendo pedaços de outro. O seu nono aniversário, logo após, encorajou-a a sentir que estava crescendo e que poderia ter filhos algum dia, em identificação comigo como mulher cujo marido interno e filhos deixaram espaço suficiente para que sua individualidade separada ficasse refletida.

 

Discussão: o equilíbrio entre a criança e o ocupante interno da mãe

Parece que a posição da criança relativa ao objeto interno da mãe é expressão da constelação edipiana em relação ao contato visual. Isso em nível muito primitivo que diz respeito à experiência de existir da criança. Essas condições edipianas devem estar no devido lugar para que a imitação evolutiva e a introjeção prossigam.9

Crianças que não têm autismo, mesmo que sofram de transtornos consideráveis, movem-se prontamente da experiência de serem reconhecidas para se interessar pela experiência da pessoa que as reconheceu (Schacht, 1981). Em termos de teorias cognitivas de autismo, elas desenvolvem uma teoria da mente. De fato, em sua terapia isso pode acontecer tão rapidamente que chega a sugerir a expansão de um processo natural que foi desbloqueado. Para crianças com autismo, por outro lado, para que esse movimento possa ocorrer são necessárias muito mais tempo e esforço. Tustin (1990) propôs que a impossibilidade de essas crianças desenvolverem empatia deve ser rastreada até o senso de self insuficientemente forte: colocar-se no lugar do outro pode ser sentido como perda da identidade própria. Esse estado de coisas implica desequilíbrio entre a posição da criança e a posição do objeto interno da mãe.

Para a criança se sentir apoiada e não invadida, é preciso que sinta a família interna dos pais localizada em "profundidade" adequada. Logo no início do tratamento, por exemplo, Lina arrumava meticulosamente dois bezerros frente a frente, um numa bandeja, outro fora dela, de tal modo que estivessem equidistantes da beirada. Quando sente esse equilíbrio adequado, o bebê pode trazer suas qualidades para se juntar às da mãe, como na imitação evolutiva. Quando a criança não consegue suscitar uma resposta ou ser reconhecida, ela pode interpretar de forma equivocada, como se significasse que a família interna dos pais está em nível profundo demais, como no caso do "coitadinho do olho/de mim" de Anthony. Quando a mãe está preocupada, de tal forma que a criança não se sente refletida (Winnicott, 1967/1971) ou não encontra espaço suficiente para continência, ela pode sentir que o caminho está bloqueado por uma família interna interpretada como distante demais. (Se as preocupações da mãe disserem respeito a questões transgeracionais, como em "Fantasmas no quarto do bebê", de Fraiberg, Adelson e Shapiro [1975/1980], a criança pode sentir que seu "nicho" está concretamente preenchido por alguém do passado.) Em termos de introjeção, a capacidade de a mãe distinguir entre seu ocupante interno e seu bebê externo real apoia, por sua vez, a capacidade de o bebê distinguir entre a mãe propriamente dita e o ocupante interno da mãe e, portanto, não confundir entre receber dela e retirar dela e danificar sua estrutura.

Muito esquematicamente, é possível especular que, quando o equilíbrio está adequado, a criança pode se identificar com a figura parental, como Lina fez quando começou a pensar em si como continente de uma criança ainda não nascida, assim como eu. Quando o equilíbrio não está correto, ao contrário, a criança pode se identificar com o ocupante interno dos pais, como o paciente adulto de Kate Barrows (1999, 2008), que se identificou com os irmãos mortos ou danificados dos pais. Por exemplo, um menino com síndrome de Asperger alternava da total retirada, quando identificado com os habitantes fantasmagóricos da figura parental, para a extrema excitabilidade, com fantasias muito bizarras, quando, ao contrário, estava identificado com uma figura fraterna persecutória vingativa, que sairia da televisão para atacá-lo.

É importante ressaltar que não estou fazendo um vínculo causal entre as interações mãe-bebê e transtornos do espectro autístico: há menos crianças com autismo do que mães deprimidas ou "fantasmas no quarto do bebê". Meu argumento é que as fantasias sobre os ocupantes internos da mãe podem corresponder ao modo como a criança vivencia suas circunstâncias de vida. Essas circunstâncias podem incluir aspectos da capacidade de os pais prestarem atenção. Podem igualmente incluir sentimentos, baseados neurologicamente, de serem invadidos por ruídos altos, que são então personificados como pai intrusivo ou figuras fraternas (Rhode, 1997). Essas fantasias, acredito, são centrais para o senso de identidade, e a psicoterapia com crianças autistas nos permite investigar algumas das suas ramificações.

O contato visual que é emocionalmente significativo para ambos parceiros implica equilíbrio adequado entre a criança e o ocupante interno da mãe, e permite, portanto, que ocorra a identificação primitiva (ou primária) - imitação evolutiva. É algo passível de se observar clinicamente a respeito tanto da imitação imediata quanto da imitação a posteriori. Por exemplo, após um momento raro de profundo contato visual, um menino mudo de 4 anos com autismo imitou escrupulosamente a forma redonda dos meus lábios quando fiz o som "o". Às vezes, as crianças que ainda não sabem muito bem a diferença entre introjetar e saquear a outra pessoa necessitam restabelecer o contato visual, com o equilíbrio adequado entre si e o ocupante interno da outra pessoa, para poder se apropriar e mostrar que receberam. Por exemplo, um menino de 3 anos com autismo, tratado por Christine Robson, olhou profundamente nos olhos dela e, a seguir, vocalizou uma canção que ela cantara na sessão anterior. Isso é algo que pode ser considerado como exemplo do processo que os pesquisadores do desenvolvimento denominam imitação a posteriori. O fato de que esse exemplo de imitação a posteriori tenha ocorrido após um momento emocionalmente carregado de contato visual me sugere que essa criança necessitava restabelecer a "posição" para a identificação primária, em que ela podia se sentir a uma distância adequada do ocupante interno da terapeuta, para se assegurar de que não a danificara concretamente por possuir a lembrança da sua canção. Após fazer isso, ele pôde mostrar o que lembrou.10 Isso implicaria que essa posição adequadamente equilibrada para a identificação primária fornece as condições em que podem ocorrer introjeção e assimilação, e também, portanto, em que a criança pode crescer dentro do quadro de referência de uma relação.

Crianças do espectro autístico podem se sentir alienígenas no mundo de outras pessoas; e elas podem se sentir como "estrangeiras numa terra estranha". Os títulos de relatos em primeira pessoa, com frequência, prestam testemunho desse senso de alienação - Ninguém em lugar nenhum (Williams, 1992), Fingindo ser normal (Willey, 1999) e Uma pessoa real: a vida do lado de fora (Gerland, 1996/1997), para mencionar apenas três. Os fatores invocados como explicação para isso incluem deficiências sensoriais e deficit de base biológica na capacidade de ler a mente, entre outros. Meu objetivo foi ilustrar parte das constelações de sentimentos e fantasias que podem acompanhar esse tipo de experiência, qualquer que tenha sido a causa. O trabalho feito para que Lina pudesse estabelecer uma posição equilibrada em relação à família interna da terapeuta e encontrar seu próprio reflexo no espelho ilustra algumas condições que precisam estar no lugar para que a imitação evolutiva e a introjeção prossigam. No contexto de quaisquer limitações específicas, a criança pode então começar a desenvolver seu potencial como parte da família humana.

 

Notas

1 Esta é a versão revisada de um artigo publicado no Journal of Child Psychotherapy (2005). Parte do material foi discutida em outro lugar, em contextos teóricos diferentes, e recebeu autorização para reimpressão.

2 Este artigo foi publicado originalmente em: K. Barrows (Ed.), Autism in childhood and autistic features in adults: a psychoanalytic perspective (pp. 147-170; London: Karnac, 2008) e é reproduzido com a devida permissão da editora.

3 Este é um processo que diversos psicanalistas (Bion, 1950/1984; Meltzer, 1975; S. Klein, 2008; G. Haag, 2000) consideram fundamental para o senso de self, ponto de vista confirmado pelos bons resultados que o treinamento de integração sensorial atinge com frequência em crianças com autismo.

4 Por exemplo, Kut Rosenfeld e Sprince (1965) descrevem o empenho de crianças borderline para manter seu senso precário de individualidade separada: quando em estresse, elas recorrem à identificação primária para abrir mão de conservar a própria identidade e assumir as características de adultos significativos.

5 Este material foi previamente discutido em contexto teórico diferente (Rhode, 2003).

6 É importante ressaltar que os pais reais de Anthony eram muito diferentes dessas figuras internas hostis.

I N.T.: Thomas the Tank Engine e Fat Controller, personagens de histórias para crianças.

II N.T.: no original, poor eye ("coitadinho do olho" ou "pobre olho"), que soa como poor I ("coitadinho de mim" ou "pobre de mim").

III N.T.: no original, J-cloth, pano de limpeza da marca Perfex, no Brasil.

7 Cf. Fonagy, Target, Gergely, Allen e Bateman (2003) para a discussão sobre trabalho posterior a respeito da falha de espelhamento.

8 Existe extensa literatura de experimentos a respeito do reconhecimento especular e de suas implicações em crianças tanto com como sem autismo, consideração que está fora do escopo deste artigo (cf., por exemplo, Zazzo, 1995; Athanassiou-Popesco, 2006).

IV N.T.: jogo de palavras difícil de traduzir, em que a autora usa Flo, o nome da irmã, associado ao verbo flo(w), "fluir".

V N.T.: no original, as someone that water "Flo'ed out of'.

9 Devem estar no devido lugar, acredito, para permitir alterações muito mais importantes na identificação e em pontos de vista implícitos a partir do trabalho de Britton sobre a terceira posição (Britton, 1989, 1998) e do triângulo relacional de Hobson, que aborda a relação entre a atitude do bebê em relação ao mundo, o outro, e a atitude do outro em relação ao mundo (Hobson, 2002, p. 107).

10 Isso pode explicar em parte por que algumas crianças com autismo podem considerar difícil acessar, noutros contextos, as capacidades que mostram durante as sessões.

 

Referências

Adrien, J.L., Barthélémy, C., Perrot, A., Roux, S., Lenoir, P., Haumery, L. & Sauvage, D. (1992). Validity and reliability of the Infant Behavioural Summarized Evaluation (IBSE): a rating scale for the assessment of young children with autism and developmental disorders. Journal of Autism and Developmental Disorders, 22,375-394.         [ Links ]

Athanassiou-Popesco, C. (Ed.) (2006). Représentation et miroir. Paris: Popesco.         [ Links ]

Barker, G. (2002). How can the start and the end of vomiting in the first six months of life of a baby be understood? A reflection on a good-enough relationship between a baby and his mother. ma Dissertation, Tavistock Clinic, University of East London.         [ Links ]

Barrows, K. (1999). Ghosts in the swamp: some aspects of splitting and their relationship to parental losses. The International Journal of Psychoanalysis, 80,549-562.         [ Links ]

Barrows, K. (2008). Keeping the ghosts at bay: an autistic retreat and its relationship to parental losses. In K. Barrows (Ed.), Autism in childhood and autistic features in adults: a psychoanalytic perspective (pp. 261-278). London: Karnac.         [ Links ]

Beebe, B. (2006). Co-constructing mother-infant distress in face-to-face interactions: contributions of microanalysis. Infant Observation, 9,151-164.         [ Links ]

Bick, E. (1964). Notes on infant observation in psychoanalytic training. The International Journal of Psychoanalysis, 45,184-188.         [ Links ]

Bion, W.R. (1984). The imaginary twin. In W.R. Bion, Second thoughts (pp. 3-22). London: Karnac. (Trabalho original publicado em 1950)        [ Links ]

Britton, R. (1989). The missing link: parental sexuality in the Oedipus complex. In J. Steiner (Ed.), The Oedipus complex today (pp. 83-101). London: Karnac.         [ Links ]

Britton, R. (1998). Subjectivity, objectivity and triangular space. In R. Britton, Belief and imagination (pp. 41-58). London: Routledge.         [ Links ]

Fonagy, P., Target, M., Gergely, G., Allen, J.G. & Bateman, A.W. (2003). The developmental roots of borderline personality disorder in early attachment relationships: a theory and some evidence. Psychoanalytic Inquiry, 23,412-459.         [ Links ]

Fraiberg, S., Adelson, E. & Shapiro, V. (1980). Ghosts in the nursery: a psychoanalytic approach to the problems of impaired infant-mother relationships. In S. Fraiberg (Ed.), Clinical studies in infant mental health (pp. 164-196). London: Tavistock. (Trabalho original publicado em 1975)        [ Links ]

Freud, S. (1955a). The Ego and the Id. In S. Freud, The standard edition of the complete psychological works of Sigmund Freud (J. Strachey, Trad., Vol. 19, pp. 3-66). London: Hogarth Press. (Trabalho original publicado em 1923)        [ Links ]

Freud, S. (1955b). Group psychology and the analysis of the Ego. In S. Freud, The standard edition of the complete psychological works of Sigmund Freud (J. Strachey, Trad., Vol. 18, pp. 67-143). London: Hogarth Press. (Trabalho original publicado em 1921)        [ Links ]

Gaddini, E. (1969). On imitation. The International Journal of Psychoanalysis, 50,475-484.         [ Links ]

Gerland, G. (1997). A real person: life on the outside (J. Tate, Trad.). London: Souvenir Press. (Trabalho original publicado em 1996)        [ Links ]

Haag, G. (2000). In the footsteps of Frances Tustin: further reflections on the construction of the body-ego. Infant Observation, 3,7-22.         [ Links ]

Haag, M. (2002). A propos et à partir de l'oeuvre et de la personne d'Esther Bick (Vol. 1). Paris: Privately printed.         [ Links ]

Hobson, R.P. (2002). The cradle of thought. Basingstoke: Macmillan.         [ Links ]

Hobson, R.P. & Lee, A. (1999). Imitation and identification in autism. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 40,649-659.         [ Links ]

Klein, H.S. (1973). Emotion, time and space. Bulletin of the British Psycho-Analytical Society, 68.         [ Links ]

Klein, H.S. (2008). Autistic phenomena in neurotic patients. In K. Barrows (Ed.), Autism in childhood and autistic features in adults: a psychoanalytic perspective (pp. 173-185). London: Karnac.         [ Links ]

Klein, M. (1975). Narrative of a child analysis. In M. Klein, The writings of Melanie Klein (Vol. 4). London: Hogarth. (Trabalho original publicado em 1961)        [ Links ]

Kugiumutzakis, G. (1988). Neonatal imitation in the intersubjective companion space. In S. Braten (Ed.), Intersubjective communication and emotion in early ontogeny (pp. 63-88). Cambridge: Cambridge University Press.         [ Links ]

Kut Rosenfeld, S. & Sprince, M. (1965). Some thoughts on the technical handling of borderline children. Psychoanalytic Study of the Child, 18,603-635.         [ Links ]

Maratos, O. (1973). The origin and development of imitation in the first six months of life. Paper presented at the British Psychological Society Annual Meeting, Liverpool.         [ Links ]

Meltzer, D. (1975). The psychology of autistic states and of post-autistic mentality. In D. Meltzer et al., Explorations in autism, a psycho-analytical study (pp. 6-32). Strathtay: Clunie Press.         [ Links ]

Mitrani, J. (2007). The problem of empathy: bridging the gap between the "mirror neuron" concept and Frances Tustin's understanding of the psychogenesis of autism. Paper presented at a conference of the Australian Psychoanalytic Society, Melbourne.         [ Links ]

Music, G. (2005). Surfacing the depths: thoughts on imitation, resonance and growth. Journal of Child Psychotherapy, 31,72-90.         [ Links ]

Nadel, J. & Butterworth, G. (1999). Imitation in infancy. Cambridge: Cambridge University Press.         [ Links ]

Rey, J.H. (1979). Schizoid phenomena in the borderline. In J. Le Boit & A. Capponi (Eds.), Advances in the psychotherapy of the borderline patient (pp. 449-484). New York: Jason Aronson.         [ Links ]

Rhode, M. (1997). Going to pieces: autistic and schizoid solutions. In M. Rustin, M. Rhode, A. Dubinsky & H. Dubinsky (Eds.), Psychotic states in children (pp. 231-244). London: Tavistock; Duckworth.         [ Links ]

Rhode, M. (2003). Aspects of the body image and sense of identity in a boy with autism: implications for eating disorders. In G. Williams, P. Williams, J. Desmarais & K. Ravenscroft (Eds.), The generosity of acceptance (Vol. 1). London: Karnac.         [ Links ]

Rhode, M. (2004). Different responses to trauma in two children with autistic spectrum disorder: the mouth as crossroads for the sense of self. Journal of Child Psychotherapy, 30,3-20.         [ Links ]

Sandler, J. (1973). On communication from patient to analyst: not everything is projective identification. The International Journal of Psychoanalysis, 74, 1097-1107.         [ Links ]

Schacht, L. (1981). The mirroring function of the child analyst. Journal of Child Psychotherapy, 7,79-88.         [ Links ]

Schore, A. (1994). Affect regulation and the origin of the self: the neurobiology of emotional development. Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum.         [ Links ]

Stern, D. (1985). The interpersonal world of the infant: a view from psychoanalysis and developmental psychology. New York: Basic Books.         [ Links ]

Trevarthen, C. (1979). Communication and co-operation in early infancy: a description of primary intersubjectivity. In M. Bullowa (Ed.), Before speech (pp. 321-347). Cambridge: Cambridge University Press.         [ Links ]

Trevarthen, C. (1998). The concept and foundations of infant intersubjectivity. In S. Braten (Ed.), Intersubjective communication and emotion in early ontogeny (pp. 15-46). Cambridge: Cambridge University Press.         [ Links ]

Trevarthen, C. (2005). First things first: infants make good use of the sympathetic rhythm of imitation, without reason or language. Journal of Child Psychotherapy, 31,91-113.         [ Links ]

Tustin, F (1972). Autism and childhood psychosis. London: Hogarth.         [ Links ]

Tustin, F (1981). Psychological birth and psychological catastrophe. In F. Tustin, Autistic states in children (pp. 96-110). London: Routledge & Kegan Paul.         [ Links ]

Tustin, F. (1990). The protective shell in children and adults. London: Karnac.         [ Links ]

Willey, L.H. (1999). Pretending to be normal: living with Asperger's syndrome. London: Jessica Kingsley.         [ Links ]

Williams, D. (1992). Nobody nowhere. London: Transworld Publishers.         [ Links ]

Winnicott, D.W. (1958). Birth memories, birth trauma, and anxiety. In D.W. Winnicott, Through paediatrics to psycho-analysis (pp. 174-193). London: Hogarth. (Trabalho original publicado em 1949)        [ Links ]

Winnicott, D.W. (1971). The mirror role of mother and family in child development. In D.W. Winnicott, Playing and reality (pp. 111-118). London: Tavistock. (Trabalho original publicado em 1967)        [ Links ]

Zazzo, R. (1995). Reflets de miroir et autres doubles. Paris: PUF.         [ Links ]

 

 

Correspondência:
Maria Rhode 120 Belsize Lane
London NW3 5BA
mrhode@tavi-port.nhs.uk

Recebido em 22.04.2015
Aceito em 06.05.2015

Creative Commons License Todo o conteúdo deste periódico, exceto onde está identificado, está licenciado sob uma Licença Creative Commons