SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.7 número1Brincar, fantasiar e aprenderA pré-escola e a construção da autonomia índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Temas em Psicologia

versão impressa ISSN 1413-389X

Temas psicol. vol.7 no.1 Ribeirão Preto abr. 1999

 

Brincadeira e cultura: o faz-de-conta das crianças Xocó e do Mocambo (Porto da Folha/SE)1

 

Play and culture: Xocó and Mocambo children's make-believe

 

 

Ilka Dias Bichara

Universidade Federal de Sergipe

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Ao fazer-de-conta a criança ao mesmo tempo vive e constrói uma realidade e a compartilha com seus companheiros. Estudos desse fenômeno que envolvam realidades diferentes são raros e, de uma forma geral, diferenças socioculturais têm sido vistas como sinais de deficiência e não de variação comportamental. Estudar possíveis variações decorrentes de fatores culturais em duas comunidades no sertão sergipano, a dos índios Xocó e a dos negros do Mocambo, é o objetivo deste trabalho. Para tanto foram observadas, através de filmagem em vídeo-tape, associadas com registros cursivos, 60 crianças, nas duas comunidades, em suas atividades livres. Os resultados mostram forte influência do modo de vida dos pais nas brincadeiras das crianças, predomínio de temas realísticos sobre os fantasiosos e forte estereotipia de gênero, confirmando nossas hipóteses sobre a existência de particularidades no desenvolvimento associadas com o ambiente familiar e cultural no qual estão inseridas.

Palavras-chave: faz-de-conta, brincadeira, cultura.


ABSTRACT

Make-believe playing implies the construction of areality, which is shared with the chikTs playmates. Studies involving different realities are rare and sociocultural differences are generally regarded as defíciency signs instead of behaviour variations. This work has aimed at studying possible variations due to cultural factors in two communities of Sergipe backwoods - Xocó's Indian community and Mocambo, a black people's community. Sixty children were observed in their free outdoor activities with a video camera in both communities. Results indicated that play was strongly influenced by parents way of life. Realistic subjects prevailed over fantasy ones, and a strong gender stereotype was detected. These results were consistent with our hypotheses about some existing particularities in the development, that are associated with the cultural and familiar environment of the children.

Key words: play, make-believe play, culture.


 

 

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Archer, J. (1992). Childhood gender roles: Social context and organization. Em H. McGurk (ed.), Childhood social development: Contemporary perspectives (pp. 31-61). U.K.: Lawrence Erlbraum Associates.         [ Links ]

Aspey, W. P. (1977). Wolf spider sociobiology: I. Agonistic display and dominance-subordinance relations in adult male, Schisocosa crassipes. Behavior, 62, 103-141.         [ Links ]

Barbosa, S; Ramalho, A. e Bichara, I. D. (1995). Um estudo dos aspectos lingüísticos e para-lingüísticos da comunicação durante o faz-de-conta em pré-escolares [Resumo]. Em Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (org.), Anais da 47 a Reunião Anual da SBPC (V. II, p.549). São Luís: SBPC.         [ Links ]

Beraldo, K. E. A. (1993). Percepção de crianças de 5 a 10 anos em relação a diferenças de gênero de brincadeiras. Dissertação de Mestrado, Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, São Paulo.         [ Links ]

Bichara, I. D. (1994). Um estudo etológico da brincadeira de faz-de-conta em crianças de 3 a 7 anos. Tese de Doutorado, Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, São Paulo.         [ Links ]

Black, B. (1989). Interative pretense: Social and symbolic skill in preschool play groups. Merril-Palmer Quarterly, 35, 370-397.         [ Links ]

Brougère, G. (1995). Brinquedo e cultura. São Paulo: Cortez.         [ Links ]

Dantas, B. G. (1991). Os índios em Sergipe. Em D. M. Diniz (coord.), Textos para a história de Sergipe. Aracaju: UFS/BANESE.         [ Links ]

Eibl-Eibesfeldt, I. (1989). Human ethology. New York: Aldine de Gruyer.         [ Links ]

Elkonin, D. (1971). Symbolic and its functions in the play of children. Em R. E. Heron e B. Sutton Smith (eds.), Child'splay (pp. 221-230). New York: John Wiley.         [ Links ]

Farver, J. M. e Howes, C. (1993). Cultural differences in American and Mexican mother-child pretend play. Merril-Palmer Quartely, 39, 344-358.         [ Links ]

Farver, J. M. e Shin, Y. L. (1997). Social pretend play in Korean and Anglo-american preschoolers. Child Development, 68, 544-556.         [ Links ]

Fein, G. G. (1981). Pretend play in childhood: an integrative review. Child Development, 52, 1095-1118.         [ Links ]

Johnson, J. E.; Christie, J. F. e Yawkey, T. D. (1999). Play and early childhood development. New York: Long-man.         [ Links ]

Kotliarenco, M. A. (1997). El juego como possibilidad de refuerzo a la resiliencia. Em Santos, S. M. P. (org.), Brinquedoteca: O lúdico em diferentes contextos (pp. 41-43). Petrópolis: Vozes.         [ Links ]

Levy, G. D.; Taylor, M. G. e Gelman, S. A. (1995). Traditional and evaluative aspects of flexibility in gender roles, social conventions, moral rules, and physical laws. Child Development, 66, 512-531.         [ Links ]

Machado, M. M. (1994). O brinquedo-sucata e a criança. São Paulo: Loyola.         [ Links ]

Mello, C. (1997). A interação social na brincadeira de faz-de-conta: Uma análise da dimensão metacomunicativa. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 13 (1), 199-230.         [ Links ]

Moraes, M. L. S. e Carvalho, A. M. A. (1994). Faz-de-conta: Temas, papéis e regras na brincadeira de crianças de 4 anos. Boletim de Psicologia, 44 (100/101), 21-30.         [ Links ]

Rosen, C. E. (1974). Problem-solving behavior among culturally disadvantaged preschool children. Child Development, 45, 920-927.         [ Links ]

Santana, R. N. de A. (coord.). (1997). Comunidade Mocambo/Porto da Folha - Diagnóstico (não publicado). Aracaju: Sociedade Afrosergipana de Estudos e Cidadania - SACI.         [ Links ]

Smilansky, S. (1968). The effects of sociodramaticplay on disadvanteged preschool children. New York: Wiley.         [ Links ]

Smith, P. K. e Dodsworth, C. (1978). Social class differences in the fantasy play of preschool children. The Journal of Genetic Psychology, 133, 183-190.         [ Links ]

Thompson, T. e Zerbinos, E. (1995). Gender roles in animated cartoons: Has the picture changed in 20 years? Sex Roles, 32 (9/10), 651-673.         [ Links ]

Tizard, B.; Philips, J. e Plewis, I. (1976). Play in preschool centers - II: Effects on play of the child's social class and the educational orientation of the centre. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 17, 265-274.         [ Links ]

Whiting, B. B. (1963). Six cultures: Studies of child rearing. New York: Wiley.         [ Links ]

Whiting, B. B. e Edwards, C. P. (1988) Children ofdifferent worlds: The formation of social behavior. Cambridge: Harvard University Press.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência:
Departamento de Psicologia/CECH/UFS. Jardim Rosa Elze
CEP 49000-100 - São Cristó vão - SE
Fones (79) 212-6747 ou 212-6748
e-mail: ibichara@infonet.com.br

Recebido em: 30/10/99
Aceito em: 13/07/01
Apoio financeiro PIBIC/CNPq/UFS aos alunos André Luis Mandarino Borges, Guilherme Nascimento Caldeira, Fabiana Souza Araújo, Janaina de Oliveira Simões (Xocó), Elder Cerqueira Santos, Wilson Bispo da Fonseca, Flávia Vanessa dos Santos (Mocambo)

 

 

Agradecimanto a Isabela Dórea (voluntária).
1. Trabalho apresentado no Simpósio Brinquedo e cultura na XXIX Reunião Anual de Psicologia da Sociedade Brasileira de Psicologia, Campinas - SP, outubro de 1999.

Creative Commons License