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Ciências & Cognição

versão On-line ISSN 1806-5821

Ciênc. cogn. vol.15 no.3 Rio de Janeiro dez. 2010

 

Resenha

 

Teoria Social Cognitiva: conceitos básicos

 

Social Cognitive Theory: basic concepts

 

 

Márcia de Fátima Rabello Lovisi de FreitasI; Jaqueline Pereira DiasII,

IUniversidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil;
IIUniversidade de São Paulo (USP), Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil

 

 


Obra resenhada: Bandura, A.; Azzi, R. G. & Polydoro, S. (2008). Teoria Social Cognitiva: conceitos básicos. Porto Alegre: Artmed, 176 pp.

 

A Teoria Social Cognitiva, proposta por Albert Bandura, foi formulada, inicialmente, com o nome de Teoria da Aprendizagem Social e ainda é conhecida com esses termos por muitos pesquisadores e profissionais no Brasil. Todavia, o ultrapassado conceito de aprendizagem social precisa dar lugar a abordagens que descrevem mais claramente o papel ativo atribuído aos indivíduos no processo de aprendizagem e a interlocução que eles fazem com o ambiente, principal mediador deste processo. Nesse sentido, a obra resenhada a seguir foi elaborada como possibilidade de apresentação dos esforços de Bandura ao contexto acadêmico do país.

O livro "Teoria Social Cognitiva: Conceitos Básicos" de Bandura, Azzi e Polydoro (2008) é uma obra composta por oito capítulos, sendo que quatro são traduções de textos do próprio Bandura. Ao longo dos oito capítulos, os autores examinam conceitos como: self, agência humana, autoeficácia, eficácia coletiva, modelação, autorregulação e desengajamento moral à luz da teoria social cognitiva elaborada.

A obra destina-se a profissionais da saúde, educação, empresas, clínica e todos aqueles que buscam compreender o comportamento humano e os processos que o explicam. O objetivo dos autores em publicar este trabalho em língua portuguesa é facilitar o acesso dos interessados e introduzir alguns conceitos da extensa obra de Albert Bandura no campo acadêmico brasileiro, no qual a Teoria Social Cognitiva ainda é pouco conhecida ou distorcida.

O primeiro capítulo, escrito pelo próprio Bandura, apresenta os princípios básicos que fundamentam a Teoria Social Cognitiva. O autor atualiza a discussão sobre aprendizagem social, em que o comportamento é parte de um determinismo recíproco envolvendo, também, aspectos cognitivos e o ambiente externo. São analisados, ainda, os construtos autorregulação, autorreflexão, modelação social e autoeficácia. Por fim, o autor discorre sobre a agência humana, teorizando o modelo triádico que se pauta nos modos de agência individual, delegada e coletiva.

O segundo capítulo, também de Bandura, retoma a aprendizagem social e enfatiza os eventos cognitivos - um dos determinantes do comportamento -, analisando os diversos modelos causais e o papel das influências do self. Aponta que este sistema do self diz respeito a estruturas cognitivas que proporcionam mecanismos de referências e de autorregulação. Demonstra, ainda, que fatores externos influem neste processo, afirmando que os indivíduos reagem a determinadas situações processando-as e transformando-as ativamente.

O terceiro capítulo, ainda tendo Bandura como autor, é dedicado à perspectiva da agência na Teoria Social Cognitiva. Ser agente significa ter intencionalidade no agir. Antes de tratar propriamente do assunto, Bandura retoma algumas teorias explicativas do comportamento para que, posteriormente, apresente características da agência e o controle do acaso por meio dela. Explora, também, os diferentes modos da agência humana.

O quarto capítulo, escrito por Pajares e Olaz, enfatiza a autoeficácia na Teoria Social Cognitiva. Os autores retomam alguns conceitos já discutidos nos capítulos iniciais para, num segundo momento, dedicarem-se especificamente às crenças de autoeficácia. Esclarecem para o leitor como elas são criadas e como são capazes de influenciar o funcionamento humano.

No quinto capítulo, Bandura disserta acerca do exercício da agência humana através da eficácia coletiva, definindo as três formas de agência humana e métodos de mensuração da eficácia coletiva. Discorre, ainda, sobre como as explicações do funcionamento grupal apresentam-se repletas de dualismos duvidosos e sobre a percepção da eficácia coletiva impactar o funcionamento do grupo.

No sexto capítulo, a autora Bellico da Costa apresenta o conceito de modelação, optando por descrevê-lo com exemplos e experimentos. Detalha, também, como se dá o uso de modelos na aprendizagem e no desenvolvimento humano, ressaltando três efeitos: modelar novos padrões de resposta; inibir/desinibir respostas previamente aprendidas; e instigar o desempenho de respostas similares às do modelo. Enfatiza o papel do modelo na imitação, o uso de modelos na transmissão de padrões de conduta, os processos envolvidos na aprendizagem por meio de modelos e a relação entre autoeficácia e modelação.

O sétimo e penúltimo capítulo, escrito por Polydoro e Azzi, é dedicado aos aspectos da autorregulação. São analisados o contexto teórico, os conceitos e os processos nela envolvidos. Os indivíduos, além de agirem intencionalmente, também auto-examinam seu funcionamento cognitivo, afetivo e comportamental, levando em consideração subfunções psicológicas - auto-observação, processo de julgamento e autorreação. As autoras discutem, ainda, sobre alguns domínios correntes de investigação da autorregulação como, por exemplo, a autorregulação acadêmica.

Por fim, no último capítulo, Iglesias analisa o conceito de desengajamento moral e seus análogos em outras teorias. Aponta-o como objeto de estudo em diversas pesquisas, já que pode ser utilizado como justificativa para cometer atos antissociais sem sentimento de culpa ou censura. O autor dedica-se à discussão dos oito mecanismos presentes no desengajamento moral, abordando-os de forma sucinta e didática. Discorre, também, sobre as implicações empíricas do desengajamento moral e ressalta a falta destas no contexto acadêmico brasileiro.

Pode-se observar que o livro, por se tratar de uma coletânea de textos de diversos autores, repete alguns conceitos já tratados em outros capítulos. Entretanto, ressalta-se esta repetição como um facilitador da aprendizagem para aqueles que estão se familiarizando com a teoria. A leitura desta obra possibilita, então, uma aproximação aos conceitos e explanações acerca da Teoria Social Cognitiva proposta por Bandura. Dessa forma, ela se torna acessível e clara para aqueles interessados em investigar o comportamento humano sobre diferentes pontos de vista.

 

 

Notas

M.F.R.L.Freitas
Endereço para correspondência: Rua Espírito Santo, 1262/101, Juiz de Fora, MG 36.1016-200.
E-mail para correspondência: marciafreitaspsi@gmail.com.

J.P. Dias
Endereço para correspondência: Rua Campos Sales, 817/33, Ribeirão Preto, SP 14.015-110.
E-mail para correspondência: jaquepdias@gmail.com.