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Ide

Print version ISSN 0101-3106

Ide (São Paulo) vol.42 no.69 São Paulo Jan./June 2020

 

EM PAUTA | O VALOR DA VIDA

 

Sombria: a extensão interior do espaço exterior

 

Bleak - the inner reaches of outer space

 

 

Mario Luiz Prudente Corrêa

Membro associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP) e da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeira Preto (SBPRP). E-mail: marioprudentecorrea@uol.com.br

Correspondência

 

 


RESUMO

A revolução copernicana não interrompe a compulsão cêntrica do Homem. Continuamos um centro de perspectivas no universo. Um núcleo subjetivo e estanque. Quando se evidencia que o Homem guarda em si uma extensão interior do espaço exterior, chegamos a um mal-estar de raio alongado - um mal-estar no Cosmos.

Palavras-chave: Universo. Matéria. Vida. Pré-vida. Circunstancia. Pandemia.


SUMMARY

The Copernican revolution does not interrupt the centric compulsion of Men. We remain a center of perspectives in the universe. An insulated subjective nucleus. When it becomes evident that Men keeps within an inner extension of outer space, we reach a discontentment of elongated radius - a discontentment in the Cosmos.

keywords: Universe. Matter. Life. Pre-life. Circumstance. Pandemic.


 

 

A febre do viver e a montanha de Semmering

Foi em uma casa de verão no deslumbrante cenário dos Alpes do Semmering que Freud concedia uma preciosa entrevista ao jornalista George Sylvester Viereck, da qual extraímos o excerto abaixo. O ano era 1926, período entre guerras e marcado pela ascensão do nazismo ao poder:

Assim como amor e ódio por uma pessoa habitam em nosso peito ao mesmo tempo, assim também toda a vida conjuga o desejo de manter-se e o desejo da própria destruição.

Do mesmo modo com um pequeno elástico esticado tende a assumir a forma original, assim também toda a matéria viva, consciente ou inconscientemente, busca readquirir a completa, a absoluta inércia da existência inorgânica. O impulso de vida e o impulso de morte habitam lado a lado dentro de nós.

A Morte é a companheira do Amor. Juntos eles regem o mundo. Isto é o que diz o meu livro: Além do princípio do prazer.

No começo, a psicanálise supôs que o Amor tinha toda a importância. Agora sabemos que a Morte é igualmente importante.

Biologicamente, todo ser vivo, não importa quão intensamente a vida queime dentro dele, anseia pelo Nirvana, pela cessação da "febre chamada viver", anseia pelo seio de Abraão. O desejo pode ser encoberto por digressões. Não obstante, o objetivo derradeiro da vida é a sua própria extinção. (Freud, 1926/1988)

Como sabemos, o Semmering é uma montanha de passagem nos Alpes orientais. Ponto da famosa via férrea montanhesa, hoje patrimônio da Unesco, que liga a Baixa Áustria a Estíria.

Também, nesse mesmo ano, Freud havia publicado seu livro Inibições, sintomas e ansiedade, contendo elementos que viriam tomar grande relevância clínica entre analistas, como, por exemplo, a natureza do contraste entre a continuidade intrauterina e a "cesura do nascimento" (Freud, 1926/1976, p. 162).

Não fosse pelo seu conteúdo, a entrevista de Freud já seria sui generis pelo peculiar fenômeno estético que seu relato produz. O "grande explorador da alma", tal como Viereck se refere a Freud, aparentemente não lhe ativa respeito paralisante nem temores referenciais; ao contrário, parece livre para indagações e comentários curiosamente precipitados e, por vezes, abruptos atirados a Freud; assim como alguém que lançasse achas rústicas de lenha com o intuito de "atiçar" o fogo de um mestre. Acompanhamos, entre angustiados e divertidos, o seu movimento, ao mesmo tempo que se observa um Freud, senhor de sua lareira, "cozendo os humores", numa expressão de Bachelard (1999, p. 12), em chamas moderadas.

Os contrastes são propícios à consciência e aos sentidos, e a experiência de acompanhar detidamente esse relato é como seguir uma chama bruxuleante de um insinuante clarão, formado do embate entre essas duas figuras heterogêneas. Freud parece plenamente atento e consciente de suas circunstâncias. Tanto àquelas de menor raio e pertinentes à entrevista com Viereck, bem como as de medida maior relativas à sua vida e até aquelas de insondável extensão e que, no dizer de Borges, "lindam com a noite" (1969/1993, p. 65).

Vamos observando essas circunstâncias conforme Freud vai discorrendo sobre elas, em giros mais amplos, desde os sofrimentos com a prótese maxilar, alargando-se para a família, seus pares na universidade, até o próprio ordenamento universal de fenômenos com o qual, aliás, notamos um Freud profundamente conciliado. Aquelas que vão dos aborrecimentos do viver até a morte companheira do amor. Da existência à extinção - a negação de um "destino especial". Da vida que queima no ser biológico até a "febre chamada viver".

Essa última expressão de Freud - a febre chamada viver - capta a nossa atenção de modo especial e atrai maior interesse. Certamente um oxímoro enigmático e de intenso conteúdo emocional representando duas imagens aparentemente contraditórias; e que poderia talvez ser tomado como uma síntese de tudo o que Freud está tentando dizer. Mas o que estaria "oculto"nessa formulação que uniria os dois sentidos contraditórios?

E por que é essa a única expressão dita por Freud que é trazida entre aspas no relato, como se Viereck quisesse nos fazer compreender que Freud estivera citando ocultamente alguém? Mas quem?

 

Ventos sombrios

Retorna a escuridão; mas ora eu sei
Que vinte séculos de sono pétreo
Vexou o pesadelo de um bercinho;
E que rude animal, chegado o tempo,
arrasta-se a Belém para nascer?

("A segunda vinda", W. B. Yeats)

Recobrados do efeito luminoso, quase hipnótico, dos rebates de Freud ao seu entrevistador, é mais possível entrever ali o tema do "Homem e suas circunstâncias" emergindo como um padrão.

É certo que tenha sido Ortega y Gasset um astuto investigador desse binômio e o tenha minuciado com vigor e paixão na sua obra Meditações de Quixote. Vejamos um trecho do que ele diz:

Dado um fato - um homem, um livro, um quadro, uma paisagem, um erro, uma dor -, levá-lo pelo caminho mais curto à plenitude do seu significado; colocar as matérias de toda espécie que a vida lança aos nossos pés, em sua ressaca perene, como restos imprestáveis de um naufrágio, numa tal ordem que neles o sol incida inumeráveis reverberações. Sou eu e minha circunstancia, e se não a salvo não me salvo eu. (2019a, p. 14)

Mais adiante Ortega y Gasset conclui:"É através da consciência de sua própria circunstância que o homem se comunica com o universo" (Ibidem, p. 26).

Então nos perguntamos quais seriam as nossas próprias circunstâncias? E, sim, não há como negar. São tempos sombrios que se acercam e, uma vez mais, devolvem à espécie humana o seu antigo refúgio na caverna. A cesura protetora. Destino de tantos retornos desde tempos ancestrais. Um retorno elástico e original, como se a matéria viva buscasse, no refúgio da caverna pandêmica, a inércia que só poderia estar um pouco além do Nirvana - no inerte da vida inorgânica.1

É um abrigo provisório, já que o enigma que nos aflige traz o paradoxo de ser envolvente, porém - como veremos adiante - é destituído de um "exterior" ou "interior". Assim, portanto, se nos deixássemos imaginar a disposição de um abrigo efetivo como espécie de concha protetora, bem, então concluiríamos que esse abrigo necessitaria ser destituído de um côncavo ou convexo, algo comparável à figura paradoxal, mas bem conhecida de um Anel de Moebius.

Sim, são ventos sombrios e não parecem vazios, mas espalham uma nova ordem de fenômenos. É uma febre turbulenta que aproxima e justapõe contradições: é precoce e muito tardia - intrauterina e inmemoriam. Um renovado "mal-estar na civilização" cuja "solução" demandaria cisão artificial de um tumulto emocional, econômico e social, incompatíveis com a solução. Dizendo de outra forma - a solução é penetrada pelo mal-estar que está tentando resolver.

Os retornos à caverna nem sempre ocorrem por razão de medo físico ou exterior. Platão2 fez um retorno alegórico à caverna para demonstrar um problema de ordem metafísica. Através de contrastes cognitivos ilustra com trêmulas e irresolutas sombras a necessidade urgente das primeiras distinções entre a verdade e suas aparências. Mas é curioso observar a ênfase comumente dada ao primeiro momento da alegoria, em que o brilho e suas sombras apontam o problema de se perceber a verdade. Como isso nos fascina! Porém, o fascínio afasta a atenção para o momento seguinte, quando o problema não é o perceber a verdade, mas a tarefa de contê-la, quando então ela receberia seu valor metafísico.

Seria possível observar e conservar algum "viés de orientação" metafísica3 dessa experiência na caverna pandémica? Em primeiro lugar - essa lacuna sombria em que estamos teria algum significado? Seria tão só importuna ou traria alguma revelação essencial? Revelação de que algo é iminente, como no conhecido poema de Yeats, supracitado, ou revelaria algo que sempre esteve entre nós, e em toda parte, embora não visto? E, se visto, esse algo deveria ser investigado ou inibido?

Mas não só isso - quais os enquadres ou estados de consciência são capazes de inibir essas perguntas e quais aqueles capazes de favorecê-las?

 

Enquadres da consciência

A lateralidade, o maravilhamento, o assombro e capacidade para impressões autênticas - são esses os "estados de consciência" que abordaremos. O cientista lida com fatos. Mas e quando os fatos relevantes emergem das mangas do tempo in-sensíveis e in-formes e se aglomeram velozmente numa ordem pré-tardia de eventos paradoxalmente germinais-finais. Em meio a um vórtice de marés conflitantes, a orientação da lógica e do bom senso podem ser in-suficientes.

E, nesse caso, afortunados são os que possuem aqueles dons necessários a outros registros de lucidez, assim como demonstra de maneira extraordinária Vladimir Nabokov:

Em certo sentido estamos todos despencando em direção à morte desde o andar mais alto, o de nosso nascimento, até as lápides do cemitério, enquanto, junto a uma imortal Alice no país das maravilhas, nós nos maravilhamos com os desenhos na parede que passam em velocidade diante de nossos olhos. Essa capacidade de se maravilhar - a despeito do perigo iminente. (2015, p. 438)

Em suma, segundo Nabokov, a lateralidade de atenção e puerilidade especulativa seriam as formas mais elevadas de consciência, de onde brotariam possíveis convoluções oníricas e associativas.

Um segundo exemplo de disposição à metafísica tomaremos de Joseph Conrad, extraído do seu prefácio à obra The nigger of the 'Narcissus'. Vamos acompanhar um trecho do que ele diz:

Impressionado pelos aspectos do mundo o pensador mergulha nas ideias e o cientista nos fatos, de onde extraem os recursos que melhor servirão para o arriscado empreendimento do viver. Falam com autoridade ao senso comum e à inteligência. Porém, confrontado com o mesmo enigmático espetáculo, o artista mergulha em si mesmo. E, dessa região solitária de tensão e de conflito, é daí que extrai os seus recursos. (1897/1979, prefácio - tradução nossa)

Para Conrad, o universo seria paradoxalmente uno e multifacetado, e fazer-lhe justiça seria o mesmo que investigar os aspectos da realidade, descobrindo nos fatos da vida, nos aspectos da matéria, aquilo que é essencial. Uma concepção, diz ele, apenas franqueada aos indivíduos capazes do sentido de assombro e maravilhamento.

No terceiro e último exemplo, lembramos que essas posições de Conrad parecem ter impressionado fortemente a Saul Bellow, que no seu discurso para o Prêmio Nobel cita algumas dessas

ideias, definindo como imperativo o estado que não se esquiva nos momentos de horror individual e coletivo. Munido de suas "intuições persistentes", o artista iria além das realidades aparentes, captando o que seriam "impressões autênticas" (1995, p. 117). Para Bellow, é por meio dessas intermitentes impressões autênticas que se revelam as qualidades essenciais dos objetos e por onde se dá o diálogo com o universo.

 

Da montanha de Semmering para A Montanha Mágica

A fronteira entre uma obra de ficção e um estudo
científico não é tão nítida quando em geral se crê.

(Nabokov, 2015, p. 40)

Notamos que algo constante no que vimos até aqui é a importância ou necessidade do chamado "diálogo com o universo". Mas, afinal, o que seria isso? Queremos saber onde e como esse diálogo se dá. Uma hipótese seria dizer que ele se encontra onde e quando "intuições persistentes" estiverem ocorrendo. Já sabemos que elas são intermitentes. Ascendem e se apagam, sucessivamente, na intuição dos indivíduos capazes de intervalos de lucidez. São disposições análogas às de Tirésias: a cegueira extralúcida, capaz de vibrar da cegueira até a visão; e, de lá, voltar à cegueira. O paradoxo de ser a ignorância fonte de conhecimento.

Acabamos de ler acima uma afirmação de Nabokov que, para nossa conveniência, poderíamos reformular dizendo que há mais continuidade entre uma ficção e o fato científico do que a cesura da "prova" nos faz crer.

E isso nos remete ao quarto n° 34 do Sanatório Internacional de Berghof, em Davos-Platz, na Suíça. Exatamente porque as tais "impressões autênticas" parecem estar ocorrendo ali, no corpo e na mente do seu ocupante. Vamos acompanhá-lo.

Até altas horas da noite, Hans Castorp permanecia em sua espreguiçadeira no compartimento da sacada de seu quarto. Debaixo da língua ia o termômetro de mercúrio preso aos lábios. Na mesinha branca, ao seu lado, uma lâmpada elétrica junto a uma pilha de livros de anatomia, fisiologia, biologia. Já haviam sido mobilizados todos os recursos de que dispunha contra o frio. Enfiara-se até acima do peito no seu saco de peles. Em torno desse saco lançara dois cobertores de lã de camelo. Na cabeça levava um gorro, nos pés, sapatos de feltro, e nas mãos espessas, luvas que se mostravam incapazes de impedir o enrijecimento dos dedos.

Abaixo da sacada, avistava o vale que lhe parecia mágico e hibernal. Um panorama de bosques polvilhados do branco da lua quase cheia. O mundo apresentava-se para ele enfeitiçado de um modo milagroso. Tudo muito preto e muito branco. O contraste entre a cintilação de cristal e as sombras de contornos precisos e intensos. Além do feitiço da noite, o que fazia Hans Castorp permanecer até tão tarde lá fora seriam certos "estudos" que o jovem acabara de empreender.

Mas, antes de nos inteirarmos do conteúdo desses estudos, voltemos um pouco atrás, visando acompanharmos o caminho até ali.

Hans Castorp nos é apresentado como um produto genuíno da sua terra. Um jovem singelo de família aristocrática.

Acabara de formar-se em engenharia naval. Mas os estudos perseverantes para os exames finais o tinham fatigado mais do que usualmente, e o médico da família, notando-lhe a anemia, recomendou desta vez uma radical mudança de ares. Devia passar algumas semanas nas altas montanhas. Resolveu, então, que visitaria o primo doente e interno em um sanatório nos arredores de Davos. Parte com a intenção de ficar três semanas e retomar sua vida anterior, exatamente do ponto que abandonara momentaneamente.

 

Metamorfoses íntimas: o valor da vida

Pois quem se interessa pelo corpo também
se interessa pela doença, e principalmente por ela.

(A Montanha Mágica, p. 359)

Porém, no caminho de Hamburgo, na planície, até Davos, nas alturas, Castorp percebe que as circunstâncias exigiam atenção. Alçava-se a regiões cujos ares nunca tinha respirado. Condições de vida rarefeitas e reduzidas. Era-lhe angustiante abandonar o torrão natal em direção ao desconhecido. Como passaria lá em cima? Talvez toda aquela ascensão fosse imprudente e prejudicial. A paisagem ao redor, os panoramas grandiosos que se abriam, o universo de cumes alpinos, sentidos por ele como solenes e fantasmagóricos, tudo o tocava profundamente e trazia sensações de cessação, empobrecimento e mal-estar.

Na chegada, recebe do primo Joachim o intrigante aviso de que, ali em cima, se modificavam todas as concepções vindas da planície. Logo observa que "ali em cima" e "da planície" eram expressões com a função de separar dois mundos contrastantes. Suas acomodações, agradáveis e simpáticas, logo perderam

a singeleza assim que se inteirou que fora o palco dos últimos instantes da jovem hóspede anterior, deixando um noivo desolado. Tudo ao redor lhe parecia estranho: a capacidade do pulmão humano em decompor sua estrutura em conteúdo pastoso; os mortos conduzidos por trenós montanha abaixo na madrugada; o ruído lúgubre da tosse de um vizinho de quarto, que lhe parecia com nenhuma outra, onde não havia prazer ou alívio, como alguém que chafurdasse no "lamaçal da podridão orgânica"; os membros da "Sociedade Meio-Pulmão" capazes do assobio com o pneumotórax. Mas, acima de tudo, era inquietante a fria temperatura dos aposentos que lhe enregelavam todo corpo em contrastante ao calor das faces que ardiam como brasas.

O desassossego dá lugar ao espanto, quando Dr. Krokowski e Dr. Behrens, ambos operando como dois olhos em visão binocular - o primeiro humanístico e intuitivo, o segundo simplesmente implacável - desvelam a enfermidade clandestina, oculta na aparência de saúde paisana e comodista de Castorp. A curiosidade displicente dá lugar à surpresa e incredulidade. Kroko-wski comunica ao jovem vindiço que eram incompossíveis os conceitos de Homem e "saúde perfeita", ao passo que Behrens o faz ouvir, pela primeira vez, o rumor surdo e bolhoso de seu pulmão, há muito enfermo. Hans Castorp vê-se, então, convertido da condição de visitante à paciente do sanatório.

 

A vida é a febre da matéria

Lia o que os livros diziam sobre a vida
e seu sagrado e impuro mistério.

(A Montanha Mágica, p. 375)

Hans Castorp não tinha o hábito do pensamento carregado de metafísicas ou filosofias. Mas, agora, em sua nova condição, inicia suas primeiras meditações. A princípio estimulado por Behrens, que o convidava a observar as "circunstâncias" do seu próprio corpo, que agora fascinavam o jovem engenheiro da planície. Por exemplo, a fisiologia da pele. Seria o ectoderma um cérebro externo? Saberia ele que ontogeneticamente a pele tinha a mesma origem que os órgãos sensitivos superiores? Que o sistema nervoso central era apenas uma leve modificação da camada exterior da pele? Seria a função defensiva e protetora da pele restrita à esfera física? Saberia de que maneira ficava ele ruborizado e pálido? O que seria, afinal, o corpo? Os dois discorriam sobre a água corporal e o plasma muscular. A rigidez cadavérica. A anatomia do túmulo. O esparrame dos ingredientes da vida na ocasião da morte. A putrefação, a decomposição, oxidação e também a combustão.

Um dia Behrens lhe diz o seguinte:

A vida é essencialmente uma combustão das proteínas das células, donde provém esse agradável calor animal que às vezes é excessivo. Pois é, viver é morrer, nesse ponto não adianta dissimular. Trata-se de destruction organique [...]. Quando temos a impressão contrária, é porque o nosso juízo não é imparcial. (p. 364)

Um transformado Castorp conclui, de tudo que via e ouvia, que o interesse pela vida é contraparte do interesse pela morte. E era esse o estado de coisas quando o deixamos na sacada, envolto em seu saco de peles, enquanto o mundo lhe parecia encantado, imobilizado e glacial. Além do feitiço da noite invernal, o que o mantinha acordado era o fascínio diante da pilha de novos livros, repletos de ominosos e, antes, inacessíveis conhecimentos. Àqueles de engenharia naval tinham perdido o interesse.

Acometido por vertigens e tremores - pois sua temperatura havia subido desde o começo do inverno -, Castorp em algum ponto parece ter feito a si mesmo uma pergunta crucial: "Devia existir relações entre essa intensa produção de calor que se efetuava dentro do seu corpo e aquela agitação e atividade do espírito que o cativava até muito tarde da cintilante e gélida noite" (p. 372).

A leitura que o cativava sugeria-lhe tal explicação.

Que era a vida? Ninguém sabia. Tudo o que é vivo foi motivado, mas a própria vida parecia não ter motivo. Qual seria a relação entre a vida e o inorgânico cuja condição não é a morte nem a vida, embora componha-se dos mesmos elementos que a vida. Os cientistas, pensava ele, para não se deterem à frente de um milagre se viam na posição de inventar graus intermediários e transições entre o orgânico e o inorgânico, a supor a existência de organismos inferiores: predecessores ou tentativas de vida!

Que era a vida? Ninguém sabia. Porém, uma vez mais, repousando agasalhado em lãs e peles destinadas a evitarem perda de calor, observando na noite enluarada o cotejo entre o vale cintilante e a noite glacial, admirado coma luz vibrante da lua, que lhe parecia um satélite morto; era ali, então, que surgia diante dele a imagem da vida. Essa imagem flutuava diante dele, em algum lugar do espaço, longínqua e, todavia, próxima dos sentidos. A vida era calor!

O calor produzido pela instabilidade preservadora da forma. A vida era uma febre da matéria. Era aquilo que, a muito custo, mediante um esforço delicioso e aflitivo, conseguia, nesse processo complexo e febril de decadência e de renovação, chegar ao equilíbrio no ponto do ser. Não era nem matéria, nem espírito. Era qualquer coisa entre os dois, um fenômeno sustentado pela matéria, tal e qual o arco-íris ou a chama. Era um movimento clandestino, mas perceptível no casto frio do universo, uma secreta e voluptuosa impureza composta de sucção e de evacuação excretória de gás carbônico e de substâncias nocivas e de procedência e qualidades desconhecidas!

 

A enfermidade como forma licenciosa da vida. A vida como forma infecciosa da matéria

As meditações de Castorp prosseguiam. Pois notava que quem chegasse à molécula química já se encontraria nas proximidades de um abismo. Um mistério maior do que havia entre a natureza orgânica e inorgânica. Era o abismo que separava o material do imaterial. O átomo não tinha sequer tamanho. Condensação ínfima e precoce, ainda transitória do imaterial, mas já semelhante à matéria. Energia que mal poderia ser considerada como matéria. Quem alcançasse o ponto onde se trata daquilo que "nem sequer é pequeno", aquilo que escapa toda medida e equivaleria ao infinitamente grande. Isso porque a estrutura do átomo fazia descortinar a estrutura infinitamente grande do cosmos astronômico. O átomo era um sistema cósmico carregado de energia e em cujo seio gravitavam planetas, em torno de um centro que equivaleria ao Sol. Havia um caráter cósmico nas partes mais minúsculas da matéria. Os conceitos de "exterior" e "interior" igualmente viam abalada a sua solidez, posto que o mundo do átomo era um "exterior", ao passo que o astro terrestre que habitamos era organicamente considerado um profundo "interior"!

Mas o mais surpreendente era o que informava o manual de anatomia patológica que Castorp segurava inclinado para a luz da lampadazinha. Ele informava que as aglomerações parasíticas de células infecciosas eram formas de tecidos - eram formas de caráter especialmente exuberantes - provocadas pela irrupção de células estranhas num organismo que se mostrara acolhedor, e de algum modo perverso ofereciam condições favoráveis ao seu crescimento! O mal não era que o parasita privasse de alimentos o tecido circundante; mas, no decorrer do metabolismo peculiar a toda célula, produzia ele combinações orgânicas surpreendentemente tóxicas que resultariam nos mais perigosos fenômenos de envenenamento e perdição. Havia em tudo isso uma exuberância condutora de uma rápida ruína. A aparência exterior dessa corrupção era a excrescência dos tecidos, mas isso porque havia o acolhimento precedente inicial e fatal! Os glóbulos brancos, irresistivelmente atraídos, encaminhavam-se ao local do desastre. Progredia a morte por coagulação. O organismo alcançara uma temperatura elevadíssima, e cambaleava, rumo à própria dissolução. A enfermidade, concluía Castorp, era a forma licenciosa da vida. E a vida não passava de uma doença infecciosa da matéria.

Bem, Thomas Mann, como sabemos, viveu de fato uma temporada no Sanatório Berghof, por ocasião do adoecimento da esposa. E o que nos abisma os sentidos na escalada de Castorp à Montanha Mágica é a ruptura temporoespacial e a desfamiliarização com a ordem organizada e restrita de fenômenos, o "mundo da planície". A "montanha" fende o verniz da banalidade e abre a recepção de impressões autênticas, e o que nos faria acompanhar páginas tão longas que nos parecem intermináveis talvez seja o clarão vislumbrado dessa fissura entreaberta.

Sabemos também da admiração mútua que havia entre Freud e Mann. Quando já contava com 79 anos, Freud escreve, a pedido dos editores de Mann, uma homenagem ao seu sexagésimo aniversário. Em sua carta, ele se diz: "um dos seus 'mais velhos' leitores e admiradores e poderia desejar-lhe uma vida muito longa e feliz". Mas continua seu cumprimento a Mann de outra forma: "Penso, baseado na minha experiência muito pessoal, que está tudo bem se um destino compassivo põe oportuno fim à duração de nossa vida" (1935/1976, p. 311). Notem que o "destino compassivo" desejado ao amigo é algo muito similar aos "deuses gentis" que aspira para si próprio na entrevista a Viereck:

Detesto o meu maxilar mecânico, porque a luta com o aparelho me consome tanta energia preciosa. Mas prefiro ele a maxilar nenhum. Ainda prefiro a existência à extinção. Talvez os deuses sejam gentis conosco, tornando a vida mais desagradável à medida que envelhecemos. Por fim, a morte nos parece menos intolerável do que os fardos que carregamos. (Freud, 1926/1988)

Mas observem também que essa formulação é estranhamente similar ao postulado de Mann sobre existir tal coisa como um "caráter enfermiço" no doente. Então vejamos! Quando Castorp ousa deixar o espaldar agasalhado, de onde deixava os olhos vagarem por sobre o parapeito da sacada, e avança de fato em direção à cerração gelada dos bosques mudos, indiferentes, selvagens e, claro, mortais; e quando a mescla de excitação, fadiga e silêncio convertem-se em autêntico terror glacial da morte; é nesse momento que reflete sobre a "função" de um caráter enfermiço. A enfermidade "prepara a sua vítima com o fim de adaptá-la a si própria" (p. 661).

Haveria as diminuições de sensibilidade, as narcoses providenciais, medidas da natureza visando alívio do porvir. E não seria possível que a tese lançada por Freud a Viereck proviesse de um formidável "diálogo interior" com Mann? E, também, seria a sua "febre chamada viver" uma continuação desse diálogo com a "vida como febre da matéria", na expressão de Castorp?

 

"A extensão interior do espaço exterior": O mal-estar no Cosmos

Ocorreu-me então que o espaço
exterior está dentro de nós,
na medida em que as leis do espaço
estão dentro de nós:
o espaço exterior e o espaço
interior estão dentro de nós.

(Joseph Campbell, 1991, p. 18)

Castorp buscava entender o interior enfermo do Homem, mas pode-se dizer que tenha descoberto uma dimensão cosmológica para a enfermidade. De certo modo seríamos todos "filhos enfermiços da vida", nas palavras de Settembrini, uma das "vozes" da montanha.

Aproximando o alerta de Nabokov sobre a ficção com a conhecida formulação de Freud,4 diríamos que há mais continuidade entre a ficção e a ciência do que a impressionante cesura entre a imaginação e o fato científico nos permite acreditar; e, que a tuberculose pulmonar de Hans Castorp, e os caminhos pela Montanha Mágica não se restringem ao campo "literatura", mas nos conviria como um aviso!

Sim, porque a hora sombria nos força para a cesura da latência. A fim do refúgio provisório devemos estacar, quietos. Pantomima do inanimado. Entre assombrados e maravilhados, damo-nos conta de que uma forma de "pré-vida" está entre nós. Um parasita intracelular, inerte e sem energia metabólica, tão pequeno que não pode ser considerado um organismo, ainda assim pressiona interna e externamente toda a espécie humana. Um mal-estar de raio alongado, que penetra e ultrapassa conflitos da cultura e que nos faz lembrar a observação de Castorp, ao dizer que aquilo que escapa toda medida, "o nem sequer pequeno", equivaleria ao infinitamente grande.

O vírus, cuja origem desconhecida provavelmente remonta à origem da própria vida, é afeito ao humano por uma "porta de entrada" que tem com este e por onde se daria sua "exuberante" dissolução. Nesse contexto, a formulação de Ortega y Gasset ca-beria às nossas atuais circunstâncias: "O infra-humano perdura no homem", acrescentando em seguida: "qual pode ser para o Homem o sentido dessa perduração?" (2019a, p. 35).

Mas, é obra de Teilhard de Chardin, O fenômeno humano, que sugere expansões importantes para essa questão, ao propor o que nos parece um vínculo inexorável entre cosmogênese e antropogênese. Vejamos o que ele diz:

Quanto mais clivamos e pulverizamos artificialmente a matéria mais essa nos deixa ver a sua fundamental unidade. Na sua forma mais imperfeita, porém mais simples de imaginar, esta unidade exprime-se numa espantosa semelhança dos elementos encontrados. [...] Moléculas, átomos, elétrons, estas minúsculas entidades, qualquer que seja a sua ordem de grandeza e o seu nome, manifestam uma perfeita identidade de massa e de comportamento. Nas suas dimensões e operações, parecem espantosamente calibradas - e monótonas. Como se todas as irisações superficiais que encantam as nossas vidas tendessem a apagar-se em profundidade. Como se todo o estofo do universo se reduzisse a uma única e simples forma de substância. (1970, pp. 17-18)

Chardin se maravilhava com o fato de o "âmago" do átomo ser coextensivo a qualquer outro elemento cósmico, inclusive a molécula humana. Isso significava para ele a revelação de que a "malha do universo" seria o próprio universo, e o "fenômeno humano" estaria assentado no interior de uma esfera de raio indefinido, cujo centro seria coextensivo a qualquer espaço. Cada átomo seria, portanto, um centro infinitesimal do próprio mundo.

Notem que sua ênfase é o conteúdo do universo, mas, se a partir dessas considerações nos propuséssemos imaginar uma forma para essa malha do universo, o objeto que nos viria à mente seria aquele mencionado anteriormente de um Anel de Moebius. Essa configuração enigmática que aparenta conter um exterior e um interior, mas que possui apenas uma única e infinita face.

Do ínfimo do átomo ao imenso do cosmos ou da cosmogê-nese à antropogênese, estamos inexoravelmente unidos por essa trama, pelas mais variadas formas da matéria: os estados inorgânicos, a pré-vida, as tentativas de vida e a própria vida. Não é sem uma dose de estranhamento que refletimos sobre forma e conteúdo dessa malha cósmica que a tudo envolve e inclui. Uma tentativa de formulá-la verbalmente seria dizer que o elemento cósmico nos habita, "embaixo da pele e longe das mãos" ou "ao alcance das mãos e fora de controle".

Ainda assim, Joseph Campbell, em sua obra cujo nome subintitula este artigo, faz a seguinte observação sobre o destino da descoberta de Copérnico: "O universo heliocéntrico jamais foi traduzido numa mitologia. A ciência e a religião separaram-se com isso" (1991, p. 37). Ora, essa separação contém uma complexidade talvez não tão aparente, pois não apenas o Sol substituiu a Terra como centro do universo, como também um conceito intelectual substituiu a percepção dos sentidos. A ideia aceita da Terra em relação ao espaço exterior separou-se para sempre da experiência diária dessa mesma relação. O intelecto sabe que o Sol não "nasce" diariamente a leste e se põe majestosamente a oeste, embora nossa percepção diga exatamente isso.

Mas, vejam, é muito difícil afastar a impressão de que a revolução copernicana pouco alterou o fato da permanência do Homem como centro de perspectiva subjetiva do universo. A separação histórica entre ciência e religião mencionada por Campbell conveio no sentido de atrelamento da ciência aos processos conscientes, enquanto a separação preserva a religião, inconscientizada. No lento despertar do pensamento, a espécie humana estaria, então, livre para todo um espectro de compre-ensões teleológicas ou antropomórficas do universo na qual nos vemos em contradição cósmica, como se fossemos espectadores dos acontecimentos do mundo, até o ponto onde surgimos.

Temos tido exemplos dessa compulsão cêntrica em informes científicos tratando da atual pandemia, em que observamos uma irresistível antropoformização do vírus. Atribui-se à forma viral objetivos, intenções, fins, vontades ou desejos nada menos que humanos. Não é raro depararmos com um "o vírus quer..." ou "precisa de...", desconsiderando que o vírus não "quer" nada nem se "arrepende" ao infectar um organismo celular e tão pouco se "desaponta" quando o oposto acontece, mas continua inerte e se desagrega sem choro nem lamentos.

Mas qual será o sentido de tudo isso, senão o de afastar a percepção de que, como assevera Freud (1930/1976, p. 95), "o mundo inteiro, tanto o macrocosmo quanto o microcosmo", não atende ao princípio do prazer. O estofo do universo, paradoxalmente plural e homogêneo, ao qual estamos vinculados por identidade, tem para nós um olhar alheio e indiferente. E, talvez seja esse o campo que Freud tenha circunscrito na ponderação a Romain Rolland a propósito do sentimento "oceânico", com ao menos três referências demarcadoras - o desamparo diante do poder superior do Destino; o caráter indómito da natureza; e a ausência de um propósito para vida. Freud remonta o sentimento de eternidade e ilimitabilidade no vínculo com o universo aos estados narcísicos e primitivos do ego ainda não separado do mundo externo.

Sabemos que a forma como experimentamos e expressamos sentimentos de espectro "oceânico" evoluem e se transformam consoantes à cultura vigente. Nesse contexto, torna-se ainda mais intrigante uma observação de Campbell, segundo a qual o corpo humano desde a Mesopotâmia é interpretado como "em miniatura, uma reprodução da forma macrocósmica" (1991, p. 31).

Os sacerdotes do quarto milênio antes de Cristo, perscrutan-do o céu noturno, observaram as enigmáticas passagens das sete esferas visíveis movendo-se lenta, mas constantemente na vastidão do cosmos. Observaram também uma regularidade matemática demonstrável nesse cortejo de astros. Surgiu então o conceito de que se devia traduzir a revelação da ordem cósmica para a ordem da vida humana com reis, rainhas e suas cortes mimetizando presenças planetárias. Nessa mimese do ordenamento cósmico - sendo a de Ur uma das mais conhecidas - estava inclusa tanto a vida quanto a morte, ao ponto de,quando sinais celestes fossem interpretados como indicando o fim de uma era, rei, rainha e toda sua corte eram enterrados vivos.

À luz dos nossos tempos, a pantomima cortesã da aurora e do declínio dos corpos celestes nos parecem ritos selvagens e inacessíveis. O avanço científico e tecnológico alcançado pelo espécime humano e seu sucesso na expansão populacional em todo o planeta quase nos faria crer termos alcançado o "bem-estar na civilização" seguros no centro do universo. Porém, uma vez mais, irrompe o alarde ou terror cósmico que nos desperta para o ruidoso e inconcluso exercício do des-centramento.

E isso nos faz retornar ao ponto de onde partimos. As perguntas lançadas por Viereck perscrutam a Freud sondando-lhe os pensamentos em relação afama, homenagens, imortalidade e esquecimentos. Mas, em tudo, Freud responde sobre o tema da vida!

Aliás, uma sinopse de todo o diálogo com Viereck apareceria três anos depois, nas primeiras frases de abertura de O mal-estar na civilização:

É impossível fugir à impressão de que as pessoas comumente empregam falsos padrões de avaliação - isto é, de que buscam poder, sucesso e riqueza para elas mesmas e os admiram nos outros, subestimando tudo aquilo que verdadeiramente tem valor na vida.(Freud, 1930/1976)

 

Referências

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Correspondência:
MARIO LUIZ PRUDENTE CORRÊA
Av. Presidente Vargas, 2001
14020-260 - Ribeirão Preto/SP
Tel.: 16 99605.1415

Recebido 30.07.2020
Aceito 14.08.2020

 

 

1 A escolha desses termos obviamente é oriunda do capítulo 5 de Além do princípio do prazer, em que Freud hipotetiza uma "elasticidade orgânica" como expressão da natureza conservadora da substância viva (1920/1976, p. 54).
2 Alegoria da caverna (379 a. C./ 1987, pp. 316-323).
3 O termo "metafísica" alude ao sentido que lhe atribui Ortega y Gasset nas suas Lições de metafísica, onde a define como um caminho de orientação para a "total e radical desorientação do viver" (2019b, pp. 30-31).
4 Inibições, sintomas e ansiedade.

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