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Reverso

Print version ISSN 0102-7395

Reverso vol.32 no.59 Belo Horizonte June 2010

 

Discurso

 

Discurso de Posse Diretoria CPMG.
Biênio 2009/2011

 

 

Ana Cristina Teixeira da Costa Salles

Círculo Psicanalítico de Minas Gerais

 

 

Caros colegas,

Ao iniciarmos em 2007 a nossa primeira gestão, fizemos uma aposta na Psicanálise e no nosso trabalho como sócios do CPMG, uma vez que sempre acreditamos que uma sociedade psicanalítica só se mantém viva e atuante se os seus membros se comprometerem e se organizarem em torno de um trabalho produtivo, criativo, que possibilite uma aprendizagem constante e uma abertura para outros conhecimentos científicos que estabeleçam uma interlocução da psicanálise com outros ramos do saber, promovendo a sua inserção na sociedade.

Freud sempre enfatizou que a saúde mental dos indivíduos e consequentemente das sociedades está na capacidade de amar e trabalhar.

Amor, obra de Eros, é responsável tanto pelos laços afetivos que sustentam o processo civilizatório quanto pelo erotismo.

Dizia Freud em 1914 na Introdução ao Narcisismo: "Em última análise, precisamos amar para não adoecer".

O trabalho, resultado dos processos sublimatórios e importante fator para a manutenção do equilíbrio psíquico, garante outros destinos pulsionais tais como a criação e, sobretudo, a inserção social do sujeito.

Com essas duas palavras "Lieben und arbeiten" – Freud resume a existência humana: o amor nos mantém investidos libidinalmente, o trabalho nos dá um lugar no tecido social, pois transcende a necessidade de sobrevivência fazendo de nós agentes transformadores da sociedade na qual estamos inseridos.

Por que não estender isso para as sociedades psicanalíticas?

É cada vez mais evidente que devido às grandes transformações ocorridas nas sociedades contemporâneas e às novas formas de desamparo e mal-estar presentes na atualidade, torna-se imperioso que a Psicanálise saia de sua ortodoxia e de seus guetos profissionais estabelecendo laços e se comprometendo com a realidade social.

Retirar a nossa responsabilidade e a nossa participação como agentes transformadores através do nosso trabalho e do saber de que dispomos seria decretar, num futuro próximo, a morte das instituições psicanalíticas e talvez da Psicanálise.

Revendo o trabalho realizado na gestão que se encerra, verificamos com satisfação que vários objetivos de aprimorar as atividades científicas e culturais da nossa sociedade foram alcançados com êxito.

Durante o ano de 2008, nossa programação científica cresceu e possibilitou aos que dela participaram a oportunidade de aprimorar os seus conhecimentos psicanalíticos, como também de estabelecer laços culturais em vários campos.

Recordando alguns eventos, tivemos em março/08, além da magnífica aula inaugural realizada pelo Professor Carlos Roberto Drawin sobre "Angústia e saber: reflexões sobre a inter-relação entre psicanálise e filosofia", o "Colóquio psicanálise e organizações: relações sujeito-trabalho-organizações na contemporaneidade", em parceria com o SEBRAE e a Fundação Dom Cabral.

Os seminários realizados pelo Dr. Marco Antonio Coutinho Jorge sobre a "Angústia: de Freud a Lacan", e pelo Dr. Antonio Quinet sobre "A dimensão trágica do inconsciente: o Édipo" acrescentaram inúmeros conhecimentos aos que deles participaram.

A nossa revista Reverso fez trinta anos, voltou a ter duas edições anuais e através do trabalho primoroso do Departamento de Publicação do CPMG alcançou este ano uma melhor classificação: Capes/Qualis B4.

As iniciativas dos colegas responsáveis pelo "Dedo de Prosa" (Eliana Rodrigues Pereira Mendes) e por "Psicanálise, Cinema e Literatura" (Arlindo Carlos Pimenta e Márcio Lúcio Serrano), em parceria com o Campo Lacaniano, trouxeram novos ares culturais ao CPMG.

O trabalho sério e dedicado dos membros da CFPP resultou em vários seminários fecundos que ajudaram a preparar os textos para nossa jornada e possibilitou aos nossos colegas, alunos e convidados a oportunidade de apresentar a sua produção teórica na nossa sociedade. Trabalhos originais e muito bem embasados cientificamente foram apresentados e discutidos.

Uma atenção especial foi dada aos cursos do CPMG, e em várias reuniões com os professores vem sendo discutida proposta para sua melhoria e aperfeiçoamento.

A Clínica de Psicanálise, além de suas reuniões clínicas, realizou a sua primeira jornada interna, fato inédito na nossa Instituição.

O CPMG continuou atuante e participativo na luta com o Movimento Mineiro de Psicanálise contra a regulamentação do exercício da Psicanálise no Brasil, trabalho difícil, mas realizado com afinco pela colega Maria de Lourdes Elias Pinheiro.

Participamos do VII Fórum Mineiro de Psicanálise, realizado em Lavras em junho/2008, e também do XVII Congresso do CBP, em outubro/2008, na cidade de Aracaju, quando vários colegas do CPMG apresentaram sua produção científica.

A biblioteca aumentou o seu acervo de livros e iniciou a digitalização das fitas de VHS que estavam se deteriorando.

Por fim, a nossa Jornada anual sobre "Angústia" foi um sucesso e recebeu inúmeros elogios não só pela qualidade dos trabalhos apresentados como também pela sua organização atenta e competente, realizada pela colega Sílvia Regina Gomes Foscarini.

Em 2009 acrescentamos algumas novidades na programação do CPMG:

A nossa aula inaugural contou com a participação do ilustre professor Dr. Joel Birman, do Rio de Janeiro, filósofo e psicanalista que discorreu sobre o tema "Angústia e Laço Social".

Além dos cursos e seminários ordinários, inauguramos o seminário sobre "Psicanálise e Filosofia", ministrado pelo professor da UFMG Carlos Roberto Drawin, que aborda alguns filósofos especialmente relevantes para a compreensão das teorias de Freud e Lacan.

O seminário do Dr. Marco Antonio Coutinho Jorge trabalha no momento o tema "Formações do Inconsciente".

Desde março deste ano a Clínica de Psicanálise, através de seu coordenador Arlindo Carlos Pimenta, formou um acordo com o Hospital Galba Veloso para apresentação de pacientes e estudo de casos visando a uma interlocução entre os participantes da clínica e os psiquiatras do Hospital Galba Veloso e os do CPMG: os Drs. André Faria D'Azevedo Carneiro, Arlindo Carlos Pimenta, Eliana Mussel da Silva e José Sebastião Menezes Fernandes. Essa iniciativa tem sido de especial importância para o aprofundamento do estudo da psicopatologia.

Em maio deste ano, o CPMG em parceria com a Fundação Dom Cabral, o SEBRAE, a UCMG e a UFMG trouxe a BH o psicanalista francês Markos Zafiropoulos, professor da Universidade de Paris VII, que ministrou importantes conferências nessas instituições sobre o tema: Jornadas Transdisciplinares: o sujeito, o saber e suas complexidades.

Finalmente, a jornada deste ano, coordenada pelo colega Messias Eustáquio Chaves, sobre o tema "Angústia e Laço Social" obteve pleno êxito tendo registrado um número recorde de inscrições e apresentações de trabalhos.

Os conferencistas Antonio Godino Cabas (PR) e Maria Rita Kehl (SP), psicanalistas ilustres, foram brilhantes em suas apresentações.

Ainda há muito que realizar, mas baseado no que foi vivido e experimentado nesse período vamos propor algumas metas para 2009/2011.

1. Constatamos a necessidade de mudanças que visassem a um novo modelo de gestão, mais moderno e dinâmico, com melhorias na eficiência e na eficácia das ações tanto administrativas quanto científicas da nossa sociedade. Tais mudanças implicarão numa reformulação não só do Estatuto como também do Regimento Interno do CPMG.

Após as avaliações e sugestões dos sócios essas mudanças serão implantadas no decorrer desta gestão.

2. Torna-se cada vez mais urgente a discussão sobre o Fórum como espaço de interlocução da Psicanálise intra e extramuros, modelo implantado no CPMG há mais de 20 anos e que atualmente carece de reformulações para que continue a ser um espaço vivo de debates.

3. Por outro lado, a discussão sobre a condição de Oscip e suas implicações para a sociedade, o aprimoramento do nosso modelo de ensino e transmissão da Psicanálise e das atividades da Clínica do CPMG são metas importantes a serem cumpridas para que alcancemos os objetivos científicos e sociais a que nos propomos.

4. As atividades científicas continuarão a ser executadas com o mesmo empenho e dedicação da gestão anterior, procurando garantir a transmissão da Psicanálise de acordo com os princípios fundamentais da obra de Sigmund Freud e das releituras do texto freudiano, aberta ao contrato e ao diálogo com outros ramos do saber e com outras instituições psicanalíticas a fim de garantir o intercâmbio e o aprimoramento constante de nossas atividades científicas e culturais.

5. Os trabalhos que começamos e as mudanças que propomos só serão possíveis se sustentados pelas ligações de Eros entre os membros do CPMG. Não sem divergências ou conflitos, pois sabemos que eles fazem parte do processo, mas com objetividade e profissionalismo visando ao crescimento de nossa sociedade.

6. Cientes dos desafios e das complexidades do nosso tempo, procuraremos fazer com que esta gestão seja marcada por uma abertura e uma participação cada vez maior do CPMG na estrutura social.

7. Acreditando que o trabalho transforma as relações sociais e cria identidade social, estamos investindo na identidade do CPMG, para que aumente seu espaço de atuação, afirmando assim, cada vez mais, sua vocação de Instituição Psicanalítica de excelência.

 

Agradecimentos

Para finalizar, gostaria de agradecer a todos os colegas e sócios do CPMG pelo voto de confiança que outorgaram a esta Diretoria propondo a nossa reeleição a fim de darmos continuidade à nossa proposta de trabalho e de mudanças.

A todos aqueles que participaram e trabalharam conosco nesses dois anos: os membros do Departamento de Publicação, das comissões, os delegados, os professores e os participantes do Fórum, que contribuíram em vários setores, o nosso agradecimento e o nosso reconhecimento pelo que conseguimos realizar juntos.

Aos funcionários do CPMG, nossos agradecimentos pela amizade, pela cooperação e pelo trabalho difícil e nem sempre reconhecido que realizam. Contamos com vocês na próxima gestão.

Aos colegas da Diretoria, uma consideração especial pelo apoio, pela presença e pela competência com que executaram suas tarefas, como também pela determinação e pelo empenho em continuarmos juntos por mais um período de trabalho, enfrentando as adversidades próprias a toda função de gerenciamento. Se hoje estamos iniciando mais uma etapa à frente de nossa sociedade, é porque algo deixou sua marca no simbólico.

Finalmente, aos que não acreditaram ou não apostaram, devo dizer que o CPMG está aqui: vivo, atuante, com suas falhas e acertos, com suas crises e dificuldades, enfrentando os altos e baixos da vida institucional, mas sobretudo apostando na Psicanálise e nos seus ideais de transmissão.

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