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Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál v.42 n.3 São Paulo set. 2008

 

INTERCÂMBIO

 

Encontros e solidões do nosso tempo1

 

Encuentros y soledades de nuestro tiempo

 

Encounters and solitude in our time

 

 

Silvia Corbella2

Società Psicoanalitica Italiana

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

A adolescência, o amor e a velhice, como etapas de transição, são mais difíceis de serem enfrentadas no nosso mundo contemporâneo do que já o foram em outros momentos históricos. É tarefa dos terapeutas de grupo aceitar o desafio desses ciclos de vida e evitar a privatização dos momentos difíceis, aceitando a infelicidade como emoção inevitável, mas também elaborável. A raiva e o riso, o recordar, o esquecer e o perdoar, possíveis no pequeno grupo terapêutico, poderiam permitir a um grupo social mais amplo uma saída para os tempos de aridez e trevas. A sociedade globalizada de hoje poderia ser comparada a uma comunidade portuária. Em várias culturas, o porto é metáfora de lugares capazes de acolhimento e de um espaço que permite a integração entre condições de assentamento (cuidado, capacidade de espera, amor ao ambiente) e condições de nomadismo (tenacidade, hoSPItalidade, coragem, liberdade e memória narrativa).

Palavras-chave: Encontro; Solidão; Adolescência; Amor; Velhice; Raiva; Riso; Grupo terapêutico; Comunidade portuária.


RESUMEN

La adolescencia, el amor y la vejez como etapas de transición son más difíciles de ser enfrentadas en nuestro mundo contemporáneo de lo que fueron en otros momentos históricos. La tarea de los terapeutas de grupo es aceptar el desafío de esos ciclos de vida y evitar la privatización de los momentos difíciles aceptando la infelicidad como emoción inevitable, pero también elaborable. La cólera y la risa, el recordar, el olvidar y el perdonar, posibles en el pequeño grupo terapéutico, podrían permitir a un grupo social más amplio una salida de los tiempos de aridez y de tinieblas. La sociedad globalizada de hoy podría compararse a una comunidad portuaria. El puerto es la metáfora de lugares capaces de acogimiento entre varias culturas y de un área que permite la integración entre condiciones de asentamiento (cuidado, capacidad de espera, amor por el ambiente) y las condiciones de nomadismo (tenacidad, hoSPItalidad, coraje, libertad y memoria narrativa).

Palabras clave: Reunión; Soledades; Adolescencia; Amor; Vejez; Cólera; Risa; Grupo terapéutico; Comunidad portuaria.


ABSTRACT

Adolescence, love and old age as transition stages are more difficult to face in contemporary world than they were in other historical moments. Group therapists have the task of accepting the challenge of those cycles of life and avoiding privatization of difficult moments - accepting unhappiness as inevitable though possible to overcome. Anger and laughter, recollection, forgetting and forgiveness, feelings that are possible in a therapeutic group, may offer a wider social group an exit from harsh times and darkness. Global society nowadays might be compared to a port community: in several cultures the harbor is a metaphor of shelters and rooms that favor the integration between settlement conditions (care, ability to wait, loving the environment) and nomadic conditions (tenacity, hoSPItality, courage, freedom and narrative memory).

Keywords: Encounter; Solitude; Adolescence; Love; Old age; Anger; Laughter; Therapeutic group; Port community.


 

 

Um asteca e o mototáxi

Confusão espaço-temporal, promiscuidade de espaços e de tempos, contigüidade, mas não integração. O passado, o presente e o futuro juntos, mas com uma sensação perturbadora de ambigüidade. Fiquei por um longo tempo a olhá-lo incrédula. Onde eu estava, quem eu era e para onde estava indo? Mas, principalmente, quem era, de onde vinha e para onde estava indo aquele rosto que parecia um ídolo asteca sobre um corpo vestido de entregador de mototáxi amarelo e vermelho? Efeitos da globalização, mas que sensação de desorientação, de estar perdida…

Como será que ele me viu, como terá entendido o meu olhar de espanto e desorientação diante da sua figura improvável? Talvez nem me tenha visto, fechada, em segurança dentro do meu carro, pequeno gueto protetor móvel, forma atual de nomadismo solitário. Quem sabe? Sentados ao redor de uma mesa, numa situação de convívio, talvez falando os dois um inglês embaraçado, para depois talvez descobrir que nos entenderíamos melhor com ele falando espanhol e eu italiano. Poderíamos ter encontrado temas interessantes para conversar, pensamentos a compartilhar, outros a descobrir juntos…

Em vez disso, o sinal, inutilmente verde desde alguns segundos, induz o habitante do gueto atrás de mim a tocar a buzina, fazendo-me deixar de lado as fantasias e voltar para a solidão do trânsito congestionado de Milão destino: o Grupo. Assim, da solidão a uma convivência fantasiada e de volta à Pólis. Mas qual Pólis? Aquela que nos inunda de mensagens a cada espaço publicitário, seduzindo-nos com a idéia de que, se comprarmos os meios tecnológicos adequados, o ilimitado será imediatamente acessível? A cidade dentro da qual freqüentemente nos sentimos como átomos não-relacionados (Pulcini, 2001), perdidos num processo de massificação e globalização que foge a qualquer ilusão de controle e sujeitos a uma poluição acústica, química e relacional? A cidade em que a eSPIral do tempo de vida parece se transformar num labirinto que nos conduz para as garras do Minotauro globalizante, das quais saem fragmentos não reconhecíveis de nós mesmos? Não, na realidade não existe a possibilidade de compartilhar esses meus pensamentos no confronto com outros cidadãos. Posso apenas voltar a um microcosmo protegido e seguro e me confrontar com pessoas que me escolheram como sua psicanalista.

 

O grupo terapêutico

É bom chegar no grupo e encontrar os rostos conhecidos dos meus pacientes, com um papel definido, com a certeza de ser esperada e reconhecida e de poder mergulhar, com a segurança habitual, numa dimensão temporal complexa em que passado, presente e futuro podem talvez estar sincronizados numa eSPIral que eu conheço tão bem como o corredor da minha casa. Mas e eles, os participantes do grupo? Como se vêem? Quais aspectos de si ou de sua história encontram inesperadamente refletidos no olhar, na palavra, na postura de um membro do grupo que passa de recém-conhecido, quase um estranho, para antigo e familiar? Os preconceitos, os estereótipos, o já conhecido tão monótono, mas também tão reassegurador, sofrem um abalo profundo: abrem-se frestas e eSPIrais de luzes em que se podem entrever formas novas e inesperadas. O que fazer? Seguir adiante e talvez descobrir a ilha do tesouro? Ou arriscar a encontrar a ilha que não existe? Ou, melhor ainda, fugir e voltar com nova disposição prazerosa em direção a tudo aquilo que temos o prazer de julgar familiar? Frente a esse conflito, freqüentemente inconsciente, às vezes surgem os assim chamados ataques de pânico, que em geral escondem a raiva dos limites.

Omni determinatio est negatio, escreveu SPInoza. Mas que pena! Por que é assim tão doloroso passar da compreensão da teoria à sua verificação e aceitação na prática? Onde e como aprender o valor do limite e da própria potência?

Mais uma vez gosto de pensar que o pequeno grupo terapêutico pode ser um laboratório protegido, no qual é possível ver e enfrentar a relação entre solidão e pertencimento e aprender a usar a capacidade de integrar e selecionar, que permite olhar com cumplicidade e confiança seletiva para a humanidade. Mas qual humanidade?

 

A humanidade em tempos de trevas

O momento histórico específico que o mundo ocidental está atravessando, caracterizado por sentimentos de insegurança, de precariedade e de crise, de impotência e desagregação até agora escondidos ou negados e que atualmente se tornaram dominantes, esse momento torna particularmente complexa a relação entre pertencer e solidão.

O surgimento cada vez mais constante dessas paixões tristes implica necessariamente uma mudança no modus vivendi das pessoas e de sua forma de se relacionar e produz um tipo particular de desconforto e sofrimento. Muitas vezes, na nossa prática terapêutica, encontramo-nos com um sujeito que tem a ilusão de poder gozar de uma liberdade potencialmente sem limites, em contraste com uma insegurança realisticamente exacerbada em todos os campos. Isso pode desencadear uma alternância com sentimentos maníacos de ilusão onipotente, com sentimentos de depressão/desilusão, com a redução da confiança em si próprio e mesmo com sentimentos de impotência, perda de confiança na própria capacidade e desconfiança em relação ao mundo, acompanhados de estados de ansiedade, medo e inadequação.

Esses sentimentos não permitem um exame adequado da realidade e tendem a repropor uma modalidade de pensamento arcaico que privilegia a culpa assumida ou projetada, no lugar do confronto com as próprias responsabilidades e as dos outros. Parece estar se difundindo uma “nova” modalidade defensiva socializada que cria dificuldades ao funcionamento dos grupos de trabalho: a modalidade não-grupo. Nos ambientes de trabalho, mas não só neles, existe a fantasia de ser um grupo feito de relações desvinculadas, com vínculos fluídos e fugidios que podem ser interrompidos, mais ou menos a critério de cada um, nos quais a tutela ilusória do eu prevalece sobre o objetivo e transforma o grupo de trabalho em um “não-grupo”, em uma massa indiferenciada cuja relação só existe na presença (Kaneklin, 2001).

Essa realidade parece não se referir apenas aos contextos de trabalho atuais, mas, de forma mais geral, a todos os contextos relacionais do homem ocidental contemporâneo.

Para salvar a própria integridade individual no contexto “superveloz” da economia global e do capitalismo flexível, ainda se considera necessário entrar em contato com outras pessoas; no entanto, toma-se todo o cuidado para não desenvolver apegos profundos ou um pertencer muito forte, capaz de criar vínculos que gerem sofrimento e, ao mesmo tempo, de criar obstáculos à possibilidade de experimentar realidades novas e constantemente em mudança. Assim, o não-grupo tem como efeito secundário o empobrecimento profundo do eu e a redução dos espaços de pensamento.

Desenvolve-se uma espécie de “pensamento curto”, baseado na rapidez das decisões e das reações em detrimento da profundidade da análise e restrito a assuntos “privados”. Narcisicamente centrados em supostas estratégias de sobrevivência, evitamos, desse modo, pensar em como enfrentar os complexos perigos que ameaçam o indivíduo singular e o mundo. Assim, passa-se de um presumível e ilusório poder ilimitado para um sentimento de impotência às vezes até aniquilador, no qual o desejo do tudo aqui e agora, de metas atingíveis imediata e facilmente, ameaça não tolerar a espera e leva à perda do futuro.

Quando as angústias decorrentes da insegurança e da incerteza são “privatizadas”, somos induzidos a nos confrontar com uma “humanidade em tempos de trevas”. Brecht chama de tempos de trevas aqueles em que o espaço público se obscurece e as pessoas solicitam atenção apenas aos próprios interesses privados e à própria liberdade. O conceito de humanidade é o legado altamente simbólico da civilização e da Antigüidade clássica que, através do humanismo do Renascimento, chega até o Iluminismo, caracterizado pela confiança de que a posse da faculdade racional constitui um traço-de-união e igualdade entre os homens, capaz de superar preconceitos, antagonismos e pertencimentos.

Nós, herdeiros do pensamento freudiano mas também de duas guerras mundiais e testemunhas das atuais barbáries fratricidas e ataques terroristas , cientes do limite da razão, podemos nos interrogar sobre como ativar a área pré-consciente, que predomina no sonho, como sabemos, para pensar de grupo em grupo e ativar também a criatividade, visando à recuperação de uma humanidade compartilhada, em que se tecem e se selecionam relações e trocas. Dar espaço de escuta e pensabilidade às emoções é uma das condições imprescindíveis para não ter que se subjugar a poderes impessoais e desumanizantes; para emancipar-se e, portanto, autorizar-se a escolher com quem se relacionar, como e por quê. “O mundo não é humano por ser feito de homens, e não se torna humano porque a voz dos homens nele ressoa, mas apenas quando se torna objeto de diálogo” (Arendt, 1968).

 

Pertencimento e solidão: amor, adolescência e envelhecimento

Gostaria de compartilhar pistas e fermentos de pensamentos sobre situações existenciais iniludíveis pelo ser humano como o amor, a adolescência e o envelhecimento, que reativam a dialética entre solidão e pertencimento de forma intensamente dolorosa. Estes três estados têm em comum aspectos de continuidade e descontinuidade, além do fato de terem sofrido modificações consideráveis nas últimas décadas e terem sido muito afetadas pela passagem da modernidade sólida para a modernidade líquida. O amor, a adolescência e o envelhecimento (pelo menos no mundo ocidental) são movimentos transformativos que fazem parte da experiência da maioria dos seres humanos, sem implicar necessariamente em aspectos patológicos, mas certamente momentos de indisfarçável confusão, solidão e infelicidade. Aqui está o problema. A sociedade ocidental atual escorregou na liquidez exasperante, não admite a infelicidade como um dos aspectos fundantes da experiência do existir, mas antes a considera uma patologia que deve ser combatida, deixando as pessoas mais infelizes e mais sozinhas diante dos problemas. O amor, a adolescência e o envelhecimento nos fazem sentir de forma concreta exatamente como a dialética entre a solidão e o pertencimento, mas confronta inevitavelmente com uma infeliz solidão.

 

A infelicidade iniludível

Enquanto eu refletia sobre este tema, encontrei no jornal La Stampa do dia 12 de setembro do ano passado e, sublinho que acho que não por acaso, o dia seguinte aos acontecimentos do fatídico 11 de Setembro, um artigo escrito por Ceronetti com o título de “A ilusão de vencer a infelicidade”.

O autor lembra que foi Saint-Just a dizer na Convenção: “A felicidade é uma idéia nova na Europa”, e sublinha como o verdadeiro problema era o de diminuir a infelicidade, mas também chama a atenção para um fato: a partir do momento em que aquela frase foi pronunciada na Europa,

[não obstante] um esforço imenso coletivo para eliminar a infelicidade material, esforço insensato perseguido em detrimento de tudo o que é vivo […] a infelicidade aumentou vertiginosamente, a ponto de poder ser alcançada pela mão ou empurrada com o cotovelo […].

E continua

os pais fundadores inscreveram a felicidade na Declaração da Independência dos Estados Unidos: pouco depois de dois séculos, a grande América é o motor da economia e também da infelicidade ocidental e mundial. A indústria mais poderosa e mais influente sobre os destinos é a dos psicofármacos. O objetivo é reduzir a infelicidade que cresce em todos os lugares mediante a anestesia química (droga e álcool vêm em seguida), que faz esquecer a dor interna, o terror da privação progressiva e incessante da esperança e do sentido da vida.

Em minha opinião, este é um trecho muito importante, porque deixa evidente como a ilusão cultivada de que a infelicidade não tem o direito de ser ouvida e falada não aumenta a esperança, mas, antes, o desespero e a solidão, e diminui a confiança nas próprias capacidades de enfrentar e resolver os problemas, em detrimento da criatividade. Ceronetti continua:

Uma vez que o mal é psíquico (não tem um lugar no corpo, ocupa-o inteiro), é também incurável: o psicofármaco o esconde, o entontece, o atenua por somente um momento […]. Aí estão os famintos de supérfluos que o mercado e a publicidade corrompem desde a medula, as vítimas sinistras do prolongamento da vida, que condena quase todos às solidões e abandonos drásticos do envelhecimento. Erro político fundamental é querer dar […] bens materiais em excesso, que interiormente são vomitados com náusea, porque são governados em profundidade por um demônio individual enlouquecido e sem bússola: o Demônio […] da Depressão.

E continua evidenciando a necessidade de tolerar o limite ciente da dificuldade da tarefa, porque quanto mais se deseja medicar a infelicidade, tanto maior o risco de erro. “Não a levando em consideração, com os ouvidos tampados ao grito, tudo segue.” Acredito que seja mesmo nossa função acolher o grito e procurar juntos pelo significado, quer seja do grito do sofrimento de amor, do medo de crescer ou a dor de envelhecer e o medo da morte.

Hoje, mais do que nunca, a patologia do indivíduo deve ser contextualizada na patologia atual do social para poder ultrapassar a lógica arcaica e dicotômica do aut-aut,3 do tudo ou nada, da culpa e atingir o ponto em que cada um assuma suas próprias responsabilidades. Só então será possível integrar responsabilidade pessoal e responsabilidade social, de tal forma que o mundo possa reencontrar a estrada em direção à humanidade capaz de enfrentar e superar os “tempos de trevas”. Emancipar-se dos tempos de trevas, tecer vínculos livres (o paradoxo o consente) é a estrada a ser percorrida juntos.

 

A cólera e o riso

Já há algum tempo o sentia ausente e irritadiço. O coração, mais vigilante desde os últimos acontecimentos, estava em alerta. O último episódio de exasperada grosseria verbal havia gerado uma cólera fria e determinada. Era inútil e estúpido continuar calada. À memória vêm palavras que não consegue deixar cair. Palavras descobertas inesperadamente e que tinham evidenciado a sensação profunda de traição. A traição tinha levado embora (pelo menos em palavras) a cumplicidade, a ternura, o carinho e o amor. Como continuar a abrir a janela na ilusão de encontrar o panorama de sempre lá onde se tinha aberto um precipício escuro e inesperado? Mas deixa pra lá, não vamos exagerar… tudo parece resolvido, tudo voltou aos trilhos da tranqüilidade cotidiana com paixão renovada. Pelo menos, era o que parecia, mas, agora, as últimas sensações trazem de volta a intuição que se seguiu à descoberta do início daquela traição e depois, segundo ele, já resolvido. O quê fazer, o quê dizer, o quê sentir? Um nó górdio4 que só um jovem príncipe de memória alexandrina poderia desatar. Mas ele alguma vez existiu? E, se existiu, existe ainda?

A esta altura, é ela quem quer distância e se pergunta se ainda está disponível ao amor para ele. Tinham atravessado juntos a fase do enamoramento e do amor romântico que, no entanto, de vez em quando no tempo eSPIral (é exatamente o tempo do grupo, mas também o tempo da vida) conseguiram renovar, e ela há muitos anos pensava que eles tinham a sorte e a capacidade de viver um amor maduro e duradouro. Ele tinha dito “com você posso até envelhecer”. Que melhor garantia ela poderia ter? E, no entanto… Ali estavam eles, tensos e distantes. Quisera emancipar-se das lembranças ou pelo menos de algumas lembranças, vínculos dolorosamente sufocantes. Noites perturbadas de angústias de morte. A nova solidão que sente hoje talvez seja a solidão do velho e do exilado. Uma solidão acompanhada de uma sensação de inadequação que cria quase uma sensação de vergonha.

A traição, talvez motivada pelo medo da velhice e da morte, foi uma espécie de terremoto emocional e agora há os escombros: o não saber que tipo de construções novas poderão ser as mais adequadas provoca uma sensação de estar perdida, de medo e mal-estar. O paradoxo da solidão é que gostaria de compartilhar com ele seus sentimentos, seus medos e dúvidas e até o seu ciúme, mas como fazer? Tornar-se um peso? Obrigá-lo a mentiras patéticas? Melhor tolerar a dúvida, mas que difícil! Emancipar-se das lembranças negativas é realmente difícil: são como predadores velhacos que assaltam no escuro, roubando a segurança e a serenidade. Mas como derrotá-los? Sinto uma ternura profunda e um desejo de abraçá-lo forte, mas depois a cólera retoma a dianteira. Amanhã de manhã, quando ele acordar, ele, porque ela não consegue pegar no sono, falarei com ele. Ele percebe que ela está agitada, acorda-a carinhosamente e pergunta: o quê é que não vai bem, o que posso fazer? Muita coisa, ela responde com fria determinação e tentando segurar a cólera, tenta ser lúcida, mas também sincera. Lista as suas dúvidas, o medo da outra, o medo das mentiras patéticas e o não querer controlar, descobrir. Quer saber para quando está marcado o próximo encontro com ela, uma vez que os sinais que notou são os mesmos que precederam a horrível descoberta. Ele a olha com infinita ternura, acaricia os seus cabelos e explode numa risada autêntica, profunda e libertadora que consegue ser comunicativa.

Depois, dão risada juntos e, como que por magia, volta a alegria do amor e da cumplicidade.

A protagonista dessa história, apesar de ter terminado sua análise há algum tempo, tinha-me solicitado de retomar alguns encontros analíticos para compreender e elaborar esse momento difícil que estava atravessando e que tinha produzido uma infelicidade profunda e uma sensação dolorosa de solidão impotente.

Essa história, com exceção do final que não quero banalizar chamando-o de happy end, porque é um final que, na sua “simplicidade” madura implica numa coragem não comum e uma capacidade de amar também não comum representa bem a “banalidade” do mal-estar nas relações erótico-sentimentais “líquidas” contemporâneas.

Onde uso o termo “mal”-estar não pretendo dar nenhuma conotação ética, mas apenas me referia ao significado de alguma coisa que gera infelicidade, dor mais ou menos profunda, mais ou menos destrutiva, de acordo com a situação e com os parceiros. A impossibilidade de disfarçar o “mal”-estar nasce da necessária emancipação do estado fusional, da confiança inconsciente e gratuita e, portanto, segurança da infância, para atravessar a infelicidade e a liberdade da solidão. E quem nunca errou que atire a primeira pedra. Desde a ótica da moral das intenções, tão amada daquele sujeito e objeto de amor que foi Abelardo,5 acredito que não haja ninguém que não tenha sofrido alguma traição e que não tenha sido também ator, pelo menos uma vez, mesmo que fosse só em fantasia. Portanto, nada de novo sob o sol.

Entretanto, o que parece caracterizar a “modernidade líquida” é a obviedade do que antigamente, e em alguns casos ainda hoje, é chamado de “traição”, que é negada, na sua complexidade e nas suas conseqüências, banalizada e aceita como modelo de comportamento.

Assim, como no social existe o risco da instalação do não-grupo, no privado existe o risco da não-relação, com todas as recaídas negativas públicas e privadas que isso comporta.

A “cólera” e o “riso” foram escolhidos por mim, não por acaso, para caracterizar o exemplo de uma “sólida” relação amorosa, porque, quando a paciente me trouxe essa história e referiu-se à cólera e ao riso, imediatamente me veio à memória um pensamento de Lessing. Lessing considera tanto a cólera quanto o riso os sentimentos que mais permitem uma visão lúcida da realidade, porque permitem manter uma distância acertada. Distância a qual Lessing fica muito atento também na relação entre pessoas e que dentre todos os sentimentos faz com que ele privilegie a amizade. Amizade que respeita a liberdade e que, por isso, precisa ter condições de exercitar a tarefa difícil de uma dupla renúncia da solidão e da proximidade excessiva.

Lessing elogia a cólera e o riso porque se na esperança a alma ultrapassa a realidade, no medo a alma se encolhe diante da realidade, “a cólera, ao invés, revela e expõe o mundo, e o riso quer reconciliar-se com o mundo, mas com ironia, sem ter que vender a alma” (Arendt, 1968, tr. it., 2006).

Acredito também que, nos momentos de crise, o amor possa e deva recuperar aquela forma mais elevada de amizade que permite tomar distância e enxergar o outro e de ser honesto consigo próprio. Só assim é possível alcançar “aquela nobreza de sentimentos em que ambos podem afirmar: ‘você também tem razão!’, o que significa que a cada um é oferecida a experiência de reconhecer o outro como um representante de si próprio mais verdadeiro do que ele mesmo” (Lopes, 2005). No exemplo que acabei de citar, acredito que tenha acontecido exatamente isso. Ele, aceitando os pressupostos dela, pode compreender e conter a sua cólera, mas sem se submeter e continuando a ser ele mesmo. Ela se sentiu acolhida pela escuta respeitosa da sua justa cólera pela vileza e traição do passado, e reconheceu no riso afetuoso dele uma ternura paterna e autêntica em relação à sua fragilidade e aos seus medos infantis reativados ao episódio. Ao mesmo tempo, pôde também compreender o absurdo e o anacronismo dessa fragilidade. Nenhuma resposta poderia ter sido melhor do que aquela risada incrédula e não sarcástica.

A “traição”, ou melhor, a elaboração da traição, neste caso específico, e por mérito de ambos, leva a uma retomada do amor e também da confiança recíproca. Ambos tiveram a coragem de ouvir o pré-consciente, o que permitiu criar um espaço infra onde pôde acontecer um novo encontro. Encontro não saturado de mentiras patéticas como resposta para perguntas igualmente patéticas que “racionalmente” gostariam de não entender, no sentido de captar, mas apossar-se da verdade como de um estandarte de vingança para as próximas disputas. Encontro sem mentiras covardemente sepultadas na “negação”, tese a repropor um improvável “não acontecido”, mas encontro entre duas pessoas autênticas capazes de olhar com cólera e riso a realidade e depois superar o infra da amizade com o abraço do amor. Fácil e banal teria sido cair na vingança ou na negação, no cinismo sarcástico que desvaloriza o amor e no risco de denegrir assim a história passada e trair a si próprio e aos sentimentos do passado.

Depois do episódio referido, a minha paciente me contou que experimentou certo senso de emancipação em relação à dor da traição, no sentido de que não se sentia mais escrava de ficar remoendo/ruminando as lembranças que traiçoeiramente a assaltavam. Nesse momento transmito a ela um pensamento que li recentemente: “Lembrar significa dar uma morada psíquica a uma ferida incorpórea” (Sliverman, 1996) e lhe pergunto como conseguiu desalojar as lembranças. Ela responde: “Eu perdoei, pelo menos assim me parece, e daí comecei a poder esquecer…”

Associo o tema da traição e do perdão ao tema do doar e do esquecer.

Nos últimos tempos, tenho enfrentado essa temática com freqüência, tanto nas terapias individuais como nas de grupo. Voltando ao exemplo citado, talvez não seja por caso, no qual a traição é descoberta mais uma vez abrindo o e-mail. Tenho a impressão de que as novas técnicas de comunicação, o correio eletrônico e as mensagens dos celulares, sejam instrumentos que facilitam, ao mesmo tempo, a traição e sua descoberta. Talvez, em alguns casos possa existir o desejo, da parte do traidor, de ser descoberto (o termo “traidor” neste contexto me parece excessivamente denso). Desejo que pode ser ditado, em alguns casos, pela vontade de colocar o companheiro diante do fato consumado, mas, em outros casos, pela necessidade de pedir ajuda ao outro, quase como se ele fosse um pai ou uma mãe a quem demandar, de forma ambivalente, por um lado contenção e, por outro, paradoxalmente, autorização para se emancipar, como se fosse o outro a ter de ajudá-lo a se libertar de uma relação-vínculo vivida contextualmente como escravidão. Assim, na adolescência, com freqüência os filhos querem, paradoxalmente, livrar-se dos vínculos familiares com a autorização dos pais, ao mesmo tempo desautorizados e desvalorizados como os amantes traídos.

Sobre este tema, eu poderia trazer muitos episódios dolorosos relatados a mim por pacientes que foram os atores de um ou outro desses dois papéis. Chama a atenção o hiato entre a rapidez quase embaraçante dos fatos e os longos períodos de sofrimento que provocam. É rápido livrar-se do outro, mas é longo e complexo o processo de emancipação da dor, da sensação profunda de solidão sentida quase como “vergonhosa”, de tal forma que você acaba se envergonhando diante de você mesmo quando pensa nas declarações feitas através desses novos meios de comunicação; declarações “líquidas” traídas em seus fatos.

Declarações de amor eterno reiteradas várias vezes por dia, de encontro único e insubstituível que, às vezes, são seguidas de silêncios inesperados e de desaparecimento, os quais não são ecos da velha estratégia de que “no amor ganha quem foge”. São ausências e desaparecimentos autênticos, com troca de números de celulares que deixam feridas e cicatrizes, mais ou menos graves; que, mais do que levar à reflexão, levam ao uso de antidepressivos, ignorando freqüentemente que uma coisa não exclui a outra.

Ultrapassada a fase inebriante do enamoramento, diante do risco de se sentir dependente em relação ao outro (uma vez que muitas vezes o pensamento dominante é aquele arcaico, do tudo ou nada), é preciso exibir uma suposta autonomia que depois deixa não uma sensação de triunfo, mas de solidão profunda e depressão também em quem desaparece. Surge uma espécie de comportamento bipolar, primeiro maníaco, que estimula a identificação com a Vestal do amor ou com o Príncipe encantado, que são assumidos como ideais do eu, e, depois, depressivo, no qual mais uma vez voltamos ao ataque de culpas, o que deixa de lado a responsabilidade recíproca e gera um profundo senso de inadequação.

O “ideal” do “eu” se alia ao “superego sádico” e ataca a pessoa, incapaz de viver uma relação real e incapaz de se pensar aceita como um todo, com seus arroubos e com seus medos, com suas capacidades e com seus limites. Na complexidade do real assiste-se, mais uma vez, à luta interna entre aspectos infantis totalizantes, possessivos, e capacidades adultas e autônomas de pensamentos que não conseguem abrir caminho. Tudo isso em prejuízo dos projetos e da criatividade. Falta um modelo, um “eu ideal”, uma persona, que faça as vezes de mentor. Graças ao trabalho analítico da persona do analista, na confrontação com o grupo e na troca entre pares, constroem-se novas possibilidades relacionais que permitem emancipar-se de comportamentos estereotipados.

 

Vínculos e emancipação na eSPIral do tempo

Os habitantes do mundo ocidental, sob certos aspectos, podem ser comparados a vítimas de um trauma provocado por transformações rápidas demais para poderem ser integradas, achatados num presente eterno e repetitivo, sem as raízes do passado e com medo do futuro incerto e incontrolável. Futuro que, às vezes, recuperando o pensamento mágico, é reativamente idealizado, por exemplo, como lugar do encontro perfeito, quer no trabalho, no amor ou numa viagem. O tempo da espera e da reconstrução, assim como a história narrada, parece fragmentar-se num tempo puntiforme e descontínuo que torna impossível não só o encontro entre Aquiles e a tartaruga, mas também o encontro autêntico com o outro e, portanto, com a própria vida e com a humanidade.

Freqüentemente o bombardeio de informações e a rapidez das inovações fazem surgir rígidas barreiras defensivas que impedem a possibilidade de troca e de um intercâmbio vital. Assim, em nível pessoal e social, o novo, o diferente, quer seja um indivíduo, um projeto ou uma idéia, são sentidos mais como potencialmente invasores do que potencialmente criativos.

A necessidade de ser e fazer de forma complacente para o indivíduo moderno tem origem no confronto com a perda da esperança no futuro […]. Procurar ser você mesmo nesta sociedade de conformismo exasperado significa arriscar-se a vivenciar sentimentos de exclusão que podem fazer mais mal do que a consciência de ter traído a si próprio para adaptar-se aos outros (Di Gregori, ibid.).

A meu ver, a consciência de ter traído a si próprio nem sempre está presente, pelo simples fato de nunca ter havido a oportunidade de entender profundamente quem se é, pelo menos na maior parte das famílias de origem dos nossos pacientes. Às vezes nos adaptamos a comportamentos coletivos que nos fazem parecer “cofres vazios: seres que continuam a blindar-se, inutilmente, contra qualquer forma de infelicidade” (Benesayg, Schimit, 2003). E quanto mais fechamos a porta para a infelicidade e para o mal-estar, mais eles voltam a entrar pela janela; com freqüência a complacência é acompanhada por uma sensação dolorosa de futilidade e de falta de profundidade. De uns anos para cá, pela primeira vez em meu trabalho analítico, eles me trazem relatos de sonhos nos quais os protagonistas são personagens de desenhos animados: bidimensionais e totalmente achatados.

Parece haver uma dificuldade geral em “tomar a própria vida nas mãos”, particularmente nas pessoas nascidas entre 1968 e 1978 (Sand, 2006). São pessoas muitas vezes precárias profissionalmente, e, herdeiras de uma década de mudanças tecnológicas e sociais aceleradíssimas, apresentam muitos traços adolescentes, não se considerando adultos antes dos 35, 40 anos.

Entre as situações existenciais que recolocam em discussão a pessoa inteira como a relação amorosa (que, como vimos no exemplo trazido, necessitam a manutenção da disponibilidade para se rediscutir), a adolescência e o envelhecimento possuem elementos de continuidade, caracterizados por dificuldades específicas exasperadas pelo contexto social.

Essas situações de mudança e de crise de fato implicam a necessidade de poder usufruir de toda a temporalidade da existência, ou seja, passado, presente e futuro na sua complexa dialética. Mas privilegiar nem tanto o presente, mas, exasperadamente, todo o passado vivido, que nega o valor da experiência atual, do presente e da construção, assim como a espera do futuro, produz uma imbricação negativa entre a crise pessoal ou geracional e aquela que hoje investe a sociedade ocidental, resultando num agravamento recíproco.

A crise de identidade típica dos momentos de transição é acompanhada pela crise dos fundamentos sociais. A dialética entre passado, presente e futuro, que tem como polaridade o “espaço da experiência” do passado e o “horizonte de espera” do futuro (Ricœur, 1998), permite que o presente seja modulado de forma criativa. Quando essa possibilidade é negada, por estarmos seduzidos por um pertencimento falsamente reassegurador e escravos de um sentir comum exasperado, vive-se na escravidão de um presente saturado e onipotente. É necessário então recuperar primeiro a liberdade de se movimentar no tempo, pois cada crise de identidade tem a ver com a coerência da própria história e, portanto, precisa se confrontar com a memória, o esquecimento e o projeto.

Para poder “recordar, esquecer, perdoar” usando a frase da paciente já citada e o bonito livro de Paul Ricœur (1998) , é preciso antes ter consciência do próprio e específico “estar”, do próprio existir e dos próprios pertencimentos, dos quais podemos também nos emancipar para depois, conscientemente, nos autorizarmos a integrar e selecionar.

 

“Recordar, esquecer e perdoar” na dialética entre vínculo e emancipação

A memória se entrelaça com as três dimensões do tempo: passado, presente e futuro. Durante as situações transformativas, freqüentemente é necessário tomar uma breve licença serena do passado, para poder abrir uma página nova na própria vida e no próprio tempo. Isso é válido para o amor, para a adolescência e para o envelhecimento, e também no plano social é necessário ter a coragem de abandonar as certezas do statu quo, para que novas perguntas possam surgir e permitir a criação de outras hipóteses e outros projetos. Como vimos no exemplo do amor maduro, do qual minha paciente se fez porta-voz, é necessário abandonar o fardo da culpa, quer assumida quer projetada, fantasiosa ou real, e deixar um espaço para o perdão difícil (não poluído por um bondosismo superficial), aquele que permite livrar-se da escravidão da lembrança coagida que privilegia o passado em lugar do presente e do futuro e limita o horizonte de espera e o espaço de esperança.

Se os adolescentes do passado eram mais atormentados por conflitos internos, sentimentos de culpa e medo da sexualidade, os adolescentes atuais, como os amantes em crise e os velhos, são invadidos principalmente pela sensação de impotência, muitas vezes acompanhada de apatia, vazio, monotonia, indiferença e impossibilidade de se representar e imaginar-se no amanhã, do medo ao mesmo tempo da solidão e do relacionamento. Não conseguindo enfrentar a infelicidade que diferentes lutos do passado comportam, o luto abaixa a ponte levadiça da depressão assediadora que consolida o ritual narcísico.

O social se torna inimigo e a humanidade está destinada a tempos de trevas cada vez mais acentuados. O que fazer? Gosto de lembrar como Ulisses (Odisséia, VIII) junto à corte dos feaces6 atinge uma espécie de comoção e chora no grande manto púrpura, escondendo o rosto enquanto escuta a própria história narrada pelo cantor épico cego.

Gostaria de chamar a atenção para a fecundidade particular do sentir-se compreendido e acolhido gratuitamente na mente do outro, no grupo terapêutico. O outro que não é somente o analista comprometido a trabalhar com você e por você pago para isso, mas o outro que tem problemas e necessidades, cantor épico cego para si mesmo, mas capaz de reconhecer e ver você e que não tem medo de escolher e manter sua história na mente. Desta forma, ele gratuitamente o valoriza. Aqui acenamos pela primeira vez para o valor do doar-se, que depois retomaremos. Somente uma narrativa compartilhada permite reaproximação com a própria história e a utilização do passado como recurso.

Ocorre-me de novo o pensamento de Arendt citado no início: “[…] o mundo não é humano por ter sido feito pelos homens e não se torna humano porque a voz dos homens nele ressoa, mas somente quando se torna objeto de diálogo”, no qual podemos acrescentar ao mundo o adjetivo “interno”. Quando a própria história se faz objeto de diálogo, podemos reduzir a área do destino e assumir a responsabilidade pelo passado, que nos permite inclusive escolher o que lembrar, o que esquecer, o que perdoar.

Nos momentos de crise que colocam em discussão a identidade (amor, adolescência, envelhecimento), o grupo inventa novas formas narrativas, novas imagens para permitir a uma pessoa, incapaz de representar uma realidade que na sua complexidade confusa corre o risco de perder, de reencontrar ou encontrar o sentido de si próprio e da própria história.

Graças ao trabalho analítico, é possível assumir a “responsabilidade” pelo próprio destino que permite a emancipação do passado vivido e abre o futuro através da liberdade humana limitada. Assim, se o passado nos parece “um cemitério de promessas não cumpridas”, torna-se possível assumir a responsabilidade “de acordar e reanimar essas promessas, autorizando-se a fazer a própria história” (Ricœur, 1998).

 

Esquecimento seletivo, perdão e doação

Naturalmente, não é possível reacender e cumprir todas as promessas. É necessário usar um esquecimento ativo e seletivo, que permite um senso de coesão do “eu” e de coerência da própria vida e da história. O esquecimento não deve ser obra da consciência vigilante; é preciso confiar na área pré-consciente madura, que, permitindo à memória não conservar, mas evocar, de acenar como um oráculo, permite re-significações novas e criativas.

Emancipar-se da lembrança como ruminar obsessivo liberta a memória da escravidão e inventa novas coerências, as quais não nascem mais da necessidade de solicitar e reivindicar, mas do desejo aberto ao futuro e ao projeto.

“É função do conhecimento entender e discriminar o que é vivo e fecundo do passado e o que definitivamente deve ser abandonado, sepultado e esquecido” (Lopez, 1996).

O grupo como uma nova comunidade fundante, através de cuja narração a história pode ser modificada desde seu interior, dá à narração o estatuto de história compartilhada que a enobrece e a valoriza, graças às interpretações, aos acréscimos de sentido e às mentalizações que se ativam na interação com o analista e também com seus pares. De escravos da própria história, ficamos livres para fazer a história através de uma narração coerente com o próprio projeto futuro. O grupo (assim como o analista), no aqui e agora do encontro, pode se tornar o outro, o terceiro que nos autoriza a uma cólera lúcida, ao mesmo tempo em que permite aquela capacidade de leveza e de jogo que nos faz revisitar o passado bem equipados, por obra do esquecimento seletivo e de uma memória sábia.

O presente aberto à dialética entre passado e futuro deixa de ser achatado e superficial e passa a ser forte e prospectivo, e assim pode utilizar a história como um recurso tanto no nível pessoal como no social. Esse exercício permite voltar ao mundo, selecionar os companheiros de viagem, para procurar construir tempos menos sombrios para humanidade. Ricœur nos lembra que o esquecimento não tem a ver com os acontecimentos, mas com a “culpa”, que paralisa a memória, e com a capacidade de se projetar de forma criativa em relação ao futuro. O objeto do esquecimento não é o acontecimento, mas o seu significado.

Voltando ao tema do perdão, antes de poder perdoar, “a vítima” precisa se sentir autorizada ao exercício de uma cólera lúcida, depois do que poderá conceder e conceder-se o esquecimento.

O autor das injustiças pode pedir perdão, mas deve enfrentar o risco da recusa. Ricœur sublinha que não deve haver “esquecimento fácil”, filho do perdão fácil. Uma espécie de negação narcísica, de autocompadecimento que gostaria de economizar o trabalho da memória e do luto e evitar o encontro com a infelicidade.

Há um preço a pagar pela reabilitação, senão o conhecido binômio narcisismo-masoquismo corre o risco de colidir com a prescrição do pedido de impunidade e da negação do limite. A procura de uma nova relação entre a nossa própria responsabilidade e a dos outros passa por uma reavaliação da idéia de doação que está na base do perdão.

O perdão é semanticamente ligado à doação em muitas línguas, e, não por acaso, também a idéia de doação tem suas armadilhas. A essência do doar parece ser a ausência da reciprocidade. “A doação é colocada fora de qualquer troca ou se opõe somente à forma mercantilizada de troca?”, pergunta-se Ricœur (ibid.). Sabemos que freqüentemente, por trás da generosidade, esconde-se uma intenção, na qual a expectativa da reciprocidade assume a forma de uma exigência de justiça que às vezes oculta aspectos chantagistas. No trabalho analítico, deparei-me com freqüência com pessoas que fazem para os outros aquilo que gostariam que fosse feito para elas e que de fato esperam uma contrapartida, sem a qual se sentem desiludidos e rancorosos.

A dignidade de receber é potencialmente ofendida nesta forma de generosidade ainda tributária da ordem comercial. É preciso aprender a receber é a virtude da modéstia e, mais ainda, aprender a doar honrando o beneficiário é a virtude da magnanimidade. A recíproca do dar e do receber põe fim à dissimetria do doar sem espírito de retorno, através da figura singular que confere ao reconhecimento. O perdão difícil, que leva a sério o trágico da ação, aponta para a raiz dos atos, para a fonte dos conflitos e das injustiças que precisam de perdão; não se trata, porém, de cancelar uma dívida numa caderneta de contas, mas de desmanchar alguns nós (Ricœur, ibid., p. 116).

Talvez não seja tão estranho que a paciente citada tenha falado do nó górdio e que tantas vezes os pacientes usem exatamente esse termo. Gosto de lembrar que a etimologia da palavra “grupo” se reporta a algo relativo a nó; assim, o trabalho do grupo pode ajudar a dissolver o nó, a desligar a culpa e a recuperar uma reciprocidade sadia, quando a magnitude se encontra com a modéstia e deixa emergir o reconhecimento, um gesto novo de conhecer e de olhar para si mesmo e para o mundo, tanto no nível pessoal como no social.

Existe o nó dos danos e das injustiças irreparáveis: para isso é necessário romper com a lógica infernal da vingança perpetuada de geração a geração. Recorrer ao perdão faz frente à eSPIral da vitimização que transforma as feridas da história em exigências impiedosas. É aqui que o perdão faz limite com o esquecimento ativo: não com esquecimento dos fatos, na realidade impossíveis de serem apagados, mas do seu significado, para o presente e para o futuro. Aceitar o débito não pago, aceitar estar e permanecer devedor insolvente, aceitar que haja uma perda. Fazer o trabalho do luto sobre a própria culpa. Admitir que o esquecimento da fuga e a perseguição sem fim dos devedores são frutos da mesma problemática. Traçar uma linha sutil entre amnésia e débito infinito(ibid., p. 117-118).

O discurso de Ricœur é muito claro e plenamente compartilhável, mas difícil de aplicar na prática.

 

A cultura do pequeno grupo entre pertencimento e solidão

Quanto à passagem ao social de uma cultura que não queira eliminar a infelicidade, mas diminuí-la, aceitando em todas as épocas da vida a presença do limite, quem sabe o pequeno grupo possa constituir uma ponte entre o pessoal e o social. É desejável que a “cultura” que se desenvolve no pequeno grupo e o atravessa possa difundir-se também para fora, tornando-se um transformador potencial das relações nas instituições e no social mais abrangente, evidenciando que, além da categoria da necessidade, existe também a categoria do projeto e da intencionalidade, da construção da confiança e da possibilidade de doação. Estar no grupo permite a experiência direta da iniludibilidade do outro para a constituição do “eu” e da possibilidade de construir significados compartilhados e o valor da diversidade, que está na base da superação de um narcisismo destrutivo e desagregante. Entendemos o valor e a “naturalidade” do desejo do vínculo com o outro, que não leva a um comportamento imitativo e complacente, mas à descoberta do direito de existir no mundo com as próprias especificidades. A possibilidade de construir vínculos é entendida como um fim e não como um meio de gratificação narcísico-utilitária. De fato, ter tido a oportunidade de assumir alternativamente o papel de guia, nos vários encontros de grupo, permitiu aos participantes entender o valor da doação e o prazer do doar: um sonho, uma fantasia, um modelo de comportamento. Mas conseguir chegar a doar só se torna possível depois de o grupo ter permitido a seus participantes o sentimento de ser reconhecido em sua individualidade autêntica e específica e ter permitir entender, também, que a riqueza de um pode se tornar a riqueza de todos, sem que ninguém seja privado. A autenticidade leva à espontaneidade, que não conhece medida por não precisar de parâmetros econômicos.

Instala-se, assim, um círculo virtuoso entre dar, receber e retribuir que não é determinado pela obrigação, mas pela gratidão e pelo prazer do intercâmbio, sem garantia de retribuição, pois, se você pode doar, é porque já recebeu, podendo então desafiar a reciprocidade e a simetria do presente e abrir-se para a esperança do futuro, para a espera cheia de confiança de uma potencial reciprocidade. Este sentimento permite a recuperação afetiva do tempo futuro, depois olhar o passado também com gratidão e ainda, com generosidade, para o futuro habitado por irmãos que virão (Derrida, 1995) ou pelos filhos dos filhos, dentro de uma continuidade portadora de valor e significado. Uma disponibilidade insaturada que se abre para o desconhecido e para a alteridade, em que o desejo do vínculo nasce de um sentimento de falta e de fragilidade e se torna uma força coesiva que nos permite ousar o “contágio” do relacionamento e hipotetizar a reciprocidade dentro de uma espera cheia de confiança consciente do risco e da incerteza, mas sustentada pela transformação da obrigação em desejo, na qual:

a motivação do doar a paixão pura e simples do dar e do receber na troca baseia-se simplesmente na necessidade de amar e ser amado, que é tão forte e fundamental, provavelmente mais ainda do que a necessidade de adquirir e acumular coisas e obter bens que constitui a motivação do ganho. O homem é, em primeiro lugar, um ser de relações e não um ser de produção (Godbout, 1998, p. 130).

E ainda:

O doar é o evento que permite relativizar o modelo aquisitivo e atomístico do homo œconomicus, na medida em que revela a estrutura antropológica e emotiva do homo reciprocus, do indivíduo capaz de correr o risco de doar porque confia, mas não pretende que a restituição seja intrínseca ao próprio ato de doar (Pulcini, 2001, p. 201).

Podemos então voltar ao nosso encontro inicial com o asteca, enriquecidos pelo conceito do doar gratuito, que nos permite recuperar o valor constitutivo da incerteza e de olhar o inesperado dentro de uma área insaturada, que se abre cheia de confiança para a complexidade do mundo e da alteridade. Utopia? Talvez, mas no dia 18 de abril, terça-feira, enquanto eu lia o jornal La Repubblica, me deparei com um artigo de Edmondo Bersilli intitulado “La tribù del baratto che buca il sistema”.7

Fala-se de uma nova disciplina: a economia a custo zero, possível porque o megamecanismo global incorpora algumas entradas, algumas falhas, alguns buracos que deixam uma oportunidade ao que é gratuito. E, se é gratuito, é insensato. E, se é insensato, não pertence mais à racionalidade do cálculo econômico.

Falar de insensato me fez lembrar um pensamento de Lacan a propósito da criatividade:

O desvio está na fundamentação do senso. É só aquilo que nos faz sair do mesmo, aquilo que se apresenta como imprevisto, inesperado, às vezes aparentemente incongruente, que consegue delinear a particularidade do sujeito, em antítese a qualquer homologação psicoterapêutica adaptativa. E a procura dessa particularidade não vai em direção de um sentido definido e congelado, mas, antes, na trilha dos passos à frente do sentido, que chega a um novo sentido e ao não-senso. E é aqui que pode emergir a alegria, a alegria do novo […] (Miller, 2005).

Não é por acaso que o cronista se arrisca a empregar a expressão “economia a custo zero” uma espécie de disciplina festiva e irônica.

Será possível acreditar ainda que há lugar para a fantasia naquela área pré-consciente tão cultivada no nosso trabalho psicanalítico?

O cronista continua: os consumos à margem do círculo econômico são regidos exclusivamente pelas relações de confiança entre os integrantes de uma comunidade real ou virtual… A oferta gratuita implica reciprocidade, regida pela confiança.

 

O vértice psicanalítico de observação, liberdade da emancipação: o vínculo como escolha

O trabalho psicanalítico individual e de grupo é certamente um lugar e um espaço privilegiado para construir, talvez pela primeira vez, ou consolidar o sentimento de confiança, sentimento seletivo e consciente, não banalizado por um bondosismo narcisista, mas capaz de crítica. Benesayg e Schmidt (2003) afirmam que o escravo é aquele que não tem vínculos. Eu preferiria dizer que o escravo é aquele que não pode escolher ter vínculos; uma pessoa livre é, ao contrário, uma pessoa que, sendo capaz da solidão, pode se autorizar a escolher. Uma pessoa que aprendeu que a confiança é um valor e deve ser doada com seletividade e responsabilidade.

Os problemas da relação amorosa, da adolescência e do envelhecimento observados por um vértice psicanalítico podem ser compreendidos e re-significados através da capacidade, adquirida no decorrer da análise, de olhar com olhos livres e seletivos para o passado, o presente e o futuro, os quais dialogam entre si e podem vir a refletir uma identidade coesa e coerente e, ao mesmo tempo, dinâmica e flexível.

No interior do trabalho analítico, cólera e riso conquistam a dignidade de escuta e são entendidos dentro de seu valor específico; a realidade observada de uma distância adequada pode ser acolhida tanto na história da pessoa como na história da relação analítica e do grupo. Em particular no trabalho grupal, a privatização das próprias temáticas dolorosas perde o significado e se abre para aquele pequeno mundo protegido que é o grupo, modelo de outras e mais vastas possibilidades de abertura.

Refletir junto com outras pessoas sobre temáticas amorosas, sobre a adolescência e sobre o envelhecimento não se esgota ou superficializa num presente estéril, mas possibilita sair da sensação de impotência, geradora de depressão, acompanhadas também, graças à dialética entre fusão e individuação, da experiência de uma solidão que já não é somente aniquiladora, mas que em determinadas situações aparece como necessária e recriativa. Torna-se a experiência compartilhada em que “somente quem é si próprio e é capaz de conservar-se na sua solidão pode entrar realmente em comunicação com os outros” (Jasper, 1948).

A consciência do valor da solidão e do compartilhamento permite assumir responsabilidade em relação à própria vida e também em relação aos outros, assim como acender uma pequena chama para os tempos da humanidade. O doar tem em si uma contrapartida, pois investe um tempo de espera no círculo virtuoso e prospectivo de um retorno positivo da doação, do prazer de receber. “A capacidade de manter viva na própria mente a expectativa cheia de esperança de que alguma coisa possa se tornar verdade é fundamental para o adolescente” (Charmet, 2000), mas também para o apaixonado e para o velho.

Também para o velho é possível aquilo que Tormstam (1993) define como “gerontotranscendência”, entendida como “passagem de uma visão materialista e racional para uma visão mais cósmica e transcendente, normalmente seguida de um aumento da gratificação”. Resultado de um processo de maturação que permite uma vivência de compartilhamento com o mundo e uma redefinição do espaço e do tempo (Gigante, 2006).

A expectativa carregada de confiança é fundamental em todas as situações de passagem e de crise e, portanto, dada a situação atual do mundo ocidental, é também fundamental para que a humanidade saia dos tempos de trevas. “As pessoas idosas são portadoras de uma demanda de sentido dirigida a si próprias e ao terapeuta e que investe a comunidade em que vivem e o conjunto da sociedade” (Frigerio, ibid.).

Hoje essa demanda de sentido investe a relação amorosa, a adolescência, o envelhecimento e a humanidade. Acho que ninguém de nós pode, nem deve, se esquivar da pergunta, talvez formulando outras perguntas e respostas dinâmicas para enfrentar nos territórios limítrofes com outras disciplinas. O mundo de hoje precisa de uma tomada de consciência múltipla e responsável, na qual cada um pode e deve fazer sua própria contribuição, quer seja ela grande ou pequena.

 

Da Pólis ao Porto

Nos dias de hoje, talvez mais do que abraçar um conceito de Pólis, deveríamos voltar ao Porto, tolerando o paradoxo de termos “raízes nômades”.

“O ar da cidade nos torna livres” […] e o Porto ainda mais (Attali, 2006). Se a vida, o amor, a adolescência, o envelhecimento e todas as etapas fundamentais da existência humana estão bem representadas na metáfora da viagem, se o trabalho analítico, como deduzimos freqüentemente pelo sonho dos nossos pacientes, é uma viagem, hoje a humanidade inteira parece estar viajando.

Não há dúvida de que a sociedade ocidental está vivendo um período de transição, mas acredito que a meta ainda precisa ser construída por nós todos juntos, autorizando-nos a escolher os companheiros de viagem com os quais desenvolver laços de confiança e solidariedade. O Porto pode ser uma metáfora de lugares capazes de acolhimento e de troca entre diversas culturas e de uma área que permita a integração entre a qualidade de assentamento (vigilância, capacidade de espera, amor pelo ambiente) e aquelas do nomadismo (tenacidade, hoSPItalidade, coragem, liberdade e memória narrativa).

Quem chega pelo mar depois de ter afrontado ventos e tempestades ou uma calmaria desesperadora, deve poder aportar, pelo tempo que for necessário, para restaurar os danos provocados durante a navegação. O acolhimento no porto deve ser fruto de uma seleção responsável, assim como é possível começar o percurso analítico somente com quem está disponível a aceitar a viagem. Para cada problema deverá ser buscada uma solução adequada, tolerando longos períodos de espera, de não entendimento, de navegação orientada apenas pelos olhos, de perda a bússola.

Freqüentemente, o analista deverá se fazer de modelo das capacidades negativas, já citadas por Jaonn Kaets (1819) e tantas vezes retomadas por Bion.

Enfrentar, no âmbito analítico, as crises privadas ligadas à relação amorosa, à adolescência e ao envelhecimento torna a pessoa ciente do risco de uma dramática somatória com a crise que atinge toda a sociedade ocidental. Vice-versa, é possível construir uma ligação entre público e privado que permita construir de hipóteses úteis para iluminar a estrada, ou melhor, a rota a ser tomada para uma humanidade capaz de livrar-se da seca dos tempos de trevas.

 

Referências

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Endereço para correspondência
Silvia Corbella
Società Psicoanalitica Italiana - SPI
Viale Romagna, 58
20133 - Milano
E-mail: silviricor@fastwebnet.it

 

 

1 Artigo publicado originalmente na Rivista Italiana Di Gruppoanalisi, sob o título “Un azteco e il mototaxi: il gruppo come possibile modello relazionale”. Tradução: Luciana Gentilezza (membro associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise SBPSP), com RBP.
2 Psicanalista, membro da Società Psicoanalitica Italiana SPI; responsável pela área de psicoterapia individual e de grupo da Escola de Especialização em Psicoterapia da Confederação das Organizações Italianas para a Pesquisa Analítica sobre Grupos (COIRAG/Milão).
3 Aut Aut é o título de uma das primeiras obras de Søren Kierkegaard, publicada em 1843. Seu título exprime a alternativa que se oferece à existência humana: duas formas de vida ou, como diz Kierkegaard, dois “estados fundamentais da vida”, isto é, a vida estética e a vida moral. Seu uso corrente na língua italiana serve para definir uma escolha biunívoca entre isto e aquilo, sem possibilidade de uma terceira opção. [NT]
4 Lenda de Górdio e seu Nó impossível de ser desatado. Ao herói que realizasse o feito de desatá-lo, caberia o poder sobre toda a Ásia Menor. Alexandre, o Grande, teria sido o protagonista da façanha. Após observar demoradamente o famoso nó, desembainhou a espada e o cortou. [NT]
5 Referência ao amor de Abelardo e Heloísa. História das minhas calamidades. Pedro Abelardo (século x). [NT]
6 Antigo povo mítico de navegantes, muito apreciado pelos deuses. Seu nome ocupa lugar de destaque na Odisséia.
7 “A tribo da barganha que fura o sistema”, ligado ao conceito de economia a custo zero. No mundo contemporâneo, a lei da oferta e da procura deixa alguns buracos que geram economias inéditas, nas quais as coisas podem ser obtidas através de um sistema baseado em trocas, mas não na sua contrapartida em dinheiro.[NT]

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