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Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.46 no.3 São Paulo jul./set. 2012

 

ARTIGOS

 

Gradiva: inspiração pompeiana para o trabalho do luto

 

Gradiva: Pompeian inspiration for the work of mourning

 

Gradiva: la inspiración pompeyana para el trabajo de duelo

 

 

Osvaldo Luís Barison

Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo SBPSP

Correspondência

 

 


RESUMO

Por meio do relato de experiências íntimas e de sonhos, o autor se inspira na cidade de Pompeia, em um romance de W Jensen, bem como nas ideias de Freud para abordar processos de luto em situações clínicas. Faz considerações sobre a relação afetiva que norteia o trabalho da dupla analítica, inclui para utilização, mediante análise, as experiências do analista e aponta a situação complexa que envolve o par. Ao mesmo tempo em que relata as sessões, deixa subentendido - sem se prender a eles -os referenciais teóricos que norteiam o trabalho, discutindo um posicionamento atual na produção de textos psicanalíticos.

Palavras-chave: Gradiva; luto e elaboração; experiências do analista; situação complexa.


ABSTRACT

Through the report of intimate experiences and dreams, the author seeks inspiration in the city of Pompeii, in a novel by W. Jensen, as well as in Freud's ideas, to describe and theorize the processes of mourning in clinical situations. He raises questions regarding the affective relationship that guides the work of the analytic pair, including the use, upon review, of the experiences of the analyst, pointing to the complex situation involving the pair. While reporting the sessions, the author implies the theoretical frameworks that guide the work, without becoming attached to them, discussing a current position in the production of psychoanalytic texts.

Keywords: Gradiva; mourning and elaboration; experience of the analyst; complex situation.


RESUMEN

A través del relato de experiencias íntimas y de sueños, el autor se inspira en la ciudad de Pompeya, en una romance de W. Jensen, así como en las ideas de Freud para describir y teorizar los procesos de duelo en situaciones clínicas. Hace consideraciones sobre la relación afectiva que guía el trabajo de la díada analítica, incluso para uso, después de la revisión, de las experiencias del analista, que señala la situación compleja que involucra a la pareja. Al mismo tiempo en que relata las sesiones, deja subentendidos los marcos teóricos que guían el trabajo, sin restringirse a ellos, discutiendo una posición actual en la producción de textos psicoanalíticos.

Palabras clave: Gradiva; luto y reparación; experiencias del analista; situación compleja.


 

 

I. Uma fantasia pompeiana

Era assim que, no calor solar do campo napolitano, a mitologia,
a literatura, a história e a arqueologia se misturavam em sua cabeça.

(W Jensen, 1903/1987, p. 49).

Em 2009, estive pela primeira vez em Pompeia. Naquela cidade - ruína e museu -, fui arrebatado por várias emoções, que produziram em mim grande alvoroço.

Não creio que qualquer humano, com algum conhecimento prévio da história de Pompeia, fique indiferente ao percorrer aquelas vias, praças, auditórios, casas e templos.

Imaginar que naquele lugar viviam milhares de pessoas que, em um átimo de tempo, foram engolfadas pela lava do Vesúvio nos coloca diante da fragilidade da vida e do risco de se estar vivo.

Caminhar com minha família pelas entranhas da cidade monumento remeteu-me ao texto de Freud sobre o livro Gradiva: uma fantasia pompeiana, do escritor do romantismo alemão, Wilhelm Jensen. Na oportunidade, contei para minhas filhas, esposa e cunhada a história da obra e o uso e a interpretação que dela fizera Freud.

O romance de Jensen versa sobre um jovem arqueólogo, aficionado por um baixo-relevo que vira em um museu e do qual tinha uma réplica em casa. Estampava o mesmo a figura de Gradiva1, personagem grega que se caracterizava pela peculiaridade de seu andar. O protagonista encontra o que pensa ser o fantasma de Gradiva pelas ruas de Pompeia. Em sua construção, revela a trama que se tratava do "fantasma" de Zoé Bertgang2, vizinha e namoradinha de Norbert Hanold, quando eles eram crianças. Freud utiliza a obra para ilustrar a ação da repressão, do inconsciente e do sintoma - além de indicar o uso da psicanálise no estudo da literatura.

Paralelamente ao meu trajeto pelas ruelas de Pompeia, pensava muito em minha mãe que estava no Brasil e que, acreditava, não conheceria aquele lugar. Lamentava profundamente não a ter levado comigo para aquela aventura pompeiana. Tinha saudades de cortar a alma. Conversava intimamente com ela - e, ternamente, ouvia seus comentários. Na minha forma imaginativa de ser, ela estava comigo, percorrendo as vielas com toda a intensidade de quem realmente me acompanhava.

Pelas tantas, comecei a pensar no meu pai, falecido há 36 anos. Quando me dei conta, exercitava o mesmo com ele. Via-nos entrando na arena em dia de combate, tal qual quando íamos, nos domingos de minha infância, ao campo de futebol. Discutia com ele aspectos da arquitetura, mostrando a inteligência do filho ora crescido. Ouvia os comentários dele e entabulávamos conversa íntima, rica e afetuosa.

Perguntei-me, enfim, qual era a diferença da presença de minha mãe e a de meu pai para mim naquele instante? Sabia que não conseguiria reproduzir para minha mãe o que pensava e via. Mesmo mostrando as fotos e descrevendo em minúcias tudo o que eu sentia, a pletora de afetos não seria reproduzida.

Tanto fazia, assim, a conversa interna com minha mãe - viva, porém distante fisicamente -, ou com meu pai - morto e tão presente em meus pensamentos. Não encontrei diferença alguma que realmente significasse algo que anularia aquela experiência de negação do luto pelo meu pai. Da presença na ausência, da possibilidade de contar com os objetos fundamentais da minha existência, que estavam internalizados.

Não obstante estar muito sensibilizado, sentia que aquela experiência era somente minha, e que usava a figura de meus pais como alteridade para estabelecer o diálogo interno entre aspectos meus. Percebia, também, o desejo de agradecer-lhes pela vida que me concederam, pelos laços familiares que me ensinaram a constituir e que hoje usufruo com minha esposa e filhas.

Eu estava muito emocionado, preenchido e feliz. Entretanto, outro acontecimento me fez ficar completamente tomado. Pompeia estava lotada, não de queridos Augustos e adoráveis Gretas - tal qual no livro de Jensen -, mas de turistas do mundo todo, com suas máquinas fotográficas e seu comportamento de manada.

Em uma das esquinas, um senhor, por volta de 80 anos, tentou subir uma guia de sarjeta e titubeou. Buscara "avançar", tal qual Gradiva, mas não conseguiu. Por estar próximo, segurei-o pelo braço e o ajudei a subir e continuar a escalada.

Quando ele se virou para me agradecer, em inglês, estremeci pela semelhança da imagem que guardo de meu pai. Ele deve ter percebido meu espanto e se mostrou igualmente incomodado. Foi como se tivéssemos tomado um choque físico no contato de minha mão em seu braço. Ele se afastou olhando para trás, como se também tivesse visto alguém conhecido, mas fantasmagórico.

Fiquei suspenso e atônito. Perseguia-o de longe, observando seus modos e procurando identificar trejeitos e atitudes que viessem confirmar meu delírio. E se aquele senhor fosse realmente o meu pai? E se o que eu imaginava na minha infância, quando da morte dele - de que teria sumido e um dia voltaria - fosse mesmo verdade? E se ele tivesse fugido para o exterior, constituído nova família e, por um lance do destino, nós nos encontrássemos em Pompeia? Isso acontece nas artes e nas histórias em que o acaso lança seus dados: por que não poderia acontecer comigo?

Claro que a realidade de 36 anos de distanciamento já me fez acostumar com a dureza da morte. Tomado de sensatez, certifico-me que a presença simbólica da assimilação de objetos no mundo interno evidencia que a ausência assimilada é presença. Contudo, o ser fantasioso que abrigo dentro de mim sangra de dor por não tê-lo concretamente a minha disposição.

Suporta-se a dor da perda para a morte porque temos que continuar a viver e reprimimos sua presença, deixando-a de lado. Mas ela volta. É só o reprimido que está soterrado pelas lavas, e que emerge quando se menos espera - e dói como se tivesse acontecido ontem.

Acredito que uma das fantasias mais recorrentes diante da morte de pessoas queridas seja a de que o acontecimento reduza-se só a um sonho. Vamos acordar e tudo voltará a ser como antes: a pessoa estará viva. Não poucos íntimos conhecidos meus alimentam, particularmente, essa fantasia de que, a qualquer momento, o falecido vai voltar.

Já em Pompeia, outra fantasia que me acompanhava, enquanto perseguia o senhorzinho inglês, era a de que poderia se tratar do fantasma de meu pai. Lembrei-me de que Jensen assegurava que o meio-dia é o horário em que os mortos voltam à vida. Na época da leitura, isso me estranhou: na crendice em que fui criado, o horário dos mortos é a meia-noite. Achava a ideia de ser aquele senhor um fantasma algo ridícula; agora que escrevo, socorro-me de Freud para não parecer tão louco assim.

Devemos lembrar, também, que a crença nos espíritos e fantasmas, e no retorno dos mortos, que tanto apoio encontra nas religiões a que todos estiveram ligados pelo menos na infância, está longe de ter desaparecido entre gente culta, e que muitas pessoas, sensatas em todos os outros aspectos, acham possível conciliar o espiritualismo com a razão. Mesmo o homem que se tornou cético e racional pode descobrir, envergonhado, que sobre o impacto da perplexidade e de emoções fortes, facilmente volta por momentos a acreditar em espíritos. Conheço um médico que perdera uma paciente portadora da doença de Graves (bócio exoftálmico) e que não conseguia afastar de sua mente uma leve suspeita de talvez haver contribuído para o fenestro desenlace por causa de uma medicação imprudente. Certo dia, anos depois, uma jovem entrou em seu consultório e, apesar de resistir à ideia, meu colega não conseguiu impedir-se de a identificar com a morta. Não podia deixar de pensar o seguinte: "Então afinal é verdade que os mortos podem retornar à vida". No entanto, seu pavor converteu-se em vergonha quando a jovem se apresentou como a irmã da falecida paciente e revelou estar sofrendo da mesma enfermidade. Os portadores da doença de Graves, como já se observou com frequência, terminam por apresentar uma grande semelhança fisionômica, intensificada no caso pelos traços de família. O médico a quem isso aconteceu era eu próprio (Freud, 1907/1996, p. 68).

Ora, se até Freud teve fantasias semelhantes, o que poderia acontecer comigo - ainda mais sob o sol do campo napolitano.

 

II. Algumas experiências na clínica analítica

Gradiva: uma fantasia pompeiana é um singelo romance que usa o acaso para recuperar um amor infantil, tirando do esquecimento o primeiro amor e apontando para um "final feliz", como era habitual nesse tipo de obra do romantismo alemão. Norbert Hanold, o protagonista, vivia em um mundo de sombras, do qual foi salvo pelo amor. Algo muito assemelhado com pessoas que vivem sob o jugo da perda e do luto.

A inspiração que a estada em Pompeia me deu, associada a esse romance e aos acontecimentos internos que experimentei, remeteram-me para alguns analisandos que acompanhei e que traziam histórias de perdas e necessidades de elaboração do luto.

A. Yara

Recordo-me de uma analisanda recebida em primeira entrevista: chorava copiosamente e relatava, entre soluços, que o pai havia morrido. Sabia, pelo colega que me encaminhara, tratar-se de uma advogada - prestes a fazer a última fase de um concurso público - que se encontrava muito angustiada, correndo o risco de perder o controle na etapa final do processo seletivo. Acompanhei o sofrimento e as poucas palavras que emergiam de seu choro.

Dado instante, pergunto há quanto tempo havia ocorrido o falecimento (suspeitando que fosse coisa de poucos dias). Conta-me que tinha ela, na ocasião, 13 anos - ou seja, já fazia 16 anos. Surpreso, idiotamente digo: "Mas há tanto tempo!".

Ela, com calma, me explicou que estava para conseguir algo muito importante e o pai, ex-funcionário da república, não poderia partilhar com ela o sucesso. Não importava o tempo, importava que um momento tão especial para ela não fosse vivenciado junto dele. A sorte é que ela me deu outras chances e pudemos estabelecer um bom trabalho analítico, em que a frustração pela ausência do pai não inviabilizou o júbilo da conquista profissional.

O que fica evidente é que, para o processo primário do inconsciente, o tempo não tem o mesmo significado da lógica da consciência marcada pelo processo secundário. Percebia que a analisanda estabelecia comigo um relacionamento em que fazia questão de me contar que estudava muito; passava horas redigindo petições; prestava muita atenção às aulas do cursinho; recusava convites para passeios, para não atrapalhar os estudos. Eu lhe dizia que ela queria que eu tivesse orgulho dela, que a admirasse: sentimentos tais que eu imaginava que ela gostaria que o pai sentisse.

Pudemos perceber que havia uma fantasia subjacente à angústia persecutória que ela experimentava. Passar no concurso - muito mais do que conseguir emprego - era ser aceita pelo pai. Sendo assim, o fracasso nas provas teria um efeito avassalador: ela vivia como se não tivesse outros concursos para prestar em futuro próximo. Condensava-se naquele momento histórico toda a relação com o pai e a assunção dela a um nível de funcionamento outro, que não o da infância. A lógica emocional que imperava na mente da analisanda era a de que não teria futuro. O presente estava invadido pelo passado, inviabilizando o distanciamento temporal que lhe permitiria não se angustiar tanto.

Havia um ponto de urgência na fala e na vida dela que solicitava uma rápida diminuição da angústia. Bem verdade que só o fato de estar em trabalho analítico já aliviava um tanto a pressão. No entanto, as interpretações que visavam esclarecer os aspectos transferenciais que ela vivia comigo - ora atribuindo a mim o pai orgulhoso pela filha; ora vendo-me como o pai decepcionado e vingativo por ela não ser uma boa menina - alavancavam associações que se tornaram cada vez mais livres. A mente ficava cada vez mais à disposição dela, sem tantas áreas sombrias, incluindo diversos outros aspectos.

A emergência da situação crítica desencadeada pelo concurso trouxe à luz uma organização que se revelava precária para enfrentar as demandas do mundo adulto. O conjunto de defesa - capitaneado pelo estudo obstinado - ocultava a repressão da sexualidade, gerando paralisia na afetividade. A aproximação com a mudança de patamar de maturidade gerou o conflito que desencadeou a forte angústia.

Da forma que entendo, somente o trabalho analítico - por meio das interpretações transferenciais - contribuiu para a evolução de aspectos da analisanda que haviam ficado soterrados na vivência do luto. Acredito também que a minha presença, atenciosa e disponível, ajudou-a a suprir a falta de um objeto concreto - no caso, o pai -, que servisse de sustentador e modelo nas transformações das vivências de amadurecimento, características da adolescência.

B. Marcelo

Em um processo intenso e cheio de dor, trabalhei analiticamente com um senhor que havia perdido em um acidente as duas únicas filhas: uma criança a outra pré-adolescente. Chegou-me como a própria encarnação do luto, da depressão melancólica e da inviabilidade de se continuar vivo.

Vinha para o trabalho comigo carregando todo o peso da morte e um sofrimento sem fim. Lidava com ele, nos poucos assuntos que me trazia, com muito cuidado, respeitando seu silêncio. Percebia - e dizia a ele - que era como se ainda estivéssemos na sala do velório. Ele concordava e garantia ser essa a sensação que o acompanhava na vida. O nosso silêncio não me incomodava, nem a ele. Sabia tratar-se de um momento importante. Porém, sentia-me muito vivo ao lado dele, esperançoso e calmo.

Na época, realizei a ideia de que não havia teoria que me salvasse daquele contato. Ao lado da morte, eu só poderia ser um humano que também conhecia o que é fazer luto e conviver de braços dados com o terror da fragilidade que a morte anuncia. Assim - pensava eu e confirmava com ele -, havia muita qualidade em nosso silencioso contato.

Garantida para nós dois a percepção de que éramos dois humanos experimentando a dor, eu podia contar em meu íntimo com minhas experiências de análise pessoal, com minha capacidade de suportar junto ao outro vivências que - por momentos - eu achava que seriam insuportáveis.

Mesmo não sabendo direito o que era aquilo, ele buscara por um analista para ajudá-lo a seguir na vida. Assim, o objetivo imediato da elaboração do luto só fazia sentido se eu pudesse indicar que a forma como ele vivia a situação estava fincada em uma personalidade que se atualizava na relação comigo. Isso gerava um objeto psicanalítico passível de ser conhecido.

Soterrado pela depressão melancólica que o luto enseja, havia uma gama de angústias persecutórias que mereciam ser analisadas. Quanto mais ultrapassávamos a barreira do luto, mais surgiam questionamentos sobre a adequação dele como pai. Mortificava-se pela culpa de atenções não dadas, pelas brigas por motivos irrelevantes: privações que o egoísmo havia impetrado.

Sem embargo, apareceram as fantasias de como eu seria como pai e as comparações que ele imaginava. Eu interpretava sobre o cuidado que poderia dar a ele, as atenções que precisava e a paciência que demandava. Quanto mais eu falava com ele sobre as fantasias que o nosso contato eliciava, mais ele se soltava no trabalho e mais ricas ficavam as associações.

Muito mais que as escavações arqueológicas que fazíamos da história do analisando, estava em jogo a dinâmica que estabelecíamos em nosso contato. Interpretava para ele que o enterro era das meninas e não o dele. Dizia-lhe que parecia que ele desejava que eu velasse a ele próprio, pois não se sentia no direito de continuar a viver. No entanto, ele estava ali, diante de mim, ouvindo minhas percepções sobre ele e sobre nós, o que indicava o desejo de avançar com a vida.

Seguíamos por esses tipos de conversas. Contudo, terror agudo era quando ele sonhava com as filhas. Com os dedos tampando os olhos, o choro contido e envergonhado, a dor vicejando em cada palavra, contava-me as cenas do sonho. Quase sempre, era de uma situação em que ele as via, sem conseguir com elas interagir. Ele dizia que elas não estavam bem, estavam tristes, sofrendo, e ele se desesperava por não poder ajudá-las.

Entendia a sensação de impotência, de culpa por não poder salvar as filhas; do limite que tinha que aceitar, diante da frágil condição de paternidade, que fora incapaz de proteger o que lhe era dever e desejo. Valia-me da ligação com as filhas mortas, em detrimento da história viva. Sabia que não podia abusar dessas ideias, com o risco de ser acusado de insensibilidade e de não respeitar a dor que ele vivia.

Ele sonhava bastante com elas e, a cada sessão que trazia os sonhos, se derretia de chorar. Eu ficava completamente tomado pela dor e pelas confusões contratransferenciais, uma vez que também tenho duas filhas e fantasias de sua morte estão entre os maiores terrores que me ocorrem na intimidade.

Os sonhos sofreram certo deslocamento, à medida que fomos suportando mais e mais os relatos da dor, assim como com a assimilação do que eu interpretava sobre a pessoa dele e a forma de vínculo que estabelecíamos. Também o tempo - senhor da cura de todos os males - foi tecendo suas tramas e reinserindo meu analisando na rede das atividades corriqueiras da luta pela sobrevivência. Dizia a ele que, às vezes, algumas voltas fora da sala do velório nos era permitida.

Em uma fase intermediária, passou a sonhar cenas muito parecidas com acontecimentos que deveras ocorreram. Com pequenas transformações, assistia em sonhos coisas que as lembranças acionavam. Aí vinha a saudade. (E bota saudade nisso.) A saudade que corta, tritura; que joga no chão e preenche tudo com o desespero. Como sofríamos nesses dias.

No entanto, eu tinha o que falar com ele. Pedia que me contasse os acontecimentos da memória. Reclamei um grande inventário, dizendo que também queria saber como elas eram e a vida que tiveram. Queria saber a cor das roupas, os lugares, as pessoas, o jeito que elas procediam: tudo. Ele percebia que eu me interessava, e fui conhecendo cada uma delas, distinguindo as diferenças, qualidades, defeitos, acontecimentos importantes - de sorte que falávamos delas como se estivessem vivas, tal qual os pais geralmente falam sobre as filhas.

Apontava isso a ele e julgava que proporcionava certo conforto. Confesso que ainda tenho cada uma delas muito bem definidas em minha mente. Creio que posso dizer que as conheci com grande profundidade, apresentadas por uma pessoa que as conhecera na intimidade. Também sei que ele as conheceu mais intensamente através dos relatos que me fazia. Com meu olhar treinado pelos anos de trabalho analítico, mostrava-lhe sutilezas da personalidade de cada uma, detalhes que ele até então não havia percebido.

Da dor monstruosa, passamos a falar das meninas, como se elas estivessem vivas. Os sonhos diminuíram e outros personagens apareceram nos relatos. O clima afetivo nas sessões já não era tão carregado e o mundo dos vivos adquiriu a preferência nas nossas conversas, em detrimento ao dos mortos.

Um dia, chegou exultante, rindo e chorando, saltitante de alegria, o rosto banhado em lágrimas. Não lhe bastou dar a mão para me cumprimentar. Abraçou-me na cintura e, com o rosto grudado em meu peito, dizia baixinho que havia sonhado com elas. No divã, contou-me que, no sonho, havia dado um celular para a mais velha, provocando ciúmes na mais nova. Haviam brigado, tal como faziam quando vivas, e ele - como era o seu proceder - mediara a contenda, prometendo outro tipo de presente para a caçula. A cena era muito viva: foi isso que ele reparou. Disse-me que podia agora entender quando eu lhe dizia que ele podia se relacionar com elas como pessoas vivas que ele conhece.

Confesso que, enquanto fazia as interpretações de praxe sobre um sonho com celular (ligações e superações de luto etc e tal), as lágrimas, silenciosamente, desciam pelo meu rosto, encharcando-me a barba. Agradeci intimamente meu treino e meus precursores pela sutileza que o desenvolvimento analítico pode proporcionar à dupla e a beleza que pode ter o meu trabalho.

Depois desse sonho, percebi que ele tomou mais ativamente as obrigações da vida, permitindo-se até certos divertimentos. Pôde fazer uso do dinheiro da indenização do seguro de vida das filhas para adquirir bens para si e envolveu-se afetivamente com uma namorada.

C. Luciana

Dor também avassaladora eu vivi com uma jovem senhora que perdera o primeiro filho ainda no ventre, faltando uma semana para o nascimento. Assim que deixou o hospital, veio me procurar. Não sei onde eu arrumava disposição para estar com ela, para ajudá-la a entender o que havia ocorrido e os porquês de passar ela por aquilo.

De novo, eu sabia que não haveria salvação nas "fortes" teorias psicanalíticas. Apesar de tentarmos toda a sorte de explicações, havia limites ao entendimento. Só a vivência afetiva e paciente dava algum alento para aquela mãe que, apesar de ter sonhado muito com isso, não poderia embalar seu filho, tal qual desejava desde quando era ainda criança. A morte é muito besta. Às vezes, é covarde e cruel.

Por mais dura que tenha sido a crueza da perda, ela dirigia a fala para mim. Eu fazia parte da fantasia que organizava a nossa relação e a vida dela, sendo polo de escuta e elaboração prioritária da experiência desastrosa que lhe acontecera.

Existem dores circunstanciais, as dores individualizadas. Contudo, a dor que a todos nos une é a dor do ignorar, o não saber, o escapar-se à compreensão de si mesmo; perceber-se joguete da realidade e descobrir que, ao contrário das fantasias narcisistas de nossa infância, não ocupamos lugar algum especial - reconhecer, enfim, a orfandade que caracteriza todo ser humano.

Ao conseguir conter a inundação dos conteúdos persecutorios e melancólicos que a analisanda trazia para nosso contato, fomos percebendo a pessoa muito maior do que a mãe fracassada que ela insistia em me apresentar.

Apontava a quantidade de questões que, durante anos, ela gestara na própria mente, sem acreditar que poderia partilhar com pessoas de sua convivência e que, mediante a desgraça que a trouxe a mim, a curiosidade não publicada podia ser investigada. Isso fazia muito sentido para ela.

Grosso modo, acredito que a eficácia da interpretação reside no contato íntimo que pode ser dado no nível das estranhezas de se ser humano. Ao se sentir compreendido, explode no analisando a sensação de pertencimento a uma espécie: a sensação de semelhança e de igualdade vem à tona. A intimidade de cada um de nós é o que há de mais universal e ordinário em cada exemplar de nossa espécie. Ao ouvir a interpretação e se sentir entendido, o analisando tem certeza de que é como se o analista estivesse com ele no mesmo tempo e lugar - munido, porém, de ferramenta que acalma e indica o caminho.

D. Helena

Convivi com a morte de forma bastante intensa quando uma analisanda - já em trabalho analítico comigo há quatro anos - descobriu um câncer que a vitimou em menos de dois anos. Era um trabalho com quatro sessões semanais, o que me permitia testemunhar cada novo acontecimento, tanto no tratamento, quanto nas percepções que alcançávamos ante a aproximação da morte.

No início, tínhamos disponibilidade para lutar, buscar médicos, exames, tratamentos, cirurgias etc. A cada nova possibilidade, nos enchíamos de esperança: acreditávamos que daquela feita, sim, tínhamos encontrado o médico ou o tratamento correto. Não podíamos acreditar que perderíamos para morte. Estava fora de cogitação não movimentar as forças de vida para enfrentar aquele monstro que se insinuava em pessoa tão boa, capaz, decente e ainda jovem. Inconcebível também que um jovem analista, em pleno período de treinamento, auxiliado por toda a teoria psicanalítica e com supervisão semanal, pudesse ser derrotado por monstro tão vil. Ledo engano.

Odilon de Melo Franco Filho me perguntou um dia se eu não percebia que ela estava morrendo. Tive um espanto. Um pesadelo instantâneo na frente do meu supervisor. São incríveis os mecanismos de negação que utilizamos para não perceber a realidade quando esta nos é terrorífica. Estava tudo tão claro, tão na minha cara que só mediante muita onipotência eu não percebia o óbvio.

Lentamente, eu e a analisanda pudemos nos dar conta da falta de perspectiva, da não melhora e do alastramento do câncer. Faltava ainda o apelo místico. Apesar de seu bom desenvolvimento racional, iniciou ela uma peregrinação a padres, benzedeiros, charlatões: tomava chás milagrosos e participava de rituais exóticos.

Novas decepções - e a presença cada vez mais visível da "ceifadora de vidas". Não na forma da figura mítica e caricatural - capa preta e foice na mão -, tal como costuma ser artisticamente representada. Ela se fazia presente através de seus representantes terrenos. A doença, em especial - e, entre elas, o câncer e o definhamento que provoca. De mulher bonita e elegante, transformou-se em farrapo, que mal podia andar ou mesmo falar. Mas vinha para as sessões. Queria aproveitar cada minuto que lhe restava e a chance de seguir adiante com a vida.

Tinha vários arrependimentos: coisas que havia feito e uma infinidade de outras que não realizara porque achava que ainda teria tempo. Ela encarnava claramente o tipo de erro que os sábios nos alertam sobre "viver o presente e aproveitar a vida" e "não se arrepender do que se faz e sim do que não se fez".

Vivera, em síntese, uma história com muitas amarguras, que queria passar a limpo. Existiam fatos nunca por alguém sabidos que ela queria partilhar. Coisas que tiveram que ficar comigo, já que ela acreditava ser injusto ninguém saber.

Esta é uma das funções da análise que sempre me encantou. Muitos analisandos precisam que alguém saiba de coisas muito íntimas, que eles julgam reservadas a um ouvido especial, uma vez que as outras pessoas poderiam não entender. Principalmente pela garantia de não publicação, são muitos os que precisam partilhar sua intimidade para dar algum sentido à existência.

A analisanda passou a perceber e lentamente aceitar a sina que lhe cabia. Conseguiu se despedir de todos os que lhe importavam. Eu acompanhava os relatos das conversas, as orientações, os acertos de contas e a tristeza da despedida. Via uma pessoa cada vez mais dona de seu destino e de suas escolhas, em inebriante clareza que só a beira do abismo parece proporcionar. Se somos todos pacientes terminais, dizíamos, tinha ela plena ciência disso - e podia aproveitar cada minuto que lhe restava. Não para coisas alegres ou prazerosas, mas para fazer o que era necessário, minimizando o sofrimento dos que ficariam.

Despedimo-nos uma semana antes de sua morte. Tivemos muito claro que fizemos o que podíamos e que não havia algo em especial para ser novamente abordado. Somente o sentimento de gratidão por termos nos conhecido e partilhado uma jornada tão profunda e fundamental.

Atendi, concomitantemente, os analisandos que descrevi neste texto. Foram anos de luto e luta. Aprendi e desenvolvi uma visão muito mais clara de meu trabalho. Vi que o que me interessa mesmo é o ser humano - sobretudo, a dor de se ser um humano. Tenho o maior carinho e responsabilidade para com a psicanálise. De tudo que vi até hoje, sei que é o melhor instrumental para me colocar em contato com as pessoas que me procuram. Na sala de análise, no entanto, na hora de - como se diz aqui no interior - se pegar o touro à unha, sei que a pessoa que está na minha frente quer, precisa, de mim e da minha humanidade. Também sei que a minha humanidade fica muito mais organizada e eficaz através da mente treinada na dupla busca de conhecer e viver ao mesmo tempo. Fica, assim, muito mais clara a máxima contemporânea dos teóricos da psicanálise: manter o foco no analisando.

Faço parte de uma ciência que tem um rico cabedal teórico, sempre apontando para o uso prático das formulações. Contudo, vigio para que essas teorias não sejam fortes o bastante para massacrarem a fragilidade e as incertezas do contato humano e nem da criatividade que pode surgir no contato afetivo. Afinal, a afetividade e a criatividade são frutos diletos da pulsão de vida - portanto, da função analítica.

 

III. Ainda a fantasia pompeiana, porém em Padova

Na sequência da minha viagem à Itália, depois de visitar outros lugares, fui até Padova, cidade em que minha família vivia antes de imigrar para o Brasil. Passei o dia da comemoração de minhas bodas na igreja de Santo Antônio de Padova, igreja que sabia que os antepassados de minha família haviam ajudado a construir.

Envolto pelo teor de familiaridade ancestral, à noite, depois do jantar e comemorações de praxe, tive um sonho que reputo como libertador. Sonhei que estava em Padova - possivelmente, no pátio da universidade -, rodeado por um grupo de jovens, alguns italianos e outros que identificava como amigos de minhas filhas. Discorria para eles sobre meus avós e meu pai. Narrava a saga dos imigrantes e de passagens que conheço sobre a história de minha família. Fazia clara alusão às características da personalidade de meu pai. Falava dele e sabia que estava morto há muito tempo, mas eu podia falar dele com liberdade, como alguém que comenta sobre um herói do passado, que tinha vivido a vida e deixado sua marca. Em verdade, não sonhei com ele, pois sabia que estava morto, mas com a história dele, tal qual eu soube ou imaginei.

Acordei no meio da noite com uma saudade brutal, um preenchimento de todo meu ser. Um encontro comigo mesmo e com minha história, perpassando pela história da minha família de origem, da humanidade e do futuro que poderia construir com minha família atual. Parecia que a vida teria valido a pena somente por ter experimentado aquele momento. Via também a mão silenciosa da psicanálise, mediando minhas percepções e me dando instrumentos para apreender a raridade do momento, e me envolvia de gratidão por todos aqueles que me precederam e me ensinaram o que eu consegui aprender. Foi naquele momento que decidi escrever esta história, como forma de partilhar algo tão raro e bom.

 

IV. Lutos, perdas e elaborações

O processo de elaboração de luto é trabalho para toda vida e não finda: apenas melhora. Freud já nos alertava para tal empreendimento em seu magistral "Luto e melancolia", texto seminal que - brinco - tornou-se o primeiro livro da chamada autoajuda da história. Ali, afirma ele que o desligamento do objeto se dá por um processo no qual as separações:

[...] são executadas pouco a pouco, com grande dispêndio de tempo e de energia catexial, prolongando psiquicamente, nesse meio tempo, a existência do objeto perdido. Cada uma das lembranças e expectativas isoladas através das quais a libido está vinculada ao objeto é evocada e hipercatexizada, e o desligamento da libido se realiza em relação a cada uma delas (Freud, 1917/1996, p. 251).

O mecanismo que criamos para lidar com a presença concreta da morte é o trabalho de luto. Mas, para fazê-lo, é necessário desligar-se de uma pessoa que se amou. Mais do que isso, é preciso deixar para trás aspectos internos nossos - identificados com o objeto amado -, que também amamos em nós. Há uma tendência conservadora que dificulta nos despersonalizarmos. No entanto, deixar de ser aquilo que se era, abrindo mão do que já existiu, poderia gerar espaço para uma nova constituição interna - incluindo o investimento em outras relações objetais. Para isso, teríamos que aceitar que os objetos não são nossos e realizarmos a difícil - talvez impossível - experiência de se amar sem a presença concreta do objeto. Normalmente, sentimos a perda como humilhação e, às vezes, como punição, principalmente porque a perda não foi escolha nossa. É muito difícil convencer nossos aspectos narcísicos de que devemos assumir a derrota.

Quantas evoluções precisam ser construídas em nossa configuração edípica para aceitarmos a exclusão que a morte impõe? Se na triangulação afetiva com as figuras paternas somos forçados a assumir o lugar do excluído, na relação entre o casal vida e morte é que não há negociação ou adiamento. A morte é o rival implacável, que nos rouba o ser amado, nos joga no chão e, muitas vezes, zomba da nossa impotência e incompetência em proteger e zelar aquilo que nos é caro. Esta a verdadeira e inefável exclusão edípica: a perda para a morte.

Contudo, enquanto vivemos, tecemos em nosso cotidiano pequenos e grandes trabalhos de luto. Tanto dos objetos queridos quanto de aspectos simbólicos ligados às fases de desenvolvimento e, igualmente, do corpo físico que acompanha cada uma dessas fases. Como nos ensinou Freud:

Verificamos, à guisa de explanação, que, no luto, se necessita de tempo para que o domínio do teste de realidade seja levado a efeito em detalhes, e que, uma vez realizado este trabalho, o ego consegue libertar sua libido do objeto perdido (Freud, 1917/1996, p. 258).

Em Gradiva: uma fantasia pompeiana, Norbert Hanold vivia como um espectro: preso ao passado da história da humanidade, não via a vida que pulsava na esquina de sua casa. No livro, assim que percebemos a trama proposta pelo autor, passamos a torcer e a ter certeza de que o amor de Zoé irá libertá-lo.

Em um processo analítico, contamos com a capacidade amorosa nossa e de nossos analisandos para acolher os sofrimentos, liberando a mente para encontrar e superar estágios da vida que se encontram paralisados por perdas, ignorância ou adoecimento. Mesmo sabedores de que não devemos ter expectativas com a saúde do analisando, temos grande crença que a capacidade amorosa e a relação afetiva sincera, respeitosa e paciente, podem proporcionar evoluções na vida das pessoas que nos procuram. A experiência analítica é um grande recurso para suportar o fardo que se torna a vida quando estamos sofrendo.

 

IV. Concluindo

Sou de uma geração de psicanalistas que se caracteriza pela não filiação a alguma escola específica. Pelo contrário. Temos os mestres respeitosamente assimilados em nosso proceder. As lutas entre grupos e, destes, com as demais ciências - muito adequadas em certo período histórico - culminaram em uma solidificação de conhecimentos que não precisam mais ser repetidos de forma decorada para provar adequação, transferindo-se a responsabilidade da formulação para os mestres incontestáveis do passado. Podemos transitar pelos vários autores, não em uma amálgama eclética de ideias, mas, sim, em diálogos constantes e mediados pelo conhecimento clínico de cada analista praticante.

Acredito que um psicanalista, ao publicar suas experiências clínicas, invariavelmente faz um relato autobiográfico. Claro que existem vários objetivos da ação e da escrita psicanalítica, mas é sempre relato da experiência da dupla, da intimidade que é oferecida para debate e reflexão - ou seja, para ser partilhada.

Apesar de correr o risco de se fazer um texto muito confessional, e, portanto, desinteressante para o meio analítico e para a produção científica, acredito que as experiências do analista interferem e modelam a relação nossa com nossos analisandos. A análise é uma situação ampla e complexa, que inclui a pessoa do analista, sua história e vivências. Afinal, quando estamos com nosso analisando, somos um ser total, com todas as experiências à disposição para permitir o contato mais profundo e verdadeiro possível. No entanto, acredito que os analisandos possam ser poupados de saber das nossas experiências. Mediante exame interno, elas servem para nós. As histórias dos analisandos é que devem aparecer e receber investigação analítica da dupla.

Através do árduo treino analítico - moldado nas análises pessoais, pelos anos de trabalho, estudos, reflexões, trocas afetivas e publicações -, podemos ter razoavelmente solidificada a função analítica como um recurso desenvolvido em nossa personalidade. Modulando a função analítica através da desejada ética psicanalítica, podemos mediar a maior parte das ideias, experiências, fantasias, teorias e memórias como recursos de vida, ficando à disposição tanto de nós quantos dos pacientes, assim como dos colegas e também da ciência. Desse modo - tal qual Gradiva e seu andar peculiar - é que podemos avançar.

 

Referências

Freud, S. (1996). Delírios e sonhos na Gradiva de Jensen. In S. Freud, Edição standard das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. (Jayme Salomão, Trad., Vol. 9, pp. 15-88). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1907).         [ Links ]

Freud, S. (1996). Luto e melancolia. In S. Freud, Edição standard das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. (Jayme Salomão, Trad., Vol. 14, pp. 245-270). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1917).         [ Links ]

Jensen, W. (1987). Gradiva: uma fantasiapompeiana. (Ângela Melim, Trad.). Rio de Janeiro: Zahar. (Trabalho original publicado em 1903).         [ Links ]

 

 

Correspondência:
Osvaldo Luís Barison
[Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo sbpsp]
Rua José Urias Fortes, 544
15091-220 São José do Rio Preto, SP
osvaldobarison@gmail.com

Recebido em 3.10.2011
Aceito em 30.3.2012

 

 

1 Do latim: "aquela que avança".
2 Zoé (do grego Cn): vida) Bertgang (o equivalente em alemão de Gradiva).

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