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Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.46 no.4 São Paulo out./dez. 2012

 

ARTIGOS

 

Visão interior, demônios e bons objetos: o analista diante de si mesmo na decisão de analisar

 

Inner vision, demons and good objects: the psychoanalyst facing himself in the decision of providing analysis

 

Visión interior, demonios y buenos objetos: el psicoanalista ante sí mismo en la decisión de analizar

 

 

Eva Maria Migliavacca

Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo SBPSP, Professora titular no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo IPUSP

Correspondência

 

 


RESUMO

Este trabalho contém o relato de uma experiência clínica envolvendo a decisão de aceitar ou não em análise um jovem que despertou em mim fortes sentimentos conflitantes. Inspirada por associações com a figura de Satã, de O paraíso perdido, de John Milton, focalizo essencialmente o processo interno vivido por mim, destacando o que chamarei de visão interior e sua relação com o conceito kleiniano de bom objeto internalizado. Detenho-me no relato da sessão e estendo-me em reflexões posteriores, que possibilitaram minha organização pessoal daquela experiência.

Palavras-chave: visão interior; bom objeto; Klein; O paraíso perdido; John Milton.


ABSTRACT

This work reports on a clinical experience involving the decision of a psychoanalyst to accept or not a young patient who stirred strong conflicting feelings in her. Inspired by associations with the figure of Satan in Paradise lost, by John Milton, the author focuses essentially on the internal process experienced by the psychoanalyst, highlighting what she herself calls inner vision and its relation with the Kleinian concept of the internalized good object. The author fully describes the session and extends into subsequent reflections which enabled the personal organization of that experience.

Keywords: inner vision; good object; Klein; Paradise lost; John Milton.


RESUMEN

Este trabajo contiene un relato de una experiencia clínica involucrando la decisión de aceptar, o no, analizar a un joven que ha despertado en la psicoanalista fuertes sentimientos contradictorios. Inspirada por asociaciones con la figura de Satán, de El paraíso perdido, de John Milton, la autora focaliza esencialmente el proceso interno vivido, destacando lo que llama visión interior y su relación con el concepto kleiniano de buen objeto internalizado. Se detiene en el relato de la sesión y se extiende en reflexiones posteriores, que permitieron su organización personal de aquella experiencia.

Palabras clave: visión interior; buen objeto; Klein; El paraíso perdido; John Milton.


 

 

Existem vários fatores que concorrem para a decisão de aceitar ou não um paciente. A cada início de análise, o analista se depara com a complexidade de sentimentos intrínsecos a todo novo processo. A par do interesse por começar um trabalho com uma pessoa desconhecida, é natural que surjam dúvidas, incertezas, momentos de indecisão. Ora a contradição de sentimentos é acentuada, ora mais atenuada, mas indubitavelmente relevante para a decisão final. Movimentos mentais conscientes e inconscientes do analista pesam no rumo a ser tomado. Por outro lado, ao mesmo tempo em que apreende aspectos da vida psíquica do analisando e do que transcorre entre ambos, o analista também é objeto de escrutínio: o analisando capta sua mente e internamente avalia se inicia ou não o processo analítico com aquele profissional. Todo esse percurso tem sua beleza, e parte dele tende a ser explicitado, mas o essencial permanece oculto. Corresponde à imagem de um iceberg, nada original, mas bem ilustrativa dessa questão. Podemos nos aproximar dele e descrevê-lo até certo ponto, mas não conseguimos apreendê-lo na totalidade, pois a maior parte fica submersa.

Pretendo relatar uma experiência muito viva na qual me deparei com a necessidade de decidir analisar ou não um rapaz que despertou em mim fortes sentimentos conflitantes. Inspirada por associações com a figura de Satã, de O paraíso perdido, de Milton, pretendo focalizar essencialmente o processo interno vivido por mim, destacando o que chamarei de visão interior e o conceito de bom objeto internalizado (Klein, 1940/1981). Deter-me-ei em um recorte de sessão e estender-me-ei em reflexões posteriores, que possibilitaram minha organização pessoal daquela experiência.

 

Clínica: sombras e caos

Começarei descrevendo momentos iniciais de meu encontro com Diego, de 22 anos, quando ainda estávamos decidindo se iniciaríamos uma análise. Pelo menos eu estava às voltas com isso, pois ele, assim que chegou, de imediato deitou-se no divã, suspirou e disse, brincalhão: "Cheguei, aqui é meu lugar". Respondi mais ou menos no mesmo tom: "Quer dizer que você já se instalou?!". Ocorreu-me, de imediato, que ele provavelmente ansiava encontrar e viver um relacionamento que propiciasse acolhimento, compreensão e aceitação de sua pessoa. Ao mesmo tempo, pensei que ele chegou apresentando-se bastante infantil para sua idade, negando a angústia da experiência. Esses aspectos compõem a dinâmica de Diego no estabelecer vínculos. Não os desconsidero, mas neste texto focalizarei acima de tudo um movimento interno meu. Naquele instante, contudo, ainda tínhamos muita coisa pela frente; ele levantou-se espontaneamente, sentou-se com naturalidade e continuamos a conversa.

Tendo em vista o foco que pretendo manter, ou seja, minha experiência interior no encontro com Diego, pouco informarei sobre fatos de sua vida, o que na verdade importa sim, mas muito menos do que o modo como tem lidado com eles. Direi apenas que procurou análise por iniciativa própria; oscilava entre estados de depressão e de agitação, mas sem excessos ou extremos. Ele mesmo utilizou essas palavras para descrever seus motivos. Ouvi e retive a informação suspensa, disposta a ouvir mais e, quem sabe, vir a "trocá-la em miúdos". Contou um pouco de sua história de vida, relacionamento familiar, namoros que não vingaram, conflitos e camaradagem com amigos, certo tédio com a faculdade, cuidados com seu porte atlético, cenas de um cotidiano que pouco revelava e muito ocultava a respeito de sua real pessoa. Como frequentemente acontece, Diego vivera experiências de muitas frustrações não aceitas e não elaboradas.

O primeiro encontro seguiu em aparente linearidade. Entretanto, senti certo incômodo por razões que não conseguia definir. Não pude identificar um sentimento - familiar por outras experiências - de ter estabelecido um bom contato com aquele garoto, pois é o que ele era, um garoto. Meus primeiros sentimentos foram imprecisos, não se constituindo em mim uma simpatia imediata. Também não senti repúdio ou desgosto. Era como se eu tivesse ficado em uma espécie de limbo, sem contato com algo consistente. Não que seja um problema em si mesmo, pois em análise se lida com questões desse tipo a todo instante, mas com Diego a impressão foi particularmente marcante. Ele parecia dotado de artificialidade, imerso em imagens inventadas, não sinceras. Penso que também isso está contido na cena de entrada na sala. O gesto de deitar ou mesmo sua exclamação inicial não se constituem, de fato, uma decisão, pelo menos não isenta de conflito.

No segundo encontro, porém, aconteceu algo muito significativo e, para mim, decisivo. Enquanto conversávamos, eu me flagrei em certo estado mental que tentarei descrever. Na verdade, ainda não sei se a expressão "estado mental" é a que melhor se aplica. Talvez caiba mais considerar como um movimento mental complexo, do qual tive uma apreensão parcial.

A certa altura, eu ouvia Diego contar cenas de conteúdo agressivo, gesticulando de tal forma que suas mãos lembravam garras, com expressões faciais que distorciam e enrijeciam seu rosto de traços delicados. Ele me falava de imagens, de ações imaginadas repletas de forte violência. Por exemplo, via a si mesmo em um bar quebrando uma garrafa e avançando sobre um rapaz com intenção de matá-lo, pois ele teria feito algum comentário sobre sua namorada. Gesticulava ao falar, desenhando a cena com as mãos. Seus lábios estreitavam-se e suas mãos se retorciam. Falava com ênfase. Ou então, na escola, sentindo-se afrontado por um colega, pensou em pegar um taco de beisebol para arrebentar-lhe a cabeça. Conta que, no mesmo momento, porém, disse a si mesmo: "Mas o que você está pensando?Deixa disso". Relata ainda situações de humilhação vividas na época em que era um meninozinho desajeitado, incapaz de defender-se, empurrado e maltratado por colegas de escola mais fortes. Diz com dureza e convicção: "Eu queria e ainda quero matá-los. Sei onde está Fulano, por exemplo, e ele é um coitado e eu não vou matar, porque senão acabo na cadeia. Mas eu tenho vontade e penso nisso" Perguntava a si mesmo e a mim o porquê daquilo tudo, por que se sentia daquele jeito. Comenta, com certo humor, que parecem cenas de filmes americanos.

Então, diz: "Tenho um ódio, uma raiva que você nem sabe!" e acha que esse é o motivo pelo qual imagina aquelas cenas, como se precisasse desafogar-se. Diz que se fizesse o que imagina, prejudicar-se-ia muito. Por isso decidiu procurar análise: precisa de ajuda para se "livrar daquela raiva tão grande". Entretanto, destaca e retoma várias vezes que aquilo que o segura mesmo é o medo de ir para a cadeia, pois se fizesse aquelas coisas "ficaria vinte anos preso e aí já era" Pergunto o que "já era"; responde que a vida dele estaria "fodida" sem expandir a questão. Não inclui qualquer pesar ou sentimento de culpa, apenas quer evitar ser preso.

Durante esses relatos, eu o escutava atentamente, plenamente ligada, e ao mesmo tempo tinha a sensação de funcionar em dois planos: um, no qual minha atenção concentrava-se nele, ouvindo e conversando com ele; e outro, no qual eu estava voltada para o equivalente a um largo espaço dentro de mim, consultando a mim mesma em relação ao que eu sentia no encontro com aquele rapaz, os sentimentos que ele me inspirava, o grau de conforto e fé que eu podia preservar, os indícios que pudessem me levar a assumir analisá-lo ou não, um plano no qual eu me deparava com a responsabilidade de uma decisão a ser tomada. Ao mesmo tempo em que me mantinha conectada a ele, eu estava em busca de mim mesma.

Naquela intersecção, veio-me à mente o voo solitário de Satã nas profundezas do Orco procurando uma saída, descrição maravilhosa feita por Milton (1667/1994) em O paraíso perdido, representação de um processo de busca por alguma luz em meio à escuridão. Satã plana, olha, angustia-se, persiste, vê cenas terríficas, mergulha em trevas, voa por longo tempo absolutamente só, incerto em relação a qual direção tomar, perseverando na busca, imerso na cegueira, até encontrar a entidade guardiã da confusão das trevas que o orientará no caminho, o Caos. Milton1 diz, infinitamente melhor:

O inimigo tenaz de Deus e do homem,
Satã, levando-se em ligeiras asas,
Solitário procura as portas do Orco:
Ora à destra, ora à sestra, solta o rumo:
Com asas planas eis que o Abismo roça.
Eis que a perder de vista se remonta
Às inflamadas côncavas alturas (p. 83).
[...]
Então Satã encara de repente
Os virgens penetrais do imenso Abismo,
De trevas mar sem fim, onde se perdem
Tempo, espaço, extensão, largueza, altura.
Ali a negra Noite, o torvo Caos,
Da Natureza antigos ascendentes,
Eternal anarquia geram, guardam (p. 93).
[...]
O ígneo Satã seu rumo segue
Por mares, por pauis, pelo ar, por montes [...]
Transpõe estorvos; sem descanso lida
Com cabeça, com pés, com mãos, com asas,
Anda, nada, mergulha, trepa, voa (p. 95).

Assim como Satã, eu também enfrentava solitária a busca de uma luz que me ajudasse a decidir um rumo a tomar. E também precisava encontrar o Caos2 para começar um processo de organização.

No largo espaço que se abriu dentro de mim, eu me indagava a respeito de acolher aquele moço para análise. Será que estou diante de um violento assassino? Uma pessoa perigosa da qual seria melhor manter distância? Ou diante de um menino aterrorizado pelos próprios pensamentos e fantasias, desesperadamente em busca de alguém, um interlocutor que pudesse ajudá-lo a organizar-se e compor-se de modo integrado frente à própria violência e tendências destrutivas? Que tipo de disposição ele despertava em mim? Eu sentia compaixão? Interesse? Ou vontade de fugir? Medo? Tantas histórias que se ouvem... Valeria a pena correr o risco? Ele não sabia nada disso, mas naquele momento era importante que eu soubesse, pois era eu quem precisava tomar uma decisão.

Eu estava como Satã, sem rumo certo, em busca de algum sinal que me orientasse, ainda que - diferente do demônio, atormentado por torturas internas - vivendo aquele momento em um estado de razoável conforto e bem-estar. No entanto, será que eu queria o mesmo que Satã? Escapar do Inferno e alcançar o Paraíso? Violência, ódios, rancores, dores profundas não elaboradas, isso e muito mais estava à minha espera no mundo interno de Diego.

Pensamentos começaram a se organizar naquela área paralela de minha mente. O que buscava aquele moço? Ser ouvido? Ser percebido? Talvez os berros de ódio e extermínio ocultassem o choro de uma criança que viveu experiências fortes de abandono afetivo, sem nunca conseguir estabelecer um vínculo que fosse de real ajuda para seu desenvolvimento. Ao mesmo tempo em que o escuto, vejo como ele ainda parece um menino, com voz e jeito de menino, mesmo tendo 22 anos. Um menino um tanto perigoso, é verdade, mas, mais ainda, amedrontado com o violento desconhecido que há dentro dele. Bem, pensei com bom humor, pelo menos um pouco de um violento assassino todos temos dentro de nós, afinal é um potencial que nos foi dado pela natureza - e eu não escapo disso. E ele não estava inteiramente entregue a suas tendências mais agressivas, estava em conflito, o que era um bom sinal - mesmo que suas razões fossem de ordem prática. Minha decisão, portanto, considerava atender um rapaz que apresentava aqueles aspectos violentos, selvagens, junto com outros que incluíam alguma autocrítica, certo grau de consciência das próprias tendências e necessidade de preservar um senso de realidade, diferente de atuação.

Precisei considerar ainda que a agressividade que exalava de sua fala e atitude despertava a área paranoica de minha mente. Meu temor a sua violência não deixava de ser também manifestação de meu potencial de violência. Isso levantava o problema de eu ter de discernir o que era uma percepção minha do que era projeção, fruto então de minha própria ansiedade persecutória. Não resolvi esse problema naquele instante, mas pensei que de qualquer modo eu teria de me ocupar disso, necessariamente, em analisando Diego - ainda que não só por esse motivo. A clínica psicanalítica possibilita uma aproximação íntima com esses aspectos, que podem manifestar-se na vida de relação ou nas fantasias. Na verdade, sempre há um risco e algum movimento precisa ser feito.

Parte de meu problema era levar em conta que, como analista, cabe-me discriminar se minha decisão orienta-se por angústias persecutórias, por negação da realidade e onipotência, ou se capto algo que as aparências sugerem junto com o que está além delas e que, de certo modo, determina e constitui a dinâmica mental. Todos esses fatores, em movimento dentro de mim com muito mais velocidade do que aquela que uso para fazer este relato por escrito, constituíam o fulcro central de meu dilema.

Ocorreu-me que há um passo largo entre a realidade das fantasias e dos desejos e a concretização de seus conteúdos. Um passo muito largo e, para bem da sobrevivência da humanidade, na maior parte das vezes nunca dado.

É fato que o analista nunca sabe quem é a pessoa que aceita analisar ou que adentra seu consultório. Sempre é um desconhecido, mesmo quando a empatia é imediata. E os riscos são inerentes ao trabalho de pesquisa da vida mental, mormente em uma condição de proximidade como a que se constitui na clínica psicanalítica.

Perceber tudo isso pesou em minha decisão que, afinal, foi a de acolhê-lo em análise. Se vingar por um bom tempo, talvez um dia seja possível conversarmos sobre essa experiência inicial.

Posteriormente, percebi que naquele estado mental no qual mergulhei e que se repetiu em outros momentos, havia e há uma função interessante para a captação da vida psíquica. Isto é, o encontro com Diego levou ao surgimento daquela imagem e desencadeou aquela experiência em mim. Ainda que, em parte, ele possa comunicar inconscientemente suas necessidades, que seja as de ser percebido e compreendido, tal encontro tem um efeito em mim por conta de características e condições próprias de minha pessoa. Não resulta de identificação projetiva (Klein, 1946/1980); é uma experiência decorrente de um processo interno meu, de contato meu com meu íntimo. Também não me parece ser propriamente o que se concebe teoricamente como sendo contratransferência (Heimann, 1949/1981), ou seja, uma resposta inconsciente à transferência, da qual só alcançamos, pelo menos de início, emanações. Ainda que imersa no contexto daquele encontro e sujeita ao processo contratransferencial, tento descrever aqui uma experiência de outra natureza: vivo algo desencadeado pelo contato com Diego, mas que acontece no plano de minha individualidade. Acredito ser esse um fenômeno clínico comum aos analistas, ainda que de difícil precisão e descrição.

Klein (1946/1980) descreveu a identificação projetiva como uma fantasia de controle de angústia, cujo valor clínico consolidou-se de modo inegável ao longo do tempo, como assinala Joseph (1987/1994). Por ela, duas pessoas estabelecem contato e comunicação não verbal, e constitui-se excelente ferramenta para o analista que a discrimina. A função comunicativa da identificação projetiva foi destacada ulteriormente por Bion (1963/1982). Darei um exemplo: um aspecto da dinâmica de Diego, intimamente ligado a seu ódio e que logo ficou claro para mim, é o de que ele afundava-se em sentimentos de inutilidade, incompetência e menos-valia avassaladores. Os impulsos agressivos dirigidos para o mundo externo revelaram-se igualmente ou mais intensos em autoataques. Atos concretos limitavam-se aos socialmente toleráveis em seu grupo, como fumar e beber além da conta, mas usava de palavras virulentas ao extremo para falar de si como um ser absolutamente inútil. Empenhava-se em confirmar tais ideias nas reações das pessoas. Compreendi melhor as razões desse processo em uma ocasião na qual percebi em mim um sentimento de mau-humor pelas justificativas que me deu para faltas e atraso no pagamento das sessões. É muito raro eu sentir mau-humor no contexto clínico. Tenho uma tendência a acreditar e a pensar que o trabalho sempre pode evoluir; não olho meus pacientes, por mais perturbados que sejam, com desesperança ou descrença; pelo contrário: em geral, mantenho-me naturalmente interessada. Naquela ocasião, pareceu-me que se acendeu uma luz vermelha dentro de mim. Se eu de fato penso nele como alguém que "não tem jeito", como ele está habituado a sentir-se e a ver-se tratado pelos outros, ele pode alimentar mais e cristalizar seu ódio a si mesmo, além de justificar melhor seus impulsos agressivos e autoagressivos. Considerei que havia algo que estava em trânsito entre nós dois, como um fio comunicativo que a mim cabia traduzir e dizer a ele o que se passava. Era algo para ser compartilhado. Quando revelei a Diego esse aspecto de sua dinâmica, sua reação inicial foi fazer troça e usar de ironia, mas a seguir tomou minha sugestão como objeto de reflexão, em tom deprimido. Alguma semente começou a transformar-se naquela terra crestada por hábitos mentais pré-estabelecidos há muito tempo.

Penso que, neste exemplo, há identificação projetiva sim, como um movimento mental circunscrito e de apreensão razoavelmente fácil. Difere de outros movimentos nos quais o analista se vê às voltas consigo mesmo e com a necessidade de reconhecer sua experiência íntima e sentimentos decorrentes de suas características pessoais para esclarecer seu próprio caminho no relacionar-se com outras pessoas dentro do setting analítico. Essas experiências parecem-me mais difíceis de serem identificadas e descritas.

 

Componentes do método: luz e beleza

Quando se trata de decidir acolher um paciente em análise, antes de qualquer coisa, o analista indaga a si mesmo. Essa indagação fica mais e mais presente conforme ele amplia a consciência da atividade que escolheu e do quão árdua ela é. De um lado, mantém-se em conexão com a pessoa com quem conversa, e de outro, mergulha e deixa-se envolver, solitário, em seu mundo interno, condição essa para captar o que não sabe de si e que, na verdade e na melhor das hipóteses, decide a questão.

O analista equipa-se ao longo do tempo e da experiência com rico acervo pessoal, teórico e técnico, mas penso que um dos instrumentos mais refinados à sua disposição consiste naquele componente importante do método analítico, que é a visão interior. Seu caráter é eminentemente subjetivo, mas é com sua subjetividade que o analista capta, objetivamente, a subjetividade do analisando. É nesse campo que brota a liberdade para estar na experiência daquela condição - nunca é demais lembrar - que Freud (1912/1987) chamou de atenção uniformemente suspendida, equivalente ao que Bion (1967/1992) descreveu, de modo mais detalhado e preciso, como suspensão de memória, desejos e expectativas de compreensão e que ecoam as palavras de Klein: "é a atitude, a convicção interna que encontra a técnica necessária. [...] se abordarmos a análise [de crianças] com a mente aberta, descobriremos maneiras de sondar até mesmo os recessos mais profundos" (1927/1981, p. 169). Ainda que as palavras pertençam ao campo do mundo palpável, a visão interior constitui-se quando há pelo menos a disposição para o desprendimento temporário da sensorialidade - mesmo que isso não se dê de modo absoluto: nossa mente, nosso espírito, nossa vida psíquica repousam em um corpo!

Visão interior está associada com cegueira para os estímulos sensoriais. Como comparação, difere de introspecção, por exemplo. Esta se define mais como um traço constante de uma personalidade, caracterizando-se como um invariante, ao passo que a visão interior constitui-se como uma competência que se desenvolve e se descobre na experiência. Refere-se ao olhar voltado para dentro, para o mundo interno, em um processo espontâneo, que se desenrola sem pressa, decorrente do contato emocional com o outro e, acima de tudo, com o próprio íntimo, sem perder a conexão com o mundo ou o contexto externo no qual está inserido. É um olhar para o próprio ser, fruto de contato com a dimensão inconsciente da mente.

Expandindo um pouco mais, pode-se reconhecer a visão interior no olhar de Édipo voltado para si mesmo, quando chega "nel mezzo del cammin di [sua] vita"3 , ao descobrir-se uma pessoa bem mais complexa e contraditória do que aquela que julgava ser - modelo da experiência de descoberta das próprias complexidades por parte de um analisando (Miglia-vacca, 2011). Representação irresistível e muito conhecida, portanto, é a radical mudança sofrida por Édipo na tragédia de Sófocles, quando cega seus olhos ao mesmo tempo em que se acende a luz de seu espírito. Ele também é um violento assassino a quem amamos, admiramos e tomamos como modelo. Pois, é inegável, amamos profundamente o Édipo!

Referência menos dinâmica e mais descritiva, mas extraordinária em beleza, encontra-se n'O paraíso perdido, cuja inspiração nasce da vida real do poeta4 . Após uma vida política movimentada (Hill, 1975/2001), John Milton recolheu-se e compôs o poema que teria sido um projeto longamente acalentado e adiado. No entanto, ele perdeu gradualmente a visão até ficar completamente cego aos 50 anos, dependendo de auxílio para a escrita.

Milton empenhou-se em uma tarefa de peso: contar o drama primeiro do homem no Paraíso e a perda da graça. Nele, encontramos belíssima poesia sobre penumbra, escuridão, sombras, luz, trevas, o sol que lhe escapava e o olhar voltado para novas direções. A dor é nítida em comoventes versos. Neles desenham-se a busca de orientação e a procura de significados na incerteza e nos limites dos quais o poeta não tem como escapar. Ao mesmo tempo, expressam confiança, "sem ansiedade ou desejos de esclarecer açodadamente as dúvidas e os mistérios" em que ele está e, afinal, todos estamos mergulhados - para lembrar Keats (2009, p. 41), outro poeta caro aos psicanalistas.

No início do "Canto III", após saudar a luz como sendo coeterna do Eterno e tecer-lhe louvores, Milton volta-se para ela declarando-se um homem ousado por ter se aventurado nas sombras infernais e por pretender subir aos campos celestes, empresa além do alcance humano. Tendo emergido do Inferno e reconhecendo sua pungente realidade pessoal, ele dirige-se à luz, cheio de dor pela perda que sofre, ainda que imerso na beleza que dela irradia:

Já livre hoje a ti volvo, e já me anima
De tua essência o sacrossanto influxo;
Mas tu não entras mais nestes meus olhos:
Por invencível sufusão tapados
Rolam ansiosos com baldado anelo
Procurando teus raios penetrantes,
E nem sequer lhe acham o vislumbre! (p. 101).

E pouco à frente:

Tornam as estações girando os anos,
Mas para mim não torna a luz do dia.
Já não me encantam da manhã e da tarde
As suaves, pinturescas perspectivas
Da primavera e do verão as flores,
Nem mansas greis, nem gordos armentios,
Nem o ar divino do semblante humano;
E, em vez de tais belezas, me circunda
Nuvem cerrada, escuridão perene
Que as avenidas do saber me entupe,
Mostrando-me somente, em tábua rasa,
Um vácuo universal, sem cor, sem formas,
Donde, para jamais me aparecerem,
Da Natureza as cenas se apagaram (p. 102).

A mágoa, o vazio e a desesperança percorrem esses versos. No entanto, logo a seguir:

Mas tu, eterna luz, porção divina,
Com tanta mais razão me acode e vale:
Brilha em minha alma, nela olhos acende
As faculdades todas lhe ilumina,
E de nuvens quaisquer a desassombra,
A fim de que livremente veja e narre
Cenas que à vida dos mortais se escondem (p. 102).

Milton não tem acesso à "coisa em si", mas predispõe-se a ser inundado por ela a fim de formular o indizível em termos acessíveis para a razão humana. É um modo poético de falar da constituição de um mundo interno fruto de complexas experiências de relacionamento humano desde o nascimento, que podem vir a se traduzir como uma convicção consolidada e não consciente de confiança na própria capacidade de viver e de lidar com a vida emocional rumo à integração. São versos que possibilitam ao psicanalista associações com conceitos como o de bom objeto internalizado (Klein, 1940/1981), ao qual recorremos e no qual encontramos base e confiança para enfrentar as vicissitudes da vida. Bom objeto traduz-se como autoestima bem constituída, capacidade de elaboração de lutos e da angústia de separação, capacidade de recuperação e de reparação (Klein, 1940/1981), enfim, muitas palavras para expressar uma experiência emocional significativa e de grande alcance. Diante da incerteza em que vivemos, a qual nos assola a partir de dentro e cerca nosso ser, valemo-nos da composição dessa condição de mundo interno como um farol que nos orienta por "mares nunca dantes navegados" ou por caminhos similares aos dos bandeirantes nas florestas do Brasil. Diante do desconhecido, cuja atratividade envolve a mente do poeta, algo que Milton chama de luz, Dante chama de Virgílio, Keats5 chama de Beleza e o psicanalista chama de bom objeto, esse algo nos impele para uma investigação cujo desfecho é uma incógnita, pelo menos na clínica.

Na poesia, às vezes, podemos prever o desfecho, sobretudo naquelas de caráter épico. Como bem assinala Szajnberg (2010), Virgílio, para Dante e para o leitor, é a segurança de um final feliz. O vate conduz Dante de tal modo que ele confia (assim como nós) que atravessará as trevas e emergirá para a luz das estrelas. Em Milton não há um guia. O retrato é mais impregnado de desamparo. Sabemos qual o final, que nem é feliz nem infeliz, mas resulta na entrada do indivíduo em sua condição humana real; o destino do homem é a consciência: Adão ver-se-á sozinho para absorver a precipitação em seu inferno interior, desencadeada pela ação de Satã. A experiência é solitária.

No plano da conjectura, pode-se arriscar a dizer que o cego Milton, assim como o magoado Dante, investe energia psíquica e imaginação na realização e expressão do que se constitui como bom objeto internalizado, equivalente também ao que, no campo da mitologia, é inspirado pelas Musas6 . Não por pouco, grandes poetas, como Milton e - em época de construção de pilares imorredouros - Homero, invocam a inspiração das Musas, para comporem sua alta poesia. São representações que permitem falar alusivamente a respeito das condições internas nas quais o analista se sustenta para aproximar-se e identificar os diversos fios que compõem a fugacidade da relação analítica.

Não é propriamente uma novidade considerar a visão interior do analista como um componente do método psicanalítico. É um termo possível para nomear qualidades da experiência emocional decorrente da interação com o analisando. Está presente na captação de fenômenos psíquicos descritos em conceitos teóricos e técnicos. Dentre eles, para citar alguns, pode-se destacar reverie (Bion, 1962/1994), função alfa (Bion, 1962/1982), fenômenos transi-cionais (Winnicott, 1975); é parte integrante da interpretação de sonhos desde a proposta de Freud (1900/1987), e compõe a capacidade de sonhar (Bion, 1959/1992). Da mesma forma, está incluída na captação do fenômeno da identificação projetiva (Klein, 1946/1980; Joseph, 1987/1994; Rosenfeld, 1971/1994) e da dinâmica transferência-contratransferência (Freud, 1915/1987; Heimann, 1949/1981; Racker, 2007). São conceitos complexos, que se referem a fenômenos observados e vividos em análise, os quais incluem a visão interior e sua necessária transformação para uso no processo analítico. Caracterizam o terreno comum aos analistas que, com eles, procuram traduzir experiências nas quais se entrelaçam os incontáveis fios da trama psíquica presente na clínica.

Diante disso, é inevitável considerar também a importância da continência, isto é, da conquista de um espaço interno que propicie ao analista conviver com as próprias angústias com razoável conforto e naturalidade. O analista contém na intimidade de seu espírito toda sua realidade humana, tomando-a como objeto de cuidado, interesse e observação. Uma vez acompanhado de bons objetos internalizados de modo consistente, sua tarefa fica mais leve, pois se recupera com mais presteza das próprias reações, facultando ao analisando novos modelos de relacionamento consigo mesmo e com os outros, e quem sabe, a constituição da continência da qual carece.

Acrescento que, como elemento do método, o valor da intuição é inegável, uma vez que ela corresponde ao faro do cão de caça na floresta. Some-se a esses fatores a fé na possibilidade do trabalho analítico, sem a qual, aliás, ele é impossível. Naturalmente, não a fé religiosa, cuja base é a crença em um objeto externo salvador pelo qual o indivíduo se orienta, no qual se ampara e que magicamente cura dores e medos. Fé em psicanálise está calcada na convicção nascida de uma experiência de contato com a realidade da vida psíquica e é expressão dessa convicção. Experiência falha e incompleta, insatisfatória e limitada devido ao inapreensível ali presente - pois nunca se apreende por completo o que é da ordem do inconsciente ou, mais amplo, o desconhecido da mente, mas ainda assim suficiente para construir a base para a fé. Dizendo de outro modo, fé em psicanálise surge de uma experiência ao mesmo tempo íntima e relacional, conquistada e não dada, construída a partir dos fatos e não a partir de desejos ou expectativas alucinadas. O analista só chega a isso por ter passado ele mesmo, em sua análise, pelo confronto com o desconhecido dentro de si e ainda assim perseverar.

Em tais condições, alguma conexão com o paciente acontece, talvez equivalente ao clima necessário para dançar de fato com alguém. Se a conexão acontece, a dança acontece; senão, fica-se apenas... fazendo passos! Eles podem ser tecnicamente corretos, mas não há dança. Essa afirmação serve para todas as modalidades de dança, mas em especial para o tango, no qual os parceiros literalmente apoiam-se um no outro sem pesar, em harmonia e conforto. É uma dança cujo aspecto mais visível é a concentração e a técnica. Difere de outras na qual o corpo fica mais solto, em que um movimento livre dos braços, por exemplo, é rapidamente absorvido e não interfere no ritmo. No tango, a conexão entre o par é fundamental. A liberdade e o prazer, a paixão e a flexibilidade concentram-se na interioridade de cada um e na comunicação intrínseca de um para o outro. Esse fator concorre para a conexão harmoniosa do par dançante e determina a beleza e a elegância dos movimentos.

De que outra maneira poder-se-ia desenvolver o trabalho analítico? Se ele é concebido como um processo de evolução e crescimento, as condições de conexão entre paciente e analista são construídas ao longo do tempo, não para chegar a um estado ilusório de ausência de conflito, mas àquele no qual os conflitos cabem e podem ser compartilhados e integrados. Olhar para dentro de si e ver o que existe, perceber a própria complexidade interna, instabilidade, contradições e conflitos; perceber-se além das imagens, autoimagens e ideais; tudo isso define o que seja a visão interior e pode decidir os rumos a seguir... ou a qualidade da dança que, como um Virgílio-guia interiorizado, o analista propõe.

Estamos sempre cegos, sempre em busca de luz, sempre vagando pelas trevas - como o Édipo de Sófocles, na contramão do instituído; como Dante, de mãos dadas com Virgílio; como Milton, imerso na penumbra, mas enxergando a luz na poesia -, construindo o processo passo a passo, mesmo na obscuridade.

Em análise, essa condição oscila. Não é exata nem onipresente. Às vezes, vivemos momentos iluminados que nos mantêm na rota. Seria desejável que nos acompanhasse sempre. No entanto, somos falíveis e sequer somos poetas.

E Diego? Penso que estava em busca. Está em busca, mesmo sem ter clara consciência disso. As origens da raiva apareceram associadas a imagens idealizadas a seu próprio respeito e à impossibilidade de corresponder a elas. Estenderam-se para a admiração que sente pelo casal parental, fonte de competição e inveja. Infantiliza-se e ataca suas qualidades, aplacando com isso perseguidores internos terrivelmente cruéis. Diego vive voltado para o mundo externo e funciona em um plano de relação concreto e fortemente sensorial. Ao mesmo tempo, é um rapaz de inteligência rápida e compreende com surpreendente perspicácia o que lhe digo. No entanto, tem mostrado precária condição de insight e, mais, carece de capacidade para o que Galgut (2010) define como mentalização, isto é, situar-se no mundo como um ser dotado de uma mente em meio a outros seres na mesma condição. Funciona razoavelmente bem no plano de inserção social, mas sua vida psíquica está empobrecida. Isso tudo veio a se esclarecer com o tempo e com o trabalho analítico que, como disse, decidi iniciar em um estado mental já serenado. Ele terá de caminhar um bocado, e eu com ele.

Na evolução do trabalho, Diego ligou-se fortemente a mim. Penso que nunca sabemos com segurança as necessidades reais e profundas de um analisando, mas suponho que Diego desenvolveu uma confiança tal que surpreendeu ele mesmo, acima de tudo pelo fato de encontrar em mim uma interlocutora que consegue ser firme e clara com ele, mas não o censura. Não precisei dizer isso a ele, mas pude funcionar nessa pauta. Talvez por intuição, talvez por fé, talvez por um pouco das duas e de outros fatores também, passei a ver Diego como um ser a desabrochar na sua humanidade, e isso decidiu muita coisa. Ele passou a ser assíduo, cuidando ciosamente de preservar o espaço e o tempo analítico. Vejo o trabalho com ele como uma construção a dois, sem atropelos.

Muitas coisas se passam em minha mente, que uso na análise sem explicitar; suponho que o mesmo aconteça com Diego. Recentemente, leu-se em notícias de jornal que meninos agrediram outros meninos. Cometeram atos violentos de consequências sérias para os outros e para eles mesmos. Com Diego, que manifesta admiração pelos agressores, transcorre uma conversa na qual me cabe analisar e não manter um vértice moralista. Enquanto ouço sua apologia da violência, penso que há inúmeros modos de expressá-la. Acho que eu queria encontrar um modo de dizer-lhe algo que alcançasse sua alma. Imagens vieram à minha mente com rapidez, como se fosse um sonho. Pensei em Goya, com seus quadros repletos de cenas sangrentas e dolorosas, lembrei-me de seu conjunto "Desastres da Guerra". Visualizei quadros do imediato pós-Grande Guerra, de Grosz e Dix. Lembrei-me de fotos do medonho conflito de Ruanda, magistralmente feitas por Sebastião Salgado. Pensei na transformação da violência em realizações de valor social e artístico e digo a ele que aquela raiva tão forte e antiga que ele carrega pode ser expressa de modos não destrutivos. "Como?" ele pergunta. "Por exemplo", lembro na hora, "as músicas do AC/DC, de que você tanto gosta, ou os filmes de lutas; há muita sangueira e violência, mas são filmes, é música". Espero. Diz: "É mesmo, eu posso lutar... muay thai. Com regras, batendo num cara mais forte e mais treinado do que eu, que me ensina a usar e a controlar os impulsos" Ele compreende a relação, ainda que em um plano concreto. Vejo isso como promissor para ampliação de percepção e de consciência. As trevas são muitas, mas vislumbres de luz são suficientes para orientar e continuar no caminho.

 

Referências

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Correspondência:
Eva Maria Migliavacca
Rua Joaquim Antunes, 767/51
05415-012 São Paulo, SP
Tel.: (11) 3062-3177
emiglia@usp.br

Recebido em 12.10.2011
Aceito em 11.5.2012

 

 

1 Não há tradução à altura do original. Uso a de A. J. L. Leitão [1787-1856], em verso. Há uma edição em prosa pela Ediouro, 1961, tradução de C. G. S. Maior. Ambas têm falhas, mas seus tradutores merecem gratidão pela formidável empreitada.
2 Na tradição grega, Caos é uma força primordial, na qual tudo existe ainda não diferenciado; é um vir-a-ser Cosmos (Hesíodo, 1981). Em Milton (1667/1994, p. 93), Caos é "árbitro do Abismo", em estrondos e confusão reina nos limites entre o Inferno e seu exterior, conhecedor dos caminhos das trevas e de suas saídas.
3 Assim o disse outro poeta, no umbral das portas do Inferno: Dante, n'A Divina Comédia (1946, I: 1).
4 Não me refiro aqui ao voo de Satã, que foi uma associação feita durante a sessão. Esta é uma reflexão posterior.
5 Há um belíssimo texto de C. M. Bowra (1950), The romantic imagination, cap. VI, sobre a Beleza como o centro brilhante da poesia de Keats.
6 M. H. Williams (2005) desenvolveu reflexões a respeito da Musa como bom objeto interno em The value of soulmaking.

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