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Revista Brasileira de Psicanálise

Print version ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.49 no.4 São Paulo Out./Dec. 2015

 

DIÁLOGO

 

O processo comum ao sonho e ao tratamento psicanalítico1

 

The process that is common to both dream and psychoanalytic treatment

 

El proceso común para el sueño y el tratamiento psicoanalítico

 

 

Jean-Claude RollandI; Tradução Claudia Berliner

IMembro da Association Psychanalytique de France. Foi codiretor dos trinta números da revista Libres cahiers pour la psychanalyse e é autor de Guérir du mal d'aimer (1998), Avant d'être celui qui parle (2006) e Les yeux de l'âme (2010)

Correspondência

 

 


RESUMO

Tanto no sonho quanto no tratamento analítico, a atividade psíquica fica entregue ao comando do princípio do prazer que, melhor que o eu, sabe se moldar às estruturas do aparelho anímico, a suas falhas, e sabe também tratar delas. O processo primário assim ativado refunda os afetos e as representações inconscientes em redes economicamente mais satisfatórias.

Palavras-chave: desprazer; regressão; língua; fala; silêncio; trabalho da imagem.


ABSTRACT

Both in dream and in the psychoanalytic treatment, psychic activity is surrendered to the command of the pleasure principle. Better than the self, the pleasure principle knows how to adapt itself to the psychic apparatus and its flaws, and it also knows how to treat them. Once the primary process is in this way activated, it deepens affections and unconscious representations in economically more satisfying nets.

Keywords: unpleasure (displeasure); regression; language; speech; silence; work of image.


RESUMEN

Tanto en el sueño como en el tratamiento analítico, la actividad psíquica se entrega al mando del principio del placer que, mejor que el yo, sabe moldarse a las estructuras del aparato anímico, a sus errores, y sabe, también, tratarlos. El proceso primario activado de esta forma reformula los afectos y las representaciones inconscientes en redes económicamente más satisfactorias.

Palabras clave: desagrado; regresión; idioma; habla; silencio; trabajo de la imagen.


 

 

Assim que Freud, inspirado em Breuer, cria uma técnica de cuidados (talking cure, segundo uma paciente) que virá a se tornar o tratamento psicanalítico, descobre-se que este e o sonho obedecem a um processo de mesma natureza; o sonho seria seu equivalente natural, apenas menos eficiente. Pode-se dizer que, devido a seu método, o tratamento analítico aperfeiçoa os procedimentos naturais de que o sonho se revelaria, a posteriori, o inventor. Em termos práticos, a chegada dos sonhos numa análise é sinal de sua eficiência.

Recenseemos as homologias que unem os processos próprios do sonho e do tratamento psicanalítico.

Em primeiro lugar, para serem instaurados, ambos exigem uma suspensão da atividade do eu. "Dorme, isso é só um sonho", escreve Freud em A interpretação dos sonhos (1900/2003), quando pretende ilustrar a arte com que o eu, representante das instâncias lógicas da mente, tolera a experiência onírica, embora não possa aceitar seus conteúdos: isso lhe permite continuar dormindo. A prescrição no tratamento analítico da regra de "dizer tudo o que vem à mente" não se endereça ao eu do analisante, mas aos automatismos inconscientes e ao discurso que comandam o funcionamento da vida psíquica; a mesma prescrição também convoca o eu do analisante a se destituir de sua autoridade, entregando-se à do analista. Também é possível que o eu deste último obedeça ao mesmo movimento: a escuta analítica ganha, com efeito, em acuidade quando se apoia apenas na "sensorialidade" de seu ouvido e no seu discurso interior. Pode-se até pensar que o essencial do processo psicanalítico se dá no ponto de encontro entre fala associativa do analisante e discurso interior do analista. Sonho e tratamento analítico desvelariam uma possível disjunção entre as funções do eu e as funções da língua. O eu não pode nem se exprimir nem existir sem a língua, mas esta pode fazer o que tem de fazer sem a ajuda e sem a autoridade do eu.

Em segundo lugar, ambos atualizam uma atividade psíquica mais profunda que a atividade de vigília, e mais originária, centrada na manutenção do aparelho num certo equilíbrio, próprio do mundo interno e diferente daquele da atividade psíquica superior, a qual admite como uma necessidade, como um trabalho, ser desestabilizada pelas exigências do mundo externo. A atividade própria do sonho e do tratamento analítico não é comandada pelos imperativos corriqueiros da vida desperta (vontade, dever, vigilância, preocupação com a vida, caridade), mas por uma exigência que lhe é totalmente própria. Freud denominou essa exigência com uma palavra que, por seu caráter inesperado, revela sua equivocidade. Chama-a de prazer, sem dissociá-lo de seu oposto, o desprazer; faz dele um princípio que, nesse nível profundo, governa com mão de ferro o curso das emoções e das representações. Em O chiste e sua relação com o inconsciente (1905/1983), chama-o de o quase onipotente princípio do prazer, indicando assim que o aparelho psíquico, nesse nível de funcionamento, só aspira a um relaxamento absoluto: reage com o maior desprazer e dor às excitações que o assaltam, vindas tanto do mundo externo (seus requisitos e suas frustrações) quanto do mundo interno; neste último, as cicatrizes memoriais deixadas pelos traumas e pelas paixões da infância, assim como a libido inerente ao tornar-se homem, são fontes de tensão interna. Portanto, o princípio do prazer/desprazer só tem uma visada energético-econômica, mas da qual depende o essencial do conforto do aparelho psíquico, sua salvaguarda até.

Esse princípio que tende a levar o aparelho psíquico ao grau zero de excitação, mas felizmente não consegue, está portanto no comando desses processos do sonho e do tratamento psicanalítico. Essa atividade da vida mental - chamemo-la primária - também pode ser observada no curso das doenças psíquicas (na psicose, ela corresponde a toda a atividade mental do doente); nos outros momentos da vida do sujeito, fica como que desativada, não podemos observá-la, apenas inferi-la. Freud herda essa noção da neurofisiologia alemã, da qual foi, antes de descobrir a psicanálise, um grande adepto. O conceito de Lust/Unlust, forjado por Fechner, é, nessa tradição, a manifestação da energia presente no aparelho psíquico; tem uma conotação "física", de que as palavras francesas correspondentes estão desprovidas.

Em terceiro lugar, sonho e tratamento analítico cumprem uma função idêntica. A atividade psíquica arcaica, desvelada (despertada!) pela regressão do sono ou pela regressão transferencial, trabalha no sentido de restaurar o princípio do prazer ali onde a sujeição à realidade e as defesas psíquicas, particularmente o recalcamento, entravaram seu curso. O recalcamento, com efeito, retém, conserva, experiências infantis fontes de excitação que ameaçam o equilíbrio energético do aparelho; a atividade assim reinstaurada visa a descarga de todas essas excitações despertadas pela memória do sonho e da transferência. A cada vez, ela o faz apenas pontual e parcialmente. Um desejo censurado na vida desperta encontra no sonho, por exemplo, uma satisfação num modo alucinatório, seja porque o objeto perdido, fonte desse desejo, nele reapareça, seja porque nele se encene a satisfação esperada, como nos sonhos de masturbação.

Note-se que, embora a alucinação "restauradora" seja patente no sonho porque este se exprime por imagens, no tratamento analítico, em que o paciente só pode se exprimir para o analista por meio de suas palavras, ela só pode ser deduzida. Notem que digo "se exprimir", pois, tal como no sonho, ele também pode pensar por imagens. As palavras enunciadas tornam-se, então, representantes legítimos dessas imagens paradoxalmente invisíveis. É a abordagem teórica dos processos do sonho e do tratamento analítico que permite reconstituir a peça faltante do quebra-cabeça: ela nos insta a inferir que a alucinação está na fonte da fala do paciente e que as imagens que ali se produzem com força precisam, para se exprimir, converter-se em palavras. Logo, a imagem é o material específico do processo primário, isto é, da atividade psíquica inferior.

* * *

A relação entre os processos do sonho e do tratamento analítico foi uma das primeiras conclusões que se impuseram a Freud na sua pesquisa psicanalítica. As teorias do sonho e do tratamento analítico sofrerão uma mesma revolução quando do advento da segunda tópica. A satisfação de um desejo censurado é o caso mais simples do funcionamento do princípio do prazer. Freud precisou de muito mais tempo de escuta de seus pacientes e de investigação teórica para penetrar toda a sua complexidade. Em Além do princípio do prazer (1920/1996), Freud tem de abandonar a ideia de que o sonho é apenas uma realização de desejo e admitir que ele também está a serviço da repetição (mortífera) dos traumas infantis que permanecem em estado de traços no inconsciente. Para se referir a estes, fala-se de moções inconscientes. Freud levanta, ao mesmo tempo, a hipótese de que afetos sexuais, de coloração claramente negativa, estão em ação nesses restos fósseis da sexualidade infantil. Assim, na 29.ª das Novas conferências introdutórias à psicanálise, intitulada "Revisão da teoria do sonho", ele escreve:

Uma das tarefas da psicanálise é levantar o véu de amnésia que esconde os primeiros anos da infância e levar à lembrança consciente as manifestações da vida sexual da primeira infância. Ora, essas primeiras experiências estão conectadas a penosas impressões de angústia, proibição, decepção e castigo. Entende-se que tenham sido recalcadas, mas não que tenham tanto acesso à vida onírica, que proporcionem o modelo para tantas fantasias oníricas, que os sonhos estejam repletos de reproduções dessas cenas infantis e de alusões a elas. Seu caráter desprazeroso e a tendência à realização de desejo inerente ao trabalho do sonho parecem difíceis de conciliar. [...] A essas mesmas vivências da infância estão vinculados todos os desejos pulsionais imperecíveis, insatisfeitos, que durante a vida toda fornecem a energia para a formação dos sonhos, e bem podemos esperar que, em sua poderosa pulsão para cima, possam igualmente empurrar para a superfície o material de episódios sentidos como penosos [...] o sonho é a tentativa de um realização de desejo. (1933/1995, pp. 110-111)2

As moções inconscientes que estão na fonte do desprazer são sempre traços mnêmicos de experiências sexuais infantis de frustração, de incompreensão, de rejeição; essa marcação originária da sexualidade do infans pela dor é a primeira causa desse desprazer que parece rondar a vida anímica, e ao qual o recalcamento impõe uma amnésia persistente e um silêncio a toda prova. Com a designação de moção inconsciente, Freud quer especificar a densidade dessas formações mentais que não são simples sequelas da história do indivíduo: seus constituintes são, a um só tempo, os traços mnêmicos mais significativos do tempo da infância e também os afetos internos de amor e de ódio. Eles variam segundo os estados de diferenciação do aparelho psíquico induzidos pelos movimentos primeiros e múltiplos de subjetivação, bem como por aqueles produzidos pelas introjeções reiteradas dos objetos "sagrados" da libido edipiana. A heterogeneidade dessas formações tem grande importância para a compreensão do trabalho do tratamento analítico: a fala associativa visa decompô-las, segundo suas linhas de clivagem natural, para possibilitar tanto a rememoração das circunstâncias históricas do trauma psíquico quanto a identificação do objeto edipiano conservado. O trabalho do tratamento psicanalítico fraciona o que se lhe apresenta; ele é, no sentido químico da palavra inclusive, análise.

Essas moções são altamente organizadas segundo a lei do primeiro princípio do prazer, que quer que um desejo conserve seu objeto e que o objeto satisfaça o desejo assim que sente sua falta. O sujeito, produto de uma história singular, e um desejo, representante da pulsão, ligam-se ao objeto fonte de sua libido edipiana: esta é a sintaxe comum da fantasia e da relação de objeto, que se declinam de mil maneiras. São uma espécie de reservas da vida psíquica originária, opondo-se à vida psíquica superior, tal como a fantasia se opõe à realidade. Nisso, o lugar do objeto é essencial: assim como o deus chama por um templo que o abrigue, o inconsciente se organiza como santuário do objeto edipiano.

Pode-se, para esclarecer esse domínio de difícil acesso para a compreensão, decompor o estado de desprazer segundo suas três principais fontes: primeiramente, ele é um desprazer essencial, ligado à impossibilidade de renunciar à voracidade pelo objeto edipiano, e definiria o humano. Ninguém escapa a ele; no mais normal dos homens, a análise encontraria suas fontes, e foi o que justificou, desde o começo do movimento analítico, e ainda justifica, independentemente da psicopatologia, a "análise didática". Uma segunda causa do desprazer provém do fato de que a fantástica energia libidinal de que essas moções são portadoras é tão violentamente contida, por causa do recalcamento, que não pode ser descarregada. Portanto, é um desprazer de estase. A terceira é que essa contenção exige meios poderosos para que essa libido seja contrainvestida, meios garantidos pela linguagem na sua função psíquica, o que é uma fonte de empobrecimento do discurso e de desconforto. Trata-se de um desprazer de restrição ou, melhor, de contrainvestimento.

O trabalho tanto do sonho quanto do tratamento analítico consiste em reencontrar esses bolsões de arcaísmos e de sofrimento, em desfazer as defesas que refreiam a ferida psíquica, em encontrar um novo modus vivendi entre as partes em conflito, com vistas a levar o eu a reconhecer o objeto do desejo censurado, o que supõe que ele tenha sido destituído de sua carga edipiana. Consiste em permitir que a libido contida seja descarregada por vias indiretas, como a sublimação. Ao lado da dor induzida pela renúncia edípica, a outra fonte de sofrimento do homem é a oposição radical que os dois grandes sistemas psíquicos do consciente e do inconsciente mantêm entre si, oposição resolvida, de maneira sempre efêmera e precária, sob a égide do princípio do prazer, por um compromisso sempre interessado e "oportunista". Como se vê, é por apagarem as fronteiras entre as duas grandes instâncias psíquicas e fazerem com que elas se enfrentem que os processos do sonho e do tratamento analítico têm condições de realizar uma transformação psíquica.

Esse tipo de processo, Freud denomina processo primário. Ele se caracteriza por sua selvageria, foge a qualquer racionalidade e a qualquer intencionalidade, serve cegamente à economia do vivente, é, como Goethe faz Mefistófeles dizer em Fausto, "o que quer o mal e faz o bem"; ele age na fronteira dos diferentes sistemas, afeta essencialmente a parte do eu indivisa com o isso, que Freud chama de eu inconsciente, subtrai-se, portanto, à consciência e se desenrola segundo um automatismo absoluto (não tem outro fim senão regular os escoamentos de libido). Ele representa um trabalho (palavra paradoxal, tratando-se de algo automático) que se desenrola em toda a duração do tratamento analítico e que, no entanto, garante que as sessões, apesar de sua intermitência, tenham uma poderosa continuidade. É esse o processo que o princípio do prazer/desprazer comanda especificamente, princípio este que se apresenta, pois, como uma instância "de decisão" paralela e oposta ao eu. Essa instância não é diretamente observável, tem de ser inferida por um raciocínio metapsicológico.

Rememoração da experiência infantil, renúncia ao objeto edipiano e sublimação da selvageria pulsional são, portanto, as três operações que definem o trabalho do sonho e do tratamento psicanalítico e que desembocam numa transformação da arquitetura do aparelho e de sua economia.

* * *

A primeira tarefa da rememoração das experiências infantis, que rondam a psique do adulto e entravam sua adaptação ao real, consiste em despertar a dor ou a angústia que essas experiências portam. Essa dor foi anestesiada pelo recalcamento e pela amnésia infantil; esta é, aliás, a própria finalidade dessas operações. A dor assim despertada é, portanto, a verdadeira iniciadora do processo que, sob a égide do princípio do prazer/desprazer, vai modificar as forças e os equilíbrios em jogo. Mas o processo visa também a cessação da dor. Isso permite avaliar o caráter paradoxal desse conceito de prazer/desprazer, que mantém apenas nexos remotos com o sentido ordinário, libertino ou lúdico, da palavra: ele é, acima de tudo, portador de uma acepção econômica, eventualmente vital (com efeito, ele vela pela conservação do aparelho e, portanto, da vida), mas, ainda assim, responde às exigências sexuais, pulsionais, que para a vida infantil são fonte tanto de prazer quanto de perigo.

O princípio do prazer/desprazer, reagrupando e articulando correntes muito diversas da vida psíquica, é um conceito metapsicológico que dá coerência a fatos processuais que são estrangeiros ao eu do paciente, bem como ao do analista, e que suscitam sua aversão. Esse princípio possibilita uma interpretação deles. A escuta analítica só é possível se o analista inserir em seu entendimento, como a peça faltante de um quebra-cabeça, essa construção, que é a única que lhe permite diferenciar, no que o paciente lhe diz, o que esse discurso provoca na sua própria psique. Ela também permite compreender que a interpretação do mesmo analista vale, no que se refere às transformações psíquicas que ela visa, menos pelo que suas palavras dizem do que por seu alcance "físico". O fato de que a fala associativa, bem como a fala interpretativa, seja um ato que incide sobre o material constitutivo do psíquico é a prova mesma de que ela está sob o domínio do princípio do prazer: este não é observável, tem de ser inferido para que se compreenda e acompanhe a eficiência prática do tratamento analítico. Pode-se também dizer que o pensamento metapsicológico não é um pensamento do eu, mas um pensamento do isso.

A rememoração no tratamento analítico passa por várias etapas. Num primeiro tempo, a experiência patogênica infantil se repete "fisicamente" na sessão (o paciente só experimenta dor e se sente maltratado): lembremo-nos do Homem dos Ratos (1909/1998), que, no auge da rememoração de sua doença, levantava aterrorizado do divã, chamava Freud de "meu capitão" e se punha em posição de sentido; quanto ao sonho, o exemplo é o "sonho traumático" que reproduz indefinidamente o acidente que gerou a neurose traumática (cena de guerra, acidente). Num segundo tempo, a mesma experiência é representada na forma de imagens em enredos oníricos ou em actings transferenciais. Por fim, depois de uma longa cadeia processual, ela entra no discurso, é verbalizada, perde sua carga traumática e libidinal e se torna uma lembrança, marcada de tristeza, mas que fortalece a subjetividade.

Esse desenvolvimento em três tempos - repetição, representação, verbalização - da memória do inconsciente só pode ser percebido no tempo longo do tratamento analítico ou da vida onírica. No tempo curto (e cronometrado) da sessão, é só vagamente que se podem discernir as operações que realizam essa metamorfose do traço mnêmico traumático em lembranças. A eficiência delas provém da maleabilidade da substância psíquica, capaz de se apoiar alternadamente, conforme as necessidades do princípio do prazer, nos materiais da sensorialidade, da imagem e da linguagem.

O ensinamento mais importante que Freud nos deixou é que são sempre as experiências sexuais precoces a fonte de qualquer doença da mente. No tempo 1, o da repetição, essas experiências retornam inalteradas, o paciente literalmente revive na transferência o que ele não sabe ter vivido outrora e ele o revive como o viveu na época, quando não dispunha nem de linguagem nem de representações mentais, ou seja, sensorialmente. Basta pensarmos no famoso medo do colapso descrito por Winnicott, em linha direta com a teoria freudiana da compulsão à repetição. Em Além do princípio do prazer, justamente, Freud dá uma demonstração geral mas clara disso: a escuta do analista intervém nesse nível como continência da experiência traumática e, por intermédio da construção que a remete ao passado infantil, como primeiro sentido dado. A representação que o analista tem dessa repetição a transcende. Esse ensinamento tão importante de Freud inclui outra coisa mais: as defesas (recalcamento, clivagem, repressão) às quais essas experiências foram submetidas têm por resultado abolir definitivamente seus conteúdos ideativos e afetivos. André Green nos convenceu de que o inconsciente se define em primeiro lugar por sua negatividade. A amnésia infantil nunca é completamente levantada. Parte dela só pode ser representada, indiretamente, e reconstruída. Aquilo que não podemos lembrar, inventamos!

As fases 2 e 3 (representação, verbalização) têm em comum garantir essa representação indireta. O sonho, por exemplo, trata os restos perceptivos provenientes da vida diurna para que se prestem a figurar, a simbolizar, este ou aquele constituinte da fantasia infantil; no tratamento analítico, diferentemente, o analista se presta a encarnar o objeto edípico. Essas operações de ligação entre moções inconscientes e material perceptivo atual são garantidas pelas operações comuns ao sonho, ao sintoma e ao tratamento analítico: o deslocamento e a condensação. Incidem sobre o mesmo material sensorial visto precedentemente, ou seja, sobre imagens cenestésicas, visuais ou sonoras, e também sobre a base material da linguagem oferecida por sua matéria semântica, ou seja, "a letra" (como veremos no exemplo Hose/Hause). Elas visam fazer circular a energia psíquica encerrada em criptas inconscientes, portanto, proceder a sua abreação e alimentar assim com libido a criatividade psíquica e as funções cognitivas.

A operação de condensação reúne as energias provenientes de diversas fontes, assim como um rio se enche com seus afluentes, e sustenta quantitativamente o vigor do deslocamento. Mais especificamente, este último visa garantir que o objeto edipiano tenha uma representação, indireta é certo, mas visível; ele irá transferir sua aura ao objeto substitutivo. Pareceria que é esse deslocamento que, por implicar a substituição de objeto, é o ator mais importante da dessexualização da libido edipiana, ou seja, da sublimação. Assim, nas pinturas rupestres, a admiração e o louco amor que a figura do pai suscitou no homem das cavernas se manifestam na imagem flamejante do bisão, mas, por meio dessa substituição, eles se transformam em admiração e em devoção religiosa. No entanto, em seu estado incoativo, para aquele que desenhou aquela figura, o representante não se distingue do representado. Esse tempo de transição, em que a representação do objeto edipiano não se distingue ainda de sua epifania, é o tempo anterior à dessexualização da libido.

* * *

Comecemos com uma afirmação cujo conteúdo talvez desconcerte o leitor: somente a língua tem a capacidade de apreender as moções inconscientes, trazê-las à consciência depois de ter tratado o que elas tinham de irreconciliável com o eu. Isso significa que não se pode ter acesso ao inconsciente senão pela mediação da língua. Isso implica conceder à língua o papel de peça-mestra do aparelho psíquico tanto quanto, por exemplo, à instância do eu. Familiarizar o leitor com esse fato, ofensivo justamente para os valores que governam o eu, é o que visa a reflexão a seguir. Mas a essa primeira afirmação tenho de acrescentar outra: somente a língua tem a capacidade de recuperar a memória - e o resto - dos objetos originários que escaparam ao declínio do complexo de Édipo.

Essas propriedades da língua, pouco conhecidas por estarem geralmente ocultas, são reveladas por uma função da fala que não é a simples enunciação e que o tratamento analítico (e o sonho) privilegia especificamente. Para ilustrar esse ponto abstrato, poderíamos dizer que a língua é para a percepção do inconsciente o que os órgãos dos sentidos são para a apreensão do mundo externo. Essa função explica a especificidade da associação livre. O analista tem de focar, concentrar sua escuta nessa operação. Considero necessário insistir nesse ponto, pois num dos últimos textos de Freud, e o último que ele dedicou à prática analítica, "Construções em análise" (1939/2010), ele ainda acha que a tarefa do analista é adivinhar (erraten) o sentido latente subjacente ao sentido manifesto do discurso de seu paciente, reconstruir por meio dele sua história infantil e depois lhe restituir essa construção. Embora concordemos plenamente com o fato de que, no tratamento analítico, a cura passa pela rememoração das experiências infantis e por sua elaboração, temos dúvidas quanto aos procedimentos técnicos e aos meios estruturais que regem essas operações de memória. Nessa "adivinhação" freudiana parece haver um certo quê de magia.

Tomemos o exemplo de um acontecimento de linguagem relatado e analisado por ele como lapsus linguae na quarta das Conferências introdutórias à psicanálise, intitulada "os atos falhos", acontecimento parecido com o que se produz regularmente no tratamento analítico.3 É uma história ane-dótica, mas eloquente: passeando nas montanhas, Freud cruzou com senhoras, turistas como ele. Falaram dos encantos daquelas expedições e de seus inconvenientes. Uma delas queixou-se do calor que faz com que se fique com "a blusa, o corpete encharcado de suor", depois ficou hesitante nessa enumeração e a seguir se calou. Em seguida, retomou a palavra e acrescentou "mas quando se chega", ela queria dizer "em casa", mas disse "nas calças". A palavra que tinha sido apagada na sua enumeração era esta última. Casa e calças têm, em alemão, uma estreita homofonia, Hause e Hose. A conclusão de Freud é esta: o encontro daquela senhora com aquele homem despertou nela (como numa espécie de transferência) uma moção erótica que culminou na evocação das calças. O eu não pode reconhecer esse desejo e barra sua entrada na fala, que toma, então, um atalho.

A prova de que a língua é feita de outra matéria do que o eu é que ela não tem aversão às produções do inconsciente, ela as enuncia "automaticamente". Essa enunciação não está sob o comando do eu, é da alçada do princípio do prazer. O que gerou o lapso foi, segundo Freud, o despra-zer ligado à estase libidinal: a contenção barrou a descarga da excitação, o lapsus linguae, equivalente a um sintoma, força a barreira. O procedimento não é diferente daquele do sintoma histérico e, desse ponto de vista, a língua, na qual esse sintoma se produz, não seria diferente de um órgão corporal.

Faz vários anos que tento desenvolver outra hipótese que dê conta da especificidade singular e misteriosa da língua (que nos perguntamos como categorizar: instância ou material?). Ela é ao mesmo tempo instituição cultural, imposta aos indivíduos da comunidade humana tal como a lei, a da proibição do incesto, por exemplo, também o é; mas é também transmitida de um sujeito ao outro como língua materna, no estreito quadro da relação pai-filho; nesse sentido, ela é sobrecarregada de desejos e de proibição. Essa transmissão da língua materna não pode, portanto, ser dissociada do papel capital, e agora bem conhecido e aceito, desempenhado pelo complexo de Édipo no desenvolvimento psicogenético. Dessa dupla origem, coletiva e individual, ética e passional, devemos inferir que o lugar que a língua ocupa na vida psíquica é a de uma formação compósita, a um só tempo estrutura, como o mito, e que determina a arquitetura da psique, e energia, aquela, precisamente, que anima as operações do mundo interno, tais como deslocamentos e condensações. O afeto edipiano, a libido, fornece à fala a energia necessária para a ativação da língua transmitida.

De modo tal que, quando a fala se interrompe, como no exemplo do lapsus linguae, pode-se dizer, como Freud, que uma censura se ergueu no seu caminho, mas também se pode dizer que a libido, solicitada por essa circunstância de uma mulher encontrando um homem e que deveria ter dado lugar a um "discurso amoroso", voltou subitamente à sua fonte, para o esconderijo onde jaz o objeto originário. A escuta atenta do curso da fala e do silêncio no tratamento analítico nos impõe formalmente a seguinte conclusão: a fala se cala cada vez que faz o falante correr o risco de descobrir a natureza secreta do objeto ao qual se dirige. Tudo se passa como se a turista tivesse pressentido a transferência que a ligava ao caminhante desconhecido e tivesse inibido o desejo que ele suscitava nela. A drenagem da libido drena por sua vez a fala, transformando-a em mutismo. Isso me permitiu estabelecer a ideia de que falar, para o paciente no tratamento analítico, não consiste apenas em contar seu mundo interno, mas também, e sobretudo, em se desprender dele, o que afirmei propondo a equação segundo a qual "falar é renunciar" (Rolland, 2006).

Os afetos que, sob efeito da transferência, animam a fala associativa obrigam a língua a reencontrar os caminhos pelos quais a herança edipiana sofreu seu declínio e, por isso mesmo, a localizar os insucessos desse declínio. Esse caminho é o das inúmeras substituições graças às quais o objeto inicial foi trocado por um objeto do mundo externo e abandonado. A organização da linguagem humana é estreitamente solidária da história das relações de objeto. Recorro aqui a uma construção metapsicológica, porque ela nos ajuda a compreender a especificidade do processo associativo da fala no tratamento psicanalítico: assim como o movimento das ondas de um oceano é determinado pela atração exercida sobre ele pela rotação da lua, a sucessão das associações verbais, suas perturbações fortuitas são determinadas, à distância e segundo uma temporalidade igualmente indireta, pelo jogo das forças pulsionais e as escolhas de objeto que, no infans, desembocaram, para um sujeito dado, numa construção psíquica dada.

A lógica da associatividade faria referência à história das relações de objeto no âmbito do complexo de Édipo e de seu declínio. O jogo associativo replicaria e atualizaria a atividade sexual fóssil que fundou a subjetividade. Como se, sob efeito da transferência, uma parte do curso da fala se invertesse, retornasse à fonte. Esse curso marginal, regressivo, do escoamento da linguagem se dá à sombra da fala narrativa, cujo curso é progressivo e conserva necessariamente um lugar na interlocução analítica; mas é em torno do primeiro que se concentra a escuta analítica. Eu substituiria a oposição freudiana entre sentido manifesto e sentido latente do discurso pela disjunção virtual entre curso narrativo lógico do discurso e "erratismo" da fala, remetendo ao erotismo do infans. É a transferência que instaura essa disjunção e, também, certa qualidade de escuta do analista.

* * *

Pierre Fédida foi o primeiro autor pós-freudiano a adentrar esse campo da língua:

O silêncio do analista não é o comportamento de uma questão muda, ele é o lugar do advento da própria fala, porque bruscamente sua familiaridade usual para comunicar é desconcertada. Nesse sentido, o silêncio que inaugura a abertura da fala é um espaço - o espaço indicado como o que convém à fala para que venha a ser escutada no que diz - e um tempo, tempo da regressão tópica e da laboração. A noção de Versagung remete à renúncia à satisfação: a tentativa oral da fala está ligada à busca alucinatória e é nessa tentativa que o paciente encontra, em análise, a separação do objeto de que se espera resposta. Essa dissimetria é essencial à fala para que ela possa falar e para que, falando, receba significação da ausência do ausente. (1992, p. 118)

Portanto, é uma fala das origens - o próprio nascimento da fala - que a sessão analítica convoca. Entende-se por que a fala associativa não se instala imediatamente na sessão, por que só aparece num segundo tempo. Talvez depois que o discurso narrativo tenha se apagado, calado. A escuta analítica, como qualquer analista confirmaria, é capaz de escutar, mais além de seus conteúdos ideativos, esses movimentos da fala que indicam mudanças de registro ou de tonalidade, da mesma forma que o melómano ouve numa sinfonia a passagem, por exemplo, de um modo maior para um modo menor. Com a regressão transferencial tem-se naturalmente acesso às franjas que separam voz de fala, às zonas de junção entre carne e corpo, expressas pelo timbre (da voz), e abstração e espiritualidade da língua, àquelas mesmas zonas em que se operou, no infans, a junção entre cuidados maternos que envolviam os corpos do adulto e da criança e paixão amorosa veiculada pelas canções de ninar da Mamãe e os balbucios do Bebê.

Chega a acontecer, com uma frequência significativa, que essa linguagem primitiva, em que convivem estreitamente o afeto do desejo e o articulado da representação, só apareça depois de um silêncio ter se instalado. O silêncio, no tratamento analítico, está longe de ser algo negativo; ele não é, nunca é, indicador de uma falha do discurso. Tem inúmeras significações, que iremos examinar. Ele é uma necessidade da expressão verbal (assim como da expressão musical, aliás), na medida em que é o inverso da fala e até mesmo a ferramenta da instauração das distâncias entre significantes, que faz do ruído da fala uma linguagem articulada. Calar-se é a zona de sombra de dizer. Mas aqui, nesse nível da linguagem primitiva, vale também como repetição e atualização do começo da vida psíquica; reproduz, é uma simulação do "de onde a gente vem" que deu lugar à eclosão da emoção e do pensamento. De tal modo que tendo a chamar esse estado primeiro da língua, de cuja instauração o analista está incessantemente à espreita, de estado incoativo, língua dos começos, tão solidária do que posteriormente virá a se tornar o inconsciente que ela será naturalmente chamada a reconhecê-lo, a lê-lo.

O que dá à língua essa faculdade de ler o inconsciente é, com efeito, a extrema familiaridade entre eles. De fato, por sua faceta estrutural, ela concorre para a instauração do inconsciente, com a língua materna transmitindo ao mesmo tempo os meios de expressão e seus interditos. O primeiro recalcamento, aquele que Freud designa com o nome de Urverdrangung (recalcamento primário), tem de ocorrer na primeira inscrição do infans na língua. O ato de fala, que é, como diz Saussure, uma operação extralinguística que não se reduz nem ao discurso (que é seu efeito) nem à língua (que é seu suporte), retira sua energia da libido edipiana, autorizada a escoar por estar sublimada, isto é, liberta de seu alcance incestuoso. O inconsciente poderia abarcar, além das "formações" de construção individual descritas acima, essa parte da língua transmitida que escapou à lei da proibição do incesto, que não foi submetida ao tratamento da sublimação e que, portanto, não tem acesso à fala. O inconsciente é como uma matriz, uma língua morta, que o tratamento analítico tem justamente por finalidade tornar falante e viva. Talvez fosse mais correto dizer que ele é como um território geográfico virgem de qualquer civilização, que, portanto, existe "por si", contém provavelmente riquezas insuspeitadas, mas ao qual não temos acesso nem direta nem imediatamente.

De todo modo, para alcançá-lo precisamos de três mediações: a da transferência, que faz reviver no tratamento analítico as origens enterradas de Psique (ou, no sonho, a regressão memorial); a mediação da fala, que insufla vida à língua; a mediação da construção metapsicológica, que fornece à escuta do analista a ferramenta necessária para vencer a resistência do eu e para discernir as produções do isso.

* * *

Tentemos ilustrar ou encarnar essas especulações obrigatoriamente abstratas passando por um exemplo, o de uma supervisão. Essa prática é interessante porque permite ver de outra maneira a experiência analítica, obter um panorama geral.

Começamos a supervisão, a analista e eu, faz cinco anos; a paciente apresentava-se, então, como um caso severo de inibição de todas as suas atividades e interesses e, na análise à qual era muito assídua, de sua fala. Ficava silenciosa em muitas sessões. A análise e a analista lhe possibilitaram percorrer um bom caminho e, agora, ela tem uma atividade amorosa e profissional agradável.

No tratamento analítico revela-se, de forma cada vez mais nítida e dolorosa, a passividade forçada à qual, quando criança, sua mãe doente a submetia e em relação a quem - isto está cada vez mais claro, para mim pelo menos - ela desenvolveu uma forte submissão masoquista erógena, com o leitmotiv "a coitadinha da minha mãe" ornando três quartos de seu discurso. Faço notar, desde já, que foram necessários vários anos de análise para que a inibição, que considerávamos um sintoma mais borderline que neurótico, desse a ver seu caráter de formação sexual infantil.

Percebo que a analista fica pessoalmente incomodada com essa moção, que, graças a sua paciência e à acuidade de sua escuta, ela no entanto contribuiu para fazer aparecer. Reconheceu sua realidade e avaliou a extensão da qualidade erótica dessa conduta por meio de um sonho que ela mesma teve a respeito de sua paciente e que trouxe para a supervisão.

Ela está na casa da analista, na sua banheira, e a convida para juntar-se a ela. A analista hesita e depois diz: "Não, não é apropriado." Acrescenta, então, que sua paciente, durante esse sonho, torna-se a atriz que, num filme recente dedicado a Jung, representou o papel de Sabina Spielrein. Eu mesmo vi o filme e faço notar que o sonho retoma literalmente a cena do filme em que a protagonista convida seu médico a entrar com ela na bacia em que se está banhando e se mexe de maneira muito impudica.

Além disso, ambos concordamos, o filme dá grande importancia ao masoquismo erógeno da protagonista, que gosta mesmo é de se deixar açoitar por seu amante. A analista se dá conta, então, da sua aversão por qualquer posição passiva, mais precisamente ainda de sua incapacidade intelectual de tolerar a alternância, em qualquer exercício, entre atividade e passividade.

O trabalho do sonho e sua interpretação, nessa sessão, permitem que a analista opere uma transformação pessoal e possa assim levantar a resistência contratransferencial que opunha à compreensão do desenvolvimento do processo. Mas tenho de retificar essa formulação dizendo também que a analisante precisou, para que sua tendência masoquista fosse exumada de sua inconsciência,4 encontrar o eco dela na sua analista e que a analista tenha se prestado a essa transferência: transferência e contratransferência, na situação singular de interlocução que o tratamento analítico propõe, andam lado a lado.

Sonho e interpretação também teceram, a partir de um material heterogêneo constituído por um resto perceptivo - a cena do filme - e pensamentos que elaboravam afetos e representações inconscientes circulando no campo transferencial-contra-transferencial, uma rede de linguagem que permitiu incluir, nas palavras e fala dela, a analista, um afeto oriundo de uma moção sexual infantil da analisante, particularmente selvagem e arcaica. Vemos, aqui, a ação do discurso interior da analista que, em contato com o discurso recebido de sua paciente, "lê" as formações inconscientes que ele transporta. Além disso, as palavras enunciadas pela fala do sonho e do tratamento analítico trataram uma experiência desprazerosa e lhe possibilitaram ser admitida nas instâncias conscientes.

Na sessão de supervisão seguinte, a analista traz um novo sonho: ela está num carro, está provavelmente vindo para a supervisão, a paciente que é sua passageira lhe pede (como realmente aconteceu no começo da análise) o endereço de um psiquiatra, o que ela recusa dizendo que "esse não é seu lugar". Suas associações a levam para o lado da sua inibição para dirigir; ela nunca dirige, nunca, exceto para vir aqui; noto que seria a mesma ideia de que "esse não seria seu lugar". Depois de um silêncio, ela descobre que sua angústia ao volante decorre do fato de que ora fica vigilante e ativa demais, ora muito distraída e ausente, que não controla nada dessas oscilações e que tem certeza de se pôr em perigo.

Portanto, mais um passo foi dado na análise e na elaboração da contratransferência.

Na sessão seguinte, a analista traz o relato de sua paciente, cuja fala está agora totalmente viva, da mamografia que fez naquela semana. O exame foi muito doloroso, o que a deixa muito feliz, por ver nisso a prova de que não é mais corporalmente insensível, e ela relata a experiência onírico-fantástica que ali experimentou: viu, da mesa de exames, o radiologista, cativado pela imagem de seu seio na tela, executar com a boca um movimento de sucção. Suas associações a levaram a evocar seu masoquismo recentemente descoberto e sua paixão sempre viva por sua mãe. A fantasia exumou projetivamente um pedaço de sua sexualidade infantil, ela se reconheceu bebê na alucinação do gesto sensual do médico.

Noto, e termino com esse fragmento clínico, que essa sessão tão produtiva foi precedida de duas sessões completamente silenciosas. Isso era muito frequente no começo do tratamento. A resistência persistente do eu ao retorno do recalcado, agora fácil de explicar, também devia estar em ação nos silêncios, na época inexplicáveis, dessa paciente. Nesses longos percursos de fala que conjugam a da analisante no tratamento analítico e a da analista na supervisão, vemos claramente o poder que a língua tem de desatar as formações que o recalcamento massificou, como demonstra a análise que Freud faz do destino da sexualidade infantil em "O problema econômico do masoquismo":

O sadismo do supereu torna-se gritantemente consciente em geral, enquanto as aspirações masoquistas do eu permanecem quase sempre ocultas da pessoa e só podem ser inferidas de seu comportamento [...] A inconsciência do masoquismo moral nos conduz a uma pista óbvia [...] Sabemos que o desejo de ser surrado pelo pai, tão frequente nas fantasias, é muito próximo daquele outro, de ter uma relação sexual passiva (feminina) com ele, e constitui apenas uma deformação regressiva deste. [...] Consciência moral e moralidade nasceram da superação, da dessexualização do complexo de Édipo; com o masoquismo moral, a moralidade é novamente sexualizada, o complexo de Édipo é revitalizado, abre-se o caminho de regressão da moralidade ao complexo de Édipo. (1924/1947, p. 382)

Transformar uma experiência de desprazer em algo prazeroso, aceitável, é essa a tarefa do princípio do prazer. Transformar a língua impronunciável do inconsciente numa língua falada é outra de suas tarefas, e análoga. Insisto no estatuto teórico dessa concepção: não é uma teoria ordinária, um ordenamento de fatos observados. É uma concepção que organiza a própria escuta do analista, o instrumento graças ao qual ele consegue apreender fatos que, naturalmente, escapam aos seus sentidos devido ao horror inato que os dois sistemas do consciente e do inconsciente se inspiram mutuamente. Um instrumento de trabalho que desfaz o obstáculo, tal como o faz o microscópio para o biólogo que explora o infinitamente pequeno, ou o telescópio para o astrônomo. Freud intuiu desde cedo a especificidade do pensamento psicanalítico obrigado a recorrer à especulação metapsicológica. Assim, em A interpretação dos sonhos, ele escreve:

Tudo o que pode se tornar objeto de nossa percepção interna é virtual, assim como a imagem fornecida pelo trajeto dos raios luminosos na luneta. Quanto aos sistemas que não são eles mesmos nada de psíquico e nunca se tornam acessíveis à nossa percepção psíquica, supomos que são semelhantes às lentes da luneta que projetam a imagem. Seguindo com a comparação, a censura entre dois sistemas corresponderia à refração dos raios quando passam para um novo meio. (1900/2003, p. 666)

E precisa em O chiste e sua relação com o inconsciente:

Como procedemos em psicanálise. Descobrimos os meios técnicos para preencher as lacunas de nossos fenômenos de consciência, meios de que nos servimos como os físicos se servem da experimentação. Inferimos, desse modo, certo número de processos que são, em si, "incognoscíveis", nós os intercalamos entre aqueles que nos são conscientes, e se dizemos, por exemplo, que aqui interveio uma lembrança inconsciente, isso quer dizer precisamente: aqui se produziu algo totalmente inapreensível, mas que, se tivesse chegado à consciência, não poderia ser descrito senão desta ou daquela maneira. (1905/1983)

* * *

Relatando as três últimas sessões, a mesma analista diz: "Esta semana teve duas sessões silenciosas e uma sessão falada". Tivesse ela dito, em vez de "sessões silenciosas", "sessões mudas", logo se teria escutado o eco da conhecida, e altamente significativa, oposição entre o cinema mudo e o cinema falado: num, só imagens, no outro, imagens acompanhadas de palavras pronunciadas pelos personagens. Para definir a força imagética de um gênero poético próprio da literatura japonesa, o haicai, caracterizado pela concisão extrema e a parataxe, o crítico Roland Barthes, simpatizante da psicanálise, escreveu:

O haicai se caracteriza por sua força de visão, ele é quadro, hipotipose, faz pensar em curtas sequências filmadas; mas, charme surpreendente: o som está cortado: na visão, algo de estranhamente apagado, interrompido, incompleto. [...] É, sem dúvida, esse som cortado que constitui a ponta, o satori.

A partir disso podemos imaginar o que nos fez perder o abandono do cinema mudo (nunca ficaremos suficientemente desconsolados desse "progresso"). Algo que não é o silêncio, que não significa o silêncio, ele mesmo sempre significante, mas - diferença sutil - o som cortado, a fala ao longe, presente e apagada, ali, sob o apagamento, inaudível sem que seja por confusão, interferência, zumbido; o inaudível puro, que não provém de um ruído; mudo; surdo e mudo: toda a pintura; a Imagem é, assim, muda com força. (2003, p. 97)5

Por muito tempo (demais) associaram o silêncio a uma resistência do analisante, a um ataque contra o enquadre, por exemplo, ou a uma regressão narcísica que o liberava de uma relação com o analista. Esse juízo equivocado evita um estudo rigoroso do que seja esse ato positivo e essencial, um estudo como aquele realizado por Jean-François Lyotard. Em Discours, figure [Discurso, figura], obra que arrola e comenta os grandes avanços conjugados da filosofia, da linguística e da psicanálise no começo do século XX, o autor escreve o seguinte:

O silêncio é o contrário do discurso; é sua violência e ao mesmo tempo sua beleza; mas é sua condição, pois está do lado das coisas de que tem de falar e que é preciso exprimir [...] resulta da dilaceração a partir da qual um discurso e seu objeto se põem frente a frente. (2002, p. 14)

Não retornarei ao silêncio inerente à fala incoativa, evocado acima. É, por assim dizer, o silêncio dos começos, aquele que ao longo de todo o desenvolvimento do discurso repete, celebra, comemora o nascimento não só da linguagem, mas da própria vida mental, acolhe suas figuras, emoções e representações. Quando ele surge no tratamento analítico, escande o incessante retorno às fontes da fala por um retorno às origens.

Em posição oposta a este, está o silêncio produzido pelo desinvestimento da atenção. É comum ao analisante depois de ele ter se confrontado, no pavor ou na dor, com um forte movimento de memória, e ao analista depois de ele ter sustentado transferencialmente esse retorno do recalcado, sempre penoso para as instâncias egoicas da personalidade; é um silêncio de fim de processo, indicativo de que a atividade psíquica só consegue proceder por ondas, por rompantes, de duração limitada, e, por isso, forçados à repetição.

Dois outros tipos de silêncio merecem, por seus conteúdos e sua função, ser reconhecidos com precisão. O primeiro concerne ao que se pode chamar de o silêncio das imagens: num certo grau de regressão transferencial, o analisante concentra toda a sua atenção nas imagens que se formam nele e se desvia de sua atividade de fala. Ele sonha, poderíamos dizer. Os pensamentos, afetos e representações que participavam de sua fala se "transpuseram" - a palavra é de Freud - para imagens e cadeias que diferentes imagens constroem entre si, e que são como sua sintaxe ou seu fraseado. Por meio dessa transposição, dessa mudança de língua, produzem-se profundos remanejamentos na organização psíquica: diferentemente da língua, que afasta o objeto de que fala, que o nega, a imagem torna o objeto presente, o encarna, abre para o seu reconhecimento. A imagem é a ferramenta da presença, da presença alucinatória, ela reata o laço da atividade psíquica superior com o pano de fundo melancólico em que jazem os objetos perdidos e preciosos da infância. Quando esse silêncio "processual" se instaura, é um momento talvez penoso para o analista, mas altamente criativo para o analisante, pois dele resultará um estado psíquico transformado pelo deslocamento tópico dos objetos, que, por sua vez, a fala, quando recuperada, poderá tratar.

O último tipo de silêncio que quero identificar está constituído por uma desativação da função enunciativa da língua, que passa a ser usada para uma tarefa, que foi sua nas origens e que agora só o é de modo acessório: o contrainvestimento, por exemplo, de uma dor psíquica despertada pelo desenvolvimento da análise. Pensemos na expressão "ficar sem voz" que costuma ser usada para ilustrar o sobressalto que nos provoca um acontecimento assustador; encontro uma boa metáfora dessa inversão da atividade de fala quando penso na guerra que exige que o Estado mobilize homens para reforçar o front: não pode recrutá-los entre os artesãos, necessários demais para a confecção de armas; vai buscá-los de preferência entre os camponeses, que, por isso, deixam as terras descansar. Designaremos esse silêncio como silêncio por contrainvestimento. A interpretação tem a capacidade de reverter essa tendência da língua: suprimindo essa ação que equivale a um recalcamento, devolvendo à fala sua função enunciativa, atinge seu maior alcance psicoterapêutico. Recorrerei a um fragmento de análise.

A depressão que sustenta a demanda dessa jovem mostra-se, subitamente, ao final de três anos de tratamento, estar relacionada com uma moção homossexual, geradora de conflito psíquico, por um jogo de linguagem em torno da expressão "um outro homem".

Finalmente, disse ela, para abrandar seu conflito conjugal, teve vontade de almoçar com o marido, que por isso desistiu de encontrar com um amigo. Ele lhe falou de seus ciúmes pelo fato de ela encontrar outros homens. Digo: "Mesma ideia de um outro homem esse amigo" Ela fala então da suposta homossexualidade do marido e depois da probabilidade da sua, e de sua relação com uma mulher divorciada com quem, se ela mesma se divorciasse, certamente viveria.

A colocação em palavras, pela primeira vez, dessa tendência sexual já é alguma coisa. Mas não será isso que decidirá a cura e sim a supressão de um contrainvestimento. Essa mulher, muito inteligente e culta, fazia uso da fala de uma maneira que me impressionava: além do congelamento evidente de um certo material semântico, ela recorria a modalidades sintáticas singulares, interjeições, repetições, anulações, que davam a seu discurso um maneirismo bastante pronunciado. Tudo isso, de súbito, fica fluido.

A atribuição, por projeção sobre a pessoa do marido, de sua própria homossexualidade, assim como sua convicção de que ele seria o autor responsável por sua dor ligada à frustração de seu desejo feminino, tudo isso está determinado por uma organização de linguagem mal conhecida e que a interpretação de repente tornou caduca. Não nos enganemos sobre a aparente magia dessas "palavras" interpretativas.

Na sessão anterior, uma enésima briga com o marido, relatada por ela, tinha sido remetida por mim à transferência. Ela acusava o marido de querer que ela se submetesse a ele sexualmente e tinha decidido não viajar com ele no mês de agosto. Eu mencionara a ideia de que ela talvez também se sentisse submetida por mim e que estava pensando na nossa separação das férias. E que tinha pensado em mim ao pensar nele nessa briga. Ela então deu a entender o quanto essa intervenção a aliviava.

A mediação transferencial que descola uma certa fixação do desejo ao objeto substitutivo e leva a supor, para que essa potencialidade de deslocamento tenha lugar, que seja outro o objeto que está em causa, essa mediação transferencial realizou, portanto, previamente um trabalho que a segunda interpretação termina. O conflito antigo e poderoso entre duas tendências libidinais, que o recalcamento pretendia tratar aniquilando uma delas, não foi magicamente pacificado pela interpretação. Esta só dissociou duas representações cuja condensação garantia o recalcamento, o desejo de um gozo homossexual e o fato de se separar de seu marido, que ela não sabia ser a condição da primeira. As duas representações recuperaram sua autonomia e integridade, é uma ampliação do espaço psíquico, o desejo homossexual vai poder recuperar sua trama e seu objeto que, como é de se prever, é a mãe.

Exceto em alguns pacientes psicóticos, esse silêncio nunca tem o caráter maciço do anterior, nunca compromete toda a língua, manifesta antes uma redução da reserva semântica do falante, para quem as palavras "para dizê-lo" podem faltar. Em contrapartida, para o eu é uma experiência de total estranheza e a mais apropriada para convencê-lo de que, de todas as instâncias psíquicas, sua língua é a que ele menos governa.

Freud, que foi bem longe na exploração da alma, ficou a dever no estudo da língua, deixou-nos esse campo como herança e por desbravar. Contudo, em Além do princípio do prazer, Freud teve uma forte intuição a respeito da importância capital, para a sobrevivência psíquica, do fenômeno do contrainvestimento. Refiro-me à passagem, a meu ver visionária, que infere que "a dor resulta de que a barreira contra estímulos foi rompida numa área limitada", e que "produz-se um enorme contrainvestimento, em favor do qual todos os demais sistemas psíquicos empobrecem" (1920/1996).6 É de fato o sistema pré-consciente, cujo material é a língua, que fornece a parcela essencial desse contrainvestimento.

A ruptura realizada pelo trabalho do sonho e do tratamento analítico nos sistemas de defesa desperta dores (ou angústias), é inevitável. Num primeiro tempo, imagens e linguagem empenham-se em contê-las. Num segundo tempo, o trabalho de ligação desses sistemas semiológicos as transformará em conceitos. Faz parte do gênio da língua possuir essa capacidade de ligar palavras e coisas, consoantes e vogais, afetos e representações.

 

Notas

1 Trabalho original publicado em: Rolland, J.-C. (2015). Quatre essais sur la vie de l'âme (pp. 185-210). Paris: Gallimard.

2 NT: Freud, S. (2010). Novas conferências introdutórias à psicanálise. Revisão da teoria do sonho. In S. Freud, Obras completas (P. C. de Souza, Trad., Vol. 18, pp. 155-156). São Paulo: Companhia das Letras.

3 É útil citar integralmente essa passagem: "Encontrei um dia, nas nossas belas Dolomitas, duas senhoras de Viena vestindo trajes de passeio. Acompanhei-as parte do caminho e conversamos sobre as delícias, mas também sobre os incômodos da vida de turista. Uma das senhoras admitiu que aquele modo de passar o dia tinha de fato aspectos desconfortáveis. É verdade, disse ela, que não é nem um pouco agradável ter andado assim o dia todo ao sol e ficar com o corpete e a blusa encharcados de suor. Nessa frase, ela teve de vencer uma leve hesitação. Depois prosseguiu: Mas quando, em seguida, chegamos nach Hose (literalmente, nas calças) e podemos nos trocar... Não analisamos este lapso de língua, mas creio que podem compreendê-lo facilmente. A intenção da senhora fora a de fazer uma enumeração mais completa e dizer: corpete, blusa e calças (Hose). Por razões de decoro, a menção às calças fora omitida, mas na frase seguinte, com um conteúdo bastante independente, a palavra que não tinha sido pronunciada ressurgiu como deformação de nach Hause (para casa), foneticamente similar" (Freud, 1916-17/2000, p. 61).

4 Expressão de Freud que, com seu uso, insiste no caráter fortemente refratário à consciência dessa corrente sexual: die Unbewusstheit des masochismus.

5 NT: Barthes, R. (2005). A preparação do romance (L. Perrone-Moisés, Trad., Vol. 1, pp. 120-121). São Paulo: Martins Fontes.

6 NT: S. Freud. (2010). Além do princípio do prazer. In S. Freud, Obras completas (P. C. de Souza, Trad., Vol. 14, p. 192). São Paulo: Companhia das Letras.

 

Referências

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Correspondência:
Jean-Claude Rolland
45 Rue de la République
69002 Lyon, France
jean.claude.rolland@wanadoo.fr

Recebido em 13.11.2015
Aceito em 27.11.2015

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