SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.51 issue1Belonging here and coming from there; belonging there and living here: Narratives and displacementsImmigration, temporality, and hope author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Revista Brasileira de Psicanálise

Print version ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.51 no.1 São Paulo Jan./Mar. 2017

 

EM PAUTA

 

Pátria, mátria, frátria: construção da geografia emocional1

 

Pátria, mátria, frátria:* constructing an emotional geography

 

Patria, matria, fratria: construcción de la geografía emocional

 

 

Ana Belchior Melícias

Membro associado da Sociedade Portuguesa de Psicanálise SPP e da International Psychoanalytical Association IPA. Psicanalista da criança e do adolescente (SPP e IPA). Formadora do Instituto de Psicanálise da SPP

Correspondência

 

 


RESUMO

A autora parte de uma trajetória de vida por três continentes para construir a narrativa de uma geografia emocional (pátria, mátria, frátria). Lança mão dos conceitos de estranho (Freud) e de conflito estético (Meltzer) para pensar a experiência externa da violência traumática da perda do país de nascimento e as inevitáveis rupturas das migrações involuntárias, paralelamente à construção interna do sentimento de pertença e de identidade. Pátria, exílio e língua/cultura são os três eixos, intra e intersubjetivos, ao redor dos quais articula a transformação da tragédia do destino em espaço potencial de criatividade em face das perdas catastróficas.

Palavras-chave: pátria; exílio; migração; estranho; conflito estético.


ABSTRACT

The author's purpose in this paper is to elaborate the narrative of an emotional geography by recounting a life journey across three continents. The author makes use of Freud's definition of uncanny and Meltzer's concept of aesthetic conflict in order to analyze the external experience of the traumatic violence of losing the country of birth. According to this author, unavoidable disruptions of involuntary migration have happened while the sense of belonging and identity has been internally developed. Homeland, exile and language/culture are the three intra and inter-subjective axes around which the author develops her narrative. She writes about the way tragedy of fate may turn into a potential space of creativity towards catastrophic losses.

Keywords: homeland; fatherland; exile; migration; uncanny; aesthetic conflict.


RESUMEN

La autora parte de una trayectoria de vida en tres continentes para construir la narrativa de una geografía emocional (patria, matria, fratria). Utiliza conceptos como lo siniestro (Freud) y el conflicto estético (Meltzer) para pensar la experiencia externa de la violencia traumática de la pérdida del país natal y las rupturas inevitables de las sucesivas migraciones involuntarias, viviendo simultáneamente la construcción interna del sentimiento de pertenencia y de identidad. Patria, exilio y lengua/cultura son los tres ejes, intra e intersubjetivos, en torno a los cuales se articula la transformación del destino trágico en un espacio potencial creativo ante las pérdidas catastróficas.

Palabras clave: patria; exilio; migración; lo siniestro; conflicto estético.


 

 

Inspirada pelo tema desta tarde do congresso - Diversidade cultural: histórias e estórias -, partirei de uma trajetória de vida que aconteceu ser a minha para levantar algumas questões sobre a experiência externa da violência traumática da perda do país de nascimento e as inevitáveis rupturas das migrações involuntárias, paralelamente à construção interna do sentimento de pertença e de identidade como espaço potencial de criatividade em face das perdas catastróficas.

Para adentrar o caminho escolhido, dou a mão a Marguerite Yourcenar em sua famosa autobiografia ficcional do imperador Adriano, cuja narrativa em muito se assemelha à função analítica de construção de narrativas. E todas elas são ficção, são míticas, são oníricas.

Como toda a gente, não disponho senão de três meios para avaliar a existência humana: o estudo de si mesmo, o mais difícil e o mais perigoso, mas também o mais fecundo dos métodos; a observação dos homens, que se arranjam frequentemente para ocultar-nos os seus segredos ou para nos fazer crer que os têm; os livros, com os erros peculiares de perspectiva que surgem entre suas linhas [...]. Mas esses processos de conhecimento são difíceis e requerem um mergulho dentro de nós mesmos e uma saída totalmente para fora de nós [...]. Esforço-me por voltar sobre meus passos para tentar encontrar um plano inicial e seguir um veio qualquer, de chumbo ou de ouro, ou mesmo o curso de um rio subterrâneo, mas esse plano inteiramente fictício não é mais que uma aparência enganosa da lembrança. [...] entre mim e esses atos de que sou feito, existe um hiato indefinível. A prova disso é que experimento continuamente a necessidade de pesá-los, explicá-los e deles prestar contas a mim mesmo [...]. O espírito humano, porém, reluta em se aceitar como obra do acaso e a não ser senão o produto fortuito do imprevisto ao qual nenhum deus preside, nem mesmo ele próprio. Uma parte de cada vida, e mesmo das vidas pouco dignas de atenção, passa-se à procura das razões de ser, dos pontos de partida, das origens. (1974, p. 34)

Sou luso-afro-brasileira: paradoxal estatuto em termos de nacionalidade, perante o qual a alma, por vezes, ainda se contorce. Os documentos oficiais dizem-me portuguesa. Portuguesa de origem: filha de pais portugueses da “metrópole” que, recém-casados, emigraram para o “ultramar”. Portuguesa por nascimento, quando Angola, como colônia portuguesa, pertencia ao “império”. Portuguesa, imigrante no Brasil, com igualdade de direitos civis brasileiros.

A ruptura com o país de nascimento e as duas migrações involuntárias que se seguiram confluíram em dois conceitos - o conflito estético (Meltzer & Williams, 1994) e o estranho (Freud, 1919/1976a) -, belamente entrelaçados entre nós por Maria José Gonçalves (2011). A experiência exterior potenciava o conflito estético, como experiência paradigmática do desenvolvimento, da descoberta do eu e do outro, assente no misterioso impacto entre o belo (acessível aos sentidos) e o enigmático (inacessível interior), tanto quanto intensificava a inquietante estranheza e o estrangeiro familiar que a todos habita. Vale, portanto, pensar quais os efeitos dessa repetida descontinuidade na construção do psiquismo; na discriminação dos limites do eu (dentro e fora, eu e não eu) e a sua correlata questão identitária; na oposição familiar/estrangeiro, que nos interpela de dentro e é acentuada de fora; no medo e, simultaneamente, no desejo do novo, da descoberta; e, por fim, na possibilidade de, através dos lutos e da pensabilidade, tecer uma narrativa unificadora e transformadora que, dando coesão às rupturas, crie um sentimento de pertença.

Aconteceu assim: nasci em Luanda e lá passei a infância e a pré-adolescência. A adolescência e a idade adulta, quando se estabelecem as escolhas identitárias, amorosas e profissionais, foram vividas em São Paulo. Atualmente, moro em Lisboa, onde sempre residiu a família pregressa, tanto paterna como materna.

Três continentes (África, América do Sul, Europa), três países (Angola, Brasil, Portugal), três fases de vida distintas (infância, adolescência e idade adulta) e mais de dez casas. Todas as vivências, memórias, descontinuidades e continuidades desse percurso se mesclaram num incessante working-through (Freud, 1914/1976b), obrigando-me a investigar, a transformar e a construir uma geografia emocional, para aceder às geografias natais que me deram origem e às geografias perdidas que me moldaram.

 

Luanda - Angola

A cidade não é um lugar. É a moldura de uma vida. A moldura à procura de um retrato, é isso que eu vejo quando revisito o meu lugar de nascimento. Não são ruas, não são casas. O que revejo é um tempo, o que escuto é a fala desse tempo. Um dialeto chamado memória, uma nação chamada infância.

(Mia Couto)

Foi em Luanda que nasci e a data desse acidente enigmático marca o início preciso de uma cronologia pessoal que se inaugura num passado (im)preciso: quando os meus ancestrais se encontraram? Quando os meus pais se conheceram? Ao organizar espaço-temporalmente o pensamento, poderia dizer que três níveis se entrelaçaram: a transgeracionalidade da herança inconsciente trouxe o cunho português da curiosidade pelo belo e pelo enigmático da aventura marítima, assim como a capacidade de se misturar nas paisagens onde aportaram; a “mãe-ambiente” vivida sensorialmente foi tropical, colorida, quente, úmida, rítmica, marítima, em que o tempo e o território se distendiam aMPLAmente, de acordo com a vivência do tempo da infância; e, finalmente, as memórias inscritas corporalmente foram sendo gradualmente alfa-betizadas através de representações simbólicas, cada vez mais elaboradas, trançando sentidos e tecendo a narratividade de uma história.

Essas memórias da infância me remetem tanto a Angola, onde vivi, quanto a Portugal, onde passava frequentemente férias. Recordo as casas de Luanda, cujas arquiteturas tatuadas com precisão na alma ainda habito internamente, mas guardo também intensas recordações das casas dos meus avós, princIPAlmente os maternos, sede do afeto na linhagem da família alargada. Lembro, com profundo carinho, o círculo fraterno de amizades dos meus pais, em Angola, constituintes de uma sólida e solidária rede afetiva, tanto quanto da numerosa família de avós, tios e primos, em que sempre nos sentíamos acolhidos em Portugal. Lembro cheiros, temperaturas e paisagens característicos de um país tropical, ao lado de recantos, cores e sabores de um país mediterrâneo e atlântico, apresentados nas viagens por Portugal e por Angola, planeadas pelos pais para selar nos filhos as duas terras que sentiam como suas: a primeira através dos seus ascendentes, a segunda através dos seus descendentes.

Nasci na década das revoluções independentistas africanas, nomeadamente a angolana, declarada no movimento bélico conhecido como terrorismo, ou Guerra Colonial, que veio a culminar na diáspora portuguesa da descolonização e que se estendeu, pós-independência, na longa Guerra Civil Angolana. Desde cedo, clarificaram-se internamente duas correntes paradoxais e ambíguas circulando no ambiente familiar. A primeira - caminhando a par com as idealizações infantis da satisfação da curiosidade (Éden, Babel, Édipo) e consequentes ambivalência e culpa de quem parte, separando-se do grupo que fica (L. Grinberg & R. Grinberg, 1996) - era de identificação e íntima ligação emocional com esse país africano que acolhia naturalmente os portugueses, oferecendo-lhes a ilusão esperançosa de uma terra prometida e de um futuro generoso. A segunda corrente contraditória que nos envolvia era o pesado sentimento de que aquela terra não nos pertencia, mas sim, inalienavelmente, aos seus donos originais. Um sentimento de provisoriedade, concisamente descrito por Coetzee em Summertime, último romance da sua trilogia autobiográfica:

nossa presença lá era legal, mas ilegítima. Tínhamos um direito abstrato de estar lá, um direito por nascimento, mas a base desse direito era fraudulenta. Nossa presença tinha por base um crime, especificamente a conquista colonial [...]. Víamo-nos como hóspedes, residentes temporários, e até esse ponto sem lar, sem uma terra natal. (2010, pp. 209-210)

Como vivíamos, no dia a dia, essa sutil porém evidente “cumplicidade colonizadora”? Como enraizarmo-nos nesse território com sabor a transitório e a efêmero, sem o rastro vivencial dos antepassados? Pode-ríamos dizer que aquela era a nossa pátria?

A palavra pátria tem inúmeros significados no dicionário, e a quantidade de ensaios sociológicos, filosóficos e geopolíticos sobre o tema dá conta da dimensão subjetiva que ele encerra. Etimologicamente vem do latim patriota (terra paterna), estreitamente relacionado com o conceito de país, do italiano paese, originário do latim pagus (aldeia), que constitui a “terra natal ou adotiva”.

Angola era a terra natal dos filhos e a terra adotiva dos pais... Como rimar, então, na pátria interna e subjetiva, Mamã Muxima com Nossa Senhora de Fátima, Mussulo com Santa Cruz, Quissama com Mouraria, Kwanza com Tejo, Lourdes Van-Dúnem com Amália Rodrigues, muamba com bacalhau, órix com touro, acácias em flor com sobreiros ancestrais? Como esquecer a magia dos pores do sol africanos, cuja bola de fogo primordial, mergulhando oceanicamente, criava a cada dia um espetáculo encantatório, evocando interna e esteticamente a boa cena primitiva? Como esquecer as microcatástrofes diárias das estrondosas trovoadas, que rapidamente se desvaneciam, instaurando um límpido bem-estar e deixando a terra vermelha molhada a fumegar como incenso? E o panorâmico cinema Miramar ao ar livre, fundindo-se em anfiteatro na paisagem das míticas baía e ilha de Luanda? E a Fenda da Tundavala, abismo imponente do planalto da Huíla, abrindo-se como janela natural para o deserto do Namibe? E lá o encontro e descoberta da intrigante fala gutural dos mucubais, da rara Welwitschia mirabilis e da força selvagem da fauna natural? E o fascínio de passar tardes sem fim no ateliê do “pintor de Angola”, Albano Neves e Sousa, que acolhia a sua pequena vizinha de 10 anos e ali a deixava folhear os seus cadernos de esboços e a deixava vê-lo pintar as paisagens, as aldeias e as diferentes etnias, encantando-a com uma Angola bela e misteriosa, que ele tão bem retratava com cores fortes? E as grandes travessias atlânticas rumo à “metrópole”, nos paquetes Vera Cruz, Rita Maria e Príncipe Perfeito, chegando ao Tejo, sem ponte ainda, como testemunham fotografias e filmes realizados pela família que acudia, em peso e emocionada, às chegadas e despedidas dos seus desgarrados no “ultramar”? Ainda sinto o sabor quente e a erótica musicalidade das palavras Kinaxixi, Gajajeira, Mutamba, Carumjamba, maxibombo, salalé, jindungo, cubata, ginguba, matacanha ou bitacaia, imbondeiro ou baobá, no doce kimbundu nativo, que tentávamos aprender: - Aiuê, uazekele? (Como dormiste?); - Ué, (nga) sekele kiambote, sakidila (Dormi bem, obrigada).

Pergunto-me, com Fernando Pessoa: “E eu era feliz? Não sei: Fui-o outrora agora” (1986, p. 75). “Só somos felizes, verdadeiramente felizes, quando é para sempre, mas só as crianças habitam esse tempo no qual todas as coisas duram para sempre. Eu fui feliz para sempre na minha infância” (Agualusa, 2004, p. 116).

 

Saída de Angola

Quem quer passar além do Bojador Tem de passar além da dor.

(Fernando Pessoa)

Historicamente, davam-se a Revolução de Abril em Portugal e o processo de independência de Angola, onde se debatiam os movimentos de libertação, Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) (Agostinho Neto), União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) (Jonas Savimbi) e Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) (Holden Roberto). Subjetivamente, instalava-se a turbulência trágica da diáspora, do desenraizamento brusco, da incerteza absoluta. Conseguiríamos enfrentar o Adamastor dessa catástrofe e transformar o Cabo das Tormentas em Cabo da Boa Esperança?

Antes, portugueses de segunda, agora retornados... Eram esses os estatutos atribuídos aos que foram subitamente des-patriados e a quem foi vedada a transferência de seus bens patrimoniais. Num passe de mágica, desapareceram todas as referências externas (cidade natal, casa, amigos.), mas, mais importante e não contabilizável, todas as referências afetivas (ritmos, temperaturas, paisagens, sensorialidades, cultura.). E questionava-me: “Portuguesa de segunda por quê? Pelas vivências estrangeiras no 'ultramar', cuja angolanidade tinha abastardado a suposta legitimidade e pureza dos portugueses de primeira?” E perguntava-me: “Retornada como, se em Portugal não tinha nascido nem vivido?”

Esse ano caótico (1974-1975) foi vivido em Portugal, para não se interromper a escolaridade dos filhos e para os pais poderem decifrar um qualquer caminho que permitisse recomeçar algures. Na altura, as leituras ávidas e semissecretas do Diário de Anne Frank, de Leon Uris e de Primo Levi apaziguavam a dor pela identificação com as brutalidades da guerra vividas por tantos outros. Passados quarenta anos, a crescente cicatrização das feridas vai permitindo transmutar a dor desse êxodo em literatura, magnificamente retratado, entre outros, no livro de Dulce Maria Cardoso (2012). Suspensos entre o presente-passado, que já não era, e um presente-futuro, que ainda não era, a amputação das várias separações externas que se operavam ecoava em uníssono com a turbulência interna e os necessários lutos da adolescência.

As revoluções, verdadeiras mudanças catastróficas, espelham e refletem as identificações projetivas maciças: comunicações à espera de rêverie e pensabilidade. A posteriori, delineiam-se com maior clareza os movimentos psíquicos e os diferentes arranjos encontrados por cada um para organizar esse período de violento desmembramento: conter a avalanche interna, adiando transitoriamente a dor da vivência desorganizadora para não agravar ainda mais a desordem externa; aderir impulsivamente a causas e movimentos políticos emergentes e pouco consolidados, como lugar de apoio e pertença, tábua de salvação e promessa de soluções mágicas; refugiar-se e regredir para a infância, alheando-se da elaboração da instabilidade imposta pela crise e moldando-se camaleonicamente às situações mutantes; reviver penosas experiências traumáticas anteriores em desmoronamentos e breakdowns (Winnicott, 1963/1994) catastróficos; transbordar a sobrecarga psíquica no soma, desordenando células e metabolismos em (des)equilibrados malabarismos; dar início ao penoso trabalho do luto e criar gradativamente espaço interno para o novo amedrontador que se impõe e para a renovação da esperança e criação de novos sonhos. O leitmotiv recorrente era o sentimento de não pertencer, o desamparo, e o trabalho hercúleo (Melícias, 2006) imposto ao psiquismo era “a construção da maior das pontes, essa que une o desespero à esperança” (Couto, 2005, p. 101).

 

São Paulo - Brasil

Com o tempo, sobretudo os últimos anos, perdi o jeito de ser gente. Não sei mais como se é. E uma espécie toda nova de “solidão de não pertencer” começou a me invadir como heras num muro.

(Clarice Lispector)

Pesados os prós e os contras das várias opções de migração, a língua portuguesa foi a medida utilizada para a decisão familiar de emigração para o Brasil. Existe uma vasta terminologia (Centro Scalabriniano de Estudos Migratórios [CSEM], s.d.) de estatutos de cidadania para os migrantes, entre os quais: exilado, deportado, deslocado, expatriado, asilado, emigrado, imigrado, refugiado, apátrida, etc. Alguns adjetivos revelam ainda a complexidade dos fluxos populacionais - legal, ilegal, política, forçada, clandestina, definitiva, temporária, voluntária, inter e intracontinental - necessitando de maior clarificação no mundo globalizado atual. Como diz Edward Said, cada vez mais pessoas vivem a experiência de estar “fora do lugar” de origem, da sua terra natal, da sua casa, do seu berço. E continua: “embora seja verdade que a literatura e a história contêm episódios heróicos, românticos, gloriosos e até triunfais da vida do exilado, eles não são mais do que esforços para superar a dor mutiladora da separação” (2003, p. 46-47). Sigo com Imre Kertész: “nunca se pode começar uma vida nova, só se pode prosseguir a antiga” (2003, p. 181).

Imigrantes involuntários, exilados, estrangeiros... Era esse agora o novo estatuto familiar. Os pais vivendo intensamente a dor do luto pelo projeto de vida, cuja estrutura já organizada e estabelecida fora cortada pela raiz, compelindo-os a recomeçar pela segunda vez, acrescendo à tarefa a prole adolescente. Nos filhos ruíam, simultaneamente, os alicerces internos, com a perda abrupta da infância, e as paredes externas, ao serem arrancados do país natal e de tudo aquilo que lhes era familiar. À situação particularmente fraturante das perdas, somava-se a adaptação exigente, conquistada com angústia, dia a dia, na desconhecida e gigante cidade de São Paulo. Uma megalópole cuja população na época correspondia à população total de Portugal e cuja “poesia concreta de suas esquinas”, como diz Caetano (1978), rompendo o conforto narcísico do familiar, obrigou a decifrar o seu enigma, que era “o avesso do avesso do avesso do avesso”:

Quando eu te encarei frente a frente e não vi o meu rosto

Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto

É que Narciso acha feio o que não é espelho

E foste um difícil começo

Afasto o que não conheço

E quem vem de outro sonho feliz de cidade Aprende depressa a chamar-te de realidade Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso.

E o Brasil, como realidade histórico-social multicultural, foi sendo pouco a pouco decifrado e incorporado. Como diz Calligaris: “no Brasil, salvo os raros índios, não há colonizados. Mas parece existir uma paixão de se conceber e apresentar como um colonizado” (1991, p. 146). O Brasil é índio, é português, é africano, é italiano, é alemão, é judeu, é japonês, etc. A alquimia dessa miscigenação e diversidade a todos toca e a todos torna naturalmente generosos no acolhimento da diferença, do outro, do estranho. Todos “os brasileiros podiam falar do Brasil como se fossem estrangeiros [...] e todos se tornaram simultaneamente colonizador e colono” (Calligaris, 1991, pp. 15-16).

Pela adolescência, sentia-me estrangeira tanto no meu corpo como na família da infância. Pela imigração, sentia-me estrangeira na cidade, na cultura, na comida, no clima, nas relações sociais e seus códigos sutis, nas diferenças da própria língua que desembocavam sempre na “piada do português”, abalando a autoestima identitária ainda em construção e colocando em xeque o desejo de integração plena. Temi durante os primeiros anos que esse enxerto não vingasse, que as raízes não encontrassem caminho no novo solo para onde tinham sido transplantadas. Gradualmente mais liberta das exigências da adolescência e das rupturas da imigração, adquirindo externa e oficialmente a igualdade de direitos civis brasileiros, fui criando internamente laços de amizade sólidos, fui re-conhecendo lugares como meus, fui achando sentido e forma para as experiências e fui-me apropriando subjetivamente da minha própria história. Fui pertencendo. O Brasil poderia ser meu. “Primeiro estranha-se, depois entranha-se.”2

Progressivamente, foi-se constituindo subterraneamente um processo de identificação e adoção, através de sucessivos lutos: Angola não voltaria a ser minha, uma vez que estávamos impedidos de regressar ao país natal, e Portugal deveria ser deixado aos meus pais, num processo tão custoso quanto necessário de diferenciação: o luto identitário pós-adolescente. “E deixe os Portugais morrerem à míngua [...]. A língua é minha pátria. E eu não tenho pátria: tenho mátria. E quero frátria” (Veloso, 1984).

A cultura brasileira foi sendo osmótica e imperceptivelmente absorvida em identificações sintónicas com a cultura angolana de base, e foi no Brasil que aconteceram as escolhas adultas estruturantes da identidade: os amigos, a faculdade, os namoros, as viagens, o casamento, a primeira formação em psicanálise, a primeira análise, a maternidade e o início da vida profissional.

A imigração para dentro da relação analítica trouxe o colorido à maturidade, permitindo acender focos de luz em lugares longínquos e obscuros e reconhecer trechos do turbulento caminho, por vezes embaciado e difuso, produzindo novas perspectivas em nível intra e intersubjetivo. Através desse espantoso instrumento de investigação e da descoberta desse novo continente-rêverie-analítica, há muito sonhado e aguardado, fui transformando a narrativa das histórias e das estórias, mergulhando acompanhada na complexidade das experiências traumáticas das perdas, do terror sem nome que elas imprimem, da incerteza angustiante do desenraizamento, da inquietante estranheza do conflito estético permanentemente atualizado e dos trágicos lutos com a sua obrigatória renúncia (narcísica e edípica). Uma nova ordem se foi engendrando: a ordem da subjetividade integrada e da identidade adulta.

E o Brasil tornou-se então uma mátria acolhedora, reparadora, transformadora. As diferenças com Angola são muitas, mas as similaridades também: a vida ao ar livre, a liberdade, a sensualidade, a informalidade e proximidade afetiva, o calor e as roupas leves e coloridas. As pontes indeléveis que se formaram ligaram as duas margens da alma, conjugando facilmente kissange com cuíca, funge com feijoada, rebita com samba, aiuê com oi, múcua com jaca, soba com pajé, kimbundu com tupi-guarani... E não me desentendia nas paisagens tropicais que me eram tão familiares, dos sítios e fazendas, da força da natureza espelhada na fauna, na flora e nos grandes horizontes de um país continental.

 

Lisboa - Portugal

Temos sobretudo de aprender duas coisas: aprender o extraordinário que é o mundo e aprender a ser bastante largo por dentro, para o mundo todo poder entrar.

(Agostinho da Silva)

Já adulta, uma nova ruptura e migração se tornou incontornável, obrigando-me a deixar a mátria brasileira e a mudar para Portugal, para aqui viver pela primeira vez. Começar de novo, agora para enraizar-me num lar ancestral, mas estranho, com a inevitável estranha familiaridade e a inquietante estranheza do sentimento de exílio. Como diz Oliver Remaud (2016), a propósito da novela de Adalbert von Chamisso A história maravilhosa de Peter Schlemihl, o homem sem sombra:

O exilado, privado de sua casa, existe num submundo, possuidor de uma existência histórica que ele tem de negar se quiser encontrar uma casa em seu novo mundo. A condição de sem-abrigo do exílio significa que o exilado tem uma história pessoal que ele não pode declarar, como se tivesse perdido a sua sombra sem nunca poder contar recuperá-la.

Sentia-me paradoxalmente exilada em Portugal, onde nunca tinha vivido de fato, apesar da nacionalidade portuguesa trazida de Angola colônia. Exilada, sem a sombra do que me constitui - a alteridade de estrangeira, angolana e brasileira -, pois falo a língua portuguesa, com sotaque português, descasando assim a alma e a nacionalidade. É que a alma é brasileira, na gramática afetiva e na sintaxe intra e intersubjetiva, levando a inadvertidas e permanentes confusões de línguas (Ferenczi, 1932/1992) e suas implicações mentais e relacionais. Não mais como a adolescente “retornada” naquele ano suspenso entre Angola e o Brasil, apercebo-me, agora já adulta, que a naturalidade angolana em Portugal remete para um continente “negro”: negro por ver negadas e diluídas as diferenciações culturais e geográficas sempre que os termos África ou africano são indistintamente aplicados para designar angolano, moçambicano, cabo-verdiano, guineense ou são-tomense; negro por evocar um certo racismo, uma certa forma de inferioridade, comparável ao childism de Young-Bruehl (2012); e, finalmente, negro como era para Freud o continente obscuro da sexualidade feminina, ecoando a inquietante e enigmática força telúrica criativa do continente africano como lugar original da humanidade.

A alteridade - brasileiridade e angolanidade - é a diferença traumática geradora de movimentos e sentimentos paradoxais, internos e externos, impondo uma nova re-organização de lutos, transformando narrativas, recriando lugares, construindo memórias, descobrindo sentidos. Sem o processo do luto - trabalho de identificação e construção de memória - resta o traumático, como nos disse recentemente Leopold Nosek (2016).

Ressurge e intensifica-se a inquietante estranheza e a estranha familiaridade do conflito estético perante esse novo e velho território, pari passu com o sentimento de não pertencer, de exílio, de sem-sombra, atravessando, mais uma vez, a escolha de um bairro, de uma casa, de escola para os filhos, de construção de novas amizades e de uma rede profissional. E, de repente, como um insight, num dia que se consegue precisar cirurgicamente, surgem lugares que já nos pertencem, há uma segunda análise com um analista português, a formação em psicanálise na SPP (Sociedade Portuguesa de Psicanálise), os colegas e todas as trocas que se abrem intra e intersociedades. Uma Inter-net associativa é restabelecida, uma frátria é criada fora e dentro. O geográfico e linguístico triângulo atlântico que me habita vai colocando em diálogo interno, e cada vez mais harmoniosamente, o desassossego de Pessoa, o erótico de Drummond e a transparente autenticidade de Ondjaki. A rádio portuguesa torna-se companhia diária, religando-me ao enorme valor - pela inexistência de televisão em Angola - dos obsoletos rádios de pilhas. Pastel de nata, quindim e cocada... uva, jabuticaba e pitanga... convivem saborosamente. Fado e chori-nho, samba e merengue não rivalizam. Kissange, cuíca e guitarra harmonizam-se em sinfonia. Tecelões, sabiás e andorinhas voam em bando. A estrada da Leba e a rodovia dos Imigrantes ligam-se sem atropelos. Lisboa antiga e Minas Gerais espelham-se orgulhosas. Luanda, Salvador da Bahia e Tavira geminam-se em telhados de quatro águas e praças acolhedoras. O rio Kwanza torna-se afluente do Amazonas e “numa pororoca deságua no Tejo” (Buarque, 1973). E o fado pode afinal ser tropical com Chico.

 

Conclusão

Vai, pensamento, sobre as asas douradas, Vai e pousa sobre as encostas e as colinas Onde os ares são tépidos e macios Com a doce fragrância do solo natal!

(Giuseppe Verdi)

Para encerrar, retomaria brevemente três noções: a de pátria (paisagem emocional integrada), a de exílio (capacidade de lutos) e a de língua (gramática afetiva).

Como refere Miguel Torga,

uma pátria é o espaço telúrico e moral, cultural, político e afetivo, onde cada natural se cumpre humana e civicamente. Só nele a sua respiração é plena, o seu instinto sossega, a sua inteligência fulgura, o seu passado tem sentido e o seu presente tem futuro. (Pátria, 2016)

Pátria parece ser assim a construção de uma geografia emocional, de um objeto interno continente, de uma linhagem simbólica, de uma paisagem afetiva que permite a boa companhia dos objetos internos, concomitantemente à capacidade de estar só, no sentido winnicottiano (Winnicott, 1958/1990).

Para Said (2003), o exílio é uma fratura terrível, e sua tristeza essencial jamais pode ser superada, como parecem atestar nostalgicamente as inúmeras canções do exílio,3 releituras inspiradas na original, famosa e nacionalista, de Gonçalves Dias (1846[1843], p. 2): “Minha terra tem palmeiras, / Onde canta o sabiá; / As aves, que aqui gorjeiam, / Não gorjeiam como lá.”

Sabemos que o percurso do desenvolvimento psíquico a todos impõe migrações e exílios, refletidos culturalmente nos mitos de Édipo e do Éden ou nas viagens de Ulisses, por exemplo, e que o pensamento nasce justamente da capacidade de tolerar a incerteza e de suportar a dor, ou seja, de fazer lutos, reparar objetos internos e recriar narrativas. É essa narrativa da experiência emocional, tecida dinamicamente, que vai permitindo re-ordenar rupturas, dando-lhes coesão através de um sentimento de pertença e de identidade. Esse é o espaço potencial perante as perdas catastróficas e contra o exílio do nosso mundo interno e das nossas memórias, vivenciado diariamente no campo analítico, na transferência e contratransferência com os nossos analisandos.

O fil rouge, a variável (in)constante desse percurso, foi a Flor do Lácio, a língua portuguesa. A famosa frase de Pessoa: “A minha pátria é a minha língua”, semente para inúmeras adaptações e re-criações de escritores nacionais e internacionais, parece refletir mais o desas-sossego da construção emocional de um império afetivo, de um continente de pertença e potencial de criatividade, do que qualquer conotação patriótica ou nacionalista que a ela se queira atribuir. A língua está prenhe de inconsciente (Lacan), e o português de Angola, o português do Brasil ou o português de Portugal, apesar da sua desejada unidade, veiculam melodias afetivas muito distintas. Como diz José Sara-mago: “a língua portuguesa é uma língua de várias pátrias” (citado por Saraiva, 2010, p. 21). Ou Eduardo Lourenço: “uma língua não o é de ninguém, mas nós não somos ninguém sem uma língua que fazemos nossa” (citado por Saraiva, 2010, p. 21). Apropriarmo-nos de uma língua não é traduzi-la, mas conhecer por dentro os seus sutis meandros afetivos, através dos quais poderemos então pensar, no sentido bio-niano. Revejo-me assim mais na insaturada frase de Vergílio Ferreira: “Da minha língua vê-se o mar” (1999, p. 83).

“Somos construídos em cima de tumbas, somos um cemitério das identificações introjetadas, somos o produto de amores perdidos (seio, mãe, pai, infância, países, relações, etc.), e atualizamos constantemente o passado através de novas narrativas culturais” (Nosek, 2016). Acrescentaria que essas identificações, imagos, objetos internos, amores perdidos, memórias, sensações, etc. acabam por conviver e dialogar psiquicamente, como uma frátria na própria casa familiar. Esse espaço potencial, gerado, sonhado, narrado e recriado, transforma a tragédia da catástrofe em benignas mudanças catastróficas (Bion, 1966, 1970/1991), transforma o fado do destino em oportunidade criativa, metamorfoseando-se em conhecimento. Conhecimento esse - da história e das estórias vividas, da análise pessoal, da psicanálise como teoria, das supervisões e do trabalho clínico - que manterá sempre a perspectiva do inusitado, do inesperado, do incessante movimento de salto no escuro a que o novo obriga em face do desconhecido, do incompreensível (capacidade negativa), dos pensamentos em busca de pensador e da essencial, permanente e dinâmica articulação de novos significados emocionais, cujo fio narrativo só poderá ser tecido através de uma relação, através de um outro, dando origem à cultura.

Suportando a estranha familiaridade do conflito estético, fui acedendo a uma geografia emocional por meio da gramática da fantasia e dos afetos: na infância angolana, pela aprendizagem da língua materna e introjeção da cultura portuguesa; na adolescência e idade adulta brasileiras, pela construção da identidade amorosa e profissional; e finalmente, na maturidade, pelo sentimento de pertença - pátria, mátria e frátria - adquirido internamente, numa genealogia e filiação simbólica alargadas e numa criação permanente de sonhos e narrativas. A palavra paisagem tem a mesma raiz das palavras país/pátria. Angola, Brasil e Portugal habitam-me como paisagens emocionais.

“Nós nascemos, por assim dizer, provisoriamente em algum lugar, pouco a pouco é que compomos em nós o lugar da nossa origem, para aí nascer posteriormente e, a cada dia, mais definitivamente” (Rilke, 1923, citado por Sztulman, 2004, p. 88).

 

Notas

1 Trabalho apresentado no I Congresso de Psicanálise de Língua Portuguesa, cujo tema foi Violência, Memória, Identidade (Lisboa, maio de 2016). Dedico este texto aos meus pais e aos meus irmãos

2 Slogan publicitário (censurado) de Fernando Pessoa para o lançamento da marca Coca-Cola em Portugal, 1928.

3 Releituras como as de Casimiro de Abreu, Murilo Mendes, Oswald de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, José Paulo Paes, Mario Quintana, Tom Jobim, Chico Buarque, Jô Soares e Ferreira Gullar (recuperado em 4 fev. 2017, de http://www.infoescola.com/livros/cancao-do-exilio/).

 

Referências

Agualusa, J. E. (2004). O vendedor de passados. Lisboa: Dom Quixote.         [ Links ]

Bion, W. R. (1966). Catastrophic change. Bulletin of the British Psychoanalytical Society, 5,13-26.         [ Links ]

Bion, W. R. (1991). Atenção e interpretação: o acesso científico à intuição em psicanálise e grupos (P. D. Corrêa, Trad.). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1970)        [ Links ]

Buarque, C. & Guerra, R. (1973). Fado tropical [Gravada por Chico Buarque]. In Chico canta (Calabar) [LP]. Phonogram; Philips.         [ Links ]

Calligaris, C. (1991). Hello Brasil! Notas de um psicanalista europeu viajando ao Brasil. São Paulo: Escuta.         [ Links ]

Cardoso, D. M. (2012). O retorno. Lisboa: Tinta-da-China.         [ Links ]

Centro Scalabriniano de Estudos Migratórios. (s.d.). Conceitos básicos de migração segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM). Recuperado em 4 fev. 2017, de http://www.CSEM.org.br/pdfs/conceitos_basicos_de_migracao_segundo_a_oim.pdf.         [ Links ]

Coetzee, J. M. (2010). Summertime. London: Vintage.         [ Links ]

Couto, M. (2005). Pensatempos: textos de opinião. Lisboa: Caminho.         [ Links ]

Dias, G. (1846). Primeiros cantos. Rio de Janeiro: Eduardo e Henrique Laemmert. Recuperado em 4 fev. 2017, de http://www.brasiliana.usp.br/bitstream/handle/1918/00634200/006342_COMPLETO.pdf.         [ Links ]

Ferenczi, S. (1992). Confusão de línguas entre os adultos e a criança: a língua da ternura e da paixão. In S. Ferenczi, Obras completas (A. Cabral, Trad., Vol. 4, pp. 97-106). São Paulo: Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1932)        [ Links ]

Ferreira, V. (1999). A voz do mar. In V. Ferreira, Espaço do invisível 5 (pp. 83-84). Lisboa: Bertrand.         [ Links ]

Freud, S. (1976a). O estranho. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, Trad., Vol. 17, pp. 273-318). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1919)        [ Links ]

Freud, S. (1976b). Recordar, repetir e elaborar: novas recomendações sobre a técnica da psicanálise II. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, Trad., Vol. 12, pp. 191-203). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1914)        [ Links ]

Gonçalves, M. J. (2011). Da incerteza à estranheza ou o estranho no divã. Revista Portuguesa de Psicanálise, 31(2),79-86.         [ Links ]

Grinberg, L. & Grinberg, R. (1996). Migração e exílio: estudo psicanalítico (M. Bragança, Trad.). Lisboa: Climepsi.         [ Links ]

Kertész, I. (2003). Sem destino (E. Rodrigues, Trad.). Lisboa: Presença.         [ Links ]

Melícias, A. B. (2006). Sísifo e Héracles: duas vertentes do trabalho da pulsão. In P. Luzes, M. F. da Costa & J. S. Diniz (Orgs.), Sigmund Freud: 150 anos depois (pp. 53-83). Lisboa: Fenda.         [ Links ]

Meltzer, D. & Williams, M. H. (1994). A apreensão do belo: o papel do conflito estético na violência e na arte (P. C. Sandler, Trad.). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1988)        [ Links ]

Nosek, L. (2016). O processo psicanalítico como espaço de liberdade (conversa com Maria José Gonçalves). Trabalho apresentado no XXVII Colóquio da Sociedade Portuguesa de Psicanálise, Lisboa.         [ Links ]

Pátria. (2016). In Wikipédia. Recuperado em 4 fev. 2017, de https://pt.wikipedia.org/wiki/Pátria.         [ Links ]

Pessoa, F. (1986). Fernando Pessoa: obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar.         [ Links ]

Remaud, O. (2016, 6 de março). The exile's shadow. Recuperado em 4 fev. 2017, de http://69.89.27.220/~hannaha2/amor-mundi-3616/.         [ Links ]

Sztulman, H. (2004). Arcaico. In D. Houzel, M. Emmanuelli & F Moggio (Coords.), Dicionário de psicopatologia da criança e do adolescente (M. do R. P. Boléo, Trad., pp. 88-91). Lisboa: Climepsi.         [ Links ]

Said, E. W. (2003). Reflexões sobre o exílio e outros ensaios (P. M. Soares, Trad.). São Paulo: Companhia das Letras.         [ Links ]

Saraiva, A. (2010). Minha pátria é a língua portuguesa. Acta Semiotica et Lingvistica, 15(1),15-22. Recuperado em 4 fev. 2017, de http://periodicos.ufpb.br/index.php/actas/article/viewFile/14643/8294.         [ Links ]

Veloso, C. (1978). Sampa [Gravada por Caetano Veloso]. In Muito: dentro da estrela azulada [LP]. Philips.         [ Links ]

Veloso, C. (1984). Língua [Gravada por Caetano Veloso]. In Velô [LP]. Philips.         [ Links ]

Winnicott, D. W. (1990). A capacidade de estar só. In D. W. Winnicott, O ambiente e os processos de maturação: estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional (3a ed., I. C. S. Ortiz, Trad., pp. 31-37). Porto Alegre: Artes Médicas. (Trabalho original publicado em 1958)        [ Links ]

Winnicott, D. W. (1994). O medo do colapso. In D. W. Winnicott, Explorações psicanalíticas (J. O. de A. Abreu, Trad., pp. 70-76). Porto Alegre: Artes Médicas. (Trabalho original publicado em 1963)        [ Links ]

Young-Bruehl, E. (2012). Childism: confronting prejudice against children. New Haven: Yale University Press.         [ Links ]

Yourcenar, M. (1974). Memórias de Adriano, seguido do caderno de notas das Memórias de Adriano e da nota (19a ed., M. Calderaro, Trad.). Rio de Janeiro: Nova Fronteira.         [ Links ]

 

 

Correspondência:
Ana Belchior Melícias
Praça das Águas Livres, 8, SL 1
1250-001 Lisboa, Portugal
Tel.: 351 919 550 044
ana.melicias@gmail.com

Recebido em 03.08.2016
Aceito em 25.11.2016

 

 

* The words pátria, mátria, frátria the author uses for the title mean respectively “fatherland (or homeland)”, “motherland”, and “brotherland”.

Creative Commons License