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Temas em Psicologia

versão impressa ISSN 1413-389X

Temas psicol. vol.8 no.1 Ribeirão Preto abr. 2000

 

O manejo de contra-argumentos na escrita argumentativa infantil1

 

The management of counter-arguments in children's argumentative writing

 

 

Selma Leitão

Universidade Federal de Pernambuco

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

A maioria dos especialistas concorda que a escrita de textos argumentativos demanda do escritor a realização de duas operações: definir/defender um ponto de vista e antecipar/reagir a posições alternativas. Tendem igualmente a reconhecer no manejo de contra-argumentos uma das tarefas mais difíceis que as crianças enfrentam na produção de textos argumentativos. Este trabalho examina algumas das razões para isto. Solicitou-se a crianças que compusessem um texto e que julgassem a relevância de certos enunciados, alguns justificativos e outros contra-argumentativos, para outros textos. Os resultados indicaram que, na escrita de textos, as crianças tendiam a tratar como contra-argumentos as idéias que poderiam justificar um ponto de vista contrário ao seu. Mais importante que isto, porém, foi a constatação de que as crianças tendem a atribuir um papel secundário aos contra-argumentos num texto. Estes resultados são discutidos em termos do quanto tal tendência contribuiria para os problemas que as crianças enfrentam na escrita argumentativa.

Palavras-chave: contra-argumentação, escrita argumentativa, produção textual.


ABSTRACT

Most specialists agree that engaging in argumentative writing demands two actions: taking/supporting a claim as well as anticipating/reacting to alternative viewpoints. They also acknowledge that managing counter-arguments is among the hardest tasks children are faced with in argumentative writing. This paper has examined some of the reasons for that. Children have been asked to compose a text and also to estimate how essential certain utterances, either supportive or counter-argumentative, were to other texts. Results have indicated that when composing argumentative texts children treat as counter-arguments mainly those ideas that might give support to the position opposite to theirs. Most important, however, is their tendency to assign a secondary role to counter-arguments in a text. These results have been discussed in terms of the way such a tendency may contribute to the problems children have to face in the argumentative writing.

Key words: counter-argumentation, argumentative writing, text production.


 

 

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

 

 

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Endereço para correspondência:
Universidade Federal de Pernambuco. Pós-Graduação em Psicologia
CFCH, 8o andar. Cidade Universitária
CEP 50670-901 Recife - PE
Fone (81) 3271-8272 Fax: (81) 3271-1843
e-mail: slsantos@ufpe.npd.br

Recebido em: 30/10/99
Aceito em: 01/04/01
Apoio financeiro CNPq

 

 

1. Trabalho apresentado no Simpósio Argumentação quotidiana: Do planejamento àprodução textual, na XXIX Reunião Anual de Psicologia da Sociedade Brasileira de Psicologia, Campinas - SP, outubro de 1999.

 

 

ANEXO

Texto apresentado aos participantes do Estudo 2

Quem deve escolher os programas a que as crianças assistem na televisão?

A televisão é uma caixa de surpresas, nela passam programas maravilhosos, educativos e muitos desenhos animados. As crianças adoram passar horas e horas em frente à TV. Elas só querem saber de ficar mudando de canal na hora que bem entendem, e eu acho certo. Na minha opinião as crianças deveriam escolher seus próprios programas porque todo mundo quer assistir ao que gosta.

Entretanto, muitas vezes, quando os pais chegam em casa querem escolher os canais para os seus filhos dizendo que existem muitos programas inadequados, e isto é verdade. Mas as crianças é que deveriam escolher seus programas, pois isto é um direito delas. E muita gente concorda com isto. No entanto, os pais dizem que as crianças não são maduras o suficiente. Na minha opinião, as coisas hoje em dia são diferentes, já que existem muitas crianças que desde cedo sabem o que querem. Os pais pensam que só eles sabem o que é bom, mas acredito que as crianças também sabem. Além disso, o gosto dos pais é muito diferente do das crianças, os pais só querem ver jornais enquanto as crianças gostam mais de desenhos animados. Por isso, se os pais escolherem sempre, as crianças nunca vão assistir aos programas de sua preferência e isso não é justo.

Como se pode ver, nem os pais podem deixar seus filhos verem violências, nem as crianças querem ver programas chatos. Logo eu acho que as crianças devem escolher juntamente com os adultos.

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