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Stylus (Rio de Janeiro)

versão impressa ISSN 1676-157X

Stylus (Rio J.)  no.28 Rio de Janeiro jun. 2014

 

TRABALHO CRÍTICO COM CONCEITOS

 

Relação entre sublimação e desejo1

 

Relationship between desire and sublimationy

 

 

Beatriz Elena Maya Restrepo*

Departamento de Psicanálise Universidade de Antioquia
Escola dos Foros do Campo Lacaniano

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O presente trabalho orienta-se pelos ensinamentos de Jacques Lacan, especialmente pelo Seminário 7, A ética da psicanálise, para esclarecer as relações existentes entre a sublimação e o desejo, partindo da sublimação como um paradoxo diante do gozo: porque, ao mesmo tempo que o transgride, coloca-lhe um limite, criando o campo do desejo. Mas também assinalando a presença do desejo como outro paradoxo, já que exige manter a tendência em perspectiva, o que introduz certo mal-estar.

Palavras-chave: Sublimação, Gozo, Desejo, Paradoxo.


ABSTRACT

The present work is oriented by Jacques Lacan's teachings, especially in the seminar seven, The Ethics of Psychoanalysis, to clarify the relations that exist between sublimation and desire, starting out from sublimation as a paradox in relation to jouissance, because at the same time that transgress it, it puts a limit creating the field of desire. But also indicating the presence of desire as another paradox since it requires to keep the tendency in perspective, which introduces a certain discontent.

Keywords: Sublimation, Jouissance, Desire, Paradox.


 

 

1. A pergunta

Ao final do Seminário 7, A ética da psicanálise, encontramos este parágrafo:

Na definição da sublimação como satisfação sem recalque há, implícito ou explícito, passagem do não-saber ao saber, reconhecimento disto, que o desejo nada mais é do que a metonímia do discurso da demanda. É a mudança como tal. Insisto – essa relação propriamente metonímica de um significante ao outro que chamamos de desejo, não é o novo objeto, nem o objeto anterior, é a própria mudança de objeto em si (LACAN, 1959-60/2011, p. 352).

Vemos estreitamente articuladas três noções: a sublimação, o desejo e o saber. É a referência à mudança que articula sublimação e desejo. Não se sabe muito bem se a mudança refere-se à sublimação, ao desejo ou a ambos, o que sugere uma pergunta: qual a relação estabelecida entre o desejo e a sublimação? E qual sua diferença?

 

2. Do desejo

Desde a primeira lição do Seminário 7, Lacan fala do desejo como o que dá a gênese à dimensão ética; um desejo que se apoia no polimorfismo perverso e, sobretudo, em sua realização alucinatória, graças à perda original inaugurada pela linguagem e que se instaura como das Ding. Tendo situado nesse lugar a mãe, Freud falará do desejo incestuoso como fundamental, sobre o qual se funda a lei que dá origem à cultura. Depreende-se disso que a função do princípio do prazer seja "fazer com que o homem busque sempre aquilo que ele deve reencontrar, mas que não poderá atingir" (Ibid., p. 87). Situar a Coisa ou das Ding como mira do desejo é aproximar essa noção de desejo à de gozo; já que o desejo surge como um paradoxo, uma busca orientada por um objeto que nunca poderá ser alcançado, porque fazê-lo implicaria a morte, o campo da destruição absoluta. A mesma lei que empurra a busca do desejo, se é reforçada para proibi-lo, traz consigo mais gozo e, do mesmo modo, quando se tenta obviar a lei indo em direção ao gozo, o que se encontra são obstáculos, isto é, "a transgressão no sentido do gozo só se efetiva apoiando-se no princípio contrário, sob as formas da Lei" (Ibid., p. 217). Por isso, o que se pode fazer é girar em círculos, obtendo uma satisfação curta. Aqui vai ficando claro aquilo que, sobre o desejo e o gozo, parecia ser um pouco confuso nesse seminário. Então, chega-se ao desejo pela interdição do gozo. Uma das formas de girar em círculos é aquela que permite a sublimação.

Lacan introduz a realização humana a partir do desejo. Assim, faz uma exposição de princípios, situando a razão ou articulação significante, desde o início, como anterior ao sujeito; é depois disso que o homem situa suas necessidades, assim ele é capturado pelo campo do inconsciente que tem em sua estrutura uma spaltung, um buraco, uma divisão, ao redor da qual se organiza o desejo. Spaltung que, por sua vez, tem a ver com o gozo, porque esse campo, que é a mira do desejo, converte-se em algo central, escuro, inacessível, campo do gozo. O significante então, introduzindo a falta, inscreve o mortífero, mas, ao mesmo tempo, o espaço para o desejo, ou seja, há desejo porque há significante e falta.

 

3. Da sublimação

Não é uma noção simples em Freud; é Lacan quem a esclarece ao longo de sua obra. Antes mesmo do Seminário 7, indaga em suas relações com a idealização, do mesmo modo, a situa como um processo imaginário de uma identificação do eu com o Outro (LACAN, 1956-57/1994). Mas não deixará as coisas assim. Lacan avança relacionando a sublimação com a letra como materialidade significante, especificamente na obra literária. Desde esse seminário, questiona o tratamento que Freud deu a essa noção; pergunta se, com Freud, é possível defini-la como uma atividade sexual enquanto está dessexualizada e prepara o terreno para aquilo que irá desenvolver no Seminário 7. Define a sublimação como a forma na qual se "escoa" o desejo e a relaciona com a pulsão descrita como o jogo significante. Termina Lacan (1958-59/inédito, p. 516 ), no Seminário 6, O desejo e sua interpretação:

[...] que noção é esta se não podemos defini-la como a forma mesma na qual se escoa o desejo! Já que o que se lhes indica é justamente que ela pode esvaziar-se da pulsão sexual enquanto tal, ou mais exatamente que a noção mesma de pulsão, longe de confundir-se com a substância da relação sexual, é esta forma mesma que ela é: jogo de significante, fundamentalmente ela pode se reduzir a este puro jogo do significante. E é assim mesmo que podemos definir a sublimação. É este algo por qual, como já escrevi em algum lugar, podem equivaler-se o desejo e a letra.

Desde este seminário Lacan tira a pulsão do plano biológico, ponto em que Freud tropeçava, fazendo-a equivalente à sublimação na relação ao significante, mas, além disso, nos diz que ali se escoa o desejo.

Para Lacan, a sublimação tem a ver com a criação significante de um objeto que lhe permite "não evitar a Coisa como significante, mas representá-la na medida em que esse objeto é criado" (LACAN, 1959-60/2011, p. 151). Aqui, Heidegger, com sua conferência A Coisa, na qual fala do vaso como criação do vazio e do pleno, inspira Lacan. Uma criação a partir do nada, o que Lacan chama de ex nihilo. Nesse sentido, a criação permanente, a partir do nada, que é a sublimação, implica o movimento de mudança permanente que a caracteriza.

É com sua aproximação em A ética da psicanálise, que empreende sua crítica contra esse tratamento socializante que foi dado à sublimação. Não é sem importância a razão disso, para dar-lhe um lugar central no objetivo deste seminário, no qual se faz indispensável essa noção, já que Freud a introduz como outra via do sentimento ético. Lacan detém-se minuciosamente nela e busca ver os progressos que o próprio Freud fez em Introdução ao narcisismo, texto em que inclui problemas ao interior de sua definição. A fim de esclarecê-la, recorreu à noção de das Ding e à de objeto. Entende das Ding, a Coisa, como um lugar em que se manifestam os primeiros esboços de organização psíquica a partir das Vorstellungrepresentanz, ou representantes da representação, objeto que orienta a tendência da pulsão e do desejo, o que determina seu circuito, diferente do objeto narcísico com o qual se engana sobre das Ding.

Detenhamos-nos nessa expressão: enganar. Há uma pequena observação que Lacan faz sobre a anamorfose que nos orienta muito em relação à importância da obra de arte. Ele diz: "trata-se, de uma maneira analógica, ou anamórfica, de tornar a indicar que o que buscamos na ilusão é algo em que a ilusão, ela mesma, de algum modo transcende a si mesma, se destrói, mostrando que ela lá não está senão enquanto significante" (LACAN, 1959-60/2011, p. 170). Nota esclarecedora sobre a posição da arte; mais além do ilusório ou do imaginário, estaria a ordem significante, necessária à obtenção de prazer por via das facilitações das Vorstellungen freudianas, lidas por Lacan como moldura significante. Assim, a arte é uma via para a obtenção de prazer por meio da simbolização, não da repressão. É também o que lhe permite dar preeminência à arte poética.

Por causa disso, Lacan introduz uma fórmula sobre a sublimação que enuncia da seguinte forma: "E a fórmula mais geral que lhes dou da sublimação é esta – ela eleva um objeto – e aqui não fugirei às ressonâncias de trocadilho que pode haver no emprego do termo que vou introudizir – à dignidade da Coisa" (Ibid., pp. 140-141).

O paradigma disso é a dama do amor cortês, puro significante que representa a Coisa inacessível, velada, vazio central. Já vemos vislumbrar a tríade: Real, Simbólico, Imaginário, que se esclarecerá ao final de seu ensino, no Seminário 23, que os três registros enlaçam a obra de arte. Porém, no Seminário 7, é possível ver que o real seria esse vazio que se representará por um objeto imaginário. Se o que faz é representar, perde sua qualidade de objeto para ser um significante, de tal forma que os três registros se articulem. Esse exemplo permite esclarecer que a sublimação tem a ver com as satisfações da potência, isto é, a manutenção do desejo em perspectiva, pois a dama é proibida, tem caracteres despersonalizados e o objeto feminino está vazio de toda substância real. Ademais, tem uma função poética ou simbólica, é um puro significante.

De sua análise sobre o fenômeno do amor cortês e da sublimação, Lacan pôde concluir que aquilo que o homem demanda é ser privado de algo. Esse algo seria a Coisa em si, o que permite deduzir que a sublimação tende a isto, a que apareça um limite em relação a das Ding. É dizer, o sujeito, em sua criação sublimatória, garante o desejo, e não o acesso ao gozo absoluto. Trata-se então de uma ética do desejo.

Contudo, se não há acesso ao gozo absoluto, não se pode escapar do paradoxo que implica a satisfação. Vejamos como Lacan o enuncia:

Ora, o paradoxo do que se pode chamar, na perspectiva do princípio do prazer, de o efeito do Vorlust, dos prazeres preliminares, é justamente que eles subsistem de encontro à direção do princípio do prazer. É na medida em que se sustenta o prazer de desejar, isto é, para dizer com todo o rigor, o prazer de experimentar um desprazer, que podemos falar da valorização sexual dos estados preliminares do ato do amor (1959-60/2011, p. 189).

A partir disso, podemos inferir que o prazer está em manter o prazer de desejar, o que é equivalente a experimentar um desprazer. Trata-se do prazer no desprazer. Sabemos que a isso Lacan deu o nome de gozo, ou melhor, o próprio Freud. Contudo, vemos também uma aproximação da noção de sublimação com a de desejo. Nosso encontro internacional convida a falar dos paradoxos do desejo. Encontramos esboçado de maneira clara um deles: o desejo implica manter a tendência em perspectiva, o que traz consigo um desprazer, ou melhor, como dirá Lacan (1976-77/inédito), em outro seminário, muito mais tarde, "aquilo que a psicanálise chama de prazer, é padecer, sofrer o menos possível".

Até aqui, vemos claramente que tanto a pulsão quanto a sublimação e o desejo são colocados em marcha pela articulação significante, a qual, ao mesmo tempo, traz consigo a pulsão de morte. Lacan define como suspeita a noção freudiana de pulsão de morte, mas não diz que não exista, a situa como "uma sublimação criacionista" (LACAN, 1959-60/2011, p. 260). O que isso quer dizer? A meu ver, se a mira do gozo, que é o campo da destruição, é a Coisa, para onde tende o desejo pelo movimento pulsional, entenderíamos a pulsão de morte como uma vontade de destruição. Porém, na medida em que está ligada à ordem significante, também é uma vontade de criação a partir do nada, ex nihilo, por intermédio da sublimação. Essa vontade de criação é a que coloca limite ao objetivo do desejo, ou seja, à Coisa, o que estabelece uma relação estreita entre desejo e gozo. É neste ponto que a noção de criação faz-se inseparável da de sublimação, dado que é a partir do campo de destruição, que é das Ding, para o qual tende a pulsão, que se cria, pela via significante, como explicado anteriormente, algo que represente dito campo. É importante reiterar que, se o representa, está criando um limite no acesso a ele, já que não o aproxima ao campo inacessível, mas somente o representa, mais precisamente, o contorna. A fim de garantir a satisfação, deve haver uma destruição que dê lugar à criação de um novo objeto, ou seja, manter-se em estado de mudança, que é o que facilita a satisfação e o que caracteriza a criação sublimatória e, ao mesmo tempo, o desejo.

No parágrafo que deu origem a meu trabalho, Lacan situa a sublimação como um saber. Mesmo que para decifrar essa frase seja necessário outro trabalho, podemos dizer algo a respeito. A manutenção da tendência, que é o que o sujeito persegue, só é possível se o gozo da Coisa é deixado como inacessível, isto é, se se introduz um limite que dará origem à ordem do desejo pela via dos objetos criados, os significantes, o que permite, no inconsciente, o reconhecimento da estrutura, do buraco enquanto contornado como limite. No ato da sublimação há então a manifestação de um saber: não há um objeto que satisfaça a pulsão, ou melhor, que a pulsão pode satisfazer-se medianamente, em seu trajeto mesmo.

Se o objeto que se eleva à dignidade de Coisa é imaginário, operando como significante, temos a fórmula do fantasma, $ ◊ a, que seria a mola da sublimação e, ao mesmo tempo, o suporte do desejo. Sublima-se com as pulsões, dirá Lacan mais adiante (1968-69/2006). Fórmula que não somente articula a sublimação e o desejo, mas também a pulsão aos dois anteriores, dado que os objetos com os quais se engana sobre das Ding são os parciais da pulsão, que devem ser elevados, por intermédio da obra de arte, à dignidade da Coisa.

Essa fórmula deve ser demonstrada, e para tanto Lacan refere que "para que o objeto se torne assim disponível é preciso que algo tenha ocorrido no nível da relação do objeto com o desejo" (LACAN, 1959-60/2011, p. 142). Assim, sublimação e desejo ficam absolutamente relacionados por intermédio do objeto. O que ocorreu no nível da relação do objeto com o desejo? A resposta temos muito depois, quando nos descreve o desejo como uma relação metonímica entre os significantes, sem levar em conta o novo objeto, e sim a mudança. Claramente, Lacan define o desejo como uma metonímia, uma busca metonímica na ordem significante, busca interminável que obriga a presença de inumeráveis objetos, mas não são esses propriamente os objetos do desejo, senão "a mudança". É inacreditável que Lacan defina o objeto do desejo como a mudança de objeto; assim, poderíamos pensar que a sublimação é um meio para a manutenção do desejo. Contudo, dissemos anteriormente, que é desde aquilo que suporta ao desejo, isto é, o fantasma, que se cria, que se faz a sublimação.

Então, voltando à nossa pergunta inicial, vemos despontar sua resposta, articulando não só o desejo e a sublimação, mas também esses dois à pulsão. Assim, poderíamos dizer que a sublimação é um saber-fazer-com a pulsão de morte, com o campo da destruição, colocando um limite que se prefigura como um contorno significante, o que implica sustentar o desejo, sem repressão.

Dissemos que um dos paradigmas da sublimação é o amor cortês. Porém, foi com a arte que Lacan mais o vinculou ao longo de sua obra. Creio que é por isso que já não falará de sublimação, mas sim de arte e poesia, colocando-os como modelos para nosso ato. Por isso, chama a atenção que Lacan diga que a arte tem como mecanismo a repressão, urvedragun, quando, com Freud, sustentou que é sem repressão. A possível saída para isso é que não se pode confundir a repressão propriamente dita com a repressão originária, que seria estrutural, e as secundárias que estão determinadas por essa. Dito de outro modo, não haveria inconsciente sem repressão e, portanto, não haveria arte sem repressão.

Agora demos um salto ao penúltimo seminário em que Lacan fala de sublimação. Refiro-me ao Seminário 16, De um Outro ao outro, no qual encontramos várias precisões que permitem esclarecer mais a noção que tratamos. O primeiro ponto é que Lacan assinale que não se sublima a pulsão, mas que se sublima com as pulsões, o que é bem diferente. O segundo ponto é que faça uma figura da Coisa como um vacúolo, imagem que lhe permite pensar a estrutura de borda da sublimação. O êxtimo interdito, centro do campo do gozo, entendido aqui como "tudo que provém da distribuição de gozo no corpo". Porém, se se sublima com as pulsões e essas implicam o gozo sexual, a sublimação seria um gozo sexual. Trata-se da articulação da lógica e a corporeidade, uma lógica da defesa empurrada pelo princípio do prazer ou pela satisfação.

Aqui, a importância da obra de arte estriba-se que ela, como objeto a, com suas distintas formas, oral, anal, escopofílico e o sadomasoquista, é dizer, a voz, o olhar, as fezes, vem ao interior do vacúolo ou coisa "fazer cócegas em seu interior".

Assim, a sublimação surge como um paradoxo diante do gozo porque, ao mesmo tempo que o transgride, coloca-lhe um limite, criando o campo do desejo; contrariamente ao neurótico que suspende o gozo, mas, ao mesmo tempo, de modo paradoxal, reforça-o. Ter clareza de que a sublimação implica o gozo sexual porque o que se alcança é a finalidade, ainda que não o objeto sexual, implica não desviá-la pelas vias da dessexualização.

Por outro lado, no Seminário 14, Lacan (1967/inédito) situa a estrutura da sublimação como partindo da falta e reproduzindo-a, o que implica que possamos relacioná-la com o desejo de final de análise, em que a falta brilha como produto. Ali mesmo, Lacan situa a sublimação não só na arte, mas também no próprio falar, experiência do ato analítico.

Mas voltemos às relações que a sublimação tem com o saber, pois são centrais em minha proposta de pensar o final de análise, ou seja, o desejo do analista como um ato sublimatório por ser criador.

A última intervenção de Lacan (1968-69/2006) sobre a sublimação, com exceção de uma no Seminário 20, Mais, ainda, é no Seminário 16. Na ocasião, articula sublimação e saber pela via de diferenciar a sublimação do sintoma, isto é, o neurótico não renuncia ao gozo que supõe ser o saber do sujeito suposto saber, um saber que está no Outro e, portanto, uma submissão ao gozo do Outro. O criador de arte, aquele que pode sublimar, estabelece, por sua vez, uma relação diferente com o saber. Assim, quem chega ao final da experiência, à consecução do desejo como desejo de analista, estabelece uma relação com o saber desprendido do , como possibilidade de um sentido, para enfrentar a estafa psicanalítica que o confronta com o real e com a possibilidade de saber-fazer-aí-com.

Isso quer dizer que o artista não é neurótico ou deixa de sê-lo por sua arte? Pode ser qualquer tipo de estrutura, mas, em seu ato criador, comporta-se de maneira distinta da que se comporta fazendo sintoma.

O importante é mostrar que o neurótico, em seu querer saber, comporta-se apagando a falta que o criador de arte desvela. Nos esforços de abolir o apagamento de seu ser, o que o neurótico faz é reforçá-lo, distinto de quem pode sublimar, já que se trata de um reconhecimento daquilo que ele é: não mais que falha do sentido.

Para terminar, não confundo o desejo do analista com o artista, nem o inverso; não suponho que o artista seja um analista. Digo que o ato do artista é homólogo ao ato de final de análise. É por isso que Lacan nos convida a consultar os poetas para aprender com eles.

 

Referências

LACAN, J. (1956-57). El Seminario, libro 4: La relación de objeto. Traducción de Enric Berenguer. Buenos Aires: Editorial Paidós, 1994, 438p.         [ Links ]

__________. (1958-59). El Seminario, libro 6: el deseo y su interpretación. Inédito.         [ Links ]

__________. (1959-60). El Seminario, libro 7: la ética. Traducción de Diana S. Rabinovich. Buenos Aires: Editorial Paidós, 2011, 350p.         [ Links ]

__________. (1967). El Seminario, libro 14: la lógica del fantasma. Inédito.         [ Links ]

__________. (1968-69). El Seminario, libro 16: De un Otro al otro. Traducción de Nora A. González. Buenos Aires: Editorial Paidós, 2006, 202p.         [ Links ]

__________. (1976-77). El Seminario, libro 24: l'insu que sait de l'une-bévue s'aile à mourre. Inédito.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
Beatriz Elena Maya Restrepo
Rua 10 No. 30-160 ed. Rosedal ap. 612
E-mail: belemare@une.net.co

Recebido: 06/02/2014
Aprovado: 26/03/2014

 

 

Tradução: Maria Cláudia Formigoni
Revisão: Conrado Ramos e Ida Freitas
* Professora de cátedra, departamento de psicanálise Universidade de Antioquia Psicanalista A.M.E. da Escola dos Foros do Campo Lacaniano. Magister Universidade de Antioquia. Publicações: Poesia e psicanálise: um deciframento do bem-dizer. Vários artigos em revistas de psicanálise.
1 Trabalho apresentado na jornada de encerramento sobre o Seminário 7, A ética da psicanálise, em 16 de março de 2013, no Fórum de Medelín.