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Revista da SPAGESP

Print version ISSN 1677-2970

Rev. SPAGESP vol.18 no.1 Ribeirão Preto Jan./June 2017

 

ARTIGOS

 

As adaptações no Brasil do método Bick de observação em pesquisas empíricas

 

Brazilian adaptations of the Bick observation method in empirical research

 

Las adaptaciones en Brasil del método Bick de observación em investigaciones empíricas

 

 

Antonia Cláudia Soares Leão dos Santos1; Janari da Silva Pedroso2

Universidade Federal do Pará, Belém-PA, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este artigo de revisão analisa a produção científica brasileira sobre adaptações do método Bick de Observação da Relação Mãe-bebê em pesquisas empíricas. Realizou-se levantamento de artigos nas bases SciELO, PePSIC e LILACS, entre 2000 a 2015, com os descritores: método Bick, observação de bebês e relação mãe-bebê. Identificou-se os conceitos que fundamentam a observação, as adaptações do método, os participantes e as conclusões das pesquisas. Conclui-se que as adaptações ocorreram na quantidade de sessões, idade dos participantes (bebês, crianças e adultos) de acordo com a observação, transcrição e supervisão, e foram capazes de captar informação subjetiva em que a fala dos participantes é inacessível.

Palavras-chave: observação de bebês; método Bick; relação mãe-bebê; psicanálise.


ABSTRACT

This theoretical review article analyzes the Brazilian scientific production on adaptations of the Bick method in empirical research. The search was performed on SciELO, LILACS and PePSIC databases, from 2000 to 2015, using the descriptors: Bick method, observation of babies and mother-baby relationship. We identified the concepts that underlie the observation, adaptation of the method, participants and research findings. We concluded that adjustments occurred in the number of sessions, participants' age (newborns, children and adults) according to the observation, transcription and supervision, and were able to capture subjective information that is inaccessible through participants' narratives.

Keywords: infant observation; Bick method; mother-baby relationship; psychoanalysis.


RESUMEN

Este artículo de revisión teórica analiza la producción científica nacional sobre las adaptaciones del método Bick de observación de la relación madre-bebé en investigaciones empíricas. Se realizó un levantamiento de artículos en las bases SciELO, LILACS y PePSIC, de 2000 a 2015, con los descriptores: método Bick, la observación de bebés y relación madre-bebé. Se identificó los conceptos que fundamentan la observación, la adaptación del método, los participantes y los resultados de la investigación. Se concluye que los ajustes se produjeron en el número de sesiones, edad de los participantes (bebés, niños y adultos) de acuerdo con la observación, la transcripción y la supervisión, y fueron capaces de capturar la información subjetiva que el discurso de los participantes es inaccesible.

Palabras clave: observación infantil; método Bick; relación madre-hijo; el psicoanálisis.


 

 

Em Psicologia, os métodos observacionais são bastante utilizados, em especial nos estudos que envolvem interações humanas, haja vista que a observação seria a forma mais adequada de captá-las com prévia finalidade. A observação de bebês como instrumento científico de investigação psicanalítica representa um recurso eficiente para o estudo sobre o desenvolvimento psíquico precoce, devido ao modo pelo qual uma criança se expressa ser reconhecidamente diferente de um adulto, especialmente as crianças na fase anterior à fala. A escuta psicanalítica dos pacientes a partir da associação livre, na qual os mesmos são orientados a dizer o que surgir à cabeça, sem censura, representa o canal de acesso ao inconsciente. Podemos considerar viável a pesquisa empírica com crianças que ainda não falam, visto que na observação de mães e bebês o material inconsciente será revelado pelo observador na transcrição dos fatos e dos sentimentos captados no setting e em seguida serão analisados na supervisão por um profissional treinado no método de observação direta. Para corroborar este argumento, Freud (1932/1936) considerava possível a Psicanálise para as crianças, com resultados seguros e duradouros. Contudo, é necessário que a técnica, originalmente proposta aos adultos, seja adequada ao mundo infantil, o que ele chamou de um objeto psicológico diferente ao de um adulto.

Pode-se dizer que surgiu na própria Psicanálise a necessidade de um método de observação direta de bebês, que no princípio serviria para auxiliar na formação de analistas (Bick, 1964). Em decorrência da necessidade de se criar um modo de intervenção clínica, houve um deslocamento da escuta para o olhar, posto que nas origens do sujeito encontra-se o infans, aquele que não fala, o ser humano que não se comunica com palavras. Entretanto, o que é dado a ver, como o que é dado a ouvir, só pode ser considerado na representação própria do humano, a linguagem. Contudo, nos bebês, a significação da mensagem depende da tradução da sua mãe, ou seja, esta interpreta os gestos do bebê, transformando-os em linguagem a fim de suprir as necessidades do mesmo (Jerusalinsky & Berlinck, 2008).

A relação da mãe com o seu bebê apresenta um impacto considerável, que merece ser explorada como fundamental para a formação do psiquismo infantil. A experiência de observação é eficiente para entender a linguagem não verbal das crianças, o observador tem a oportunidade de entrar em contato com a fase infantil primitiva. Assegurava Klein (1975/2006) que ao se pesquisar sobre a vida emocional primitiva por meio de criteriosa observação, uma revelação poderia surgir para supor como seria o desenvolvimento mental futuro na vida adulta. Segundo Klein (1975/2006), a relação com a mãe e com o seio representa a primeira relação de objeto do bebê, a qual seria decisiva para formação de um psiquismo saudável adulto.

O seio materno está muito além de uma função de nutrição, seria o objeto primário introjetado e a base para um desenvolvimento adequado, está além de necessário para a própria vida do bebê. O seio materno não é apenas a fonte de alimentação, ele se apresenta para o bebê como algo bom ou mau que proporciona conforto ou desconforto, portanto a chave para um desenvolvimento infantil pleno estaria na segurança de um objeto primário enraizado. Enquanto objeto mau, o bebê projeta no seio tudo aquilo que possa lhe causar um mal-estar, em contrapartida que o seio experimentado como bom representa satisfação para o mesmo. Na fase inicial da amamentação, seio e meio ambiente ainda não estão separados, são percebidos pelo bebê como algo que satisfazem ou incomodam (Klein, 1957/1974).

Ademais, a mãe deve estar atenta às necessidades físicas e emocionais do bebê, ficar disponível ao filho antes que imprevistos aconteçam, seria para Winnicott (1979/1988) a contribuição materna mais eficiente para um desenvolvimento psíquico saudável da criança; quando a mãe carrega e envolve seu filho no colo, assume a postura de holding (Winnicott, 1979/1988). No holding, ela lhe transmite amor, segurança, o apoio que o recém-nascido precisa. A relação mãe-filho é mais profunda do que relacionamentos triangulares, essa mãe funcionará para o bebê como um "ego auxiliar" e fará surgir o sentimento de unidade entre os dois. É nesse momento, quando o bebê se encontra totalmente dependente da mãe, que ocorre a ilusão de que o seio faz parte do corpo do bebê. É desta relação que se fundamenta o nascimento da psique infantil (Winnicott, 1979/1988).

Com o intuito de alcançar o desenvolvimento infantil precoce, surgiram práticas de observação direta, dentre elas destaca-se o Método Bick de Observação da Relação Mãe-bebê, elaborado pela psicanalista Esther Bick (1964), para acompanhar a relação mãe-bebê em seu ambiente natural. Foi construída como atividade para a formação de psicoterapeutas infantis na Clínica Tavistock em Londres no ano de 1948. Originalmente, foi proposto por Bick não como pesquisa, mas como ferramenta de aprendizagem para o psicanalista em formação, por meio de uma experiência participativa reflexiva, que acompanhava desde o estabelecimento da ligação materna com o bebê até as transformações da relação do bebê com a sua mãe (OliveiraMenegotto, Lopes, & Caron, 2006).

Conforme sua idealizadora, o método exigia a frequência de uma visita semanal à casa da criança, com uma hora de observação no primeiro ano e uma visita quinzenal no segundo ano. Contém três fases que deverão ser seguidas imediatamente uma após a outra: a observação, a transcrição e a supervisão. Na primeira, a observação, o observador deverá ter uma postura cordial, porém "neutra", de modo a não interferir no ambiente, manter uma postura de espera e apenas deverá captar toda a atmosfera que envolve o bebê e sua mãe e/ou família. Entretanto, esta suposta imparcialidade é tarefa difícil, o observador deve ter consciência de que apenas a sua presença desencadeia emoções, contudo deverá atuar como um receptor, deixando-se envolver pelo ambiente observado. Assim, na segunda fase, deverá ser feita a transcrição das situações observadas na interação da díade, incluindo os sentimentos decorrentes da observação, com uma linguagem comum e maiores detalhes possíveis (Kompinsky, 2000). Na sequência, os seus relatos deverão ser apresentados ao grupo de supervisão, que é a última fase do método na qual se analisam os relatos das observações, preferencialmente, coordenado por profissional treinado no Método Bick e oriundo da psicanálise.

A supervisão é feita sob dois focos: o que é observado, a relação mãe-bebê e o instrumento da observação, o observador. Configura-se como um aprendizado em Psicanálise, com a condução de um supervisor para trabalhar com o material psíquico que surgirá dos escritos sobre a interação mãe-bebê. Os demais participantes do grupo formarão uma base para que o inconsciente do observador se revele. É na supervisão, juntamente com o grupo e supervisor, que a função de observador será construída. O grupo proporciona uma reflexão sobre o desempenho do observador, tenta conter as angústias advindas do contato com a díade, inclusive os sentimentos de constrangimento por estar "invadindo" a casa de uma família (Mélega, 1995).

Também em sua atuação, o grupo de supervisão põe ao alcance o objeto do qual o observador está falando, refere-se ao seu mundo interior, porém verbaliza o que está consciente, ao que ele tem acesso. No entanto, aquilo que não está acessível ao observador está presente e ao alcance do grupo e do supervisor, pois o que se tem de relevância no uso deste método é a possibilidade de o observador contribuir para o processo de análise das situações com questões do seu mundo interno, o que pode ser denominado de mobilização interna. Seus sentimentos e impressões diante da cena observada, como a interação da mãe com seu filho se revela ao olhar do observador (Donelli & Lopes, 2013).

Apesar de Bick (1964) ter deixado pouco material escrito, a riqueza clínica do seu método é inquestionável, o seu trabalho com bebês advinha de décadas, utilizou técnicas comportamentais, até seguir para Londres na Tavistock em que lhe foi dada oportunidade de desenvolver um método psicanalítico de observar recém-nascidos. Ela constatou que observar é uma tarefa difícil e destacou a importância desta para a formação do pensamento científico (Pérez-Sanchez, 1983). Ao considerar os relatos dos seus alunos, constatou que eles aprendem a observar e, concomitantemente, aprendem a se desvencilhar de teorias, para sentir como se desenrola a relação mãe-bebê sublinhada, no momento em que se afastam das ideias sobre como deveria ser o cuidado desempenhado pela mãe, passam a ser mais tolerantes quanto às atitudes da mãe em relação ao seu filho.

O observador aprende por sensibilidade como os cuidados da mãe proporcionam o desenvolvimento do lactente, a mãe representa para o recém-nascido um ambiente propício ao seu desenvolvimento, inclusive quanto aos pequenos detalhes com relação à forma de segurar, amamentar, enfim, interagir com a criança. Conforme Rochel (2012), não há um nome que poderia designar esse estado de intensa sensibilidade da mãe em relação às necessidades do bebê. Contudo, Winnicott (1987/2013) destacava a dependência do bebê em relação à mãe, além de que as condições ambientais proporcionadas pela mesma fossem suficientemente boas para assegurar um desenvolvimento mental saudável. Ainda na fase da gravidez, Winnicott (1987/2013) ressaltava que a mãe, encontra-se em um estado psicológico especial, conceituado de preocupação materna primária e que se surgia após o nascimento da criança, seria um estado de quase fusão emocional da mãe com o bebê, no qual mãe e bebê seriam um só. Esta fase é importante para auxiliar o desenvolvimento do bebê para o crescimento e para maturação física e emocional.

Com fundamentos baseados nas teorias supracitadas do desenvolvimento infantil, o objetivo do presente artigo foi realizar uma revisão sobre os estudos que fizeram uso do método Bick de observação da relação mãe-bebê em pesquisas empíricas, além da utilização com adultos, tais como em mulheres grávidas em trabalho de parto. Pretende-se, assim, contribuir com a atualização do conhecimento sobre o tema e fazer uma discussão quanto às características específicas desse método em psicanálise.

 

MÉTODO

Trata-se de uma revisão teórica de estudos brasileiros, que analisou as adaptações implementadas ao método Bick de observação da relação mãe-bebê. Nesse sentido, foi realizada uma busca por artigos nas bases de dados Periódicos Eletrônicos em Psicologia (PePSIC), Scientific Electronic Library Online (SCIELO) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), no período de 2000 a 2015, com os seguintes descritores em português: método Bick, observação de bebês e relação mãe-bebê. Optou-se pela seleção somente de artigos, pois foi observado que esses manuscritos foram oriundos de teses, dissertações e monografias, logo com intuito de evitar a avaliação de trabalhos repetidos, decidiu-se excluir trabalhos de outra natureza que não fosse artigos científicos. Foram definidos como critérios de inclusão os artigos serem empíricos com pesquisas sobre adaptação do método Bick em português. Do mesmo modo, excluíram-se artigos teóricos de revisão narrativa, além de artigos com assuntos que não tivessem relação com a Psicanálise e a Psicologia em todos os portais de busca.

Estes artigos foram lidos e organizados em função de três categorias temáticas, sendo elas: método Bick na relação mãe-bebê, o método Bick em instituições de acolhimento e o método Bick em estudos com adultos. É importante destacar que tais ênfases foram escolhidas devido ter sido observado que os artigos de alguma forma discutiam sobre esses três temas. Na discussão do material selecionado foi enfatizado de como o método Bick foi utilizado e discutido na análise dos resultados dos referidos estudos.

 

RESULTADOS

Com relação ao aspecto quantitativo, no PePSIC somaram-se sete resultados, dos quais dois artigos sobre relação mãe-bebê. Entretanto, não utilizavam o método Bick e foram excluídos. Três estudos utilizaram o método Bick, porém tratava-se de dissertações e um artigo não empírico, apenas um artigo foi utilizado por estudar a relação mãe-bebê com o referido método. Na base SciELO obtiveram-se 10 estudos, dois não foram contabilizados porque apareceram repetidamente na base PePSIC, quatro também foram excluídos porque não tinham relação com o tema, dois eram dissertações e dois artigos foram incluídos por estarem em conformidade com o presente estudo. Na base LILACS o total de estudos coletados foram 17, dos quais 12 foram excluídos: dois por se repetirem no PePSIC, cinco eram estudos teóricos, dois não tinham relação com o método Bick e três tratavam-se de dissertações, portanto cinco artigos empíricos com uso do método Bick com adaptações.

As buscas nessas bases resultaram em oito artigos empíricos que utilizaram o método Bick. Estes estudos foram lidos integralmente para uma análise dos objetivos, resultados e conclusões. A partir de uma análise de relevância no uso do referido método, no final ficaram apenas seis artigos para discussão, como será detalhado a seguir.

AS ADAPTAÇÕES DO MÉTODO BICK DE OBSERVAÇÃO

O MÉTODO BICK NA RELAÇÃO MÃE-BEBÊ

Dois seis estudos analisados para a presente revisão, apenas dois focaram na relação mãe-bebê. Um deles foi o estudo realizado por Sampaio, Falbo, Feliciano, Camarotti, Rustin e Miller (2012), onde foi frisado que a prática da observação varia de acordo com a base teórica, o objetivo da pesquisa e de como se estabelece a relação pesquisador-pesquisado. O método Bick foi uma das formas empregadas por esses autores em um estudo etnográfico sobre amamentação, realizado entre julho de 2009 e agosto 2010 com profissionais de saúde da família e mãe-bebê. Os pesquisadores partiram dessa experiência para iniciarem um projeto sanduíche na Inglaterra, especificamente na clínica Tavistock, com o objetivo de aprofundar o estudo teóricoprático do método utilizado nesta clínica. Vale destacar que esses pesquisadores abordaram como principal contribuição dessa experiência, o fato de que este método não é somente um modelo a ser seguido, mas representa uma forma de estudar a singularidade humana e que conduz o pesquisador a desenvolver a capacidade de autoanálise.

Um dos maiores benefícios do método Bick de observação reside no fato de proporcionar o entendimento sobre como se processa o desenvolvimento emocional do bebê, permite acompanhar a constituição do seu campo perceptual e de que maneira este amadurece. Apesar de se configurar como uma ferramenta de aprendizagem, por permitir acompanhar os primórdios do desenvolvimento psíquico do bebê, além do estabelecimento da interação com a mãe; o método ainda se destacou quanto ao aprendizado na esfera clínica, ao treinar atitudes que são fundamentais na prática clínica, tais como função continente, holding, sensibilidade para comunicações infantis, auxilia o observador a expandir uma postura de receptividade, de espera, ou seja, contribui para a própria formação de psicoterapeutas e psicanalistas infantis (OliveiraMenegotto, Lopes & Caron, 2010).

Quanto às contribuições das observações com o método Bick para o trabalho clínico, Oliveira-Menegotto, Lopes e Caron (2010) relataram a experiência do emprego do referido método em uma relação mãe-bebê, cuja criança que nasceu com síndrome de Down. As autoras discutiram os aspectos clínicos e o caráter terapêutico da observação, por meio da presença de um observador empático com uma postura continente para que a mãe com seu bebê, nascido com a síndrome, pudessem desfrutar de um amparo psicológico após receber o diagnóstico. A informação da síndrome de Down causa reações particulares nos pais, pois é comum sentirem-se angustiados e incapazes, por isso eles precisam ser acolhidos. Nesse estudo, o método Bick de observação proporcionou o acolhimento em um ambiente sem críticas e preconceitos. A observadora, por meio de atitude sutil, manteve uma sintonia com a mãe, sendo fundamental para apoiá-la diante da dor do diagnóstico de um quadro difícil para uma criança.

Os estudos acima vão de encontro com o que Donelli e Lopes (2013) defendem, ao afirmar que o observador cultive a mente aberta e receptiva, preparada para situações singulares e questões pessoais que poderão ser expostas. A compreensão de Donelli e Lopes ressalta que, segundo a teoria introduzida por Bick (1964), o método auxiliaria no estudo da experiência infantil, incluindo a conduta não verbal e os jogos das crianças, situações que ajudariam na formação dos estudantes do desenvolvimento infantil, inclusive facilita o maior entendimento quanto às informações que as mães trazem sobre a história de seus filhos.

O terceiro estudo desta categoria trata-se de um recorte do método Bick de observação da relação mãe-bebê (ORMB) para contexto hospitalar (Freitas & Ângulo, 2006). Os objetivos concentraram-se em verificar como se dá a comunicação entre mães e bebês logo após o parto e em situação de amamentação, tendo por ambiente a maternidade, buscava-se entender se havia um padrão nessa comunicação. Foram duas díades observadas. Desde seu princípio, a relação extra-uterina de cada dupla apresentou uma qualidade única, identificando um jeito próprio de cada criança desenvolver uma comunicação com a mãe.

Porém, quanto à observadora, os sentimentos e sensações foram comuns nos dois relatos, o que pode se inferir que algumas experiências foram comuns às duas díades. Tais sentimentos foram divididos em desagradáveis e agradáveis. Os primeiros referem-se à dificuldade após tentativas frustradas da mãe encaixar o seio na boca do bebê e deste, pegá-lo; quanto ao que as autoras classificaram como agradáveis encontram-se o bem-estar e tranquilidade devido à sonolência experimentada pela observadora que foi considerada como algo do bebê, além da fascinação e encantamento nas situações de cumplicidade da mãe-observadora.

O método de observação direta de bebês estruturado por Bick (1964) estabelece um enquadre no qual o observador se coloca a evitar causar grandes perturbações no meio estudado, pelo fato da sua presença no contexto em que mãe e bebê se organizam após parto, porém esta mesma observadora se mantém no campo emocional da mãe, do bebê e da família. Por isso, os sentimentos advindos são tão importantes e valorizados neste método.

As autoras do referido artigo evidenciam os sentimentos das observações, seus medos quando algo, aparentemente, incomodava o bebê, o bem-estar relacionado à segurança que a observadora sentiu que a mãe fornecia ao filho, o qual saciado, adormecia. Situação que observadora se identificou com a mãe e houve um desejo projetivo ter um filho e sentir o próprio desejo da mãe e ser sugada pelo bebê.

Contudo, as autoras ressaltam que a relação extra-uterina de cada díade apresenta uma qualidade única, na qual cada criança possui seu próprio jeito de desenvolver uma comunicação com a mãe e vice-versa. Elas destacam a certeza do compromisso de honestidade de sentimentos da observadora para que não fique um mero trabalho descritivo, pois o que preconiza o método Bick as intensas vivências emocionais que o trabalho acarreta.

A prática da observação como objetivo de estudo do desenvolvimento psíquico infantil foi utilizada também por Winnicott (1979/1988), não com o intuito de munir as mães de explicações acerca da forma adequada de cuidar de seus bebês, mas como a ferramenta mais eficiente para desvendar os mistérios da formação primitiva do psiquismo e auxiliar no aperfeiçoamento do clínico quanto à qualidade da interação da díade.

Vale ressaltar que Winnicott (1987/2013) desenvolveu uma teoria na qual defendia que para o bebê existir emocionalmente, precisa de uma mãe que o faça existir, há um bebê em relação a sua mãe e não sozinho. O autor refere-se a um ambiente fundamental para o processo de maturação, que valoriza os cuidados maternos para a saúde mental do indivíduo. "Preocupação materna primária" é o termo utilizado por Winnicott (1987/2013) para descrever este estado da mãe em relação ao seu filho recém-nascido, no qual ela tem a capacidade de perceber e atender às necessidades infantis mais primitivas. Esta é uma condição materna considerada normal, presente em mulheres saudáveis, que surge naturalmente para dar suporte ao amadurecimento mental das crianças.

O MÉTODO BICK EM INSTITUIÇÕES DE ACOLHIMENTO

Observou-se que o método Bick foi utilizado em alguns contextos específicos, como no caso das instituições de acolhimento. Um dos trabalhos que utilizou tal método foi o de Golin, Benetti e Donelli (2011) em um espaço da modalidade abrigo no estado do Rio Grande do Sul, cujo objetivo foi apresentar uma adaptação do método Bick enquanto técnica de coleta de dados, que, segundo as autoras, propiciou a investigação sob três focos: "o ambiente cuidador", que significa a rotina, o dia a dia na instituição, o que inclui a disponibilidade do cuidador em atender às necessidades do bebê; "a interação entre a criança e o cuidador", que representa a reciprocidade no envolvimento cuidador-bebê e "impressões e impacto emocional da pesquisadora", que diz respeito aos sentimentos da pesquisadora e à presença de uma vivência emocional forte por parte dela no decorrer das observações.

Esse estudo foi realizado a partir da compreensão e análise de questões psicológicas advindas de três meninos com um ou dois anos de idade, que se encontravam no abrigo, além dos sentimentos dos cuidadores e a interação destes com as crianças. Ao se considerar o tempo disponível para realização da pesquisa, o método passou por uma adaptação quanto à quantidade de observações, pois a pesquisadora dedicou um mês para observar cada criança, mas respeitando o tempo originalmente proposto, que é de uma hora por semana. A pesquisa durou três meses e registrou cinco observações por criança, com um total de 15 relatos. Os princípios básicos recomendados por Bick (1964) das três fases: observação, transcrição e supervisão foram seguidos.

O estudo acima apontou que a instituição de acolhimento apresentava uma estrutura física adequada e que o local demonstrava uma preocupação com a rotina e com o espaço. Entretanto, no que se refere aos aspectos emocionais e afetivos, percebeu-se que as cuidadoras tinham dificuldades de lidarem com as demonstrações de carinho que a criança solicitava e também com as tarefas diárias e nos cuidados referentes às crianças.

Com o método Bick foi possível observar também que um dos momentos em que se tinha maior interação entre os pares eram nas situações de banho, mas devido o número de bebes ser bem superior ao de cuidadores, tal ação não ocorria por muito tempo. Logo, é importante destacar que para se ter um cuidado adequado oferecido a essas crianças é necessário que a quantidade de cuidador seja proporcional ao número de acolhidos que tem no local e que esses cuidadores possam ter acesso a treinamentos e cursos de capacitação, onde sua prática profissional seja aperfeiçoada e valorizada.

Em outra pesquisa realizada em espaço de acolhimento também, Nascimento e Pedroso (2013) investigaram o desenvolvimento emocional de um bebê abrigado, por meio de observação direta em um contexto de abrigo público com base no método Bick. A observação aconteceu durante os quatro primeiros meses de vida do bebê, com uma observação semanal. A duração da pesquisa representou uma adaptação ao método Bick, que estabelece observações para os dois primeiros anos do bebê, além do que o próprio contexto já evidencia demandas para análise, pois se trata de um local com ausência de figuras parentais, no qual os cuidados aos bebês ocorrem de forma institucional e padronizada.

As discussões enfatizavam sobre o tempo de permanência do bebê naquele ambiente, o ambiente observacional com muitas pessoas e que podia representar uma divergência quanto ao formato original do método. No entanto, a adaptação permitiu uma inovação para o método ao analisar a relação cuidador-bebê em uma instituição de acolhimento infantil, ou seja, um meio institucional que não se configura como um ambiente naturalístico nos moldes do método, conforme Bick (1964); quanto às fases de transcrição e de supervisão, foram seguidas em conformidade com o que descreve o método.

Os pesquisadores concluíram que o método Bick se mostrou eficaz no sentido de que foi capaz de acessar emoções desconhecidas e, também, revelou um bebê marcado pela carência afetiva ou por cuidados insuficientes quanto às suas necessidades psíquicas. Era um bebê que ansiava tanto por um contato físico, que passou a tomar sua mamadeira lentamente, e o que os cuidadores do abrigo atribuíam a um problema alimentar era, na verdade, a necessidade de permanecer no colo por mais tempo, de prolongar o contato com seu cuidador.

Em ambos os estudos realizados nos espaços de acolhimento, foi possível observar uma carência emocional por parte dos participantes, principalmente, em relação às crianças. Vale destacar que tais dados são preocupantes, pois geralmente essas crianças vêm de ambientes complexos e caóticos, então uma das funções desses cuidadores seria, de certa forma, substituir temporariamente esses pais ou responsáveis e oferecer um cuidado de qualidade. Foi observado também a eficácia da utilização do método Bick nesses contextos, já que apesar da adaptação do mesmo, todas as etapas foram cumpridas e também se compreendeu o desenvolvimento emocional dos participantes envolvidos.

O MÉTODO BICK EM ESTUDOS COM ADULTOS

Atualmente, o método Bick de observação ainda é utilizado na formação acadêmica de alunos e uma das adaptações encontradas na revisão foi estudos que utilizaram o método com adultos, como foi a pesquisa realizada por Scorsolini-Comin, Nedel e Santos (2014), cujo objetivo foi analisar o processo de formação de estagiários de Psicologia em observadores da relação mãe-bebê-família, utilizando o método Bick de observação. Os estagiários lançaram mão do diário de campo para fazer o registro de suas observações e os dados foram analisados sob uma perspectiva fenomenológica. O trabalho coletou 20 observações, ao longo de um ano, e os estagiários se detiveram em destacar os movimentos dessa atividade de observação como parte da formação profissional, além do impacto da vivência como observador e do acompanhamento da formação dos vínculos familiares.

Os autores concluíram que o uso do diário de campo como instrumento para a transcrição da observação foi positivo e auxiliou na discussão sobre os conhecimentos adquiridos pelo aluno no período de estágio, bem como maior compreensão do papel do estagiário, a superação de obstáculos que tendem a surgir durante a formação e que são consequências positivas desse processo. Os autores destacaram, dentre as três etapas do método, a transcrição como o alicerce da formação do observador, pois nesse estudo possibilitou a discussão acerca do conhecimento e do autoconhecimento dos estagiários, o que enriqueceu a formação profissional dos mesmos.

Na revisão dos artigos, foi encontrado um segundo artigo que utilizou o método Bick com adultos, no qual se objetivou conhecer a vivência emocional da mulher no parto. A coleta foi realizada em um Centro Obstétrico de um hospital público da região sul do Brasil (Donelli & Lopes, 2013). As participantes deste estudo foram as 112 pacientes internadas, além ser também incluída a equipe de profissionais, composta por médicos, enfermeiros, pessoal de apoio hospitalar, técnicos em enfermagem, por fim os estagiários de diversas áreas. A justificativa para a entrada desses profissionais na pesquisa deu-se a partir do entendimento de que os partos realizados estavam em constante relação com essas equipes e isso poderia ser contemplado na observação, ou seja, captar a atmosfera emocional oriunda dessas relações.

A pesquisa acima ocorreu em um período de 19 meses, com observações semanais, sempre no mesmo dia e horário, com aproximadamente duas horas de duração. O relato foi feito após cada observação, no qual as autoras destacaram a preocupação em demonstrar o tom emocional presente no contexto. Os relatos foram expostos e analisados em supervisão de grupo, uma vez por semana, sob a coordenação de uma analista experiente. Totalizaram 81 relatos de observação. Ao final de cada reunião foi produzido um relato da sessão de supervisão, o qual foi lido e revisto antes da leitura do relato de observação seguinte.

As autoras organizaram os resultados em três eixos: 1 -"O Método Bick aplicado à instituição hospitalar: a instituição como um envelope que contém e protege ou como um obstáculo ao contato?". Neste eixo, a observadora relatou um forte impacto emocional vivido no ambiente hospitalar considerado como um desafio a ser alcançado; 2- "Um mundo à parte: a experiência de dar à luz no contexto hospitalar", em que aconteceu o contato com a rotina do centro obstétrico, um ambiente com suas peculiaridades tão marcantes que foi denominado pela observadora como um mundo à parte pela forma como lida com o corpo e a alma das pacientes e também pela questão de urgência do setor. E 3-"A experiência feminina do parto: a busca por um novo nascimento", onde aparece o momento em que a observadora consegue se aproximar da vivência emocional das mulheres.

A análise dos três eixos demonstrou como a observadora conseguiu uma aproximação progressiva com as mulheres parturientes, auxiliada pelo uso do método Bick, a partir de um descortinamento de tais participantes, que foi assumido pela aplicação do método e a forma como a observadora entrou em contato com as emoções primitivas das pacientes e dela própria. Sobretudo, a experiência traumática do parto propicia uma quebra de continuidade devido à saída do bebê, evidenciando a fragilidade da mãe e sua regressão, na qual a mesma revive experiências de seu próprio nascimento por meio do seu filho, vivido nessa aproximação emocional da díade.

O terceiro trabalho que utilizou o método Bick em pesquisa trata-se de um desenvolvido no acompanhamento da unidade de terapia intensiva (UTI) de um hospital no Rio Grande do Sul pela psiquiatra e psicanalista Ângela Wirth (2007). Tal autora deu um enfoque de tríade para o método Bick formada por bebê, pais e equipe profissional do hospital, para refletir sobre as diferentes formas de perceber a situação que pode trazer uma nova visão para todos, facilitando o entendimento das relações.

Os princípios básicos desse estudo são abstrair-se de criticar ou de tentar encaixar os fenômenos observados em alguma teoria, premissa máxima do trabalho de Bick (1964) na qual orienta que no momento da observação apenas se deixar envolver pelo ambiente com todas as características do mesmo, sem teorizar. O diferencial desse estudo está na reflexão daqueles que cuidam dos que cuidam, ou sejam, dos profissionais que circulam pela UTI.

O trabalho deu um destaque especial para os prematuros. Pelo fato de permanecerem mais tempo no hospital, havia o suporte de cuidados com a vida, entretanto o que havia de mais complexo era o fato de bebês com essas características tentarem restabelecer o vínculo entre mãe e bebê e um elo dos pais com a equipe.

As equipes realizavam reuniões clínicas semanais na qual havia um facilitador, os assuntos versavam sobre as reações dos pais e como a equipe deveria atuar diante de questões graves em UTI, em especial por se tratar de bebês, como malformação, agravamento de quadro clínica e até morte. Estes encontros recebiam um suporte de algum material teórico clínico para a discussão dos casos. Após um ano do início desse trabalho, foi organizado um grupo de pais-bebês prematuros, além de pais de bebês egressos da unidade acompanhados de uma enfermeira da unidade.

A autora conclui ressaltando que tencionava descrever o impacto, sobre a equipe, da presença dos bebês e seus pais, sensibilizando-os para os diversos problemas surgidos, tanto de relacionamento, quanto ao estresse pela iminência da morte de recémnascidos. Outros fatores estressantes para a equipe profissional relacionam questões sociais, econômicas e decorrente da instituição como sobrecarga de trabalho. Esta experiência foi, realmente, muito diferente do que viu em outros trabalhos com o método Bick. Entretanto, demonstrou ser uma forma efetiva de cuidar de quem cuida, proporcionando um espaço para aspectos emocionais. Houve aumento do interesse da equipe em conhecer sobre o problema do outro. Para a autor foi gratificante também pelo fato de identificarem a presença de uma psicanalista na UTI.

Apesar dos três estudos que utilizaram o método Bick com adultos terem apresentados objetivos e ambientes diferentes, ambos sinalizaram que tal adaptação é possível e cabível, pois pode ser observado a riqueza e a qualidade dos resultados apresentados ao descrever o desenvolvimento emocional dos sujeitos. Entretanto, é importante destacar que para se obter tal êxito é necessário que o pesquisador domine bem o método e se deixe envolver pelos sentimentos mobilizados durante a pesquisa, seja qual for o contexto.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao identificar como as adaptações foram elaboradas para o método Bick, concluímos que esta forma de fazer observação enriquece as pesquisas qualitativas, ao considerar a dimensão subjetiva dada na relação entre sujeito e objeto. Os estudos que fundamentaram o presente artigo evidenciaram a importância do relacionamento da díade mãe-bebê e das práticas maternais de cuidado, bem como a relevância da manifestação de material inconsciente do observador, a saber, suas angústias e ansiedades advindas do ato de observar, trabalhadas em supervisão. Observou-se, por intermédio dos resultados desses estudos, que há um crescente interesse quanto ao método psicanalítico idealizado por Bick (1964) em pesquisas brasileiras, não apenas com bebês, mas com adultos. Entretanto, ainda há carência de trabalhos empíricos disponíveis em periódicos sobre essa temática.

O trabalho de observação direta é instigante e revelador, o qual pode levar a grandes desafios e sofrimento para os observadores, devido ser uma prática que conduz o pesquisador a se deparar com seus sentimentos, por meio do acompanhamento das experiências dos sujeitos observados.

O método Bick de observação pode levar ao desenvolvimento de habilidades no observador, tais como a empatia, a continência, a reflexão, a tolerância, os quais podem ser traduzidos como um aperfeiçoamento para escuta clínica. Presume-se que os profissionais que utilizam o método Bick possam desenvolver características profissionais, de modo a compreender seus observados, mesmo sem o emprego da palavra, com o uso da atenção flutuante, por exemplo, e assim tornarem-se mais qualificados para atender seus pacientes. Independentemente do ambiente, que funciona como cenário das observações sugere-se que as instituições invistam em aperfeiçoamento de suas equipes, no sentido de capacitar o atendimento de seus profissionais, que se ocupam do cuidado das crianças, adultos ou adolescentes.

Todos os estudos utilizados neste trabalho obedeceram às três fases originalmente prescritas pelo método: observação, transcrição e supervisão. As mudanças observadas na transcrição, como no caso do trabalho de Scorsolini-Comin, Nedel e Santos (2014), em que os observadores fizeram uso de diário de campo para anotar seus relatos, não trouxeram prejuízos aos resultados, visto que Bick (1964) recomenda não fazer anotações durante a observação. Os objetivos foram alcançados ao possibilitarem definir as peculiaridades do comportamento do observador, em que é importante, além da presença deste em campo, como também a prática do relato do que foi observado e o que as suas impressões da cena representam para análise clínica. Bick (1964) afirmava que se as respostas esperadas nas transcrições fossem recorrentes, a análise de supervisão iria evidenciar fatos que geram o autoconhecimento do próprio observador, tal qual aconteceu com os estagiários da pesquisa supracitada.

Deduziu-se, a partir das pesquisas coletadas, que o método pode ser empregado em ambientes diversos, sem prejuízos para os resultados. Por ainda ser pouco conhecido no Brasil, são necessários mais estudos com o objetivo de uso desse método em outros contextos, de modo que as etapas definidas por Bick (1964) alcancem maior prestígio enquanto pesquisa. Este artigo ressalta que as adaptações a um método com base psicanalítica pode significar o crescente interesse de pesquisadores de Psicologia e áreas afins em trabalhar com desenvolvimento humano levando-se em consideração o contexto social no qual os participantes de pesquisas estão inseridos. Não só preocupação com o clínico, mas produzir estudos que destaquem as situações de vulnerabilidade social. Sugere-se que os próximos trabalhos aprofundem essa questão.

Por fim, as contribuições dos estudos, aqui discutidos, poderão ser revertidas para a sociedade, no sentido de ampliar para outros contextos que atendam crianças, ressaltando-se a importância de um desenvolvimento emocional seguro nos primeiros anos de vida, a fim de que se tenham mais expectativas de uma vida adulta saudável. Se as equipes técnicas de diversos contextos (hospitais, abrigos, clínicas, etc.) adotarem um olhar mais sensível para o desenvolvimento infantil, com maior compreensão das experiências e necessidades da infância, irão incentivar maior contato e troca afetiva entre as mães, ou quem exerça esse papel, e seus bebês.

 

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Endereço para correspondência
Antonia Cláudia Soares Leão dos Santos
E-mail: claudialeao05@gmail.com

Recebido: 28/06/2016
1ª revisão: 02/08/2016
Aceite: 05/10/2016

 

 

1 Antonia Cláudia Soares Leão dos Santos é mestranda em Psicologia pela Universidade Federal do Pará.
2 Janari da Silva Pedroso é docente do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal do Pará.

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