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Mental

versão impressa ISSN 1679-4427versão On-line ISSN 1984-980X

Mental vol.13 no.24 Barbacena jul./dez. 2021

 

ARTIGOS

 

Saúde mental de médicos e enfermeiros em tempos de pandemia de COVID-19: uma revisão integrativa

 

Mental health of health professionals in times of COVID-19 pandemic: an integrative review

 

Salud mental de los profesionales de salud mental en tiempos de la pandemia por COVID-19: una revisión integradora

 

 

Layza Castelo Branco MendesI; Mayara Rocha CoelhoII; Marina Machado Alves DiasII; Milena Pinheiro DuarteII; Marina Bianka dos Santos SouzaII; Ana Lívia da Silva CavalcanteII; Jânder Magalhães TôrresIII; Andrea CapraraIV; Alessandra Silva XavierV

IProfessora adjunta do curso de Psicologia do Centro de Ciências Humanas da Universidade Estadual do Ceará (CCH/UECE)
IIGraduada em Psicologia pela Universidade Estadual do Ceará - UECE
IIIDoutorando em Saúde Coletiva - UECE
IVProfessora Associada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Estadual do Ceará - UECE
VProfessora Assistente da Universidade Estadual do Ceará, Curso de Psicologia - UECE

 

 


RESUMO

A crise na saúde mundial ocasionada pela pandemia do SARS-COV-2, a COVID 19, fez necessárias medidas emergenciais de isolamento social para amenizar o colapso nos hospitais e a transmissão exponencial do vírus mas, no Brasil, tais medidas não foram suficientes para evitar a sobrecarga de trabalho dos profissionais da saúde que atuam na linha de frente. Desse modo, este artigo tem como objetivo debater e refletir sobre a saúde mental dos profissionais de saúde em tempos de pandemia da COVID-19. Para a consecução deste artigo, realizou-se um estudo exploratório de natureza qualitativa por meio de levantamento bibliográfico nas bases de dados Biblioteca Virtual em Saúde - Psicologia (BVS-Psi) e Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Foram utilizados os descritores Saúde Mental AND Enfermeiros AND Covid-19 e os descritores Saúde Mental AND Médicos AND Covid-19. Então, foram selecionados 16 artigos para a composição de uma revisão integrativa e, posteriormente, foi realizada uma categorização das temáticas: 1) fatores de risco relacionados à saúde mental em tempos de pandemia e 2) estratégias de enfrentamento. Assim, observaram-se as implicações das intensas demandas de trabalho, das vivências em situações desencadeadoras de culpa, medo e raiva na saúde mental dos profissionais de saúde, bem como a urgente necessidade da facilitação dos cuidados desses profissionais por meio do fortalecimento das estratégias de enfrentamento. Compreenderam-se como limitações da pesquisa a ausência de artigos que visassem a situação dos técnicos de enfermagem no contexto da pandemia, bem como estudos que abrangessem a realidade de outras regiões do país. Portanto, considera-se a necessidade de que novos estudos sejam desenvolvidos para apreender esses aspectos e possibilitar uma compreensão mais completa.

Palavras-chave: COVID-19; Saúde mental; Médicos; Enfermeiros


ABSTRACT

The global health crisis caused by the SARS-COV-2 pandemic, COVID 19, made necessary emergency measures of social isolation to alleviate the collapse in hospitals and the exponential transmission of the virus but, in Brazil, such measures were not enough to avoid the work overload of health professionals who work on the front lines. Thus, this article aims to debate and reflect on the mental health of health professionals in times of the COVID-19 pandemic. In order to carry out this article, an exploratory study of a qualitative nature was carried out through a bibliographic survey in the Virtual Health Library - Psychology (BVS-Psi) and Journals of the Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) databases. The descriptors Mental Health AND Nurses AND Covid-19 and the descriptors Mental Health AND Physicians AND Covid-19 were used. So, 16 articles were selected for the composition of an integrative review and later a categorization of the themes was carried out: 1) risk factors related to mental health in times of pandemic and 2) coping strategies. Thus, the implications of intense work demands, experiences in situations that trigger guilt, fear and anger in the mental health of health professionals were observed, as well as the urgent need to facilitate the care of these professionals through the strengthening of health care strategies. coping. It was also understood, as some limitations, the absence of articles that addressed the situation of nursing technicians in the context of the pandemic, as well as studies that covered the reality of other regions of the country. Therefore, we consider the need for further studies to be developed to apprehend these aspects and enable a more complete understanding.

Keywords: COVID-19; Mental health; Physicians; Nurses


RESUMEN

La crisis de salud global provocada por la pandemia SARS-COV-2, COVID 19, requirió medidas de emergencia de aislamiento social para ablandar el colapso en los hospitales y la transmisión exponencial del virus pero, en Brasil, tales medidas no fueron suficientes para evitar el trabajo y la sobrecarga de profesionales de la salud que trabajan en primera línea. Así, este artículo tiene como objetivo debatir y reflexionar sobre la salud mental de los profesionales de la salud en tiempos de la pandemia COVID-19. Para la realización de este artículo se realizó un estudio exploratorio de carácter cualitativo mediante levantamiento bibliográfico en las bases de datos Biblioteca Virtual en Salud - Psicología (BVS-Psi) y Revistas de la Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).Se utilizaron los descriptores Salud mental Y Enfermeras Y Covid-19 y los descriptores Salud mental Y Médicos Y Covid-19. Así, se seleccionaron 16 artículos para la composición de una revisión integradora y posteriormente se realizó una categorización de los temas: 1) factores de riesgo relacionados con la salud mental en tiempos de pandemia y 2) estrategias de afrontamiento. Así, se observaron las implicaciones de las demandas laborales intensas, vivencias en situaciones que desencadenan la culpa, el miedo y la ira en la salud mental de los profesionales de la salud, así como la urgente necesidad de facilitar la atención de estos profesionales a través del fortalecimiento de las estrategias asistenciales. albardilla. También se entendió, como limitaciones de la investigación, la ausencia de artículos que abordaron la situación de los técnicos de enfermería en el contexto de la pandemia, así como estudios que cubrieran la realidad de otras regiones del país. Por tanto, consideramos la necesidad de desarrollar más estudios para aprehender estos aspectos y permitir una comprensión más completa.

Palabras-clave: COVID-19; Salud Mental; Médicos; Enfermeros


 

 

INTRODUÇÃO

Descrita inicialmente como uma nova síndrome respiratória aguda e com potencial altamente infeccioso provocada pelo coronavírus (SARS-CoV-2), a COVID-19 foi identificada no final do ano de 2019, na província de Wuhan, China, sendo rapidamente disseminada em várias partes do mundo e declarada uma pandemia em março de 2020 (WHO, 2020). Desde então, a propagação da doença transformou a forma de viver e se relacionar em todo o planeta, com registros epidemiológicos que impressionam. Devido à alta infectividade, em poucos meses após a descoberta do vírus o número de casos confirmados da doença no mundo atingiu, até o dia 05 de julho de 2021, quase 183.895.035 de casos, totalizando 3.97 9.238 de óbitos e, no Brasil, o número de casos confirmados é da ordem de 18.796.808, sendo contabilizados 524.417 óbitos (JOHNS HOPKINS UNIVERSITY, 2021).

Após a confirmação oficial do primeiro caso de COVID-19 no Brasil, em 26 de fevereiro, estratégias vêm sendo desenvolvidas para conter o avanço da doença no país. Sabe-se que a transmissão comunitária do SARS-CoV-2 no Brasil foi reconhecida pelo Ministério da Saúde primeiramente nos municípios de São Paulo e Rio de Janeiro e, posteriormente, em todo o território nacional, a partir de 20 de março de 2020 (BRASIL, 2021). Algumas medidas foram lançadas na tentativa de um controle na transmissão do vírus, como os decretos que discorreram sobre o isolamento social. Contudo, dada a fragilidade de um planejamento nacional, as intensas desigualdades sociais no contexto brasileiro e o descumprimento do distanciamento social, as perspectivas de redução das taxas de transmissão não eram favoráveis (CRISPIM et al., 2021).

Em janeiro de 2021 foi iniciada uma campanha de imunização da população brasileira com a vacina fruto da parceria Sinotec/Instituto Butantan, através do Governo do Estado de São Paulo, imediatamente após aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Posteriormente, o Ministério da Saúde do Brasil, que havia projetado o início apenas para março, também começou a imunizar a população. Contudo, é notório que a ausência de um planejamento e uma coordenação das ações em nível nacional prejudicou este processo. Destaca-se que num período de menos de um ano, o Brasil teve quatro diferentes ministros da saúde, dentre os quais nenhum com experiência em medicina sanitária ou epidemiologia. Até o início de abril de 2021 o número de doses disponíveis ainda era insuficiente para atender a população brasileira e conter de forma efetiva a pandemia.

Diante da ausência de um tratamento antiviral explicitamente recomendado para a COVID-19, compreende-se que a aplicação de medidas preventivas para controlar a infecção pela doença ainda é considerada a intervenção mais efetiva (BHAGAVATHULA, 2020). Ao considerar este cenário, percebe-se como a pandemia de COVID-19 tem gerado grandes consequências no mundo, que vão desde os impactos nos sistemas de saúde até as implicações psicológicas, sociais e econômicas (TRITANY; SOUZA; MENDONÇA, 2020).

Nesse sentido, discussões sobre como promover cuidados relativos à saúde mental e sobre como atender às necessidades de saúde da população são de grande valia, sobretudo para idosos com predomínio de condições crônicas e complexo perfil de multimorbidade - grupo mais vulnerável a quadros graves da Síndrome Respiratória Aguda Grave provocada pela COVID-19 (ZHOU, 2020). Em uma pesquisa realizada com a população chinesa, evidenciou-se que sintomas relacionados à ansiedade, estresse e depressão se elevaram bastante. Ainda neste estudo foi observado que os impactos psicológicos nos profissionais de saúde - em especial de trabalhadores que atuavam diretamente no tratamento de pacientes com COVID-19 -, foram ainda mais intensos que na população geral (DANTAS, 2021).

Com o quadro de pandemia, profissionais de saúde são afetados de diversas formas. Santos et al. (2021) apontaram para a extenuante carga horária de trabalho, para a escassez de equipamentos de proteção individual (EPI), bem como para os desafios da necessidade de tomada de decisões em situações em que não havia equipamentos hospitalares para atender a todos que precisavam. Neste contexto, foram identificadas estratégias de prolongamento das jornadas de trabalho, burlando a legislação trabalhista, ou de subcontratação de grupos em condições diferenciadas de acesso a direitos e benefícios. Ademais, outras dimensões coexistiam como um recorrente estado de tensão no ambiente de trabalho, tais como relações hierarquizadas, estímulo de concorrência entre os próprios profissionais e um ideal de trabalho inatingível.

Destaca-se que esses problemas no Brasil já existiam entre os trabalhadores da saúde mesmo antes da pandemia (CHINELLI; VIEIRA e SCHERER, 2019; MENDES et al. 2016; MELO, CAVALCANTE e FAÇANHA, 2019; DAMASCENO e VALE, 2020; AFFONSO e BERNARDO, 2015). Diante desse cenário, que perdura há anos, no ano de 2006 o Governo Federal lançara uma cartilha com o título "Desprecariza SUS", objetivando debater e propor estratégias que viabilizassem a desprecarização do trabalho dos servidores da saúde pública, visto que as condições precárias de trabalho eram (e ainda são) consideradas um obstáculo para o desenvolvimento de um sistema de saúde em que a prestação de serviços contribui para a efetivação dos princípios do SUS: integralidade, universalidade e equidade (BRASIL, 2006).

O cenário pandêmico, por certo, agravou tais situações, afetando a saúde mental dos profissionais de saúde por meio de alguns fatores de risco como exaustão física, exposição direta ao vírus, medo de morrer, escassez de equipamento médico para atendimento de pacientes graves e acesso limitado de serviços de saúde mental (AVANIAN, 2020). Segundo um trabalho feito em Wuhan, cidade em que começou a transmissão do SARS- CoV-2, muitos médicos conviveram e ainda convivem com fatores que podem agravar seu estado de saúde mental, como: risco diário às infecções, medo de contaminar a família, frustração, luto, estresse, ansiedade. Todos esses fatores acarretam sintomas depressivos, síndrome de Burnout e associação do trabalho com emoções negativas (KANG et al., 2020).

Além disso, muitos médicos relataram nesse grupo não gostar do bombardeamento de notícias sobre o coronavírus quando estavam no trabalho. Narraram também o grande desconforto de usar equipamentos de proteção (EPIs) por longas horas de jornada de trabalho. Ao reconhecer os fatores capazes de impactar a saúde mental dos profissionais de saúde durante a pandemia, deve-se pensar que quanto mais prolongada forem as condições desfavoráveis, mais demandas referentes a adoecimentos mentais - como a síndrome de Burnout - podem surgir.

Portanto, pretende-se com este trabalho discutir o que se tem produzido acerca das condições de saúde mental dos profissionais que atuaram na linha de frente durante a pandemia do COVID-19. A partir de revisão de artigos científicos, busca-se levantar discussões, reflexões e pensar estratégias de enfrentamento a partir da contextualização e problematização da temática.

 

2 MÉTODOS

A presente pesquisa constitui-se como um estudo exploratório de natureza qualitativa, que pretende investigar o que já foi produzido sobre os profissionais da saúde, médicos(as), enfermeiros(as) e auxiliares de enfermagem, que atuam e/ou atuaram na pandemia de COVID-19 em contexto mundial. Para tanto, foi utilizado o método de revisão integrativa, que permite incluir literatura teórica e empírica na reunião de materiais de estudo já existentes para a compreensão mais abrangente dos fenômenos investigados, gerando novos conhecimentos sobre o tema escolhido (BROOME, 2006). O processo metodológico foi pautado nas seguintes etapas: delimitação do tema a ser pesquisado; definição das bases de dados para a busca; seleção dos descritores; estabelecimento dos critérios para seleção e exclusão da amostra pelo resumo dos artigos; elaboração de tabela com dados dos artigos selecionados e, por fim; a síntese e a interpretação dos dados a respeito da saúde mental dos profissionais da saúde na linha de frente da pandemia.

Dessa forma, o levantamento bibliográfico foi dividido em três momentos, realizados durante os meses de outubro a dezembro de 2020. Para tal, foram selecionadas as bases de dados Biblioteca Virtual em Saúde (BVS-Saúde), que contém sete coleções com mais de sessenta bases de dados, e Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), plataformas escolhidas pelo seu alcance internacional e por contemplarem a temática da saúde em pesquisas científicas. No primeiro momento, foram utilizados os descritores Saúde Mental AND Auxiliares de enfermagem AND COVID-19, porém não foram encontrados resultados que focassem na atuação de auxiliares de enfermagem.

Posteriormente, usaram-se os descritores Saúde Mental AND Enfermeiros AND COVID-19, sendo encontrados 16 resultados. Após a aplicação dos critérios de inclusão, exclusão e leitura dos materiais na íntegra, foram selecionados 8 artigos para o estudo. Os critérios de inclusão e exclusão escolhidos foram: seriam incluídos artigos disponíveis na íntegra e de acesso livre, bem como artigos publicados em português, inglês, francês ou espanhol. Quanto à exclusão, foram a adotados os seguintes critérios: artigos que não estivessem diretamente relacionados com a saúde mental de profissionais da saúde durante a pandemia de COVID-19, que tratassem de outros profissionais da saúde que não os propostos no presente artigo, que não correspondessem à definição de artigo, que tinham resultados duplicados e que fossem de acesso restrito.

Em seguida, cruzaram-se os descritores Saúde Mental AND Médicos AND COVID-19, tendo retornado 50 resultados. Após utilizar os mesmos critérios de inclusão e exclusão da fase anterior, foram selecionados mais 11 artigos para a amostra, dos quais 03 eram pesquisas que também foram encontradas e apresentadas na Tabela 1. Com isso, no total foram escolhidos 16 artigos para a composição da revisão integrativa. Para interpretar os resultados, realizou-se a análise dos conteúdos por meio das orientações de Bardin (2004), seguindo três etapas: pré-análise, exploração de material e tratamento dos resultados. Assim, após a seleção dos artigos a serem explorados, elaborou-se uma leitura flutuante do material em busca das categorias temáticas. Em seguida, passou-se para o tratamento dos resultados obtidos e suas respectivas interpretações. Com isso, as seguintes categorias emergiram: fatores de risco relacionados à saúde mental em tempos de pandemia e estratégias de enfrentamento. Foi realizado um perfil sobre os dados da produção científica, tomando por referência os indicadores de ano de publicação, abordagem metodológica da pesquisa, local de realização e idioma de publicação. Além disso, para uma melhor análise da amostra recuperada, foram elaboradas duas tabelas, para exemplificar e facilitar a visualização da amostra.

 

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Caracterização e análise qualitativa das produções científicas

Os títulos, autores e países dos 16 artigos escolhidos estão listados na Tabela 1 e Tabela 2. Todos os artigos foram publicados no ano de 2020, ano em que contaminações pelo coronavírus foram registradas em todo o planeta, configurando a situação pandêmica. Em relação ao idioma, cinco foram publicados em português e 14 em inglês. Dos 16 estudos, cinco foram realizados no Brasil - sendo estes originários dos estados do Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e do Distrito Federal; três nos Estados Unidos, dois na China, um na Croácia, dois no Reino Unido, um na Itália, um na Alemanha e um no Paquistão. Sobre o método, 11 utilizaram abordagem qualitativa, quatro empregaram o método quantitativo e um operou a partir de uma abordagem quanli-quantitativa.

Os 16 artigos foram divididos em categorias podendo, inclusive, o mesmo artigo estar presente em mais de uma categoria por abranger assuntos de várias. Essa organização foi adotada com o objetivo de melhor transmitir os conteúdos no presente artigo. Desta forma, foram encontradas as seguintes categorias: 1) Fatores de risco relacionados à saúde mental em tempos de pandemia e 2) Estratégias de enfrentamento.

3.1.1 Fatores de risco relacionados à saúde mental em tempos de pandemia

Vislumbraram-se, no decorrer deste artigo, as implicações do cenário da pandemia quanto à saúde mental dos profissionais de Medicina e Enfermagem. Intentou-se verificar também a saúde mental dos(as) técnicos(as) e auxiliares de enfermagem, porém, nada foi encontrado nas buscas, o que denuncia um esquecimento desses profissionais, tão significativos na produção de cuidado à saúde mental. Urge deslindar com maior afinco as nuances relacionadas ao comprometimento da saúde mental que podem desencadear um adoecimento psíquico nos profissionais que estão atuando na linha de frente dos cuidados com a COVID-19. Sabe-se que, para estes profissionais, a conjuntura de calamidade pública - tanto de ordem sanitária quanto econômica - com a qual precisam lidar pessoalmente, é somada com as exigências que emergem de suas atribuições profissionais, além de suas demandas pessoais.

O enfrentamento aos riscos iminentes à vida das pessoas devido à COVID-19 é fundamental e ações efetivas são necessárias. Contudo, deve-se também haver preocupações com a saúde mental de quem trabalha nesse enfrentamento. Estudos demonstraram que a saúde mental tende a ser negligenciada ou subestimada, uma vez que o foco dos gestores e profissionais da saúde está direcionado ao combate do agente patogênico (SCHMIDT et al., 2020; MOREIRA; SOUSA; NOBREGA, 2020).

Os surtos epidêmicos são decorrentes de doenças que evoluem de forma rápida e não esperada e que desencadeiam uma emergência pública, ocasionando a elevação do número de óbitos, a sobrecarga do sistema de saúde e prejuízos sociais, econômicos e financeiros em local e tempo específicos (GOMES, 2018). Os estudos revelaram que os adoecimentos psíquicos se tornaram presentes e intensos nesses contextos, principalmente ao se pesquisar profissionais de saúde. Hall, Hall e Chapman (2008) relataram que as equipes profissionais em situações epidêmicas, por vezes não assimilavam seus sentimentos nos primeiros momentos de surto, contudo, o sofrimento psíquico se agravava conforme a crise se tornava rotineira.

A pesquisa desenvolvida por Schmidt et al. (2020) corrobora essa concepção ao destacar a identificação de casos de depressão, ansiedade e estresse na população, mas em particular nos profissionais de saúde. Esses mesmos autores nessa pesquisa também apresentaram que, em países como Coreia do Sul e Índia já foram reportados casos de suicídio relacionados ao agravamento do adoecimento psíquico em decorrência da COVID-19 (SCHMIDT et al., 2020). Os achados da presente pesquisa apontaram, por sua vez, a existência do que Sá et al. (2010) descrevem como fatores de risco, sendo eles "[...] uma característica, experiência ou evento que aumenta a probabilidade da ocorrência de um dado desfecho quando comparado à mesma população não exposta" (SÁ et al., 2010, p. 643).

Neste sentido, considerando os fatores de risco no contexto da atual pandemia no que concerne aos profissionais da saúde, faz-se necessário refletir, inicialmente, sobre as demandas do campo de trabalho. É patente que o trabalho é parte central da vida do indivíduo, uma vez que é mediante o trabalho que o homem transforma o mundo e a si próprio, subjetivando-se no processo. Ocorre, contudo, de este espaço ser promotor de adoecimento psíquico (PEGO e PEGO, 2016). Conforme a literatura aponta, o estresse decorrente da atividade laboral pode ocasionar uma síndrome conhecida como Burnout, que envolve "[...] exaustão emocional, despersonalização e reduzida realização profissional" (Ibidem, p. 172). Ressalta-se que profissionais da Medicina e Enfermagem exercem atividades que apresentam altos índices de Síndrome de Burnout. Em um estudo realizado na cidade de Salvador com médicos intensivistas, demonstraram-se que 63,6% apresentaram a referida síndrome (TIRONI et al., 2009). Outra pesquisa realizada no Sul do Brasil com profissionais da enfermagem encontrou 35,7% de prevalência (MOREIRA et al., 2009).

Entende-se, portanto, que antes da pandemia as configurações de trabalho desses profissionais já possuíam características potencialmente estressoras. Dada a evolução do quadro pandêmico, as demandas elevaram ainda mais e os recursos necessários para lidar com as necessidades emergentes tornaram-se escassos. Salopek-Žiha et al. (2020) encontraram que, no decorrer da pandemia, 17% dos médicos e enfermeiros pesquisados apresentaram um quadro de ansiedade de moderado a grave, 11% estavam deprimidos e 10% estressados. Amin et al. (2020), por sua vez, encontraram uma prevalência de 43% de ansiedade e depressão entre médicos da linha de frente no Paquistão. Moreira, Sousa e Nóbrega (2020) relataram dois estudos importantes sobre a temática, os primeiros deles foram realizados com:

[...] 1.257 médicos e enfermeiros, atuantes e não atuantes na linha de frente, revelou uma proporção considerável de sintomas de depressão (50,4%), ansiedade (44,6%), insônia (34,0%) e angústia (71,5%). Outro estudo, com 230 médicos e enfermeiros, evidenciou uma incidência de ansiedade de 23,04%, classificada entre severa (2,17%) e moderada (4,78%) (MOREIRA, SOUSA e NOBREGA, 2020, p. 12).

Ao discorrer sobre a prevalência de Transtornos Mentais Comuns (TMC) na pandemia por COVID-19, Cruz et al. (2020) expõe o aumento de sintomas como "[...] fadiga e agressividade, estresses agudos, episódios de pânico, a manifestação de preditores de estresse pós-traumático (TEPT), depressão e ansiedade" (CRUZ et al., 2020, p. 1). Os achados do presente estudo, portanto, mostram o reconhecimento da sobrecarga e da exaustão física e emocional dos profissionais. (AMIN et al., 2020; SALOPEK-ŽIHA et al., 2020; WALTON, MURRAY, CHRISTIAN, 2020; JONES et al., 2020).

Outro fator de risco a ser considerado é a exposição a situações que desencadeiam emoções como medo, culpa e raiva de forma intensa e frequente. Ornell et al. (2020), em um estudo realizado durante o surto epidêmico de Ebola, discorreram sobre como os comportamentos interligados ao medo crônico provocaram um impacto no quadro epidemiológico individual e coletivo, ocasionando o aumento de sintomas psiquiátricos e afirmaram que "tragédias anteriores mostraram que as implicações para a saúde mental podem durar mais tempo e ter maior prevalência que a própria epidemia e que os impactos psicossociais e econômicos podem ser incalculáveis [...]" (ORNELL et al., 2020, p. 2).

Os diversos artigos encontrados corroboram a prevalência do medo intenso e constante na pandemia de COVID-19. O medo de ser contaminado e de contaminar pessoas próximas aparece como central nos achados. A demanda elevada por Equipamentos de Proteção Individual (EPI) tornou necessário um reabastecimento desses produtos de forma acelerada, suscitando o medo nos profissionais de Medicina e Enfermagem de ficarem desprotegidos no ambiente hospitalar (WALTON, MURRAY e CHRISTIAN, 2020; AMIN et al., 2020, BÜNTZELL et al., 2020). A pesquisa realizada por Moreira e Lucca (2020) também evidencia essa realidade ao apontar que "uma sondagem com profissionais da enfermagem evidenciou que cerca de 80% dos trabalhadores entrevistados tinham medo de atuar na pandemia da COVID-19, principalmente pelo receio de contaminar os familiares e por não ter condições seguras para trabalhar" (MOREIRA e LUCCA, 2020, p. 156).

Barbosa et al. (2020) acrescentam que, além do medo, foi apresentado que os profissionais de saúde afirmaram sentir raiva do governo, fazendo referência à administração da crise e aos sistemas de saúde, considerando a ausência de recursos materiais importantes para a efetivação do trabalho. Walton, Murray e Christian (2020) abordaram tanto a existência de tais sentimentos quanto a importância de os profissionais reconhecerem, aceitarem e elaborarem a presença deles. O sentimento de culpa também foi retratado. Pesquisas apontaram que as equipes profissionais demonstraram, muitas vezes, sentirem-se culpadas pelo paciente ter morrido sem ter feito contato com algum familiar (VISWANATHAN, 2020; WALTON, MURRAY e CHRISTIAN, 2020). Em um estudo produzido por Büntzell et al. (2020) com médicos que atenderam pacientes com COVID-19 em lares de idosos, também foi evidenciado o sentimento de culpa pela dificuldade de fazer previsões clínicas, dadas as imprecisões da evolução da doença. Viswanathan (2020) também discorreu sobre a presença da culpa em profissionais que precisaram ficar em casa por terem sido contaminados pelo coronavírus, uma vez que isso os impedia de atuar na linha de frente, reduzindo a sobrecarga de seus colegas.

É relevante destacar que ser mulher também é apresentado pela literatura como um fator de risco para o agravamento do adoecimento psíquico. Jones et al. (2020) discorreram em seu estudo que as desigualdades de gênero já existentes foram potencialmente agravadas no contexto da pandemia. Conforme os autores apontaram, mulheres comumente ocupam posições centrais na promoção das relações interpessoais nos hospitais, bem como costumam ficar na linha de frente em contato direto com pacientes. Contudo, a disparidade salarial ainda é uma realidade concreta na vida das profissionais.

O aumento das atividades domésticas na pandemia - dado o fechamento de creches e escolas, bem como a interrupção do serviço de diaristas - incidem, na maior parte dos casos, em mulheres e, no caso das profissionais que estão atuando no combate à COVID-19, tal fato pareceu agravar-se. Para elas não há possibilidades de home office dada a necessidade de estarem fisicamente no trabalho. Por essa razão, para algumas, foi necessário o isolamento da família com o objetivo de evitar uma possível transmissão do vírus. Logo, o sentimento de culpa e inadequação apresentam-se como maiores do que para seus pares do sexo masculino. Acrescenta-se a isso, também, que as taxas de ocorrência de violência doméstica contra mulheres tiveram um aumento significativo desde o início da pandemia. Diante disso, compreende-se que o gênero também é dado como um fator de risco para o adoecimento psíquico (JONES et al., 2020; MOREIRA e LUCCA, 2020).

Além dos fatores de risco citados, é possível pontuar outras considerações encontradas. Salopek-Žiha et al. (2020) expuseram que profissionais com histórico de doenças crônicas ou que já experienciaram ataques de pânico estavam propensos a um maior nível de ansiedade, angústia e depressão. Foi possível observar, neste mesmo estudo, que equipes médicas mais jovens estavam mais suscetíveis a um comprometimento da saúde mental. Os autores relataram, nesse contexto, que profissionais jovens fantasiaram que um milagre aconteceria e que a pandemia passaria rapidamente enquanto os mais velhos buscaram conversar com seus pares a fim de compreender a situação na qual estavam expostos (SALOPEK-ŽIHA et al., 2020).

3.1.2 Estratégias de enfrentamento

O coronavírus (SARS-CoV-2) desencadeou mudanças nas rotinas das instituições de saúde. O foco, atualmente, está na doença em si, no entanto, a COVID-19 vem ocasionando adoecimentos psíquicos, tornando imprescindível refletir sobre a saúde mental dos profissionais. Com isso, faz-se necessário deslindar os possíveis enfrentamentos a esse novo período e suas consequências (BARBOSA et al., 2020). Os artigos analisados mostraram quatro fatores importantes no enfrentamento da pandemia, quais sejam: capacitação; relação/comunicação entre os profissionais; suporte psicossocial e cuidados relativos à questão de gênero.

Importa citar que, desde o início da pandemia, ocorreram mudanças no fluxo operacional dos serviços de saúde, como o afastamento ou remanejamento a outros setores de profissionais que se enquadravam em grupos de risco e a criação de uma área reservada com exclusividade para pacientes com COVID-19, alterações que impactaram no modus operandi profissional. Há também o uso dos Equipamentos de Proteção Individuais (EPI) e técnicas e procedimentos relativos à biossegurança que se tornaram imprescindíveis. Entretanto, alguns profissionais relataram dificuldades para utilizar/realizar tais condutas (RODRIGUES e SILVA, 2020; STARACE e FERRARA, 2020). Nesse sentido, dificuldades atravessam o cotidiano dos profissionais de saúde, sejam elas referentes aos equipamentos de saúde e seus procedimentos, sejam relacionadas a questões pessoais como a distância da família e questões de gênero.

Outros fatores foram delineados no subtópico anterior, destacando quais condições fomentaram acréscimos de preocupações, tais como: aumento da carga horária de trabalho, medo, inseguranças e frustrações (RODRIGUES e SILVA, 2020), podendo gerar adoecimentos psíquicos. Haja vista isso, citar-se-ão algumas medidas que foram adotadas e retiradas dos artigos selecionados que tiveram como objetivo realizar ações para promover o bem-estar e cuidar dos profissionais de saúde, em específico os de Enfermagem e Medicina.

Uma das medidas mais frequentes foi promover a capacitação dos profissionais. Em um hospital regional de médio porte, situado na Região Sul do Brasil, realizou-se uma capacitação sobre a prevenção de transmissão de agentes infecciosos, bem como sobre questões de segurança no trabalho e sobre melhor conhecimento dos procedimentos e exames recorrentes da COVID-19 (RODRIGUES e SILVA, 2020). Ocorreram ações também do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), que criaram o Comitê Gestor de Crise (CGC) para gerenciar as questões da pandemia, acompanhando diariamente os acontecimentos para repassar informações e instruções para a categoria. Além disso, o CGC realizou a campanha "Juntos contra o coronavírus", que efetivou uma concentração de informações seguras para os profissionais, disponibilizando conteúdos para o enfrentamento da COVID-19 mediante protocolos específicos para os contextos de assistência, repassados por meio de vídeos e cartilhas orientadoras (SANTOS et al., 2020).

O COFEN também forneceu uma capacitação on line para cerca de 300 mil profissionais, distribuídos entre enfermeiros(as) e técnicos(as)/auxiliares de enfermagem, abordando assuntos como procedimento da terapia intensiva e biossegurança relativos à COVIS-19 (SANTOS et al., 2020). Desta forma, uma vez que há a certificação que os profissionais tenham uma qualificação e acesso aos materiais necessários, ocorre a diminuição das chances de eles se tornarem vetores de transmissão, melhorando sua qualidade laboral e promovendo a saúde mental, pois permite que fiquem mais seguros em suas ações com os pacientes.

O segundo tópico refere à relação entre os profissionais. Moreira e Lucca (2020) fornecem exemplos de como uma comunicação efetiva entre trabalhadores pode fazer a diferença no ambiente de trabalho e na saúde mental dos sujeitos, posto que potencializa o trabalho em equipe, a participação em decisões nos fluxos operacionais e o apoio entre os colegas (WALTON, MURRAY e CHRISTIAN, 2020). Isso porque a falta de integração pode gerar angústias e até desejo de abandono da profissão. Além disso, uma sobrecarga laboral pode ocasionar tensões físicas e psicológicas na equipe, sendo importante, assim, manter a organização e uma relação agradável no serviço (SONG et al., 2020). Corroborando isso, Amin et al. (2020) destacaram estudos realizados no Japão e no Reino Unido sobre como uma carga horária excessiva pode facilitar o desenvolvimento de ansiedade e depressão e ressaltaram a importância de um melhor manejo de organização dos horários dos profissionais para que houvesse um bem-estar para todos. Acredita-se que houve um aumento na carga horária durante a pandemia, já que muitos hospitais estiveram sobrecarregados, prejudicando, desse modo, a saúde mental dos profissionais.

O terceiro ponto sobre as estratégias de enfrentamento está relacionado ao suporte psicossocial como, por exemplo, as intervenções psicológicas que são recomendadas (BARBOSA et al., 2020; SONG et al., 2020; KANG et al., 2020; WALTON, MURRAY e CHRISTIAN, 2020) e devem ser de curto e longo prazo, visto que mesmo após a pandemia haverá questões a serem discutidas como medo, luto e esgotamento, por exemplo. Existe atualmente um canal de telefone que permite a teleconsulta gratuita disponibilizada para profissionais da saúde, com cerca de 10 mil horas de serviços psicológicos (MOREIRA e LUCCA, 2020). Há também possibilidade de participar de práticas integrativas e complementares (PICs), bem como meditação, trabalho de respiração, técnicas de relaxamento, treinamento de mindfulness como um modo de aliviar sintomas de estresse, ansiedade e esgotamento.

Com relação aos enfermeiros e às enfermeiras do Brasil, o COFEN disponibilizou um canal de atendimento para suporte emocional durante a pandemia. Funciona 24 horas por dia em todos os dias da semana, sendo a equipe composta por psicólogos(as), psiquiatras e enfermeiros(as) voluntários(as) especializados em saúde mental (SANTOS et al., 2020). De acordo com Song et al. (2020), é necessário que ocorra também um treinamento de habilidades psicológicas visando, nesse sentido, a uma forma de melhor equilibrar o estado psicológico da equipe e de propiciar melhor manejo dos problemas psicológicos dos pacientes, visto que muitos deles enfrentam sérios problemas psicológicos na pandemia devido à limitação de verem seus parentes, ficarem em isolamento, bem como verem outras pessoas piorarem e morrerem.

Uma outra sugestão oferecida por Moreira e Lucca (2020) é que entre os turnos ocorra o uso de estratégias positivas para enfrentar ansiedade e estresse como, por exemplo, entrar em contato com a família ou pessoas próximas por meio digital, encontrar atividades que gosta, filtrar o excesso de informações e as fontes associadas a elas (PRIYA et al., 2020). Essa informação é corroborada por Sijia et al. (2020 apud BARBOSA et al., 2020) ao descreverem sobre a Teoria do Sistema Imune Comportamental, em que relatam que as emoções positivas são capazes de contribuir para o aumento da imunidade, fazendo com que haja um desequilíbrio do corpo e resulte na baixa imunidade, podendo, assim, levar os sujeitos a se tornarem mais vulneráveis às doenças.

Sustentando isso, o estudo proposto por Song et al. (2020) relatou que níveis mais baixos de apoio social estão relacionados a um risco aumentado para sintomas depressivos e estresse pós-traumático. Dessa forma, ressalta-se a relevância do apoio familiar e social para preservar a saúde mental dos profissionais de saúde (UMBERSON e MONTEZ, 2010 apud SONG et al., 2020). Nas pesquisas desses autores também foram achados que há prevalência de estresse pós-traumático em enfermeiros(as) em comparação com médicos(as). Segundo Chan (2003, apud SONG et al., 2020) isso se deve ao fato de os profissionais de enfermagem estarem mais diretamente ligados aos seus pacientes, predominando um tempo maior de contato.

Um quarto fator a ser observado enquanto estratégia de enfrentamento aos problemas de saúde mental que a COVID-19 pode desencadear são os cuidados específicos relativos às questões de gênero com as mulheres. Cerca de 90% dos profissionais de enfermagem são mulheres e, durante a pandemia, as situações de violência tiveram um aumento de 40% a 50%, entre elas estão os assédios, violência verbal, física etc. (MOREIRA e LUCCA, 2020). Com relação a isso, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) lançou uma cartilha intitulada "Mulheres na COVID-19", que contém orientações sobre higiene, mercado de trabalho e enfrentamento à violência, contendo temas sobre a rede de atendimento à mulher. Além disso, corroborando a importância deste assunto, a Organização Mundial da Saúde (OMS), em parceria com serviços de prevenção à violência de gênero, pede que haja por parte dos governos uma disponibilidade de serviços de suporte para esse grupo, sendo necessário valorizar seu trabalho, reconhecendo as contribuições clínicas e administrativas delas, visto que se trata de um serviço essencial para diminuir os riscos às mulheres e manter seu bem-estar físico e mental (MOREIRA e LUCCA, 2020).

Outra medida importante realizada pelo COFEN foi a solicitação - junto à Divisão de Fiscalização do Exercício Profissional (DFEP) do mesmo conselho - de uma lista com as principais necessidades da categoria como o fornecimento contínuo de EPIs adequados, melhorias nas condições estruturais e aumento do quantitativo de profissionais para atender a demanda (SANTOS et al., 2020). O COFEN também o Observatório da Enfermagem podendo, assim, acompanhar os casos de enfermeiros(as) acometidas pela COVID-19 no Brasil, sendo possível encontrar informações de cada estado, sexo e faixa etária. Destarte, forneceu apoio por meio de ouvidorias para que os profissionais pudessem requisitar, denunciar ou sugerir ações do conselho (SANTOS et al., 2020).

Nos Estados Unidos foi realizada uma intervenção descrita por Viswanathan, Myers e Fanous (2020), na qual o Departamento de Psiquiatria criou grupos de apoio e sessões de videoconferência individuais para auxiliar médicos(as), enfermeiros(as), outros profissionais e estudantes da saúde. Os grupos se reuniam semanalmente no período de cerca de 40 minutos e utilizavam técnicas de intervenção em grupo e fatores terapêuticos como aceitação grupal, aceitação por situação, altruísmo, catarse, validação consensual, orientação, apoio por pares, discernimento, instilação de esperança e aprendizagem interpessoal. Essas intervenções foram positivas, por serem de forma virtual e diminuírem os riscos de contágio entre os participantes e também pela forma rápida de acesso, na qual os sujeitos poderiam participar sem interferir demasiadamente em seu tempo de descanso ou trabalho.

Nessa mesma perspectiva, Salopek-Žiha et al. (2020) comunicaram lições que foram aprendidas durante esse período de pandemia de COVID-19. Elas podem ser agrupadas em um conjunto de cinco fatores de abordagem multidisciplinar que são: maior solidariedade empática no mundo; uma educação de qualidade para a ciência; confiança entre as pessoas e o poder público e melhor cooperação internacional. Pode-se perceber que o fator modificador está no cuidado e na confiança. É necessário, dessa forma, olhar para os profissionais de saúde e oferecer adequado apoio psicossocial para que estes possam ter melhor qualidade de vida e oferecer melhor tratamento aos pacientes com COVID-19.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, é indubitável que a saúde mental é uma temática emergente durante a pandemia do COVID-19, sendo parte fundamental da promoção do bem-estar biopsicossocial. Desvelar, portanto, a saúde mental dos profissionais da saúde faz-se necessário para a construção de saberes que permitam o desenvolvimento de estratégias de cuidado em saúde mental. Considera-se, desse modo, que a realização de uma revisão integrativa permitiu uma visão ampliada sobre a temática sob diferentes óticas de pesquisa (quantitativa e qualitativa), proporcionando, assim, uma síntese do conhecimento em seu estado atual da saúde mental dos profissionais de saúde na pandemia. Ademais, permitiu identificar conteúdos que são, potencialmente, fatores de riscos para os profissionais, bem como as estratégias de enfrentamento que podem ser utilizadas para diminuir o sofrimento psíquico nesse período de pandemia.

Evidenciou-se, destarte, que tanto os gestores de saúde quanto a sociedade civil têm relegado a saúde mental. Contudo, observou-se que o contexto sanitário, socioeconômico e político, bem como as elevadas demandas de trabalho destes profissionais, têm aumentado o adoecimento psíquico, evidenciando, em maior escala, sintomas relacionados à depressão, ansiedade, estresse pós-traumático etc. Importou ressaltar a exposição frequente dos referidos a profissionais a situações que desencadeiam medo, culpa e raiva intensamente, demonstrando a repercussão desse contato para o comprometimento da saúde mental. Outros fatores também foram explicitados como propulsores de adoecimento psíquico, tais como a questão do gênero - vista a elevação dos índices de violência doméstica no contexto da COVID-19, a disparidade salarial e aumento das exigências de cuidados familiar -, a preexistência de transtornos mentais, a presença de doenças crônicas, bem como a faixa-etária da equipe profissional.

Nessa perspectiva, deslindou-se os possíveis enfrentamentos para o momento de pandemia realizados para promover o bem-estar biopsicossocial dos profissionais de Enfermagem e da Medicina. Citou-se, portanto, a capacitação dos trabalhadores, objetivando promover o conforto emocional mediante o conhecimento das instruções de biossegurança, o aprimoramento do trabalho em equipe, desenvolvendo estratégias para facilitar a comunicação e a participação adequada nos fluxos operacionais, bem como a oferta de intervenções psicológicas de curto e longo prazo. Para facilitar o acesso, sugere-se que o atendimento seja realizado por meios digitais, diminuindo os possíveis contágios e sem interferir demasiadamente em seu tempo de trabalho e descanso. Ademais, para as profissionais mulheres, é fundamental que se tenha um cuidado sobretudo devido aos aumentos de situações de violência. Ressaltou-se orientações da OMS sobre os cuidados com as questões de gênero, bem como o lançamento de uma cartilha pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos e a sugestão da disponibilidade de um serviço de suporte, que intenta diminuir riscos e garantir o bem-estar físico e mental.

Quanto às limitações do presente estudo, ressalta-se que o contexto da pandemia requereu o desenvolvimento de pesquisas de forma veloz, o que impactou nos procedimentos metodológicos dos artigos encontrados. Nesse sentido, percebeu-se uma fragilidade nos métodos utilizados pelos autores. Destaca-se também que os artigos produzidos no Brasil são todos oriundos das regiões Sul e Sudeste, havendo, portanto, a ausência de estudos que mostrem a realidade de outras regiões brasileiras. Quanto às categorias profissionais que se objetivou pesquisar, notou-se que não há pesquisas referentes à realidade vivenciada pelas(os) técnicas(os) de enfermagem.

Assim, sugere-se que estudos posteriores envolvam estados de outras regiões, como Norte e Nordeste, visto que as regiões que formam o Brasil possuem uma diversidade cultural, econômica, social e política, sendo possível identificar outras situações de agravamentos e enfrentamentos à pandemia. Recomenda-se também que haja pesquisas com técnicos(as) e auxiliares de enfermagem por sua atuação que se configura no contato direto com o paciente, abrangendo cuidados diários essenciais, a fim de como está sua saúde mental.

 

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