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Desidades

versão On-line ISSN 2318-9282

Desidades  no.31 Rio de Janeiro set./dez. 2021

 

TEMAS EM DESTAQUE - SEÇÃO LIVRE TEMAS SOBRESALIENTES - SECCIÓN LIBRE

 

Diante do fim do mundo, recomeçar pela infância1

 

Facing the end of the world, start over with childhood

 

Delante dei fin dei mundo, recomenzar por la infancia

 

 

Marina Harter PamplonaI; Marcelo Santana FerreiraII

IMestra em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, Brasil. E-mail: hartermarina@gmail.com
IIProfessor associado de Psicologia Social do Instituto de Psicologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Brasil. Mestre e Doutor em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Brasil. E-mail: ferreira marcelo@id.uff.br

 

 


RESUMO

O presente artigo, escrito no contexto da pandemia do novo coronavírus no Brasil, vale-se da proposição imagética do caráter destrutivo presente nos escritos de Walter Benjamin e aponta para condensações históricas e temporais em que o mundo é posto à prova em sua vocação para a destruição. Neste artigo, buscamos operacionalizar o jogo que compõe a relação entre a imagem de uma destruição necessária para a abertura do novo e a possibilidade de operacionalizar um gesto retroversivo da narrativa que se faz pela aliança com a infância, isto é, transformando as formas de contar a história e de atravessar o tempo presente. Para isso, passamos por uma crítica à concepção hegemônica de infância que é silenciada pela docilização e nos amparamos em uma concepção política de infância. Entre o que desmorona, as crianças são herdeiras da sobrevivência da arte de contar histórias, enfrentando a acelerada temporalidade da informação, reanimando o potencial de fazer dessas narrativas longínquas certa matéria-prima de orientação para o presente e o porvir. Utilizamo-nos também de produções literárias protagonizadas por crianças na América Latina que nos oferecem a imagem da face de algo que somos e nos convocam à reparação pela possibilidade de recontarmos parte de nossa história.

Palavras-chave: infância, jogo, história, literatura.


ABSTRACT

This article, written in the context of the coronavirus pandemic in Brazil, draws on the imaginary proposition of the destructive character, present in Walter Benjamin's writings, which points to historical and temporal condensations where the world is tested in its vocation for destruction. In this article, we seek to operationalize the game that makes up the relationship between the image of a necessary destruction for the opening of the new, and the possibility of operationalizing a retroversive gesture of the narrative that is made through the alliance with childhood, that is, transforming the ways to tell the story and pass through the present time. For this, we go through a critique of a hegemonic conception of childhood that silences it by docilization, and we support ourselves on a political conception of childhood. Among what collapses, children are heirs to the survival of the art of storytelling, facing the accelerated temporality of Information, reviving the potential to make these distant narratives a certain raw material to guide the present and the future. We also use literary productions carried out by children in Latin America that offer us the image of the face of something that we are, and call us to reparation for the possibility of retelling part of our history.

Keywords: childhood, play, history, literature.


RESUMEN

Este artículo, escrito en el contexto de la pandemia dei coronavírus en Brasil, hace uso de la proposición imaginaria dei carácter destructivo, presente en los escritos de Walter Benjamin, que apunta a condensaciones históricas y temporales donde el mundo se pone a prueba en su vocación por la destrucción. En este artículo buscamos operacionalizar el juego que estabelece la relación entre la imagen de una destrucción necesria para la apertura de lo nuevo, y la posibilidad de operacionalizar un gesto retroversivo de la narrativa que tiene lugar mediante la alianza com la infância, que es decir, transformar las formas de contar la historia y atravessar la actualidad. Para ello, pasamos por una crítica a una concepción hegemônica de la infancia que la silencia mediante la docilización, y nos apoyamos en una concepción política de la infancia. Entre lo que se derrumba, los ninos son herderos de la supervivencia dei arte de contar historias, enfrentando la temporalidade acelerada de la información, reviviendo el potencial de hacer de estas narrativas lejanas cierta matéria prima para orientar el presente y el futuro. También utilizamos produciones literárias protagonizadas por ninos em América Latina que nos ofrecen la imagen dei rostro de algo que somos, y nos llaman a la posibilidad de volver a contar parte de nuestra historia.

Palabras clave: infancia, juego, historia, literatura.


 

 

Em um desses dias de isolamento, em que via o tempo passar dentro de casa, fui guiada à lembrança de uma tarde em que olhava através da janela da casa de minha avó a paisagem que revelava os fundos de uma serralheria. Uma criança, que, na época, fazia quatro anos com os dedos quando lhe perguntávamos sua idade, brincava ali onde eram depositados os restos de serragem, cujo o acúmulo sedimentado ia formando, gradativamente, uma crescente montanha. A montanha de serragem oferecia-se à criança como um lugar em potencial para experimentar o tempo de sua solidão em meio ao universo adulto. Lembro-me de observá-la brincando de desaparecer por entre os restos de cortes de madeira, subir até o ponto mais alto da montanha e rolar morro abaixo, deixando o corpo coberto de descartes. Também no topo da montanha, defendia-se de opositores imaginários, regia seu mundo, experimentava quedas e alturas, ali, onde o que víamos eram destroços de madeira, a exata mistura do que um dia foi matéria primeira da natureza e do que não serviu para ser; um armário, uma cama, um palete.

Tradicionalmente, a imagem da destruição, necessária para a abertura do novo, sempre teve seu lugar nas organizações culturais dos povos: no tarô, a carta da morte; no hinduísmo, Shiva, responsável pela destruição do universo para a criação do novo; entre os Yanomamis, a cultura de atear fogo nas shabonos2 (casas comunitárias) reverenciando a renovação para que se possam construir outras estruturas. Essas são algumas imagens que me vêm ao pensamento.

Em 19313, o filósofo Walter Benjamin (1987) publicou um pequeno e enigmático texto intitulado O Caráter Destrutivo, por meio do qual desenvolve uma espécie de mosaico cujos fragmentos apontam para a presença de uma estética da barbárie em sua obra. Essas imagens do pensamento manifestam uma face importante de seu diagnóstico da modernidade: a todo tempo, o mundo é posto à prova em sua vocação para a destruição. Assim como Benjamin adverte que o caráter destrutivo não está interessado em ser compreendido, não será esse o sentido que este artigo buscará empreender, mas sim abrir uma chave de percepção que nos impulsione a observar os sinais lançados pelo texto de 1931 que seguem ressoando no tempo presente. Afinal, não existiriam momentos, condensações temporais, cuja face da destruição se deixaria notar sem que pudéssemos ignorá-la tão facilmente, como uma tomada de consciência de que as coisas poderiam correr mal? Esse gesto de observar, no presente, inícios de um porvir de catástrofes inventaria uma espécie de bússola ética nos escritos de Walter Benjamin.

Nesse sentido, não podemos nos esquecer do contexto em que o texto em questão foi publicado, ano de consolidação do nazismo no poder na Alemanha. Nesse mapa, cujas coordenadas são traçadas pelo tempo, a origem do caráter destrutivo tem uma importante coincidência temporal com os escritos de Benjamin que continham memórias de sua infância.

Neste artigo, buscamos operacionalizar o jogo que compõe a relação entre a imagem do caráter destrutivo e o gesto retroversivo da narrativa operacionalizado pelas lembranças de infância como uma forma de delinear uma concepção política de infância capaz de construir outras formas de ler a história - e em oposição aos regimes políticos totalitários, movidos por outra espécie de destruição.

Nesse sentido, diante dos últimos acontecimentos no contexto da chegada da pandemia do novo coronavírus no Brasil, em 2020, é preciso, como nos alerta Walter Benjamin (2009), organizar o pessimismo.

A crise sanitária agrava e escancara outras crises. Ainda que o vírus desconheça fronteiras e se espalhe pelo tecido social sem distinguir os códigos normativos criados pelo sistema econômico e político no qual estamos inseridos, “não estamos todos no mesmo barco“. Ainda que o vírus nos obrigue a reconsiderar a fragilidade como um paradigma da existência humana, o estágio avançado do neoliberalismo e suas conexões políticas com o neofascismo não nos deixam seguir a análise mais rápida de que somos todos iguais. É a desigualdade que emerge na superfície do presente: a desigualdade em uma “sociedade enfraquecida imunologicamente pelo capitalismo global“ (HAN, 2020, n.p.).

 

Começar pela infância

A poeta Aglaja Veteranyi (2017, p. 102), cuja família refugiou-se na Suíça, em 1977, fugindo da ditadura romena de Nicolae Ceausescu (1918-1989), escreve, em uma de suas memórias infantis do refúgio: “Será que Deus fala outras línguas? /Será que ele entende os estrangeiros? /Ou será que os anjos ficam sentados em pequenas cabines de vidro fazendo traduções?“.

Há algumas décadas, no contexto de ascensão do nazismo na Alemanha, Walter Benjamin lançou luminosidade sobre o encontro imprevisto entre crianças e anjos (FERREIRA; PAMPLONA, 2019). Os anjos povoam o pensamento de Benjamin (GAGNEBIN, 1997) na construção de um limiar entre teologia e materialismo histórico, colhendo vestígios do sagrado no profano. No entanto, esse povoamento subverte a referência historicamente hegemônica que se faz da imagem das crianças às figuras angelicais cristãs que herdamos do século XIII, quando, segundo os estudos iconográficos de Philippe Ariès (1981), as crianças passaram a ser representadas como anjos nas pinturas, sendo desenvolvida, assim, a forma de uma infância sagrada.

Comungar a imagem de uma infância sagrada com a dos anjos parece ser, em diversos contextos, uma forma eficaz de silenciar esses seres canhestros, inábeis e incompletos, tomados apenas como um “vir a ser“ adulto. Perguntamo-nos, assim, se não encontramos, ao cobrir as crianças com a face desses anjos, a arbitrariedade de exigir que elas observem em silêncio, em estado de adoração, o mundo que criamos.

Ao examinar a presença dos anjos na obra de Benjamin, Gagnebin (1997) descreve-os como fulgurantes e efêmeros, portadores de uma temporalidade específica que surge e desaparece diante de Deus, como faíscas. Nos escritos do filósofo alemão, os anjos ditos “menores“, - e não aqueles que transmitem a vontade divina - que vivem apenas nos instantes dos seus hinos para logo se dissiparem que possuem interferência sobre o curso do pensamento. É contra uma essencialidade histórica, portanto, que essas aparições se dirigem; “Benjamin reivindica uma atualidade simultaneamente resplandecente efrágil, o tempo de cantar um hino e, em seguida, de se aniquilar“ (GAGNEBIN, 1997, p. 125).

Os anjos, nessa perspectiva, introduzem cesuras no ritmo do tempo, são portadores da destruição necessária à cronologia linear, que pretende perpetuar a história dos vencedores e ameaçar com o esquecimento a história dos oprimidos. Essa destruição dirige-se também para a linguagem segura de si, a linguagem burguesa dos bem-pensantes e bem-apessoados, expondo-a novamente à sua força de estranheza e de subversão.

A esperança existe para os anjos, pois a cesura que instaura suas breves e frágeis luminosidades é a potência que faria com que a história, de repente, não seguisse mais a letargia do seu curso. Em um contexto de extermínio, a temporalidade dos anjos, que se dirigem ou que são inventados, para e pela infância, é a da interrupção, onde as esperanças frustradas podem ser retomadas por um trabalho político de uma memória ativa. Os anjos não são mais aqueles que testemunham em silêncio a transcendência sagrada, mas participam dos desabrigos do mundo profano. A salvação do passado, presente na angeologia benjaminiana, é a da interrupção dessa temporalidade infernal, da “tempestade do progresso“ que impele o anjo da história, presente em suas Teses sobre o Conceito de História (BENJAMIN, 2012), para o futuro, ainda que seus olhos estejam voltados para o amontoado de ruínas que cresce sob seus pés.

Carlos Garaicoa, artista contemporâneo cubano, inventou uma pequena cidade global cuja arquitetura é composta de velas acesas que derretem ao fogo. Trata-se de uma cidade que mistura o monumental e o corriqueiro, elementos arquitetônicos de diversas partes do mundo, e que, no ciclo de alguns dias, desaparece por completo e é substituída por outra. A obra chama-se Ahora juguemos a desaparecer (II)4. Diante da cidade de velas acesas, detemo-nos na luminosidade do fogo, que é condição de seu desaparecimento - o que é algo absolutamente incomum, estranho, na sociedade brasileira contemporânea, cuja intenção é escamotear a estrutura de um “fascismo suicidário“ - como alertou Vladimir Safatle (2020) - comprometido com a própria destruição das formas singulares de sobreviver, sem que possamos dispor do tempo e dos meios necessários que nos permitam perceber e elaborar o que e quem temos perdido ou imaginar outras possibilidades de vida.

 

O caráter destrutivo

Se o neofascismo - “novo estágio nos modelos de gestão imanentes ao neoliberalismo“ (SAFATLE, 2020, n.p.) - encontra uma catástrofe para “chamar de sua“, ao apontar para a destruição da vida, para o sacrifício em nome de uma economia abstrata como destino inexorável dos homens, a inflexão para a infância nos faz retomar o caráter destrutivo, essa estranha imagem do pensamento descrita por Benjamin, cujo olhar para a história vale-se de uma espécie de farejar que tem como bússola “uma desconfiança insuperável da marcha das coisas“ (BENJAMIN, 1987, p. 237), imagem da interrupção da máquina do progresso e convocação de uma abertura para o novo.

Na descrição de um Estado suicidário, Vladimir Safatle (2020) exibe sua materialização ao relembrar o telegrama pelo qual Hitler proclamou sua derrota: “se a guerra está perdida, que a nação pereça“. Nesse sentido, a destruição não reconhece limites, não há espaço nem mesmo para a derrota quando ela precisa ser rapidamente apagada. A destruição pelo Estado mobiliza-se por uma direção ditada pela destruição pura e simples. O contexto da pandemia, nessa perspectiva, é a catástrofe oportuna da qual o Estado brasileiro - “A República Suicidária Brasileira“, nas palavras do autor - se apropriou; pelo “flerte contínuo com a morte generalizada“. Assim, “só encontra sua força quando testa sua vontade diante do fim“.

Seu exército não serviu à outra coisa que se voltar periodicamente contra sua própria população [...]. A pátria da guerra civil sem fim, dos genocídios sem nome, dos massacres, dos processos de acumulação de capital feitos através de bala e medo contra quem se mover (SAFATLE, 2020, n.p.).

Foi Walter Benjamin (1987) quem propôs o caráter destrutivo como tônus ético de interrupção e de explosão das abstratas continuidades históricas empreendidas pela ciência histórica burguesa da primeira metade do século passado, incapaz de abandonar sua lassidão diante do avanço do fascismo e do nazismo na Itália e Alemanha. O caráter destrutivo, esse tônus impulsivo e resistente, não se adequa nem ao sentimentalismo burguês em relação ao passado nem ao evolucionismo teleológico e fatalista.

O horror foi possível no século XX e ainda o é no século XXI. A destruição, como expressão estética e política, recusa a integração epistemológica do passado ao presente absoluto, não acata o princípio aditivo de abordagens históricas evolucionistas e, muito menos, as historiografias ressentidas da perda. O caráter destrutivo, pragmática da barbárie positiva - conceito controverso e polissêmico no pensamento de Walter Benjamin - procura farejar nas ruínas do passado as correspondências entre o que já aconteceu e o que vivemos agora. As crianças, nos textos de Walter Benjamin (1987), são herdeiras irrequietas do caráter destrutivo, demorando-se nas ruínas, trazendo para junto do corpo os fragmentos do tempo histórico. O passado requer uma atitude exercitada pelas crianças que interrompem continuísmos.

Sob o signo da pressa e da exiguidade daquilo que é novo nas sociedades ocidentais contemporâneas, como nos ensina Jeanne Marie Gagnebin (1994) em um dos seus comentários sobre a obra de Walter Benjamin, acostumamo-nos a neutralizar nossa inquietação, supostamente indiferentes ao destino coletivo da humanidade, buscando nos aferrar aos nossos próprios objetos e deixando no interior de nossas casas apenas os nossos próprios vestígios. Walter Benjamin (2012), em um texto originalmente escrito em 1936, nos convoca a um desvio da obviedade da sociedade da informação:

Cada manhã recebemos notícias de todo o mundo. E, no entanto, somos pobres em histórias surpreendentes. A razão é que os fatos já nos chegam acompanhados de explicações. Em outras palavras: quase nada do que acontece está a serviço da narrativa, e quase tudo está a serviço da informação (BENJAMIN, 2012, p. 219).

A inflação da informação reitera a governamentalização de nossa própria sensibilidade, como propagação do tédio, do medo e do horror.

Curiosamente, em 2019, o professor Eduardo Viveiros de Castro diagnosticou, de modo muito próximo ao de Benjamin em sua visada sobre os anos de 1930 na Europa, o horrível desfilar de informações que nos são impostas desde as vésperas das eleições presidenciais de 2018 no Brasil, marca inquestionável de nossa vertiginosa e repetida escalada ao fascismo tropical, como nos lembram Mizoguchi e Passos (2019) no ensaio Antifascismo Tropical. Diz-nos Viveiros de Castro (2019, p. 6-7):

Como continuarfalando quando não há mais adjetivos suficientemente fortes para qualificar a situação e seus protagonistas? Quando cada manhã traz notícias mais mortificantes que as da manhã anterior; quando o ritmo das absurdidades anunciadas é tal que cada novo absurdo faz sombra ao precedente [...]?

As histórias transmitidas como informações não são mais surpreendentes, como apontava Benjamin (2012), e se adicionam ao conjunto de notícias amargas e autoritárias. O que fazer diante do acúmulo de informações que estremecem nossa confiança em nós mesmos? Como instituir formas resistentes, mesmo que precárias, de narrativas que não sejam mortificantes e que se sustentem numa relação imediata com a vida que não queremos que morra sob a política oficial que apregoa o Brasil “acima de tudo e Deus acima de todos“?

Seguimos as pistas deixadas por Benjamin (2009, p. 142), que afirma que “onde as crianças brincam, existe um segredo enterrado“, segredos de reencantamento do mundo. Há uma narrativa “lorubᓠque conta que os únicos que conseguiram vencer a morte foram duas crianças. A história conta que leu, a morte, havia colocado diversas armadilhas em todos os caminhos, e assim “homens, mulheres, velhos ou crianças,“ ninguém escapava de sua voracidade. Icu devorava os humanos antes que o tempo de morrer tivesse chegado. Todos se uniram na tentativa de parar a voracidade de Icu, sábios, curandeiros, bruxos..., Mas Icu derrotava um a um. Foi quando os gêmeos Ibejis tramaram um plano para deter a morte. Caminharam pela floresta na direção de uma de suas armadilhas, uma das crianças ia pela trilha perigosa, tocando seu tambor, enquanto a outra a seguia escondida, acompanhando à distância. A morte ficou maravilhada com o toque do tambor, dançava enfeitiçada. Não quis que a criança morresse e lhe avisou da armadilha. Quando a criança que tocava o tambor se cansava, o irmão gêmeo tomava seu lugar e, assim, elas se revezavam no toque do tambor. Enquanto isso, a morte não conseguia parar de dançar, pois, ainda que estivesse exausta, o toque era irresistível. Icu passou então a implorar para que parassem de tocar um pouco, pois precisava descansar. Então, as crianças lhe propuseram um acordo: iriam interromper a música se ela retirasse todas as suas armadilhas. Assim conta a história de como os Ibejis salvaram os humanos da morte antes da hora (PRANDI, 2001).

Em 1936, Walter Benjamin guia o pensamento a vasculhar as ruínas da tradição de contar e ouvir histórias no célebre texto traduzido como O Narrador (2012) e posteriormente como O Contador de Histórias (2018). A figura do contador de histórias surge como um sobrevivente, como ruína da tradição, na modernidade. As duas figuras arcaicas do contador de histórias são o marinheiro, que traz histórias de lugares distantes, e o camponês, que vive a passagem do tempo no mesmo lugar e, por isso, acumula histórias e experiências a serem transmitidas.

Assim, contar e ouvir histórias pressupõem algo que se efetua pelos movimentos da distância no tempo e do deslocamento no espaço: o artesão que tem a experiência do tempo em um mesmo lugar e o marinheiro que recolhe histórias de lugares distantes. Essa ideia aparece também na discussão empreendida por Ricardo Piglia (2012), para quem a verdade sempre aparece como ficção que desloca o relato para um outro que permite tornar possível o que se quer dizer. Encontramos esse gesto de partilha da transmissibilidade quando o porta-voz zapatista5 pede que Eduardo Galeano escreva a história da luta por libertação e a história das crianças para quem o Deus dos ricos esqueceu-se de deixar um anjo da guarda.

No motivo da escrita desse ensaio, manifesta-se uma força política que nos impele a acompanhar movimentos de imagens no exílio de um tempo de infância operadas por Walter Benjamin no encontro com o deslocamento da espacialidade instável da modernidade. Na luta política contra o esquecimento da disputa em torno da verdade pelo lado minoritário da história - em tempos de crescimento dos discursos de defesa de um território nacional, pátria fortificada, muros e fronteiras.

As crianças dos diferentes espaços e territórios do Brasil, apelando para que uma nova história possa ser contada, agoniadas com o regime austero imposto a elas e a grande parte de nós, nos lembram da imagem arquetípica que constitui a composição do tempo presente: de novo, uma nova história. Contar e ouvir histórias que possam interromper o fatalismo convergem com a experiência das crianças, testemunhas tenazes do tempo que atravessamos.

Explodindo a pedagogia do continuísmo e da quietude, as crianças dos textos de Benjamin (1987) não se satisfazem com as informações, contínuo fragmento de gestão de nossa sensibilidade neutralizada politicamente. As histórias narradas sob as ruínas do presente podem reativar nossa relação com o passado e com o próprio tempo histórico. O apelo narrativo de Walter Benjamin pode estar mais próximo da tarefa de estabelecimento de uma ética nos tempos presentes do que imaginávamos. Cansados da submissão ao tempo acelerado da informação, podemos nos aproximar da importância ética de contar.

Herdeira das ruínas da tradição de contar histórias, a infância reanima o potencial de fazer dessas narrativas longínquas certa matéria-prima de orientação para o presente e o porvir. Histórias para despertar e para adormecer posicionadas na exata indistinção entre ação e imaginação. É nessa indistinção liminar cujo efeito provém da possibilidade de ouvir uma história que está sendo contada que podemos vislumbrar a possibilidade de despistar um “eu“ individualizado e solitário, descompromissado com o que lhe acontece coletivamente. É a tensão de forças - entre o sono e a vigília - que liberta a imagem de um mero devaneio onírico para lançá-las aos apelos coletivos do presente e da história. Há, dessa forma, a efetuação de um jogo paradoxal nesses “dois componentes da memória“, escreve Gagnebin (2013, p. 25), em uma dinâmica que “submerge a memória individual“ e que, ao mesmo tempo, “recolhe, num só instante privilegiado, as migalhas do passado para oferecê-las à atenção do presente“.

 

Recontar a história e imaginar o porvir

A ficção que reveste as crianças com a imagem de anjos é um simulacro seletivo. Existem aquelas que foram ignoradas pelo conto burguês, que as relega à incumbência de ser o futuro de toda uma geração, as herdeiras do capital familiar. E é assim que Subcomandante Insurgente Marcos6 (2017), em um de seus escritos intitulado Os Diabos do Novo Século, sobre a memória da luta zapatista, conta a história das crianças que foram esquecidas pelo Deus dos ricos: “Deus havia designado, como lhe compete, um anjo da guarda para cuidar de cada uma das crianças da geração do Tratado do Livre Comércio“ (MARCOS, 2017, p. 180). No entanto, não sobraram mais anjos para salvaguardar as crianças zapatistas, no que o Deus dos ricos lhes colocou a postos os “diabinhos da guarda“. Na América Latina e em outras partes do mundo, o abandono causado pela “euforia primeiro-mundista“ (MARCOS, 2017, p. 181), como escreve o porta-voz zapatista, recaiu também sobre outras milhares de crianças esquecidas pelo neoliberalismo.

“Cento e vinte milhões de crianças no centro da tormenta“, é assim que Eduardo Galeano (2007, p. 17) introduz As Veias Abertas da América Latina, anunciando que nascer, na América Latina, é um ato revolucionário. Obstinadamente, crianças nascem reivindicando o direito a um lugar sob o céu de nosso continente, contra todas as correntes conservadoras que se utilizam de discursos oportunistas para culpabilizar o povoamento dos países subdesenvolvidos por seu próprio subdesenvolvimento. Galeano (2007, p. 22) relembra as missões norte-americanas em solo latinoamericano, na década de 1970, planejadas para esterilizar milhares de mulheres férteis, alertando que, em nossa história, “os dispositivos intrauterinos competem com as bombas e metralhadoras“ na capacidade de silenciar aqueles que potencialmente buscarão a verdade pela luta contra o esquecimento, ameaçando a homogeneidade histórica. Que narrativas a linguagem absurda da história do capitalismo mundial pode contar a essas crianças?

Para nós, que vivemos no centro da tormenta de um continente cuja história do subdesenvolvimento integra a história do desenvolvimento do capitalismo mundial (GALEANO, 2007), parece ser mais eficaz jogar com as crianças, ouvi-las, observá-las. Antecipando-nos à destruição pelo poder e pela opressão, pela desconfiança na marcha da história (BENJAMIN, 1987), de modo que a destruição force o vislumbre de um outro futuro, embrionário. E se o momento em que vivemos abre o potencial utópico desse vislumbre, vale lembrar da passagem de Andrés Barba (2018, p. 71) em República Luminosa: “A infância é mais poderosa do que a ficção“.

De uma literatura que surge do limiar entre memória, esquecimento e fabulação, Barba (2018) escreve a história do aparecimento de 32 crianças em uma cidade localizada em um país não identificado da América Latina. Inicialmente não se sabe a origem dessas crianças, que, no decorrer dessa narrativa, vão se avolumando, uma vez que elas passam a ser uma espécie de refúgio encantado para as crianças da própria cidade, as quais começam a fugir de seus lares burgueses atraídas por um chamado que parece dizer também respeito a elas.

O autor narra os efeitos dessa aparição na organização da cidade fictícia: o papel da imprensa, dos estudos acadêmicos e das burocracias políticas e jurídicas, o medo, o terror, a violência. São crianças ágeis, de esconderijos improváveis, e que se comunicam em um dialeto incompreensível para os adultos, dispersam-se entre os territórios da cidade, da selva e do rio. Cria-se a atmosfera de uma massa de diferença aguda e, ao mesmo tempo, de indistinção, de algo que eminentemente faz parte das insurreições infantis, cujas aparições ágeis e rápidas nos confundem. As insurreições infantis na cidade fictícia criam imagens de estranheza e familiaridade e não deixam o leitor se fixar nunca em um só ponto de interpretação passiva e individualizante.

A ficção da república luminosa, título do livro, é capaz de nos revelar a face de algo que somos; e se o autor afirma que “a infância é mais poderosa do que a ficção“, é porque nosso cotidiano está abarrotado desses momentos em que elas interpelam os absurdos que vivemos e que ditamos como realidade ou perigosamente levam a cabo o ponto máximo da violência pela mimesis perversa imposta pelo homem que faz o gesto de uma arma com as mãos.

Inconclusa e futura, a infância nos convida a uma relação não instrumentalizada com o próprio presente, já que interrompe a continuidade, nos convoca a recontarmos parte de nossa história, reinventando um modo de estar juntos, incitando-nos a inventar novas formas de partilha, ansiando pelo mundo que já julgávamos concluído. Irrequieta interrupção da continuidade, convocação narrativa e pragmática do futuro e do passado, a infância pode nos convocar a uma interpelação de nós mesmos.

 

Considerações finais

Se o fascismo brasileiro encontrou “uma catástrofe para chamar de sua“, como nos alerta Safatle (2020), podemos, ainda, fazer uma convocação insurgente. Convocamos as infâncias e as crianças para as quais a força da ação está intimamente imbricada com o jogo fabulativo. Uma infância coextensiva à vida que não deve ser esquecida no pensamento humano; que se põe a reimaginar a infinitude mágica de composições de imagens que podem ser articuladas em uma língua expressiva, posta a serviço da transformação, e que amplia o volume de coisas vivas na superfície planetária, enfraquecendo o espaço de uma individualidade ilusória. Talvez o contexto da pandemia nos force a imaginar um mundo de espaços libertados, como sugere Jacques Rancière (2018, n.p.) na defesa de que política é “um assunto de imaginação“, uma faculdade estética capaz de reorganizar a forma como ocupamos o mundo e vivemos o ritmo do tempo. Diante do absurdo da pandemia, da espera pelo próximo avanço científico, pela próxima recomendação dos órgãos de saúde, compartilhamos, todos, certa inabilidade infante, e é diante dela que podemos reposicionar tudo. As crianças constroem um universo diferente dentro da morosidade da vida cotidiana.

No recente filme brasileiro Bacurau (2019), em meio às expressões dicotômicas das disputas entre adultos, as crianças interrogam o medo e transpassam pelas composições de corpos e enunciados, brincando e desafiando o terror. Mesmo que não saibamos os destinos das escolhas, as crianças no filme evocam a transitoriedade da brincadeira e do jogo em tensionamento com a certeza. As brincadeiras, no entanto, não se eximem do sentido político das conjunções entre as crianças, uma vez que afrontam o horror e a morte com a inocência, o não saber, e as travessias múltiplas, heteróclitas, resto de presença que quase não se nota na continuidade da narrativa das personagens principais.

Talvez a infância nos inspire, em certa medida, por se conjugar com a concepção de um trabalho ao mesmo tempo dispersivo e pontual, preciso e futuro. Que fim terão tido essas personagens? Não se sabe, quando se lê ou se conta uma história, quais possibilidades serão desdobradas pelos ouvintes irrequietos, que brincam com o sentido das coisas e dos acontecimentos. Daí, a possibilidade de perguntar de novo: o jogo não seria uma importante imagem da experiência política? Temos subsídios do pensamento benjaminiano e de sua concepção política de infância para defender que sim.

Do processo imaginativo, ficcional, disso que nos resta, despertamos para a ação política, na luta contra a passividade que o capitalismo impõe a uma sociedade que sonha e imagina pelo consumo e pela acumulação, pelo estoque individual; pela mentira perversa que nos contam os discursos que sugerem que resguardar a própria vida - como propriedade privada - deve tolerar o abandono das vidas de quem nos rodeia.

É com a infância que aprendemos a nos comunicar pela expressividade do som da matéria do mundo que habitamos, a força da ressonância; onde outra comunidade vai se fazendo “entre as criaturas postas em silêncio“ (BINES, 2019, p. 5). Ruidosamente, somos convocados a escutar um mundo de sobrevivências. As crianças impregnam-se com o espaço e os objetos que as rodeiam. Mas esse espaço - o mundo - é, a um só tempo, encantador e tenebroso. As crianças sabem disso, protegem-se em esconderijos ou na própria semelhança com os bichos, em uma certa camuflagem, mimesis instintiva e inventiva, mas também, como nos lembra Benjamin, com o moinho de vento e o trem, ouvindo a língua que o mundo das coisas lança sobre elas, despistando as demarcações individualizantes e solitárias que temos criado para preencher isso que nomeamos “eu“.

A única mimesis permitida em nossa civilização tem sido aquela que trabalha para as forças de constituição exemplar da identidade de um sujeito racional - cujo modelo é branco e patriarcal. O custo dessa constituição tem sido a abjeção e o abandono do mundo da infância e da natureza, como nos lembra Gagnebin (2013) e, portanto, o enfraquecimento de conexões inventivas que proliferem formas de viver e de estar vivo. O enrijecimento do sujeito pela dominação exploratória e predatória da natureza e pela expulsão da infância dos corpos de adultos e crianças antecipa nossa aniquilação e constrói uma natureza ameaçadora, porque violentada.

Herdeira da plenitude do dom mimético originário, a infância exige a atenção dos adultos. Tornamo-nos testemunhas de uma metamorfose que se oferece ao nosso olhar de forma transitória e efêmera, já que as crianças marcam e dispersam os terrenos onde existem segredos enterrados (BENJAMIN, 2009) ou escondidos. Solicitam, portanto, o olhar minucioso, micrológico e inquieto diante da vitalidade das coisas (CASTRO, 2009), olhar de um sujeito da infância que vive residualmente em nós. A concepção de infância que relampeja no trabalho de Benjamin guia uma investigação micrológica dos limites das formas de existir, encontrando possibilidades de travessia. Somente em relação a esse limite, o encasulamento pode se relacionar com a transformação que o casulo opera; como uma força que no homem insiste, “forçando-o a regredir aquém de si mesmo para libertá-lo das formas fechadas“ (CASTRO, 2009, p. 211).

Não há sentido em clamar para que as coisas voltem a ser como antes. Na margem extrema desses limites, por uma exterioridade ainda não interditada pelas forças produtivistas do sistema em que vivemos, a infância tem brincado de criar semelhanças; tramando zonas de passagem entre humanos, animais, máquinas e objetos esquecidos. De nossa parte, podemos oportunizar possibilidades de dar forma a essas experiências, enquanto recebermos delas a “franqueza de um olhar não obstruído pelos clichês“ (SCHÉRER, 2009, p. 209), a possibilidade de recriar uma linguagem verdadeiramente conectiva e inventiva em tempos de distanciamento.

É por isso que, sem infância, não haverá a invenção de uma passagem para outra forma de viver e de narrar nos oferecendo imagens que tomamos como oportunas para a construção de uma nova coletividade frente ao poder que se reitera sobre o fato de sermos vivos.

 

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Referências Cinematográficas

BACURAU. Direção: Kleber Mendonça Filho, Juliano Dornelles. Pernambuco: Vitrine Filmes, 2019. (132 min).

 

 

Data de recebimento: 31/01/2021
Data de aprovação: 25/07/2021

 

 

1 Este artigo foi escrito entre os dias 7 e 15 de abril de 2020.
2 Em 1974, a fotógrafa Claudia Andujar registrou uma das shabonos em chamas. Em 2005, a fotografia transformou-se na instalação intitulada Yano-a, que, atualmente, encontra-se exposta no Instituto Inhotim.
3 Ano da publicação do texto original.
4 Disponível em: <https://www.inhotim.org.br/item-do-acervo/galeria-carlos-garaicoa/>. Acesso em: 12 abr. 2020.
5 Trata-se da Carta do Subcomandante Insurgente Marcos a Eduardo Galeano, publicada pela editora Chão da Feira, em 2017.
6 Porta-voz do exército Zapatista de Libertação Nacional.

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